Este artigo propõe refletir sobre a formação docente a partir da conexão entre a logoterapia de Viktor Frankl e a ética amorosa defendida por Almeida (2017; 2021) para uma educação comprometida com a escuta, o cuidado e o despertar do sentido. Em tempos de intensas transformações sociais, econômicas, tecnologicas e culturais, entre outras pensar a formação de professores requer ir além do tecnicismo: requer atenção ao humano, às experiências existenciais e aos vínculos afetivos que sustentam o ato de educar.
Refletir sobre a formação docente não é algo novo, mas tampouco é uma questão encerrada. Pelo contrário, trata-se de um processo em permanente construção, que acompanha as mudanças do mundo e as necessidades daqueles que ensinam e aprendem. Os educadores não podem ser reduzidos a meros executores de tarefas pedagógicas, pois são sujeitos atravessados por histórias, emoções, desejos e conflitos. A formação, portanto, deve ser compreendida como um espaço de humanização e que possibilite a descoberta de sentido.
Nesse sentido, a logoterapia de Viktor Frankl oferece uma base teórica potente para pensar a formação do professor a partir de uma perspectiva antropológica. Para Frankl (2011), a motivação central do ser humano não é o prazer (como propõe Freud) ou o poder (como defendia Adler), mas a vontade de sentido. O ser humano é capaz de enfrentar as maiores adversidades se perceber que sua vida tem um sentido. Esse princípio pode ser transposto para a área educacional: quando o professor encontra sentido em sua prática, ele se fortalece diante dos desafios do cotidiano escolar.
Almeida (2017) complementa essa visão ao propor uma educação orientada pela ética amorosa, em que o vínculo entre educadores e educandos se baseia no respeito, no cuidado e na escuta. Para a autora, o amor não é um sentimento idealizado, mas uma postura ética que reconhece o outro em sua singularidade. A formação docente, nessa perspectiva, deve possibilitar experiências que conectem o professor a si mesmo, ao outro e ao mundo, promovendo uma educação sensível e significativa.
Frankl (2019) afirma que o amor é a via mais profunda de acesso à essência do outro, pois permite que se veja o ser humano como ele é, em sua totalidade. Ao amar, reconhecemos no outro sua dignidade, sua história e seu valor. Essa dimensão amorosa, aplicada à formação docente, implica o reconhecimento do professor como alguém que também precisa ser cuidado, ouvido e valorizado em sua subjetividade. Assim como os estudantes, os educadores vivem suas buscas, angústias e desejos de sentidp.
Freitas (2020) destaca a importância de criar espaços formativos nos quais o professor possa refletir sobre sua prática de maneira crítica e sensível. Em vez de focar apenas em competências técnicas, a formação deve considerar o sujeito docente em seus aspectos biopsicoespiritual. Isso inclui suas emoções, seus conflitos e sua busca por reconhecimento e sentido. O trabalho pedagógico não é neutro: é atravessado por valores, afetos e escolhas éticas. Ignorar essa complexidade é desumanizar a docência. Nesse processo, a escuta assume um papel central. Para Almeida (2021), escutar é um ato ético que exige presença, atenção e abertura ao outro. Escutar o professor é acolher sua trajetória, reconhecer suas potências e fragilidades, e oferecer condições para que ele encontre sentido em sua caminhada profissional e pessoal. A escuta não deve ser apenas um recurso didático, mas uma prática cotidiana que transforma relações e fortalece vínculos.
A formação docente, portanto, deve possibilitar vivências que ampliem o olhar dos professores sobre si mesmos, sobre seus estudantes e sobre o contexto em que atuam. Como propõe Frankl (2019), a autotranscendência — a capacidade de ir além de si em direção a algo maior — é um movimento essencial para a realização humana. Na educação, essa transcendência se concretiza quando o professor compreende o valor de seu trabalho e o impacto que pode ter na vida de seus alunos.
A proposta de Almeida (2017) de uma pedagogia das relações, sustentada por uma ética amorosa, dialoga diretamente com a noção frankliana de sentido. Ambos os autores defendem que o amor — entendido como atitude — é condição para que o encontro com o outro se torne fecundo. Educar é, assim, um ato de presença e de cuidado, que demanda sensibilidade, escuta e compromisso com a vida.
Concluindo, a formação docente não pode ser pensada apenas como preparação técnica para o exercício de uma profissão. Ela precisa considerar o professor como sujeito existencial, em busca de sentido e pertencimento. À luz de Frankl (2011; 2019) e Almeida (2017;2021), compreendemos que o amor, o cuidado e a escuta são fundamentos éticos e existenciais que podem renovar o fazer pedagógico e fortalecer os vínculos entre os sujeitos que habitam a escola. Em um mundo marcado por incertezas e desafios, formar professores humanos, sensíveis e conectados ao sentido de sua missão é um imperativo ético e político.
Os Anais do VII Congresso Internacional de Logoterapia Aplicada à Educação, realizado sob o tema “Projeto de vida: uma resposta à missão”, reúnem trabalhos científicos de diversas regiões do Brasil, elaborados por autores e autoras vinculados a escolas, universidades e outros espaços educativos. Este congresso constitui o principal evento dedicado à reflexão e ao debate sobre uma educação antropologicamente fundamentada no pensamento de Viktor Frankl. Esperamos que as produções aqui publicadas não representem um ponto final, mas sim um impulso para novas reflexões e ações em torno dessa temática tão essencial.
Comissão Organizadora
Instituto de Educação e Cultura Viktor Frankl
Presidenta do Congresso
Gladis Villela
Comissão Científica
David Moisés Barreto dos Santos
Gladis Villela
Eloisa Marques Miguez
Marina Lemos Silveira Freitas
Vinicius Cerqueira Bastos dos Santos
Coordenador do Comitê de Programa
Vinicius Cerqueira Bastos dos Santos
Comitê de Programa
Adriana Braitt Lima
Ana Paula Zeferino Rennó
Benedito Guilherme Falcão Farias
Darci de Oliveira Santa Rosa
David Moisés Barreto Santos
Diogo Arnaldo Correa
Elaine Custódio Rodrigues Gusmão
Elaine Guedes Fontoura
Gilvan de Melo Santos
Kátia Vanessa Pinto de Meneses
Lisieux D'Jesus Luzia de Araújo Rocha
Lílian Perdigão Caixeta Reis
Lorena Bandeira Melo de Sá
Marcos Luiz Soares
Michell Ângelo Marques Araújo
Mônica Patrícia Oliveira Souza
Neide Rebouças de Oliveira
Pablo Lincoln Sherlock de Aquino
Raisa Fernandes Mariz Simões
Raissa Daniella Correa Gomes
Rouseane da Silva Paula Queiroz
Sam Hadji Cyrous
Sandrelena Monteiro
Sheila Maria Hesketh Rabuske
Silvania Rita Ramos
Thiago Antonio Avellar de Aquino
Valdir Barbosa Lima Neto
Vinícius Cerqueira Bastos dos Santos
Anais do VI Congresso Internacional de Logoterapia Aplicada à Educação
https://doity.com.br/anais/vi-congresso-internacional-de-logoterapia-aplicada-a-educacao