Polinizadores e práticas agrícolas: percepções e demandas de conhecimento na agricultura familiar

  • Autor
  • Lorenna Bertini Brito
  • Resumo
  • Introdução

    Nas últimas duas décadas, aumentou significativamente o número de estudos que buscam valorizar economicamente o serviço de polinização na agricultura. Isso tem servido para quantificar os impactos da polinização na segurança alimentar e na economia global, além de fundamentar políticas públicas (Porto et al., 2020). Esses estudos, em geral, se concentraram em um modelo agrícola dominante, baseado em monoculturas extensivas, uso intensivo de insumos químicos e maquinário pesado, que resultam em impactos ambientais negativos e riscos à saúde humana. Nesse modelo, é comum o uso de colônias da abelha Apis mellifera para polinização, embora sua disponibilidade esteja diminuindo globalmente devido a fatores como apicultura migratória e uso de agrotóxicos. No Brasil, o manejo dessa espécie introduzida tem crescido, apesar de estudos mostrarem que a polinização por insetos nativos silvestres pode ser mais eficiente e sustentável (Garibaldi et al., 2013; Kremen et al., 2002).

    Simultaneamente, a vegetação nativa próxima às áreas cultivadas é essencial para a manutenção de polinizadores, pois oferece os recursos necessários para sua sobrevivência. Por isso, há uma demanda urgente de transição para modelos de agricultura sustentável. Nesse contexto, os sistemas orgânicos e agroecológicos favorecem a diversidade de polinizadores por meio de práticas como policultivo, uso restrito de agrotóxicos, capina seletiva e implantação de agroflorestas. Tais práticas podem oferecer maior resiliência frente à escassez de polinizadores específicos e facilitar a introdução de novas culturas.

    No Brasil, iniciativas federais como o PLANAPO (Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica) e o PANIP (Plano de Ação Nacional de Conservação de Insetos Polinizadores) promovem práticas sustentáveis de produção. Entretanto, para que haja efetiva transição no campo, é necessário que os agricultores compreendam a importância e os benefícios dessas mudanças. Essa compreensão pode ser construída por meio de capacitações e experimentações.

    Dessa forma, o estudo descrito integra o projeto “RedeFort”, coordenado pela Embrapa Meio Ambiente, que promove oficinas de capacitação com agricultores familiares e técnicos. Essas oficinas visam à construção de conhecimentos sobre a relação entre práticas agrícolas e a conservação de polinizadores, além de contribuir com o objetivo 1 do PANIP: reduzir os efeitos nocivos de substâncias tóxicas sobre os polinizadores.

    Com base nisso, o objetivo principal do estudo foi levantar percepções e demandas de agricultores familiares sobre polinização e práticas agrícolas. Com base nas informações obtidas, será possível desenvolver conteúdos e metodologias para as oficinas de capacitação.

    Metodologia

    Foi elaborado um questionário semiestruturado, dividido em cinco seções: introdução, dados pessoais, observações sobre animais e plantas, informações sobre lavoura, e percepções sobre polinização e polinizadores. O questionário foi aplicado entre setembro e outubro de 2024, com apoio de técnicos da CATI e do Instituto de Terras de São Paulo, em formato impresso ou online.

    Resultados

    Foram entrevistados 52 agricultores familiares de 33 municípios paulistas. A maioria trabalha com cultivo vegetal (66,7%) e pertence aos sistemas de produção convencional (44,2%), agroecológico (36,5%) ou orgânico (19,2%). A faixa etária predominante é de 36 a 55 anos.

    Os polinizadores mais observados nas flores foram as abelhas, com destaque para as ASF (abelhas sem ferrão), mamangavas e Apis mellifera. Isso é coerente com dados que mostram que abelhas são os principais polinizadores de cultivos alimentares. Além delas, também foram citados vespas, pássaros e borboletas. O maior destaque dado às vespas no sistema agroecológico pode refletir maior biodiversidade nesse sistema.

    Entre as plantas mais observadas com presença de polinizadores destacaram-se laranja, abóbora e frutíferas. Agricultores de sistemas orgânicos e agroecológicos citaram maior diversidade de plantas, o que reflete tanto maior conhecimento da flora quanto uma maior riqueza vegetal nesses sistemas.

    Sobre benefícios atribuídos aos polinizadores, agricultores agroecológicos e orgânicos destacaram o aumento da produção e os convencionais, a polinização, revelando que muitos ainda não associam diretamente esse processo com o rendimento agrícola.

    Plantas apontadas como atrativas aos polinizadores variaram entre os sistemas: laranja, girassol e abacate foram mais citadas no convencional; pitanga, eucalipto, abóbora e ipê no orgânico; e abacate, manjericão e astrapéia no agroecológico. A variedade de espécies indicadas reflete e a experiência prática dos agricultores sobre os hábitos dos polinizadores.

    Entre as práticas convencionais danosas aos polinizadores, o uso de agrotóxicos foi amplamente citado, seguido de pulverizações e uso de inseticidas. Esse reconhecimento, inclusive por agricultores convencionais, é um importante passo para a adoção de práticas mais sustentáveis.

    Ao serem questionados sobre práticas convencionais benéficas, os agricultores agroecológicos destacaram a oferta de flores, enquanto muitos orgânicos afirmaram não saber responder. No sistema convencional, a rotação de culturas foi a resposta mais comum. No agroecológico, também se destacou o plantio consorciado.

    Em relação às práticas agroecológicas ou orgânicas vistas como prejudiciais, o uso de defensivos foi apontado, mesmo nos sistemas alternativos, embora também tenha havido reconhecimento de que muitas dessas práticas não trazem prejuízos aos polinizadores. Práticas benéficas citadas incluíram adubação verde, diversidade de espécies vegetais, uso de produtos não tóxicos e o policultivo.

    Sobre o entendimento da polinização, parte dos entrevistados relacionou o fenômeno à transferência de pólen, enquanto outros o associaram à produção de frutos ou fertilização. Isso mostra que ainda há lacunas de conhecimento importantes que precisam ser trabalhadas.

    Quanto à importância dos polinizadores, foram mencionadas sua relevância para a agricultura, a manutenção da vida e a produção de frutos. Também surgiram sobre polinização e sobre os próprios polinizadores, incluindo temas como horários ideais, impactos climáticos, manejo e conservação desses animais, e identificação de outros polinizadores com potencial comercial.

    Conclusão

     

    O estudo revelou que agricultores familiares, mesmo em diferentes sistemas produtivos, demonstram interesse e alguma familiaridade com os polinizadores, embora existam lacunas de conhecimento sobre o processo de polinização e seus impactos diretos na produtividade agrícola. A diversidade de polinizadores observados, bem como a variedade de plantas mencionadas, destaca o potencial de práticas agroecológicas e orgânicas na conservação desses organismos. Os resultados reforçam a importância de capacitações que esclareçam o papel dos polinizadores, os danos causados por práticas convencionais (como o uso de agrotóxicos), e as vantagens de uma agricultura mais diversificada e sustentável, tanto para a biodiversidade quanto para a produção de alimentos.

  • Palavras-chave
  • polinizadores, práticas agrícolas, produção de alimentos
  • Modalidade
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Comissão Organizadora

Estudantes de biologia da Universidade Estadual de Campinas. 

 

 

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