A língua escrita possui grande relevância sociocultural, pois grande parte das esferas da atividade humana se organiza por meio do seu uso. Considerando essa importância e a necessidade de escrever atendendo às convenções ortográficas, este trabalho objetiva explanar alguns resultados do Projeto Relação entre Fala e Escrita (REFALES), o qual tem como objetivo principal detectar os processos fonológicos presentes na escrita de estudantes do Ensino Fundamental, das redes pública e privada, urbana e rural, em Recife e região metropolitana, no intuito de auxiliar aos profissionais desse nível educacional na percepção e no entendimento dos desvios fonológicos para que pudessem buscar uma forma de sanar tais problemas de escrita. Para tanto, observamos fenômenos que envolvem consoantes, como: apagamentos e mudança de coda silábica; fenômenos vocálicos: ditongação, monotongação, alçamento e epêntese vocálica; além de fenômenos que acontecem na fronteira de palavras, como é o caso da hipersegmentação. Tomamos como pressupostos teóricos os trabalhos de Bisol (2009), Cagliari (2002), Callou, Moraes e Leite (1998), Faraco (2006), Hora (2017), Martins, Vieira e Tavares (2014), Miranda (2010), Mollica (2003), Tasca (2002) e Valente (2015). O corpus dessa pesquisa se constituiu de treinos ortográficos (de palavras e frases), além de produção textual em ambiente escolar, tomando por base o método indutivo e consecutiva análise quantitativa desses dados. Destarte, foi possível a apropriação de material que nos permitiu conjecturar sobre a heterogeneidade da escrita, pois identificamos que os “erros” ortográficos dos estudantes são, na maioria, advindos do fato de que há vazamento de processos do campo fonológico para o campo da escrita. Após análise dos dados coletados, pudemos constatar que: os alunos da rede pública apresentam mais vazamentos fonológicos para a escrita escolar do que os da privada; os desvios ortográficos diminuem com o aumento da escolaridade; alunos da rede urbana detém maior uso da norma urbana de prestígio quando comparados aos da rede rural; alunos que escrevem e leem mais, em seu dia a dia, apresentam menos desvios ortográficos.
O isolamento social impôs ao mundo uma nova forma de pensar o desenvolvimento das pesquisas científicas, sobretudo nas áreas das humanidades, cujo contato social é imprescindível para desenvolvimento de pesquisas. Dessa forma, o X Encontro de Sociolinguística propôs realizar esse debate para contribuir com as pesquisas em Sociolinguística, as quais tradicionalmente dependem muito de entrevistas.
Assim como em outros áreas, recorrer às tecnologias existentes, principalmente que utilizam os meios remotos, tem sido a atual prática para a coleta de dados. Além disso, tem-se buscado outras formas de obtenção de informações para empreender análises linguísticas a partir do perfil social dos falantes que possam dar as respostas científicas que tanto se espera na área de conhecimento objeto deste evento: a Sociolinguística.
Ao longo de quatro dias, o evento possibilitou alguns espaços para essas discussões e tantas outras: conferências, mesas-redondas e sessões de comunicação. Tal panorama pode ser conferido através dos resumos que compõem estes anais, os quais trazem apenas os temas que foram debatidos nas sessões por seus respectivos autores e os demais participantes.
Desejamos que os trabalhos que foram apresentados possam contribuir efetivamente para o desenvolvimento das diversas pesquisas em Sociolinguística e todas as interfaces possíveis que outras áreas dos estudos da linguagem.
Valter de Carvalho Dias
Membro da Comissão Organizadora
Cristina dos Santos Carvalho
Norma da Silva Lopes
Norma L F Almeida
Raquel Meister Ko Freitag
Silvana Silva de Farias Araujo
Valter de Carvalho Dias
André Pedro da Silva
Antônio Félix de Souza Neto
Clézio Roberto Gonçalves
Cristina Carvalho
Emília Helena Portella Monteiro de Souza
Mariana Fagundes de Oliveira Lacerda
Norma Lucia Fernandes de Almeida
Pedro Daniel dos Santos Souza
Raquel Meister Ko. Freitag
Ricardo Nascimento Abreu
Sandra Carneiro
Sandro Márcio Drumond Alves Marengo
Silvana Silva de Farias Araújo
Valter de Carvalho Dias
I ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação - História - Mudança
01 de dezembro de 2011
Universidade do Estado da Bahia (Salvador)
II ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Estudos da Variação, da Mudança e da Sócio-História do Português Brasileiro; Sociofuncionalismo e Etnografia da Comunicação
28 e 29 de novembro de 2012
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
III ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
A pesquisa em Salvador
03 e 04 de outubro de 2013
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IV ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diferentes olhares sobre o português brasileiro
15 e 16 de setembro de 2014
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
V ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diálogos entre Brasil e África
09 e 10 de novembro de 2015
Universidade Estadual de Feira de Santana (Feira de Santana-BA)
VI ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
O português do Nordeste: (para além das) fronteiras linguísticas
29 e 30 de setembro de 2016
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
VII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Redes e contatos
28 a 30 de setembro de 2017
Universidade Federal de Sergipe (São Cristovão-SE)
VIII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação e ensino: unidade e diversidade
20 e 21 de julho de 2018
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IX ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Sociolinguística: quebrando tabus e inovando na escola
01 e 02 de agosto de 2019
Universidade Federal da Bahia (Salvador-BA)
Anais