CARTAS DE MÃOS INÁBEIS DO SERTÃO BAIANO: A CONCORDÂNCIA VERBAL COM A TERCEIRA PESSOA DO PLURAL

  • Autor
  • Rosana Carvalho Brito
  • Co-autores
  • Mariana Fagundes de Oliveira Lacerda , Silvana Silva de Farias Araujo
  • Resumo
  • A realidade bipartida da língua no Brasil já foi atestada e discutida por muitos autores (SILVA NETO, 1963 [1951]; MATTOS E SILVA, 2004; LUCCHESI, 2001, 2009, 2012, 2015). Em Lucchesi (2001), discutem-se fatores que, ao longo do século XX, concorreram para uma aproximação entre os polos culto e popular do português brasileiro (PB). No entanto, como exposto em Lucchesi (2012), o abismo que separa as duas macrovertentes constitutivas do PB ainda existe, sendo perceptível, sobretudo, na realização variável das concordâncias verbal e nominal. A investigação desses fenômenos, assim, é de especial interesse para caracterização da realidade linguística brasileira. Nessa direção, há estudos expressivos, principalmente, com corpora orais. A proposta do capítulo é, assim, descrever a realização variável da concordância verbal em terceira pessoa do plural (P6) em textos escritos representativos da vertente popular do PB. Embora muitos trabalhos já tenham se dedicado à análise desse tema, esta análise ainda se justifica, sobretudo pela especificidade da amostra que analisa: textos escritos por mãos inábeis, falantes estacionados em fases incipientes de aquisição da escrita (MARQUILHAS, 2000). Trata-se de um acervo constituído por 131 cartas pessoais escritas ao longo do século XX (sobretudo entre as décadas de 1950 e 1970) por 53 sertanejos poucos escolarizados (31 mulheres e 22 homens), naturais de áreas rurais dos municípios baianos de Riachão do Jacuípe, Conceição do Coité e Ichu – uma amostra foi reunida e editada por Santiago (2012; 2019). São textos trocados entre familiares e amigos em relações simétricas, refletindo, assim, a escrita cotidiana, menos monitorada. Nesse sentido, são materiais importantes para os estudos em Linguística Histórica, tendo em vista que, diante da impossibilidade de acesso à língua do passado, esses documentos são os que mais permitem uma aproximação com os dados da oralidade. Para análise dos dados, serão considerados cinco contextos estruturais (posição do sujeito, concordância nominal no sujeito, caracterização semântica do sujeito, presença de marcas de plural adjacente ao verbo e saliência fônica) e um social (sexo). Não parece produtivo controlar a faixa-etária na amostra examinada, uma vez que os escreventes tinham mais ou menos a mesma idade quando da escrita das cartas (a maioria tinha entre 15 e 28 anos). De forma análoga, o controle da escolarização também não é viável, já que todos os remetentes são pouco escolarizados, a maior parte tendo aprendido a ler e escrever em contextos extraescolares de aprendizagem. Os dados serão interpretados a partir dos pressupostos da Sociolinguística Histórica. Adotam-se, portanto, alguns princípios da Teoria da Variação e da Mudança (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006 [1968]) para estudo da variação, mas fazem-se os ajustes metodológicos exigidos pelo trabalho com textos escritos do passado. Como a distribuição dos dados dificulta a análise de pesos relativos para os grupos de fatores controlados, a quantificação dos resultados será feita em valores percentuais que serão calculados com o auxílio do GOLDVARB-X (SANKOFF; TAGLIAMONT; SMITH, 2005). 

  • Palavras-chave
  • Português popular, Concordância Verbal, Cartas de mãos inábeis
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Sociolinguística
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DESAFIOS DO ISOLAMENTO SOCIAL PARA A PESQUISA EM SOCIOLINGUÍSTICA E INTERFACES

 

O isolamento social impôs ao mundo uma nova forma de pensar o desenvolvimento das pesquisas científicas, sobretudo nas áreas das humanidades, cujo contato social é imprescindível para desenvolvimento de pesquisas. Dessa forma, o X Encontro de Sociolinguística propôs realizar esse debate para contribuir com as pesquisas em Sociolinguística, as quais tradicionalmente dependem muito de entrevistas.

Assim como em outros áreas, recorrer às tecnologias existentes, principalmente que utilizam os meios remotos, tem sido a atual prática para a coleta de dados. Além disso, tem-se buscado outras formas de obtenção de informações para empreender análises linguísticas a partir do perfil social dos falantes que possam dar as respostas científicas que tanto se espera na área de conhecimento objeto deste evento: a Sociolinguística.

Ao longo de quatro dias, o evento possibilitou alguns espaços para essas discussões e tantas outras: conferências, mesas-redondas e sessões de comunicação. Tal panorama pode ser conferido através dos resumos que compõem estes anais, os quais trazem apenas os temas que foram debatidos nas sessões por seus respectivos autores e os demais participantes.

Desejamos que os trabalhos que foram apresentados possam contribuir efetivamente para o desenvolvimento das diversas pesquisas em Sociolinguística e todas as interfaces possíveis que outras áreas dos estudos da linguagem.

Valter de Carvalho Dias
Membro da Comissão Organizadora

Comissão Organizadora

Cristina dos Santos Carvalho
Norma da Silva Lopes
Norma L F Almeida
Raquel Meister Ko Freitag
Silvana Silva de Farias Araujo
Valter de Carvalho Dias

 

Comissão Científica

André Pedro da Silva
Antônio Félix de Souza Neto
Clézio Roberto Gonçalves
Cristina Carvalho
Emília Helena Portella Monteiro de Souza
Mariana Fagundes de Oliveira Lacerda
Norma Lucia Fernandes de Almeida
Pedro Daniel dos Santos Souza
Raquel Meister Ko. Freitag
Ricardo Nascimento Abreu
Sandra Carneiro
Sandro Márcio Drumond Alves Marengo
Silvana Silva de Farias Araújo
Valter de Carvalho Dias

I ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação - História - Mudança
01 de dezembro de 2011
Universidade do Estado da Bahia (Salvador)

 

II ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Estudos da Variação, da Mudança e da Sócio-História do Português Brasileiro; Sociofuncionalismo e Etnografia da Comunicação
28 e 29 de novembro de 2012
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

III ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
A pesquisa em Salvador
03 e 04 de outubro de 2013
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

IV ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diferentes olhares sobre o português brasileiro
15 e 16 de setembro de 2014
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

V ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diálogos entre Brasil e África
09 e 10 de novembro de 2015
Universidade Estadual de Feira de Santana (Feira de Santana-BA)

 

VI ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
O português do Nordeste: (para além das) fronteiras linguísticas
29 e 30 de setembro de 2016
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

VII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Redes e contatos
28 a 30 de setembro de 2017
Universidade Federal de Sergipe (São Cristovão-SE)

 

VIII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação e ensino: unidade e diversidade
20 e 21 de julho de 2018
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

IX ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Sociolinguística: quebrando tabus e inovando na escola
01 e 02 de agosto de 2019
Universidade Federal da Bahia (Salvador-BA)
Anais