Sentido em jogo: esporte e a busca por uma vida com significado

Sentido em jogo: esporte e a busca por uma vida com significado

• Autor
• Mattheus Silva Santos de Matos
• Co-autores
• David Moisés Barreto dos Santos
• Resumo

• Entre os desafios contemporâneos enfrentados por jovens, destaca-se a sensação de vazio existencial — marcada por desmotivação, apatia e comportamentos de risco. Na perspectiva da Logoterapia, desenvolvida por Viktor Frankl (2012), esse vazio é interpretado como uma frustração da busca de sentido. Nesse cenário, torna-se fundamental pensar em espaços que favoreçam a vivência do sentido e da autotranscendência, sendo o esporte uma possibilidade concreta e potente. A partir dos fundamentos da logoterapia, este artigo discute como a prática esportiva pode contribuir para o fortalecimento do sentido da vida, a construção de um projeto existencial saudável e o desenvolvimento pessoal, funcionando como uma ferramenta preventiva frente ao vazio existencial.

  A Logoterapia compreende o ser humano como alguém orientado por uma necessidade profunda de encontrar sentido para a sua existência. A partir de suas experiências extremas durante o Holocausto, o autor defende que, mesmo em contextos de dor, é possível escolher uma atitude diante do sofrimento e descobrir um propósito que torne a vida digna de ser vivida (Frankl, 2012). Essa busca por sentido pode ocorrer de diferentes maneiras: pelo resgate de experiências significativas, pelo exercício da responsabilidade diante das escolhas, pela postura adotada frente ao sofrimento e pela capacidade de encontrar significado às vivências cotidianas.

  Ao discutir sobre esporte, Frankl argumenta que o ser humano precisa de tensões existenciais saudáveis para se desenvolver. Essas tensões funcionam como antídoto contra pensamentos destrutivos e frustrações existenciais. O autor austríaco propõe quatro ideias centrais: o ser humano necessita de uma dose de tensão; busca desafios por necessidade interior; vive, hoje, em uma sociedade que o priva dessas tensões; e, por isso, passa a criá-las artificialmente como ao praticar esportes competitivos, desafiar-se fisicamente em atividades como o montanhismo, o triatlo, maratonas ou buscar metas pessoais de superação extrema (Frankl, 2015).

  O esporte, especialmente quando vivido de forma autêntica, pode representar um espaço privilegiado para a descoberta de sentido e enfrentamento do vazio existencial. Esportes como basquete, futebol, vôlei, entre outros, são dinâmicos e desafiadores. Neles, os atletas são constantemente colocados diante de limites físicos, emocionais e relacionais que exigem superação, disciplina e resiliência. Essas experiências podem funcionar como formas de tensão existencial saudáveis — conforme propõe Frankl (2015) — ao oferecerem desafios que mobilizam o sujeito em direção a algo que o transcende. É nesse cenário que, para ele, o esporte surge como uma forma moderna de ascetismo, ou seja, uma prática de disciplina voluntária e superação que favorece o desenvolvimento interior. Ele oferece ao sujeito a chance de confrontar seus próprios limites, experienciar a autotranscendência e descobrir sentido para sua vida.

  A prática esportiva exige enfrentamento constante com o erro, a frustração, a pressão por desempenho e a convivência com o outro. Nessa vivência, o atleta é chamado a desenvolver sua capacidade de resposta diante das dificuldades, promovendo não apenas performance, mas também crescimento existencial. Dessa forma, o esporte oferece um espaço no qual o indivíduo experimenta escolhas responsáveis, disciplina, superação de limites e estabelecimento de metas. Essas vivências favorecem o desenvolvimento de um projeto existencial saudável, pautado por sentido, autonomia e engajamento com valores que transcendem o próprio ego, com efeitos que se estendem nas dimensões da vida pessoal, acadêmica e profissional.

  Técnicas logoterapêuticas como a intenção paradoxal e a derreflexão podem ser incorporadas no cotidiano esportivo, auxiliando atletas diante de momentos de pressão, falhas ou medo, ajudando-os a reencontrar leveza e desempenho com sentido. A primeira consiste em inverter o foco da ansiedade, o que frequentemente neutraliza seu efeito, pois, ao redirecionar a atenção da vitória obsessiva para o processo, o esforço e a entrega, é possível reduzir a ansiedade e recuperar o prazer de jogar. A segunda propõe deslocar o foco para algo maior do que si mesmo, evitando a hiperintenção — esforço excessivo que sabota o desempenho — ou seja, em vez de competir apenas para vencer o outro, o sujeito passa a competir consigo mesmo, em busca de sua melhor versão. Nesse movimento, o esporte torna-se uma poderosa ferramenta de prevenção às frustrações, ao vazio e aos comportamentos autodestrutivos, ao reconectar o indivíduo com um sentido concreto e vivenciado (Frankl, 2020) 

  Diante do avanço do vazio existencial e de comportamentos autodestrutivos entre jovens, é fundamental reconhecer o potencial do esporte como espaço de promoção do sentido da vida. Nesse cenário, o esporte se configura como uma prática educativa que desafia, estrutura e direciona o indivíduo a superar seus próprios limites. Quando vivido com autenticidade, torna-se um caminho de fortalecimento pessoal e existencial.

   

  REFERÊNCIAS

  FRANKL, V. E. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo (VH Lapenta, trad.). São Paulo: Idéias e Letras. (Trabalho original publicado em 1978), 2015.

  FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Editora Sinodal, 2012.

   

  FRANKL, Viktor E. Psicoterapia e existencialismo: textos selecionados em logoterapia. É Realizações Editora, 2020.

• Palavras-chave
• Logoterapia, Esporte, Sentido da vida, Vazio existencial, Autotranscendência.
• Modalidade
• Comunicação oral
• Área Temática
• • Prevenção do vazio existencial e do comportamento autodestrutivo

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