Este trabalho noticia a realização de uma pesquisa cujo objetivo é descrever o uso do clítico acusativo no português falado em Luanda, capital de Angola. Trata-se de uma pesquisa de doutoramento vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Entende-se que esse tema demanda mais análises sobre a prescrição da gramática tradicional no uso dos clíticos e a possível implementação de outras estratégias anafóricas inovadoras na fala de angolanos. Além disso, o estudo servirá para que a comunidade acadêmica (re)conheça o comportamento linguístico angolano, revelando, ainda, o grau de influência da tradição gramatical na fala. Nesta análise parcial dos dados, processados com o auxílio do Programa GoldVarb, foram utilizadas 12 (doze) entrevistas tipo DID (diálogo entre informante e documentador) que compõem o acervo do Projeto de pesquisa ‘Em Busca das Raízes do Português Brasileiro’, sediado na UEFS. Adota-se o referencial teórico-metodológico da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 1972), que possibilitou o estabelecimento de critérios para a seleção dos informantes: nível de escolaridade, faixa etária, sexo, língua materna e local de nascimento. Ao pesquisar em dados de fala de angolanos residentes na cidade de Luanda, busca-se, então, identificar contextos linguísticos e sociais pertinentes à descrição da variação no uso do objeto direto anafórico, comparando a produtividade do clítico às outras estratégias de uso. Os resultados apontam para a predominância do objeto nulo em Angola (51%) em relação às outras variantes, sendo registrados 42% para SN anafórico, 5% para o clítico, 2% para pronome léxical, as rodadas estatísticas realizadas trazem resultados significativos quanto ao uso das variantes inovadoras e seus contextos de aplicação. Conforme é sabido, as possibilidades de uso para o objeto direto anafórico têm sido largamente estudadas no português brasileiro, apontando-se para a tendência de substituição dos clíticos por novas estratégias anafóricas. Como um dos objetivos desta pesquisa é estabelecer uma comparação entre o uso de tais estratégias entre Brasil e Angola, os resultados obtidos podem identificar o peso de questões sócio-históricas na produção ou não de semelhanças entre as gramáticas constituídas nesses países a partir do contato com línguas africanas. Assim, novos olhares podem ser lançados sobre a formação do português brasileiro e do português angolano.
O isolamento social impôs ao mundo uma nova forma de pensar o desenvolvimento das pesquisas científicas, sobretudo nas áreas das humanidades, cujo contato social é imprescindível para desenvolvimento de pesquisas. Dessa forma, o X Encontro de Sociolinguística propôs realizar esse debate para contribuir com as pesquisas em Sociolinguística, as quais tradicionalmente dependem muito de entrevistas.
Assim como em outros áreas, recorrer às tecnologias existentes, principalmente que utilizam os meios remotos, tem sido a atual prática para a coleta de dados. Além disso, tem-se buscado outras formas de obtenção de informações para empreender análises linguísticas a partir do perfil social dos falantes que possam dar as respostas científicas que tanto se espera na área de conhecimento objeto deste evento: a Sociolinguística.
Ao longo de quatro dias, o evento possibilitou alguns espaços para essas discussões e tantas outras: conferências, mesas-redondas e sessões de comunicação. Tal panorama pode ser conferido através dos resumos que compõem estes anais, os quais trazem apenas os temas que foram debatidos nas sessões por seus respectivos autores e os demais participantes.
Desejamos que os trabalhos que foram apresentados possam contribuir efetivamente para o desenvolvimento das diversas pesquisas em Sociolinguística e todas as interfaces possíveis que outras áreas dos estudos da linguagem.
Valter de Carvalho Dias
Membro da Comissão Organizadora
Cristina dos Santos Carvalho
Norma da Silva Lopes
Norma L F Almeida
Raquel Meister Ko Freitag
Silvana Silva de Farias Araujo
Valter de Carvalho Dias
André Pedro da Silva
Antônio Félix de Souza Neto
Clézio Roberto Gonçalves
Cristina Carvalho
Emília Helena Portella Monteiro de Souza
Mariana Fagundes de Oliveira Lacerda
Norma Lucia Fernandes de Almeida
Pedro Daniel dos Santos Souza
Raquel Meister Ko. Freitag
Ricardo Nascimento Abreu
Sandra Carneiro
Sandro Márcio Drumond Alves Marengo
Silvana Silva de Farias Araújo
Valter de Carvalho Dias
I ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação - História - Mudança
01 de dezembro de 2011
Universidade do Estado da Bahia (Salvador)
II ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Estudos da Variação, da Mudança e da Sócio-História do Português Brasileiro; Sociofuncionalismo e Etnografia da Comunicação
28 e 29 de novembro de 2012
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
III ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
A pesquisa em Salvador
03 e 04 de outubro de 2013
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IV ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diferentes olhares sobre o português brasileiro
15 e 16 de setembro de 2014
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
V ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diálogos entre Brasil e África
09 e 10 de novembro de 2015
Universidade Estadual de Feira de Santana (Feira de Santana-BA)
VI ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
O português do Nordeste: (para além das) fronteiras linguísticas
29 e 30 de setembro de 2016
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
VII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Redes e contatos
28 a 30 de setembro de 2017
Universidade Federal de Sergipe (São Cristovão-SE)
VIII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação e ensino: unidade e diversidade
20 e 21 de julho de 2018
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IX ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Sociolinguística: quebrando tabus e inovando na escola
01 e 02 de agosto de 2019
Universidade Federal da Bahia (Salvador-BA)
Anais
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