Neuropsicopedagogia clínica e a busca de sentido na educação inclusiva: contribuições da Logoterapia para o desenvolvimento humano

  • Autor
  • Aline Michelle Saranzo Massaro
  • Resumo
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    Promover uma educação inclusiva de fato implica ir além do acesso formal e garantir que cada aluno encontre sentido em seu percurso de aprendizagem. Crianças com transtornos do neurodesenvolvimento frequentemente enfrentam barreiras na aprendizagem e na participação escolar, vivenciando experiências de fracasso e impactos negativos na autoestima. Nesse cenário, a Neuropsicopedagogia clínica, aliada aos princípios da Logoterapia, oferece um caminho para resgatar o vínculo com a aprendizagem e promover a realização de sentido na existência.

     

    Como neuropsicopedagoga atuante em ambiente clínico, vivencio diariamente o impacto da integração entre essas abordagens. O olhar existencial da Logoterapia enriquece a prática clínica e orienta a mediação com educadores, ampliando a construção de uma verdadeira cultura inclusiva. Este texto reflete sobre a contribuição dos três pilares da Logoterapia — liberdade de vontade, vontade de sentido e sentido da vida — no trabalho neuropsicopedagógico de crianças com transtornos do neurodesenvolvimento e como essa perspectiva inspira práticas pedagógicas humanizadas, fortalecendo o papel do terapeuta na mediação entre clínica e escola.

     

    A Logoterapia, criada por Viktor E. Frankl, parte do princípio de que a busca de sentido é a motivação primária do ser humano (Frankl, 2016). Mesmo em situações de sofrimento, o indivíduo mantém a capacidade de escolher uma postura perante as circunstâncias. Essa visão se sustenta em três pilares: liberdade de vontade — a pessoa é livre para escolher sua atitude, mesmo em contextos adversos; vontade de sentido — a busca por sentido orienta ações e escolhas; e sentido da vida — cada situação contém possibilidades de sentido que podem ser descobertas e realizadas.

     

    No ambiente clínico, esses pilares orientam um trabalho que vai além da remediação das dificuldades de aprendizagem. O vínculo estabelecido é uma oportunidade para fortalecer a liberdade de vontade da criança. Muitas chegam à clínica com a crença de que são incapazes de aprender ou que seu valor depende do desempenho escolar. O processo terapêutico fundamentado na Logoterapia busca restaurar a percepção de que, apesar das limitações, sempre há espaço para uma resposta pessoal significativa.

     

    Trabalhar com valores de criação (realizações e aprendizagens), valores de vivência (relacionamentos e experiências afetivas) e valores de atitude (postura perante as dificuldades) oferece ao aluno ferramentas para fortalecer sua autotranscendência — capacidade de ir além de si mesmo, conectando-se com algo maior. Esse trabalho favorece uma nova narrativa, em que o aluno se vê como um ser em desenvolvimento, capaz de contribuir e crescer.

     

    Parte essencial da atuação clínica é a mediação com educadores. É comum que a escola veja a criança sob a ótica do déficit, reforçando um ciclo de exclusão e desmotivação. A orientação aos professores, ancorada na Logoterapia, incentiva a enxergar o aluno como sujeito único, em busca de sentido, com liberdade e dignidade. Práticas concretas incluem promover oportunidades de vivência de sucesso e pertencimento, valorizar conquistas singulares e criar ambientes onde a participação da criança tenha significado real. Essa mudança repercute positivamente no vínculo entre aluno e escola, fortalecendo a motivação e o engajamento.

     

    A prática clínica orientada pelos pilares da Logoterapia envolve estratégias como ressignificação da trajetória escolar, ajudando o aluno a reinterpretar experiências de fracasso à luz de sua liberdade e potencial; promoção da consciência existencial, desenvolvendo no aluno a consciência de suas escolhas e responsabilidade no processo de aprendizagem; e valorização do aqui e agora, estimulando a vivência de experiências significativas no presente, como forma de fortalecer a vontade de sentido.

