Projeto de vida: o encontro de sentido na prática docente

Projeto de vida: o encontro de sentido na prática docente

• Autor
• LUCIA MIRANDA GOUVEA
• Resumo

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  PROJETO DE VIDA: O ENCONTRO DE SENTIDO NA PRÁTICA DOCENTE

   

  Os primeiros passos

  A Logoterapia e a Análise Existencial de Viktor Emil Frankl entraram na minha vida através da participação como voluntária do Grupo Acolhe, em 2022. Esse grupo integra o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Diversidade (NEPED) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), criado pela Profa. Dra. Sandrelena da Silva Monteiro. É um grupo de pesquisa e extensão interdisciplinar, cujo foco é a construção de valores inclusivos no Ensino Superior, como forma de prevenção do adoecimento mental discente.

  Os ensinamentos de Viktor Frankl representam o referencial teórico que alicerça o Grupo Acolhe, sendo sua descoberta, motivo de profunda sensibilização, além de contribuir tanto para o meu enriquecimento pessoal como profissional. Posso afirmar que o contato com autor, fez aflorar uma educadora diferente, acredito que bem melhor. Desde então, busco desenvolver minha prática pedagógica sustentada pelos valores de Frankl.

  Encontrando sentido no projeto de vida em educação

  No início, os(s) estudantes estranharam a nova forma de trabalho. Estavam acostumados a receber tudo quase pronto, sem cobrança, reflexão ou questionamento. Os conteúdos eram apresentados, explicados através de anotações no quadro de giz, exercícios estruturais eram realizados e posteriormente corrigidos com a turma, também no quadro, sem que houvesse envolvimento de todos.  

  Meu olhar em termos de projeto de vida profissional teve seu foco alterado. Não cabia mais ministrar aulas de inglês (a disciplina que leciono na Rede Municipal de JF) abordando conteúdos gramaticais desconectados da realidade, os quais não despertavam o menor interesse dos(as) estudantes. Recalculei a rota, arregacei as mangas e parti para alterar minha forma de trabalho, utilizando os conteúdos de língua inglesa, com minhas três turmas de oitavo ano, a partir de temas do cotidiano escolar, tais como: bullying, drogas, direitos humanos, amizade, paz na escola, preconceito, dentre outros. Desenvolvemos discussões em sala de aula, rodas de conversa, representações através de mímica, construção de vocabulário em inglês, frases e textos simples em inglês, com o uso de dicionário (inglês-português/português-inglês), jogos, músicas em inglês relacionadas aos assuntos estudados etc. Sempre buscando aguçar a consciência dos(as) discentes, suscitando dessa forma, o desejo mesmo que inconsciente de realização da vontade de sentido. Nas palavras de Frankl:

   

  A busca do indivíduo por um sentido é a motivação primária em sua vida, e não uma “racionalização secundária” de impulsos instintivos. Esse sentido é exclusivo e específico, uma vez que precisa e pode ser cumprido somente por aquela determinada pessoa. Somente então esse sentido assume uma importância   satisfará sua própria vontade de sentido (Frankl, 2023, p.124-125).                                                                                                    

              Ao longo de nossas atividades escolares e por ser uma característica pessoal, tentei e tento colocar alegria e humor nas minhas aulas, para torná-las mais atraentes. Acredito plenamente em um ambiente acolhedor, em que os educandos(as) se sintam pertencentes, com liberdade de expressão, para participarem ativamente, se enriquecerem mutuamente e se sentirem valorizados, com o intuito de que a aprendizagem se consolide de forma mais leve e duradoura. Segundo Frankl (2023, p. 62), “A vontade de humor – a tentativa de enxergar as coisas numa perspectiva engraçada – constitui um truque útil para a arte de viver”. 

              Percebi o quanto dialogar com a turma, pedir e acatar sugestões, foi mudando gradativamente não só a participação em sala de aula, como o interesse por discutir temas que podiam ser relacionados à disciplina e mais do que isso, a sensação que tive foi a de que as aulas passaram a ter sentido para os educandos(as) ali presentes. O diálogo compartilhado que propiciava uma troca efetiva através da conversa, aceitação da opinião de outra pessoa tornou-se um grande aliado contra a indisciplina que era bastante frequente nas aulas. Tinha dias em que eu não conseguia me fazer presente, mesmo estando em sala de aula. Falava sozinha em um burburinho de falas desconectadas. A sabedoria de Frankl (2005), me fez refletir que,

   

  Nenhum diálogo autêntico é possível a não ser que se inclua a dimensão do logos [...] é na realidade um monólogo, mera    autoexpressão. Qualquer diálogo que se limite à mera expressão    não participa da capacidade autotranscendente da realidade    humana. O encontro autêntico é um modo de coexistência que está aberto ao logos (Frankl, 2005, p.61).

   

              Essa minha nova postura como professora foi decisiva para vivenciar a educação como projeto de vida, sempre buscando e encontrando sentido na trajetória. As aventuras na/pela educação são capazes de propiciar, um olhar mais humanizado, flexível, aberto a questionamentos, acertos e recomeços, visto que nada é definitivo.

   

                     

  Referências

  FRANKL, Viktor E. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo. Aparecida- SP: Ideias & Letras, 2005.

  FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes, 59ª ed. 2023.

   

• Palavras-chave
• Projeto de vida, sentido, prática docente
• Modalidade
• Comunicação oral
• Área Temática
• • Projeto de vida

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