O presente trabalho analisa o preenchimento do objeto direto anafórico de terceira pessoa à luz da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008 [1972]) e do trabalho de Poplack (2014). O objetivo é discutir a implementação de uma norma distinta da norma padrão nas comunidades de fala, observando quais formas inovadoras ocupam o espaço deixado pelo clítico acusativo, que está em desuso no português brasileiro, como apontam trabalhos como os de Omena (1978) e Duarte (1986). Buscamos também compreender como essa norma – chamada de norma da comunidade – tem influenciado a escrita de textos em quadrinhos e jornalísticos. Para isso, comparamos os resultados de Berbert (2015), baseados na fala de Vitória/ES, os de Zanellato (2017), constituído de dados de histórias em quadrinhos, e os de Conceição (2016), formado por textos de jornais capixabas. Os estudos apontam para uma mudança praticamente já concluída na fala, com o desaparecimento do clítico. Essa tendência pode ser também observada na escrita das histórias em quadrinhos. Por seu caráter mais formal, a escrita, na década de 1970 acompanha a norma-padrão, havendo 52,5% de casos com clítico e nenhuma retomada com pronome lexical, percentual que cai para 12,1% dos casos nos anos 2000. Notamos semelhante situação na escrita dos textos jornalísticos capixabas: ainda no século XIX e início do XX o clítico acusativo é usado em 50,8% dos casos, em 2012, os dados apontam uma diminuição de utilização da forma padrão e um aumento de recorrência do sintagma nominal. Além disso, a variante não recomendada pela tradição gramatical, o pronome lexical, se encontra na fala, e esse novo uso é transferido para a escrita das histórias em quadrinhos, de modo que o índice de uso dessa variante passa de 0% em 1970 para 13% nos anos 2000. Conclui-se, portanto, que no preenchimento do objeto direto anafórico de terceira pessoa, o uso da variante prescrita é mais notado do que o de outras variantes, uma vez que não é comum à comunidade o uso do clítico acusativo, por vezes, considerado pedante. Por conseguinte, o custo de desviar-se da norma da comunidade e adotar a norma prescrita é muito alto ao falante, já que não há modelo desse uso na comunidade.
O isolamento social impôs ao mundo uma nova forma de pensar o desenvolvimento das pesquisas científicas, sobretudo nas áreas das humanidades, cujo contato social é imprescindível para desenvolvimento de pesquisas. Dessa forma, o X Encontro de Sociolinguística propôs realizar esse debate para contribuir com as pesquisas em Sociolinguística, as quais tradicionalmente dependem muito de entrevistas.
Assim como em outros áreas, recorrer às tecnologias existentes, principalmente que utilizam os meios remotos, tem sido a atual prática para a coleta de dados. Além disso, tem-se buscado outras formas de obtenção de informações para empreender análises linguísticas a partir do perfil social dos falantes que possam dar as respostas científicas que tanto se espera na área de conhecimento objeto deste evento: a Sociolinguística.
Ao longo de quatro dias, o evento possibilitou alguns espaços para essas discussões e tantas outras: conferências, mesas-redondas e sessões de comunicação. Tal panorama pode ser conferido através dos resumos que compõem estes anais, os quais trazem apenas os temas que foram debatidos nas sessões por seus respectivos autores e os demais participantes.
Desejamos que os trabalhos que foram apresentados possam contribuir efetivamente para o desenvolvimento das diversas pesquisas em Sociolinguística e todas as interfaces possíveis que outras áreas dos estudos da linguagem.
Valter de Carvalho Dias
Membro da Comissão Organizadora
Cristina dos Santos Carvalho
Norma da Silva Lopes
Norma L F Almeida
Raquel Meister Ko Freitag
Silvana Silva de Farias Araujo
Valter de Carvalho Dias
André Pedro da Silva
Antônio Félix de Souza Neto
Clézio Roberto Gonçalves
Cristina Carvalho
Emília Helena Portella Monteiro de Souza
Mariana Fagundes de Oliveira Lacerda
Norma Lucia Fernandes de Almeida
Pedro Daniel dos Santos Souza
Raquel Meister Ko. Freitag
Ricardo Nascimento Abreu
Sandra Carneiro
Sandro Márcio Drumond Alves Marengo
Silvana Silva de Farias Araújo
Valter de Carvalho Dias
I ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação - História - Mudança
01 de dezembro de 2011
Universidade do Estado da Bahia (Salvador)
II ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Estudos da Variação, da Mudança e da Sócio-História do Português Brasileiro; Sociofuncionalismo e Etnografia da Comunicação
28 e 29 de novembro de 2012
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
III ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
A pesquisa em Salvador
03 e 04 de outubro de 2013
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IV ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diferentes olhares sobre o português brasileiro
15 e 16 de setembro de 2014
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
V ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diálogos entre Brasil e África
09 e 10 de novembro de 2015
Universidade Estadual de Feira de Santana (Feira de Santana-BA)
VI ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
O português do Nordeste: (para além das) fronteiras linguísticas
29 e 30 de setembro de 2016
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
VII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Redes e contatos
28 a 30 de setembro de 2017
Universidade Federal de Sergipe (São Cristovão-SE)
VIII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação e ensino: unidade e diversidade
20 e 21 de julho de 2018
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IX ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Sociolinguística: quebrando tabus e inovando na escola
01 e 02 de agosto de 2019
Universidade Federal da Bahia (Salvador-BA)
Anais