PARENTÉTICOS EPISTÊMICOS EM CONSTRUÇÕES COMO "ACHO/PENSO EU (QUE)": UMA ANÁLISE SOCIOFUNCIONALISTA

  • Autor
  • Antonio Ralf da Cunha Carneiro
  • Co-autores
  • Wesley da Silva Magalhães , Cristina dos Santos Carvalho
  • Resumo
  •  

    Construções parentéticas epistêmicas funcionam, na interação comunicativa, como marcas linguísticas através das quais os falantes expressam o seu grau de conhecimento, crença ou (des)comprometimento em relação à informação veiculada (GALVÃO, 1999; VOTRE, 2004; SILVA, 2014; FORTILLI, 2015 etc.). Nas línguas naturais, tais construções podem exibir, quanto à esquematicidade e produtividade, aspectos comuns ou diferentes na rede construcional, em relação, por exemplo, a subesquemas e verbos epistêmicos mobilizados, o que pode revelar tendências translinguísticas. Comparando-se variedades de uma mesma língua, é possível ainda perceber tendências intralinguísticas de variação e mudança das construções parentéticas epistêmicas (CARVALHO; CARNEIRO; MAGALHÃES, 2020). Norteando-se por pressupostos teóricos da Linguística Funcional Centrada no Uso - LFCU (TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013; FURTADO DA CUNHA; BISPO; SILVA, 2013 etc.), este trabalho objetiva analisar, no português angolano (PA) e moçambicano (PM), parentéticos epistêmicos de base clausal verbal, instanciados, no contexto de primeira pessoa do singular, pelo padrão construcional [VEpist SUJP1 (QUE)]Parent e, mais especificamente, por microconstruções como acho eu (que), creio eu (que), penso eu (que) etc. Nesse padrão construcional, em que o sujeito pronominal está posposto, além de haver a atenuação (de parte) do enunciado, o uso do parentético, do ponto de vista pragmático, parece reforçar para o interlocutor que o que está sendo dito é uma opinião do falante: “esse artifício é analisado como mais uma marca de subjetividade do falante, que pontua o cunho pessoal que a informação tem” (FORTILLI, 2015, p. 1073). Quanto à sua configuração formal, esse padrão construcional apresenta dois subesquemas: [VEpist SUJP1 QUE]Parent e [VEpist SUJP1]Parent, que licenciam microconstruções como acho eu que e penso eu, respectivamente. Do ponto de vista metodológico, a pesquisa orienta-se pela articulação de pressupostos da LFCU e da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008 [1972]). Nessa perspectiva, realiza-se aqui um trabalho sociofuncionalista em consonância com as tendências atuais dessa abordagem, que, segundo Cezario, Marques e Abraçado (2016, p. 57), também têm se preocupado “[...] bastante em explicar como as construções linguísticas são criadas, expandidas e como competem em rede com outras construções”. Para análise dos dados, associam-se as abordagens qualitativa e quantitativa. Como corpus, são utilizados textos das variedades angolana e moçambicana do português contemporâneo (século XXI), integrantes do banco de dados do Corpus do Português. Buscam-se, então, a partir de evidências empíricas, caracterizar os parentéticos investigados a partir dos seguintes parâmetros: usos/funções semântico-pragmáticas, subesquemas construcionais e verbos epistêmicos recrutados. Ademais, pretende-se verificar quais microconstruções são mais produtivas no PA e PM. Com base nos dados empíricos, constatou-se, nas duas variedades, que: (i) esses parentéticos são empregados para expressarem incerteza, atenuação e opinião; (ii) esse último uso é o mais registrado; (iii) o subesquema construcional mais produtivo é [VEpist SUJP1]Parent; (iv) os verbos epistêmicos mais frequentes são achar, pensar e crer.

  • Palavras-chave
  • Construções parentéticas epistêmicas, Linguística funcional centrada no uso, Sociofuncionalismo, Português angolano e moçambicano.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Interfaces com a Sociolinguística
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DESAFIOS DO ISOLAMENTO SOCIAL PARA A PESQUISA EM SOCIOLINGUÍSTICA E INTERFACES

 

O isolamento social impôs ao mundo uma nova forma de pensar o desenvolvimento das pesquisas científicas, sobretudo nas áreas das humanidades, cujo contato social é imprescindível para desenvolvimento de pesquisas. Dessa forma, o X Encontro de Sociolinguística propôs realizar esse debate para contribuir com as pesquisas em Sociolinguística, as quais tradicionalmente dependem muito de entrevistas.

Assim como em outros áreas, recorrer às tecnologias existentes, principalmente que utilizam os meios remotos, tem sido a atual prática para a coleta de dados. Além disso, tem-se buscado outras formas de obtenção de informações para empreender análises linguísticas a partir do perfil social dos falantes que possam dar as respostas científicas que tanto se espera na área de conhecimento objeto deste evento: a Sociolinguística.

Ao longo de quatro dias, o evento possibilitou alguns espaços para essas discussões e tantas outras: conferências, mesas-redondas e sessões de comunicação. Tal panorama pode ser conferido através dos resumos que compõem estes anais, os quais trazem apenas os temas que foram debatidos nas sessões por seus respectivos autores e os demais participantes.

Desejamos que os trabalhos que foram apresentados possam contribuir efetivamente para o desenvolvimento das diversas pesquisas em Sociolinguística e todas as interfaces possíveis que outras áreas dos estudos da linguagem.

Valter de Carvalho Dias
Membro da Comissão Organizadora

Comissão Organizadora

Cristina dos Santos Carvalho
Norma da Silva Lopes
Norma L F Almeida
Raquel Meister Ko Freitag
Silvana Silva de Farias Araujo
Valter de Carvalho Dias

 

Comissão Científica

André Pedro da Silva
Antônio Félix de Souza Neto
Clézio Roberto Gonçalves
Cristina Carvalho
Emília Helena Portella Monteiro de Souza
Mariana Fagundes de Oliveira Lacerda
Norma Lucia Fernandes de Almeida
Pedro Daniel dos Santos Souza
Raquel Meister Ko. Freitag
Ricardo Nascimento Abreu
Sandra Carneiro
Sandro Márcio Drumond Alves Marengo
Silvana Silva de Farias Araújo
Valter de Carvalho Dias

I ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação - História - Mudança
01 de dezembro de 2011
Universidade do Estado da Bahia (Salvador)

 

II ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Estudos da Variação, da Mudança e da Sócio-História do Português Brasileiro; Sociofuncionalismo e Etnografia da Comunicação
28 e 29 de novembro de 2012
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

III ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
A pesquisa em Salvador
03 e 04 de outubro de 2013
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

IV ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diferentes olhares sobre o português brasileiro
15 e 16 de setembro de 2014
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

V ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diálogos entre Brasil e África
09 e 10 de novembro de 2015
Universidade Estadual de Feira de Santana (Feira de Santana-BA)

 

VI ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
O português do Nordeste: (para além das) fronteiras linguísticas
29 e 30 de setembro de 2016
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

VII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Redes e contatos
28 a 30 de setembro de 2017
Universidade Federal de Sergipe (São Cristovão-SE)

 

VIII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação e ensino: unidade e diversidade
20 e 21 de julho de 2018
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

IX ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Sociolinguística: quebrando tabus e inovando na escola
01 e 02 de agosto de 2019
Universidade Federal da Bahia (Salvador-BA)
Anais