No Brasil, o arquifonema fricativo em posição de coda silábica é um segmento que sinaliza, ao variar, indicadores diatópicos (BRESCANCINI, 1996; MOTA, 2002). Sua variabilidade desperta o interesse de pesquisadores em relação à sua produção e percepção (BIASIBETTI, 2018). Todavia, apesar de não haver numerosos estudos como os voltados à produção, os estudos de percepção, em geral, têm uma vasta história na Sociofonética (THOMAS, 2013). Ao levarmos em conta as cidades de Vitória da Conquista – BA e Salvador – BA, notamos que, nesta, a palatalização do /S/ pós-vocálico realiza-se diante de contextos fonológicos distintos e, naquela, somente em determinados ambientes, especialmente motivados por condicionadores linguísticos (MOTA, 2002; NASCIMENTO; MOTA, 2018). Desse modo, orientados pela pergunta se os falantes das duas comunidades identificam os próprios dialetos tomando o arquifonema fricativo em posição de coda silábica como um elemento diferenciador, nesta pesquisa em desenvolvimento, temos como objetivo investigar a habilidade de autoidentificação dialetal de conquistenses e soteropolitanos, baseando-nos na realização variável do segmento fonológico supracitado. No que diz respeito ao enquadramento teórico-metodológico, pautamo-nos em pressupostos da Sociofonética (FOULKES; SCOBBIE; WATT, 2010; LABOV, 2006), para realizar o estudo de percepção dialetal (WILLIAMS et. al., 1999; PRESTON, 1999; 2013). Como consequência da pandemia mundial provocada pelo SARS-CoV-2 em 2020, os estímulos para o teste de percepção foram gravados de modo remoto por informantes de Vitória da Conquista – BA, Salvador – BA e, para fins de controle, do Rio de Janeiro - RJ e de Triunfo – RS. Lançamos mão de dois tipos de testes: teste de identificação (apresentação randômica dos estímulos); e teste de discriminação (tarefa ABX) (FERREIRA-SILVA, 2016). Os estímulos foram julgados por conquistenses e soteropolitanos, que, respeitando a orientação de isolamento social, responderam ao teste também remotamente, por meio de formulários eletrônicos (Google Forms). Nossa hipótese foi a de que os conquistenses percebem seu dialeto quando não há a palatalização do /S/ em posição de coda, enquanto o contrário é um elemento favorecedor para a autoidentificação dialetal do soteropolitano. Por fim, como resultados preliminares, é possível observarmos que a palatalização é um elemento que distingue os dialetos em questão quando observados os estímulos que foram gravados e, nas primeiras análises feitas com os dados provenientes das respostas dadas pelos juízes, já podemos constatar que nossa hipótese foi confirmada.
O isolamento social impôs ao mundo uma nova forma de pensar o desenvolvimento das pesquisas científicas, sobretudo nas áreas das humanidades, cujo contato social é imprescindível para desenvolvimento de pesquisas. Dessa forma, o X Encontro de Sociolinguística propôs realizar esse debate para contribuir com as pesquisas em Sociolinguística, as quais tradicionalmente dependem muito de entrevistas.
Assim como em outros áreas, recorrer às tecnologias existentes, principalmente que utilizam os meios remotos, tem sido a atual prática para a coleta de dados. Além disso, tem-se buscado outras formas de obtenção de informações para empreender análises linguísticas a partir do perfil social dos falantes que possam dar as respostas científicas que tanto se espera na área de conhecimento objeto deste evento: a Sociolinguística.
Ao longo de quatro dias, o evento possibilitou alguns espaços para essas discussões e tantas outras: conferências, mesas-redondas e sessões de comunicação. Tal panorama pode ser conferido através dos resumos que compõem estes anais, os quais trazem apenas os temas que foram debatidos nas sessões por seus respectivos autores e os demais participantes.
Desejamos que os trabalhos que foram apresentados possam contribuir efetivamente para o desenvolvimento das diversas pesquisas em Sociolinguística e todas as interfaces possíveis que outras áreas dos estudos da linguagem.
Valter de Carvalho Dias
Membro da Comissão Organizadora
Cristina dos Santos Carvalho
Norma da Silva Lopes
Norma L F Almeida
Raquel Meister Ko Freitag
Silvana Silva de Farias Araujo
Valter de Carvalho Dias
André Pedro da Silva
Antônio Félix de Souza Neto
Clézio Roberto Gonçalves
Cristina Carvalho
Emília Helena Portella Monteiro de Souza
Mariana Fagundes de Oliveira Lacerda
Norma Lucia Fernandes de Almeida
Pedro Daniel dos Santos Souza
Raquel Meister Ko. Freitag
Ricardo Nascimento Abreu
Sandra Carneiro
Sandro Márcio Drumond Alves Marengo
Silvana Silva de Farias Araújo
Valter de Carvalho Dias
I ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação - História - Mudança
01 de dezembro de 2011
Universidade do Estado da Bahia (Salvador)
II ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Estudos da Variação, da Mudança e da Sócio-História do Português Brasileiro; Sociofuncionalismo e Etnografia da Comunicação
28 e 29 de novembro de 2012
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
III ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
A pesquisa em Salvador
03 e 04 de outubro de 2013
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IV ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diferentes olhares sobre o português brasileiro
15 e 16 de setembro de 2014
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
V ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diálogos entre Brasil e África
09 e 10 de novembro de 2015
Universidade Estadual de Feira de Santana (Feira de Santana-BA)
VI ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
O português do Nordeste: (para além das) fronteiras linguísticas
29 e 30 de setembro de 2016
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
VII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Redes e contatos
28 a 30 de setembro de 2017
Universidade Federal de Sergipe (São Cristovão-SE)
VIII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação e ensino: unidade e diversidade
20 e 21 de julho de 2018
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IX ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Sociolinguística: quebrando tabus e inovando na escola
01 e 02 de agosto de 2019
Universidade Federal da Bahia (Salvador-BA)
Anais