O presente trabalho, realizado no âmbito do projeto Vertentes analisa a variação das orações relativas, com base no aporte teórico da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008 [1972]), além da hipótese da transmissão linguística irregular (BAXTER; LUCCHESI, 2009), da hipótese da polarização sociolinguística do português brasileiro (LUCCHESI, 2015a) e da proposta da Hierarquia da Acessibilidade (KEENAM; COMRIE, 1977). A metodologia deste trabalho, que também se encontra na Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008 [1972]), consiste em uma análise do fenômeno em questão numa amostra de fala vernácula colhida nos municípios de Poções-Ba e Santo Antônio de Jesus-Ba, com falantes de pouca ou nenhuma escolaridade, representando o chamado português popular do interior do estado da Bahia. Foram analisadas 48 entrevistas de caráter sociolinguístico, realizadas nos municípios referidos, divididas entre a sede e a zona rural dessas cidades, de acordo com a proposta do Projeto Vertentes. O fenômeno linguístico variável analisado é o uso de uma das três estratégias de relativização (a estratégia padrão, a estratégia cortadora e a estratégia resumptiva), além da chamada relativa neutra. A hipótese inicial era que o contato entre línguas ocorrido na sócio-história do português brasileiro (PB) causou uma simplificação morfológica que, no que diz respeito à relativização, favoreceu o predomínio da estratégia cortadora. Além disso, pretendeu-se observar se havia uma diferença entre o português popular do interior do estado da Bahia e o português afro-brasileiro, estudado por Lucchesi (2015c), em relação ao uso de relativas preposicionadas, o que poderia revelar não só mais um efeito do contato entre línguas nas características atuais do PB, como também um continnum de nivelamento linguístico que atenuou a polarização sociolinguística nas comunidades mais próximas dos centros urbanos. Após o levantamento e codificação das ocorrências, percebeu-se que a estratégia cortadora predomina na variedade analisada. A estratégia padrão ocorre apenas com o pronome relativo “onde”, mesmo assim, com uma baixa frequência. As orações relativas com preposição não fazem parte mais da gramática da variedade analisada, pois com exceção do “onde”, as relativas são iniciadas com o relativizador neutro “que”, como resultado da simplificação morfológica ocorrida na sócio-história do PB. A estratégia resumptiva também tem uma baixa ocorrência e é favorecida por variáveis linguísticas, como a oração relativa explicativa, o antecedente [+humano], o antecedente definido e a preposição lexical. A análise das variáveis sociais revelou uma variação estável nas comunidades analisadas, em relação às estratégias de relativização. Ocorreu variação estável também com a oposição entre relativas preposicionadas e não preposicionadas. Entretanto, a comparação entre o português afro-brasileiro e o português popular do interior mostrou um aumento de relativas encaixadas neste último, confirmando o continuum de nivelamento linguístico que opõe comunidades mais isoladas das menos isoladas (LUCCHESI, 2015b). Esse nivelamento, além de suavizar a polarização sociolinguística do PB, diferenciando-se assim as comunidades mais isoladas daquelas mais influenciadas pelos padrões linguísticos urbanos, atenuou as marcas mais drásticas da transmissão linguística irregular.
Chegamos à décima primeira edição do Encontro de Sociolinguística com o objetivo de ampliar a rede de pesquisas e pesquisadoras/es em Sociolinguística e dar maior destaque às produções acadêmicas na região Nordeste.
A programação deste ano, contou com uma conferência que abordou o panorama das pesquisas sociolinguísticas no Nordeste e quatro mesas-redondas sobre a Sociolinguística Variacionista, Sociolinguística Histórica, Sociofuncionalismo, como também Sociolinguística e Ensino. Todas formas por pesquisadoras/es de Estados diferentes para mostrar a diversidade de conhecimentos que são produzidos nessa região.
Os trabalhos apresentados ao longo de três dias, no período de 01 a 03 de dezembro de 2021, verseram sobre diferentes temáticas e os mais diversos dialetos da língua portuguesa, distribuídos em várias áreas da Sociolinguística, a saber:
Esperamos que a compilação dos trabalhos apresentados nestes anais possam contribuir para o desenvolvimento dos estudos sociolinguísticos e sirvam de inspiração a outras novas pesquisas.
Valter de Carvalho Dias
Membro da Comissão Organizadora
Aline Silva Gomes
Cristina dos Santos Carvalho
Norma da Silva Lopes
Norma Lúcia Fernandes Almeida
Pedro Daniel dos Santos Souza
Raquel Meister Ko Freitag
Silvana Silva de Farias Araujo
Valter de Carvalho Dias
Aline Silva Gomes
Aurelina Ariadne Domingues Almeida
Clézio Roberto Gonçalves
Fabrício da Silva Amorim
Fernanda de Oliveira Cerqueira
Geisa Borges da Costa
Huda da Silva Santiago
Marcela Moura Torres Paim
Pedro Daniel dos Santos Souza
Raquel Meister Ko Freitag
Sandra Carneiro de Oliveira
Silvana Silva de Farias Araújo
Valter de Carvalho Dias
I ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação - História - Mudança
01 de dezembro de 2011
Universidade do Estado da Bahia (Salvador)
II ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Estudos da Variação, da Mudança e da Sócio-História do Português Brasileiro; Sociofuncionalismo e Etnografia da Comunicação
28 e 29 de novembro de 2012
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
III ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
A pesquisa em Salvador
03 e 04 de outubro de 2013
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IV ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diferentes olhares sobre o português brasileiro
15 e 16 de setembro de 2014
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
V ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diálogos entre Brasil e África
09 e 10 de novembro de 2015
Universidade Estadual de Feira de Santana (Feira de Santana-BA)
VI ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
O português do Nordeste: (para além das) fronteiras linguísticas
29 e 30 de setembro de 2016
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
VII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Redes e contatos
28 a 30 de setembro de 2017
Universidade Federal de Sergipe (São Cristovão-SE)
VIII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação e ensino: unidade e diversidade
20 e 21 de julho de 2018
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IX ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Sociolinguística: quebrando tabus e inovando na escola
01 e 02 de agosto de 2019
Universidade Federal da Bahia (Salvador-BA)
Anais
X ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Desafios do isolamento social para a Sociolinguística e interfaces
De 01 a 04 de dezembro de 2021
Edição online
Anais