Os sistemas costeiros do Brasil apresentam uma biodiversidade incomparável, muitos
ecólogos e pesquisadores se dedicam ao longo de suas vidas a estudar como a vida se dá
e se adapta, e as interações entre os organismos nessas localidades. Os manguezais,
biomas de transição entre o mar e a terra, cobrem cerca de 13.763 km², do litoral do Amapá
à Santa Catarina, onde as baixas temperaturas formam barreiras importantes ao seu
desenvolvimento (SCHAEFFER-NOVELLI et al., 1990; KJERFVE; LACERDA, 1993). Esses
habitats são ricos em matéria orgânica e considerados berçários da vida marinha sustentam
diversas espécies de plantas que se adaptaram às suas condições, dentre elas se
destacam as da família Rhizophora e as bromélias, plantas de folhas largas e de tamanho
muito variado. As plantas da família Bromeliaceae possuem uma estrutura capaz de
formar bacias de água doce em seu interior que, por sua vez, acumulam detritos orgânicos
e sustentam uma complexa comunidade de organismos que dependem diretamente desses
micro-habitats para prosperarem. Enquanto alguns invertebrados como mosquitos em fase
larval e ninfas de libélulas utilizam dessas condições durante uma etapa do seu ciclo
ontogenético, outros como oligoquetas e ostracodos passam sua vida inteira vivendo nas
cisternas formadas por bromélias (Montero et al. 2010, Pinto & Jocqué 2013). Algo a ser
ressaltado é que não apenas as bacias de água doce no interior das bromélias servem
como recurso, mas também a própria planta, pode abrigar diferentes espécies de aranhas
como as da família Tetragnathidae, Araneidae, Salticidae e Ctenidae, que se beneficiam
diretamente dessas condições para sucesso predatório e influenciam diretamente na
abundância de invertebrados nesses micro-habitats. Durante a excursão em Ubatuba da
disciplina de Introdução à Ecologia (BE180), houve a oportunidade de observar diversos
grupos de bromélias espalhados por uma área de manguezal. Alguns espécimes
apresentaram teias de aranhas Tetragnathidae dispostas de maneira que cobriam toda a
parte superior da região que acumulava mais água doce da chuva, enquanto outras não.
Logo, foi possível notar que as plantas com teias possuíam menor quantidade de larvas de
mosquito em seu interior, já as que não tinham, contavam com uma grande abundância de
invertebrados. Ao todo, 6 grupos de bromélias foram analisados, e houve a coleta da bacia
de água de 14 pares de bromélias. A escolha dos pares seguia os seguintes critérios: as
plantas deveriam estar uma ao lado da outra, inclinadas no mesmo ângulo, e os pares
deveriam ser compostos por uma bromélia com teia e outra sem. Assim, foi coletada água
dos pares selecionados, e usando uma pipeta, com os potes devidamente identificados, foi
depositada a água coletada, separando aquela proveniente das bromélias com e sem teia,
respectivamente. Em seguida, foram analisados os conteúdos dos pares de potes utilizando
lupas, lanternas e microscópio a fim de quantificar os invertebrados presentes.Durante a
identificação dos invertebrados, sua abundância foi contada e identificada na planilha
correspondente. Após a análise e contagem da diversidade de espécimes existentes na
amostra de bromélias com e sem teia, foi encontrada uma quantidade de invertebrados
maior em grande parte das bromélias sem teia (448) em comparação com aquelas que
possuíam teia de aranha presente em seus reservatórios de água doce (248). Nessa lógica,
graficamente, a abundância de invertebrados em bromélias com teia forma uma linha
decrescente. Em contraponto, o gráfico de bromélias sem teia resulta em uma crescente.
Além disso, foi observado uma relação entre o número de larvas de artrópodes com outros
invertebrados do meio (Copepoda, Nematódeos, Moluscos, Crustáceos, Platelmintos e
Artrópodes) no qual, em ambientes com predominância de larvas que coexistiam com
outros seres, havia menor número de espécies e indivíduos dispersos. Dessa forma,
pode-se inferir que possivelmente existe uma relação ecológica predatória ou competitiva
entre as larvas com outros invertebrados com uma abordagem inversamente proporcional entre quantidade larval observada (crescente em meios predominantes) e invertebrados
(decrescente). Após análise dos dados obtidos e discussão, a hipótese inicial de que a
presença de teia influencia a abundância de invertebrados nas bromélias não foi refutada
devido a maior presença absoluta de invertebrados em bromélias sem teia em relação às
bromélias com teia. A partir dos dados coletados e estatísticas, é possível definir apenas
uma tendência de que a hipótese inicial está condizente à situação experimental. Ademais,
surge uma nova hipótese referente à presença de larvas de Diptera e sua relação com a
presença de outras espécies de invertebrados no tanque das bromélias; é suposto que a
maior presença dessas larvas implica em uma menor abundância de meso invertebrados
devido a predação desses pelas larvas. A partir desses resultados, conclui-se que há uma
cascata trófica notada no microcosmo do tanque das bromélias devido a presença de teias
de aranhas Tetragnathidae que tem impacto negativo na população de larvas de Diptera, o
que promove singelo impacto positivo na população relativa de outros invertebrados como
Nematóides, Copépodes, Platelmintos e Moluscos (PICCOLI, Gustavo Cauê de Oliveira.
Um predador generalista na fronteira entre ecossistemas: interações tróficas e os processos
ecossistêmicos bromelícolas. 2015. 155 f.).
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Estudantes de biologia da Universidade Estadual de Campinas.
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