Introdução: O câncer do colo do útero é a quarta doença mais frequente em mulheres no mundo e o terceiro tipo de câncer mais incidente na população feminina brasileira. A doença é prevenível devido ao seu crescimento lento e, em virtude do longo estágio pré-maligno, mecanismos para a prevenção segura são implementados por meio de programas de rastreamento, com foco na detecção precoce e no tratamento adequado. O rastreio do câncer cervical e a identificação de lesões podem ser realizados por duas técnicas: a citologia convencional (CC) ou por meio líquido, cujas células cervicais coletadas são posteriormente analisadas. A citologia em base líquida (CBL), que permite a realização de exame molecular, é capaz de detectar a presença do vírus HPV no organismo e atualmente foi incluído pelo SUS no programa de rastreamento nacional. Apesar da citologia convencional ser mais simples, ela apresenta algumas limitações. Com o objetivo de superá-las, a citologia em base líquida surgiu como alternativa. Diante do cenário atual, considerando os avanços tecnológicos e o aprimoramento dos programas de rastreamento do câncer do colo do útero, a análise crítica acerca dos métodos de rastreio torna-se de suma importância ao passo que são estratégias que favorecem o diagnóstico precoce e, consequentemente, contribuem para a redução dos casos de alterações cervicais e dos índices de mortalidade entre as mulheres. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi realizar uma análise comparativa sobre as técnicas de citologia convencional e em base líquida na região de Sorocaba, São Paulo, tendo em vista possibilitar a identificação eficaz e precoce do papilomavírus humano (HPV), comparando com os testes moleculares de DNA-HPV.
Métodos: Foram avaliadas 150 amostras na região de Sorocaba, porém avaliadas nesse trabalho somente 45, as quais possuíam as três avaliações: CC, CBL e DNA-HPV. As mulheres participantes apresentavam a faixa etária entre 25 e 65 anos e as coletas foram realizadas pelo mesmo profissional de saúde em uma clínica privada. Os dados foram levantados de forma estatística, comparando os dois métodos de análise, a fim de identificar as vantagens e desvantagens de uma técnica em relação à outra. A técnica de diagnóstico da CBL é feita através da coleta de células cervicais pelo uso de uma escova ou espátula, então o material coletado é posto sobre o recipiente estéril com o meio líquido, o qual apresenta função de preservar e fixar as células, que também será utilizado para a realização do teste molecular DNA-HPV. Por outro lado, a CC envolve o mesmo método de coleta, porém o material é depositado diretamente sobre uma lâmina, que será corada pela coloração de Papanicolau, utilizando álcool absoluto, álcool 95%, álcool 70%, corante Hematoxilina, corante EA-36 e verniz para a preservação da lâmina.
Resultados: Alguns critérios de comparação foram utilizados para a análise de resultados, tendo em vista que apesar de ambas as metodologias serem realizadas a partir de coletas manuais, realizadas pelo mesmo profissional da saúde, a confecção dos esfregaços resultam em técnicas diferentes, sendo a continuação do processo manual de coloração e a confecção da lâmina de citologia de meio líquido por meio do maquinário (padronizado), o que pode gerar resultados diferentes, aos olhos dos citologistas. Em relação aos achados descritivos nos resultados das citologias, tanto CC como em CBL, os resultados foram separados apenas como normais, insatisfatórios e presença de atipias, e, devido ao critério de inclusão aceito para esse estudo ser estabelecido como a faixa etária dos participantes entre 25 e 65 anos, considerou-se a possiblidade de resultados que apresentassem alterações em células escamosas ou glandulares, como: atipias em células escamosas de significado indeterminado (ASC-US), atipias em células escamosas de significado indeterminado não podendo excluir lesão de alto grau (ASC-H), lesão intraepitelial de baixo grau (LSIL), lesão intraepitelial de alto grau (HSIL), atipias em células glandulares (AGC) e carcinoma invasor. Desse modo, como um dos critérios avaliados refere-se à adequabilidade das amostras, apenas 1 das 45 amostras de CC foi considerada insatisfatória por dessecamento (2,2%). Embora a faixa etária das participantes sugerisse a possibilidade de presença de lesões variadas, os achados citológicos corresponderam a lesões de origem indefinidas e lesões intraepiteliais de baixo grau. Os resultados encontrados em ambas as técnicas foram correlatos e, quando associados aos resultados do DNA-HPV, não foram discrepantes. No entanto, vale ressaltar que em casos de lesões de origem indefinidas, como ASC-US, houve um laudo no qual o DNA-HPV resultou em "não detectado", porém a participante apresentou o resultado de ASC-US nas duas técnicas, tanto na CC quanto na CBL.
Conclusão: Na comparação dos diagnósticos citológicos com os diagnósticos do DNA-HPV, houve concordância cito/DNA-HPV tanto para CC quanto para CBL, nos achados relacionados com lesões intraepiteliais de baixo grau, enquanto que os resultados de ASC-US identificados nos exames citológicos mostraram o melhor desempenho, tanto na CC quanto na CBL, quanto à acurácia e à especificidade e resultaram em DNA-HPV NÃO DETECTADO, o que comprova a necessidade de acompanhamento periódico por exames de citocolposcopia, ainda que seja implantando o rastreio de DNA-HPV.
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Estudantes de biologia da Universidade Estadual de Campinas.
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