Adaptando o Discourse Completion Task: a documentação da fonologia prosódica em tempos de pandemia.

  • Autor
  • Marco Barone
  • Co-autores
  • Davi Borges de Albuquerque
  • Resumo
  •  

    Este trabalho é uma reflexão sobre a implementação de uma metodologia de documentação da entoação, o Discourse Completion Task (DCT, doravante: Blum-Kulka et al. 1989), às novas exigências de distanciamento social, mediante o uso de simples instrumentos de comunicação e mídias sociais.

    O DCT é um questionário que apresenta ao participante uma série de situações interacionais imaginárias, cada uma pensada para a elicitação de um “tipo de sentença” alvo diferente, correspondendo a uma modalidade (declarativa, interrogativa, exclamativa, etc.), submodalidade (ex: interrogativa parcial, polar) e outras funções e nuanças pós-lexicais pragmáticas (ex: oferta, convite), epistémicas (surpresa, confirmação, obviedade), de ênfase (ex: foco). O DCT pede que o participante se imagine atuando na interação apresentada, a qual lhe requer em certo momento o uso da frase alvo pretendida. Após gravação, os contornos entoacionais associados a cada tipo de sentença são analisados mediante PRAAT (Boersma e Weeninck 2018).

    Serão relatadas as primeiras etapas de um estudo exploratório da variação suprassegmental de variedades de português L1 e L2 (Timor-Leste, Guiné Bissau e Cabo Verde) em contato com suas línguas de substrato, o Tétum-praça e Kemak no caso de Timor-Leste, e os chamados crioulos da Alta Guiné, kriol e cabo-verdiano, respectivamente, nos restantes.

    No caso de Timor-Leste, a documentação já pode contar com um primeiro conjunto de dados analisáveis, elicitados mediante WhatsApp (gravação de áudio e vídeo-chamada), Facebook, Google Meet e e-mail, que permitiram refinar a metodologia, levando em conta os primeiros erros que a experiência trouxe.

    A preparação de um questionário português adaptável à cultura local, apresentando contextos de uso e palavras familiares, requer uma primeira fase de interação, mediante gravações. Deverão outrossim ser observadas restrições fonéticas por necessidades técnicas e de análise (inserir uma quantidade suficiente de sílabas tônicas e pós-tônicas em posição nuclear, evitar oclusivas surdas em proximidade dos acentos de frequência).

    Os próprios participantes auxiliam os pesquisadores na fase de preparação do questionário nas línguas de substrato. O objetivo do estudo é entender se existe transferência prosódica de contornos de substrato para o português. Uma primeira tentativa é a tradução direta do questionário português, que garante a preservação do tipo de sentença alvo, mas não a da ordem sintática mais apropriada nem das restrições fonéticas que funcionavam em português. Assim, o questionário na língua de substrato é renegociado a partir de tais dados e reformulado. O experimento já se encontra nesta fase no caso do Tétum-praça.

    Assuntos cruciais que serão discutidos são 1) a qualidade do áudio e as possibilidades de os participantes se “auto-policiarem”, melhorando as condições de gravação, mediante lugares silenciosos e instrumentos de gravação a eles acessíveis, 2) o treinamento metodológico, a maneira de fornecer instruções e as possibilidades de monitoramento e acompanhamento remoto que mais garantam a manutenção do estilo semi-espontâneo. São discutidas opções como: apresentar o questionário em bloco único ou não revelar uma situação até gravação da anterior, apresentar o questionário por escrito ou interagir oralmente, colocar ou não os participantes a par da finalidade do estudo e em que momento.

     

  • Palavras-chave
  • Discourse Completion Task, Entoação, Fonologia prosódica, Entrevista remota
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Interfaces com a Sociolinguística
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DESAFIOS DO ISOLAMENTO SOCIAL PARA A PESQUISA EM SOCIOLINGUÍSTICA E INTERFACES

 

O isolamento social impôs ao mundo uma nova forma de pensar o desenvolvimento das pesquisas científicas, sobretudo nas áreas das humanidades, cujo contato social é imprescindível para desenvolvimento de pesquisas. Dessa forma, o X Encontro de Sociolinguística propôs realizar esse debate para contribuir com as pesquisas em Sociolinguística, as quais tradicionalmente dependem muito de entrevistas.

Assim como em outros áreas, recorrer às tecnologias existentes, principalmente que utilizam os meios remotos, tem sido a atual prática para a coleta de dados. Além disso, tem-se buscado outras formas de obtenção de informações para empreender análises linguísticas a partir do perfil social dos falantes que possam dar as respostas científicas que tanto se espera na área de conhecimento objeto deste evento: a Sociolinguística.

Ao longo de quatro dias, o evento possibilitou alguns espaços para essas discussões e tantas outras: conferências, mesas-redondas e sessões de comunicação. Tal panorama pode ser conferido através dos resumos que compõem estes anais, os quais trazem apenas os temas que foram debatidos nas sessões por seus respectivos autores e os demais participantes.

Desejamos que os trabalhos que foram apresentados possam contribuir efetivamente para o desenvolvimento das diversas pesquisas em Sociolinguística e todas as interfaces possíveis que outras áreas dos estudos da linguagem.

Valter de Carvalho Dias
Membro da Comissão Organizadora

Comissão Organizadora

Cristina dos Santos Carvalho
Norma da Silva Lopes
Norma L F Almeida
Raquel Meister Ko Freitag
Silvana Silva de Farias Araujo
Valter de Carvalho Dias

 

Comissão Científica

André Pedro da Silva
Antônio Félix de Souza Neto
Clézio Roberto Gonçalves
Cristina Carvalho
Emília Helena Portella Monteiro de Souza
Mariana Fagundes de Oliveira Lacerda
Norma Lucia Fernandes de Almeida
Pedro Daniel dos Santos Souza
Raquel Meister Ko. Freitag
Ricardo Nascimento Abreu
Sandra Carneiro
Sandro Márcio Drumond Alves Marengo
Silvana Silva de Farias Araújo
Valter de Carvalho Dias

I ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação - História - Mudança
01 de dezembro de 2011
Universidade do Estado da Bahia (Salvador)

 

II ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Estudos da Variação, da Mudança e da Sócio-História do Português Brasileiro; Sociofuncionalismo e Etnografia da Comunicação
28 e 29 de novembro de 2012
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

III ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
A pesquisa em Salvador
03 e 04 de outubro de 2013
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

IV ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diferentes olhares sobre o português brasileiro
15 e 16 de setembro de 2014
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

V ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diálogos entre Brasil e África
09 e 10 de novembro de 2015
Universidade Estadual de Feira de Santana (Feira de Santana-BA)

 

VI ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
O português do Nordeste: (para além das) fronteiras linguísticas
29 e 30 de setembro de 2016
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

VII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Redes e contatos
28 a 30 de setembro de 2017
Universidade Federal de Sergipe (São Cristovão-SE)

 

VIII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação e ensino: unidade e diversidade
20 e 21 de julho de 2018
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)

 

IX ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Sociolinguística: quebrando tabus e inovando na escola
01 e 02 de agosto de 2019
Universidade Federal da Bahia (Salvador-BA)
Anais