     

    Os impactos desse trabalho são visíveis: crianças tornam-se mais resilientes e motivadas; educadores desenvolvem um olhar mais empático e inclusivo; e famílias adotam uma postura de apoio baseada no respeito à dignidade do filho. A prática clínica inspirada na Logoterapia permite que crianças que antes se viam como fracassadas possam experimentar a alegria de aprender, participar e ser reconhecidas.

     

    Integrar os pilares da Logoterapia à prática neuropsicopedagógica clínica oferece um caminho potente para promover uma educação inclusiva com sentido. Ao reconhecer cada aluno como ser livre, responsável e em busca de sentido, contribuímos para que escola e clínica se tornem espaços de realização humana. Como neuropsicopedagoga, reafirmo que o trabalho diário com as crianças e o diálogo com educadores mostram que, quando se cultiva um olhar logoterapêutico, a educação transcende a técnica e se torna um compromisso ético com o desenvolvimento integral de cada sujeito.

     

    Referências

    FRANKL, Viktor Emil. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. 34. ed. Petrópolis: Vozes, 2016.

    NUNES, Maria Luiza Silva. Logoterapia e Educação: sentido e transcendência em sala de aula. Curitiba: CRV, 202

     

  • Palavras-chave
  • Logoterapia; Neuropsicopedagogia; Educação Inclusiva; Vontade de Sentido; Autotranscendência.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • • Cultura inclusiva
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Os Anais do VII Congresso Internacional de Logoterapia Aplicada à Educação, realizado sob o tema “Projeto de vida: uma resposta à missão”, reúnem trabalhos científicos de diversas regiões do Brasil, elaborados por autores e autoras vinculados a escolas, universidades e outros espaços educativos. Este congresso constitui o principal evento dedicado à reflexão e ao debate sobre uma educação antropologicamente fundamentada no pensamento de Viktor Frankl. Esperamos que as produções aqui publicadas não representem um ponto final, mas sim um impulso para novas reflexões e ações em torno dessa temática tão essencial.

  • • Antropologia pedagógica
  • • Cultura inclusiva
  • • Espiritualidade na educação
  • • Formação de professores
  • • Gestão escolar
  • • Políticas públicas educacionais
  • • Integração escola-família
  • • Prevenção às dependências (química, internet, celular etc.)
  • • Prevenção do vazio existencial e do comportamento autodestrutivo
  • • Projeto de vida
  • • Sexualidade humana orientada ao sentido
  • • Valores na educação

Comissão Organizadora

Instituto de Educação e Cultura Viktor Frankl
 

Presidenta do Congresso

Gladis Villela

Comissão Científica

David Moisés Barreto dos Santos
Gladis Villela
Eloisa Marques Miguez
Marina Lemos Silveira Freitas
Vinicius Cerqueira Bastos dos Santos

Coordenador do Comitê de Programa

Vinicius Cerqueira Bastos dos Santos

Comitê de Programa

Adriana Braitt Lima
Ana Paula Zeferino Rennó
Benedito Guilherme Falcão Farias
Darci de Oliveira Santa Rosa
David Moisés Barreto Santos
Diogo Arnaldo Correa
Elaine Custódio Rodrigues Gusmão
Elaine Guedes Fontoura
Gilvan de Melo Santos
Kátia Vanessa Pinto de Meneses
Lisieux D'Jesus Luzia de Araújo Rocha
Lílian Perdigão Caixeta Reis
Lorena Bandeira Melo de Sá
Marcos Luiz Soares
Michell Ângelo Marques Araújo
Mônica Patrícia Oliveira Souza
Neide Rebouças de Oliveira
Pablo Lincoln Sherlock de Aquino
Raisa Fernandes Mariz Simões
Raissa Daniella Correa Gomes
Rouseane da Silva Paula Queiroz
Sam Hadji Cyrous
Sandrelena Monteiro
Sheila Maria Hesketh Rabuske
Silvania Rita Ramos
Thiago Antonio Avellar de Aquino
Valdir Barbosa Lima Neto
Vinícius Cerqueira Bastos dos Santos

Anais do VI Congresso Internacional de Logoterapia Aplicada à Educação

https://doity.com.br/anais/vi-congresso-internacional-de-logoterapia-aplicada-a-educacao