Introdução: A vitamina D, uma vitamina lipossolúvel, é sintetizada na pele pela exposição à radiação ultravioleta B (UVB). Seus precursores inativos, ergocalciferol (D2) e colecalciferol (D?), são convertidos em sua forma ativa (Calcidiol ou calcifediol) no fígado e nos rins após a exposição aos raios UVB. A alimentação também fornece essa vitamina, que é ingerida em formas inativas, com principais fontes sendo óleos de fígado de peixe, laticínios, ovos e margarinas enriquecidas. Dentre as várias funções do calciferol, destacam-se seu envolvimento na manutenção das concentrações normais de cálcio e fósforo no soro sanguíneo, além da inibição da proliferação celular no cérebro, rins, próstata, mama, entre outros tecidos. Além disso, o calciferol é conhecido por modular o sistema imune. A endometriose, por sua vez, é classificada como uma doença ginecológica crônica, caracterizada pela presença de tecido semelhante ao endométrio fora do útero. Atualmente, essa condição é considerada uma doença sistêmica, em vez de uma enfermidade que afeta predominantemente a pelve. Com isso, a endometriose afeta o metabolismo no fígado e no tecido adiposo, leva à inflamação sistêmica e altera a expressão de genes no cérebro, causando transtornos de humor. Considerando o potencial da vitamina D na modulação do sistema imunológico, o objetivo desta revisão foi avaliar seu efeito no tratamento da endometriose. Métodos: A pesquisa consistiu em uma revisão bibliográfica, desenvolvida a partir da pergunta norteadora: “Quais são os efeitos da vitamina D no tratamento da endometriose? ”. A busca foi realizada na literatura dos últimos cinco anos, na base de dados PubMed Central (PMC), em março de 2025. Os estudos foram obtidos a partir do cruzamento dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Vitamina D”, “Colecalciferol” e “Endometriose”, e seus correspondentes em inglês, utilizando os operadores booleanos “AND” e “OR”. Foram adotados os seguintes critérios de inclusão: artigos gratuitos publicados em português, inglês e espanhol, que investigaram a relação da vitamina D com a endometriose em mulheres de todas as faixas etárias. Foram excluídos estudos de revisão de literatura, teses, meta-análises, periódicos repetidos, dissertações, relatos de casos, estudos com animais ou in vitro. Resultados: Na triagem inicial, foram identificados 183 estudos. Após a aplicação dos filtros, restaram 67. A partir da leitura dos títulos, 14 artigos foram selecionados e, após a leitura dos resumos, esse número foi reduzido para 6. Por fim, após a leitura completa dos textos, 6 estudos foram incluídos na revisão, os quais demonstraram que a deficiência de vitamina D parece desempenhar um papel relevante na patogênese da endometriose. Apenas um trabalho científico não obteve resultados significativos quanto à relação entre colecalciferol e a doença. Esse estudo clínico randomizado avaliou o impacto da suplementação de vitamina D (50.000 UI a cada 2 semanas, por 12 semanas) na dor pélvica e em marcadores metabólicos de mulheres com endometriose. O grupo tratado apresentou redução significativa da dor pélvica (p = 0,03) e melhora na relação colesterol total/HDL (p = 0,04). Além disso, houve uma diminuição significativa nos níveis de proteína C reativa de alta sensibilidade (hs-CRP) (p < 0,001) e um aumento na capacidade antioxidante total (TAC) (p = 0,001), reforçando os efeitos metabólicos e anti-inflamatórios da vitamina D. Outro estudo populacional analisou 4.232 mulheres, das quais 257 foram diagnosticadas com a patologia e 2.975 não apresentavam a doença. A média dos níveis séricos de 25(OH)D foi de 21,36 ± 10,01 ng/mL, sendo que 46,44% das participantes apresentavam insuficiência de vitamina D (< 20 ng/mL), enquanto 53,56% apresentavam concentrações adequadas (? 20 ng/mL). A análise estatística revelou uma associação inversa significativa (p < 0,05) entre os níveis séricos de 25(OH)D e o risco de desenvolver endometriose, sugerindo que concentrações adequadas de vitamina D podem estar relacionadas a uma menor prevalência da doença. Uma investigação genética demonstrou que a deficiência de vitamina D está associada à alteração dos receptores endometriais, sendo os níveis séricos mais baixos correlacionados à maior prevalência de dor pélvica (p < 0,001). Além disso, a análise de variantes genéticas identificou uma associação estatisticamente significativa entre o gene do receptor de vitamina D (VDR) e o desenvolvimento da endometriose. A frequência do alelo G do polimorfismo BsmI do gene VDR foi consideravelmente maior em pacientes com endometriose do que no grupo controle (OR = 1,93; IC95% = 1,082–3,450; p = 0,048), evidenciando um possível papel genético na predisposição à doença. Além disso, experimentos laboratoriais demonstraram que a vitamina D possui efeitos imunomoduladores no endométrio, reduzindo a produção de citocinas inflamatórias, como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-?) e a interleucina 6 (IL-6), em células endometriais tratadas com ácido lipoteicoico (LTA) (p < 0,001). Também foi observado que a vitamina D regula os receptores tipo Toll 2 (TLR2), tipo Toll 4 (TLR4) e a proteína de resposta primária de diferenciação mieloide 88 (MyD88), essenciais para a homeostase imunológica, contribuindo para um ambiente endometrial menos propenso à inflamação crônica. Em outro ensaio clínico, a suplementação de vitamina D influenciou a atividade da ?-catenina, molécula-chave da via de sinalização Wnt/?-catenina, em mulheres com endometriose. Após 12 a 14 semanas de tratamento, a expressão da forma ativa da ?-catenina apresentou uma redução significativa no grupo tratado (p = 0,000). Além disso, a diferença entre os grupos controle e tratado também foi estatisticamente significativa após a intervenção (p = 0,012). Outra pesquisa sugere que a suplementação de vitamina D pode contribuir para a redução dos sintomas da endometriose, incluindo dor pélvica e impactos psicoemocionais. Esses efeitos são ainda mais evidentes quando a vitamina D é associada a terapias hormonais, como o agonista do hormônio liberador de gonadotrofina (aGnRH 3,75 mg) ou o progestágeno dienogeste 2 mg. Os achados reforçam o potencial da vitamina D como adjuvante terapêutico no manejo da endometriose, com resultados estatisticamente significativos (p < 0,05). Conclusão/Considerações finais: Com base nos estudos desta revisão, a suplementação de vitamina D mostra-se promissora no tratamento da endometriose em mulheres. No entanto, são necessários novos estudos com intervenções mais prolongadas e que considerem a gravidade da doença, bem como pesquisas que avaliem seu potencial preventivo.
Comissão Organizadora
Unifametro
Camila Pinheiro Pereira
Isadora Nogueira Vasconcelos
Roberta Freitas Celedonio
Natalia Cavalcante Carvalho Campos
Camila Pinheiro Pereira
Alane Nogueira Bezerra
Comissão Científica