Entre prestígio e preconceito: a realização do /r/ retroflexo no Sul do Pará

• Autor
• Manoella Gonçalve Bazzo
• Co-autores
• Tânia Ferreira Rezende
• Resumo

• Neste artigo, apresentamos os resultados do estudo sociolinguístico realizado sobre a ocorrência da variante retroflexa ([?]) no município de Redenção, ao Sul do Pará, no Norte do Brasil. Os estudos sobre a [?] se vinculam à caracterização do dialeto caipira (AMARAL, 1920), em São Paulo, e à trilha das bandeiras, nas regiões sudeste, sul e centro-oeste do Brasil. Por isso, essa variante é considerada típica de falares rurais, como o caipira paulista ou o roceiro goiano (REZENDE, 2005; 2013), por exemplo. Apesar disso, estudos indicam a ocorrência dessa variante no norte do Brasil (BRANDÃO, 2007; BAZZO, 2012), fenômeno ainda pouco abordado nas pesquisas sociolinguísticas. Assim, essa discussão se apoia nos resultados da pesquisa de campo, de cunho qualitativo correlacionada à metodologia quantitativa, realizada no município de Redenção – Pará, que abordou a realização da variante retroflexa entre pessoas desse município. A pesquisa é embasada, principalmente, na Sociolinguística Variacionista de Labov (2008), e contou com a participação de 12 redencenses (doravante coparticipantes), cujos relatos foram transcritos, tornando-se a materialidade empírica do estudo. Os resultados da análise quantitativa mostram que, em contexto pós-vocálico, todos(as) os(as) coparticipantes realizaram a fricativa glotal ([h]) ou o apagamento ([?]), ao passo que 3 dos(as) coparticipantes realizaram, além das variantes [h] e [?], também a retroflexa. Esse resultado confirma a presença da variante retroflexa no município, ainda que seu uso não seja categórico no repertório dos(as) coparticipantes.Com relação aos aspectos qualitativos, constatamos que parte dos(as) coparticipantes da pesquisa avaliam negativamente a  [?], associando-a ao contexto rural do município. Outra parte dos(as) coparticipantes a associam a [?] ao contexto agropecuarista da região, vinculando-a ao corpo branco centrosulista, tomado como índice do desenvolvimento no espaço rural. Nesse contexto, à [?] é agregado um prestígio sociolinguístico, o qual se associa à proposta de reconfiguração do caipira (AGUILERA; SILVA, 2015), baseada na figura do fazendeiro, homem de negócios, bem sucedido e índice de uma cultura country americana presente no contexto brasileiro (ALEM, 2005; OLIVEIRA, 2003).

• Palavras-chave
• Sociolinguística variacionista, Variante retroflexa, Paraense, Redenção.
• Modalidade
• Comunicação oral
• Área Temática
• Sociolinguística

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