Gestão Escolar como Mediação de Sentido: Um Estudo de Caso à Luz da Logoterapia
Resumo
Este estudo de caso apresenta uma experiência vivida em uma escola privada de Ensino Fundamental – anos finais (6º ao 9º ano) – na qual a gestão escolar mediou um conflito envolvendo uma estagiária de terapia ocupacional e três alunas. A intervenção foi fundamentada nos princípios da Logoterapia, como liberdade de escolha, escuta empática e busca de sentido. O caso evidencia o papel do gestor como agente de transformação ética e humana, com potencial de inspirar práticas semelhantes em outras realidades educacionais.
1. Introdução
A gestão escolar contemporânea assume um papel que vai além da administração, tornando-se essencial na mediação de conflitos e fortalecimento de vínculos. Sob a perspectiva da Logoterapia, desenvolvida por Viktor Frankl (2016), o gestor é alguém que ajuda o outro a encontrar sentido mesmo diante da dor. Neste relato, uma diretora enfrenta um episódio de rejeição contra uma estagiária, conduzindo-o com base nos pilares logoterapêuticos de escuta, responsabilidade e transcendência.
2. O Caso: Entre o Conflito e a Escolha
A situação teve início quando a diretora se deparou com uma estagiária, atuante em turmas dos anos finais, visivelmente abalada. Em conversa, a jovem revelou que soubera de um abaixo-assinado promovido por três alunas solicitando sua retirada da escola, sob a alegação de falta de empatia. O caso já repercutia entre os pais.
A diretora acolheu o sofrimento da estagiária e, com postura ética, iniciou a escuta dos estudantes. Os alunos que haviam informado a estagiária reconheceram que poderiam ter recorrido à mediação institucional. Em seguida, as três alunas responsáveis foram ouvidas individualmente. Duas demonstraram arrependimento; uma já havia retirado seu nome do documento. A escuta, sem julgamentos, gerou um espaço de responsabilização.
3. A Intervenção Logoterapêutica
Inspirada por Frankl (2016), a diretora promoveu uma roda de conversa, propondo às alunas a seguinte reflexão: “O que vocês podem fazer para reparar essa situação?”. A pergunta mobilizou um movimento simbólico de reparação: cartas, desenhos, nova mobilização com a hashtag #FicaCarol e um novo abaixo-assinado pedindo que a estagiária permanecesse. As ações demonstraram que, quando há espaço para escolha e reconhecimento de culpa, há também possibilidade de transformação.
A liberdade, conforme Frankl, não é fazer o que se quer, mas assumir uma atitude responsável diante dos fatos. As alunas vivenciaram essa escolha consciente, transcendendo o erro e fortalecendo vínculos interpessoais.
4. O Momento da Reconciliação
A estagiária foi convidada a retornar à sala, onde recebeu os gestos de reparação. Emocionada, agradeceu a todos e compartilhou que, mesmo deixando a escola por motivos acadêmicos, levava uma experiência valiosa. A aluna que iniciou o abaixo-assinado expressou arrependimento e pediu desculpas, demonstrando amadurecimento emocional. A turma apoiou a reconciliação, reafirmando o compromisso coletivo com o respeito e a empatia.
5. Considerações Finais
Este relato evidencia que o gestor escolar, ao adotar uma postura logoterapêutica, atua como mediador do sentido. A escuta ativa, a confiança na escolha responsável dos alunos e a mediação sem punição revelam a escola como espaço de formação ética e humanização.
Como ressalta Nunes (2020), educar é também oferecer experiências de sentido. A diretora, ao escolher caminhos restaurativos, fortaleceu os vínculos entre todos os envolvidos e demonstrou que é possível transformar conflitos em aprendizado para a vida.
Referências
FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido. 34. ed. Petrópolis: Vozes, 2016.
NUNES, Maria Luiza S. Logoterapia e Educação: sentido e transcendência em sala de aula. Curitiba: CRV, 2020.
MANTOAN, Maria Teresa E. Inclusão escolar: o que é? por quê? como fazer? São Paulo: Moderna, 2006.
Os Anais do VII Congresso Internacional de Logoterapia Aplicada à Educação, realizado sob o tema “Projeto de vida: uma resposta à missão”, reúnem trabalhos científicos de diversas regiões do Brasil, elaborados por autores e autoras vinculados a escolas, universidades e outros espaços educativos. Este congresso constitui o principal evento dedicado à reflexão e ao debate sobre uma educação antropologicamente fundamentada no pensamento de Viktor Frankl. Esperamos que as produções aqui publicadas não representem um ponto final, mas sim um impulso para novas reflexões e ações em torno dessa temática tão essencial.
Comissão Organizadora
Instituto de Educação e Cultura Viktor Frankl
Presidenta do Congresso
Gladis Villela
Comissão Científica
David Moisés Barreto dos Santos
Gladis Villela
Eloisa Marques Miguez
Marina Lemos Silveira Freitas
Vinicius Cerqueira Bastos dos Santos
Coordenador do Comitê de Programa
Vinicius Cerqueira Bastos dos Santos
Comitê de Programa
Adriana Braitt Lima
Ana Paula Zeferino Rennó
Benedito Guilherme Falcão Farias
Darci de Oliveira Santa Rosa
David Moisés Barreto Santos
Diogo Arnaldo Correa
Elaine Custódio Rodrigues Gusmão
Elaine Guedes Fontoura
Gilvan de Melo Santos
Kátia Vanessa Pinto de Meneses
Lisieux D'Jesus Luzia de Araújo Rocha
Lílian Perdigão Caixeta Reis
Lorena Bandeira Melo de Sá
Marcos Luiz Soares
Michell Ângelo Marques Araújo
Mônica Patrícia Oliveira Souza
Neide Rebouças de Oliveira
Pablo Lincoln Sherlock de Aquino
Raisa Fernandes Mariz Simões
Raissa Daniella Correa Gomes
Rouseane da Silva Paula Queiroz
Sam Hadji Cyrous
Sandrelena Monteiro
Sheila Maria Hesketh Rabuske
Silvania Rita Ramos
Thiago Antonio Avellar de Aquino
Valdir Barbosa Lima Neto
Vinícius Cerqueira Bastos dos Santos
Anais do VI Congresso Internacional de Logoterapia Aplicada à Educação
https://doity.com.br/anais/vi-congresso-internacional-de-logoterapia-aplicada-a-educacao