A comunidade dos costões rochosos é única, com organismos de vida longa, alta competição e interações fáceis de serem observadas. Devido a essa facilidade, os costões rochosos são um ambiente essencial para a compreensão de fenômenos ecológicos, como a distribuição de espécies nas rochas. Neste estudo, nós investigamos se há diferença na distribuição da riqueza ao longo das faixas verticais da rocha a depender da face da rocha observada (voltada para o mar ou voltada para a praia). Nós esperávamos encontrar menor riqueza na face voltada para a praia, porque haveria menos água desse lado (não receberia água diretamente no choque da onda) assim certos seres vivos dependentes da água trazida das ondas não sobrevivem, além de, na face voltada para o mar a riqueza diminuiria de forma mais gradual ao longo das faixas verticais, já que a água trazida pelas ondas alcança faixas mais altas fazendo com que em alturas maiores as espécies dependentes de alta umidade sobrevivam. Além disso, esperávamos que a composição da comunidade de cada faixa vertical fosse diferente entre as faces da rocha, já que um lado teria que lidar com o choque mecânico das ondas, que pode arrastar seres vivos mal fixados, e o outro não.
Amostramos 5 rochas com distância semelhante ao mar pertencentes ao costão rochoso da Praia da Fazenda em Picinguaba-SP durante a maré baixa. As faces da rocha foram determinadas de acordo com a umidade das faixas mais altas, indicando o lado que as ondas batiam durante a maré alta. Realizamos a medição de altura de cada uma delas utilizando uma trena, considerando o ponto zero como a posição mais baixa sem contato com a água durante o pico da maré baixa, e a altura máxima da rocha. Então dividimos a altura de cada rocha em três (um terço da altura, dois terços da altura e altura máxima como marcações), chamando os níveis de “baixo”, “médio” e “alto”, respectivamente. Usando uma janela recortada de 8x8 cm², aleatorizamos a posição da janela ao longo de cada faixa para cada amostra. Contamos todos os tipos de macroinvertebrados, e de outros seres vivos como algas, que estavam contidos dentro da janela. Repetimos esse processo 3 vezes para cada nível e para cada lado da rocha, totalizando 18 medições para cada rocha. Comparamos as médias de cada faixa para cada face utilizando o teste de Kruskal-Wallis. Por fim, identificamos as espécies em cada amostra de acordo com localização geográfica e morfologia encontrados na literatura, e através da plataforma iNaturalist. Foi feito uma Análise de Coordenadas Principais (PCoA), utilizando a o índice de Jaccard, para observar a mudança na composição das espécies ao longo das faixas verticais. As análises dos resultados foram realizadas utilizando a linguagem R.
As hipóteses deste estudo foram corroboradas. A riqueza é menor, em média, na face voltada para a praia em relação à voltada ao mar. À medida que a altura aumenta, a riqueza nas rochas diminui, independente da faixa observada, sendo principalmente ocupada pelo molusco Echinolittorina lineolata. A riqueza na face voltada ao mar tem uma queda mais gradual, com uma redução na riqueza média do nível baixo para o médio menor (por volta de 2 espécies) que na face voltada para a praia (acima de 4 espécies). A composição das espécies foi mudando ao longo das faixas verticais, e a composição das comunidades eram diferentes entre as faces. Como a faixa baixa fica submersa na maré alta, o que deve determinar a composição da comunidade deve ser o choque de ondas, espécies menos resistentes devem ocupar a face voltada para a praia. A ostra Saccostrea cucullata, que provavelmente sofre danos e não consegue se estabelecer no lado do mar devido às ondas, foi frequente nessa faixa da face da praia. Além disso, as ondas exercem um distúrbio intermediário na comunidade voltada à praia, o que segundo a HDI (Hipótese do distúrbio intermediário de Connell) aumenta a riqueza no local. A presença das ondas também garante a chegada de recursos como, água e alimento para animais filtradores, mas também de larvas de macroinvertebrados que podem colonizar a rocha. Isso fica evidente na face da praia, já que o conjunto de espécies que poderiam ocupar as faixas mais altas foi reduzindo mais rapidamente com o aumento da altura. Não foi coletada abundância das espécies, mas havia espécies que foram amostradas regularmente tanto no lado da praia, quanto do mar, como o mexilhão Mytilaster solisianus nas faixas médias demonstrando uma possível melhor capacidade competitiva.
As ondas possuem grande influência na distribuição de espécies no costão rochoso, possivelmente por fornecer recursos fundamentais e permitir a colonização de larvas pelágicas nesse ambiente, o que aumenta a possível combinação de espécies que podem colonizar a rocha. O recurso mais limitante desse ambiente é a água, e as ondas permitem a entrada constante dele para a comunidade. Dessa maneira, espécies que são mais resistentes à dessecação, como o molusco Echinolittorina lineolata, conseguem ocupar faixas mais altas nas faces voltadas para o mar. Isso fica ainda mais evidente ao observar o decrescimento acentuado na riqueza entre a altura baixa e média na face da praia. Entretanto, as ondas também podem filtrar espécies que não conseguem se estabelecer com a força do impacto sobre a rocha. Assim, espécies menos resistentes ao choque podem ocupar a face voltada para a praia.
Comissão Organizadora
Estudantes de biologia da Universidade Estadual de Campinas.
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