Introdução: A crononutrição é um campo emergente da nutrição que estuda como o momento das refeições interage com o ritmo circadiano do organismo, influenciando diversos desfechos metabólicos. Esse conceito considera não apenas o que se come, mas quando se come, abrangendo dimensões como o horário, a frequência e a regularidade das refeições ao longo do dia (Almoosawi et al., 2019). A sincronização entre os ritmos biológicos internos e os estímulos ambientais, especialmente os relacionados ao ciclo claro-escuro e ao jejum-alimentação, é essencial para a manutenção da homeostase metabólica. Alterações neste equilíbrio, como a ingestão alimentar tardia ou irregular, têm sido associadas a prejuízos na resposta insulínica, aumento da resistência à insulina e maior risco para distúrbios metabólicos, como o diabetes tipo 2. Evidências indicam que indivíduos com cronotipo vespertino, que tendem a consumir alimentos mais tarde e de forma menos regular, apresentam piores indicadores cardiometabólicos, incluindo maior propensão à hiperglicemia e alteração nos níveis de hemoglobina glicada (Almoosawi et al., 2019). Ao mesmo tempo, o diabetes tipo 2 tem se expandido globalmente, impulsionado por fatores como a má qualidade da dieta, sedentarismo e obesidade, mas também por padrões alimentares desajustados ao ritmo circadiano (Tinajero; Malik, 2021). Diante disso, compreender os efeitos da crononutrição sobre a resposta insulínica e o controle glicêmico é essencial para subsidiar estratégias mais eficazes de prevenção e manejo do diabetes, considerando a individualidade dos ritmos biológicos. Objetivos: Realizar uma revisão literária sobre repercussão da crononutrição na resposta insulínica e controle glicêmico. Métodos:Trata-se de uma revisão de literatura desenvolvida a partir de uma pesquisa bibliográfica nas bases de dados PubMed e BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), com o objetivo de analisar a repercussão da crononutrição na resposta insulínica e no controle glicêmico. A busca foi realizada no período de março a abril de 2025, considerando estudos originais publicados entre os anos de 2020 e 2025. Para a identificação dos estudos, foram empregados os descritores cadastrados no DeCS: “Chrononutrition”, “Diabetes Mellitus”, “Glycemic Control” e “Metabolism”. A seleção dos artigos foi conduzida com base em uma pergunta norteadora previamente definida e fundamentou-se nos critérios da estratégia PICO, a fim de assegurar a elegibilidade metodológica dos trabalhos incluídos. Foram adotados os seguintes critérios de exclusão: artigos publicados antes de 2020, estudos com gestantes, investigações que envolvessem exclusivamente a suplementação de micronutrientes, bem como intervenções associadas unicamente a práticas fisioterápicas. Após a triagem de artigos nas bases consultadas, procedeu-se à leitura dos títulos e resumos, culminando na seleção de sete estudos para leitura integral. Destes, quatro atenderam integralmente aos critérios estabelecidos e foram incluídos na presente revisão. Resultados: A análise dos estudos selecionados indica que o horário das refeições exerce influência significativa sobre a resposta insulínica e o controle glicêmico, especialmente em populações com comprometimento metabólico, como indivíduos com diabetes tipo 2 ou pré-diabetes. O estudo de Parr et al. (2024) demonstrou que a alimentação com restrição de tempo (Time-Restricted Eating – TRE), concentrada nas primeiras horas do dia, foi tão eficaz quanto às orientações nutricionais padrão na redução da hemoglobina glicada (HbA1c), com o diferencial de promover maior adesão à intervenção e redução de peso corporal. Isso reforça o papel da organização temporal das refeições como estratégia promissora no manejo do diabetes tipo 2. De forma semelhante, o ensaio clínico conduzido por Bravo-García et al. (2025) evidenciou que a combinação de TRE com exercícios físicos leves após as refeições contribuiu para a melhora aguda na variabilidade glicêmica, sem causar episódios de hipoglicemia, mesmo com menor número de refeições ao longo do dia. Os resultados sugerem que o TRE pode ser eficaz na modulação da resposta pós-prandial da glicose, com segurança e aplicabilidade clínica. Complementarmente, Dawson et al. (2024) observaram que a adoção do TRE, na forma de alimentação antecipada (early-TRE), resultou em melhoras nos marcadores cardiometabólicos, como sensibilidade à insulina e perfil lipídico, sem prejuízo à absorção intestinal de nutrientes. Isso confirma que os benefícios metabólicos da restrição alimentar temporal não estão ligados apenas à ingestão calórica, mas também à sincronia com o ritmo circadiano. Por fim, o estudo de Timmer et al. (2022) mostrou que o horário das refeições interfere na resposta glicêmica, mesmo em indivíduos saudáveis. Refeições realizadas no período noturno apresentaram respostas glicêmicas mais elevadas e prolongadas, em comparação com aquelas feitas pela manhã. Essa diferença reforça a ideia de que a sensibilidade à insulina é mais eficiente nas primeiras horas do dia. Diante desses achados, é possível inferir que estratégias alimentares baseadas no tempo de ingestão – especialmente o eTRE – alinham-se ao funcionamento do relógio biológico, otimizando o metabolismo da glicose. Além disso, o impacto positivo foi observado independentemente de mudanças calóricas ou macronutrientes, o que fortalece a crononutrição como ferramenta clínica viável e potencialmente eficaz. Conclusão/Considerações finais: Dessa forma, as estratégias que alinham o consumo alimentar ao ritmo circadiano, como a TRE e o eTRE, surgem como abordagens viáveis, acessíveis e potencialmente eficazes na promoção do controle glicêmico e na prevenção de desfechos cardiometabólicos adversos, especialmente em populações com diabetes tipo 2. Futuros estudos com maior duração e em diferentes populações podem aprofundar a compreensão desses efeitos e guiar recomendações nutricionais personalizadas baseadas no tempo.
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