A Sociolinguística Variacionista ou Teoria da Variação firmou-se nos Estados Unidos, sob liderança do linguista William Labov, na década de 1960. A Sociolinguística constitui uma área que estuda a língua em seu uso real, levando em consideração as relações entre a estrutura linguística e os aspectos sociais e culturais da produção linguística. Para essa corrente, a língua é uma instituição social e, portanto, não pode ser estudada como uma estrutura autônoma, independente do contexto situacional, da cultura e da história das pessoas que a utilizam como meio de comunicação (CEZÉRIO; VOTRE: 2010, p. 141). Nesse sentido, para este estudo, assumindo os pressupostos teóricos de base de variação e mudança (LABOV, 2008 [1972]); WEINREICH; LABOV; HERZOG,2006 [1968]), discutimos a variação linguística do pronome de primeira pessoa “nós” e “a gente” em uma comunidade quilombola denominada de Rio das Rãs, localizada no município de Bom Jesus da Lapa, no interior da Bahia. As concepções de quilombo e quilombola elaboradas por Nascimento são fundamentais nessa discussão. Para ela, o termo quilombo passa a ter uma conotação basicamente ideológica, basicamente doutrinaria, no sentido de comunidade de luta, como se reconhecendo pessoas que realmente devem lutar por melhores condições de vida, porque merecem essas melhores condições de vida na medida que fazem parte dessa sociedade: “A Terra é o meu quilombo. Meu espaço é meu quilombo. Onde eu estou, eu estou. Quando eu estou, eu sou.” (NASCIMENTO, 1989 apud RATTS, 2006, p. 59). Essa relação de auto-reconhecimento, de auto-definição é de fundamental importância para a compreensão da identidade de um determinado grupo, assim como compreender como é construída, também, uma identidade linguística, com vista na análise de uso desses pronomes. Do ponto de vista linguístico, Oushiro (2019) afirma que a identidade “[...]não é um atributo pessoal, muito menos uma posse; ela é um processo de criação de sentidos que deve ser ao mesmo tempo individual e coletivo.” (OUSHIRO, 2019, p. 309). Essa construção de sentido ocorre em uma dada cultura e a partir de um referencial ideológico, no qual o indivíduo não possui um total controle. Assim, motivados por essas considerações, pretendemos discutir a alternância de uso do pronome canônico “nós” com o pronome pessoal “a gente” na comunidade de fala já mencionada. Inúmeros estudos no Brasil vêm apontando para o uso de “a gente” em alternância do pronome pessoal de primeira pessoa “nós”. Na perspectiva da variação e mudança linguística, (re)visitamos pesquisas, a exemplo da de Lopes (1993; 2003), Tamanine (2002); Borges (2004) Vianna (2006; 2011); Brustolin (2009); Lucchesi (2009); Vianna; Lopes (2015), Mendes (2019), entre outras. Nossos resultados, ainda parciais, apontam para uma mudança do uso de “a gente” em relação ao pronome “nós”, demonstrando um quadro relevante a ser observado no Português Brasileiro.
Chegamos à décima primeira edição do Encontro de Sociolinguística com o objetivo de ampliar a rede de pesquisas e pesquisadoras/es em Sociolinguística e dar maior destaque às produções acadêmicas na região Nordeste.
A programação deste ano, contou com uma conferência que abordou o panorama das pesquisas sociolinguísticas no Nordeste e quatro mesas-redondas sobre a Sociolinguística Variacionista, Sociolinguística Histórica, Sociofuncionalismo, como também Sociolinguística e Ensino. Todas formas por pesquisadoras/es de Estados diferentes para mostrar a diversidade de conhecimentos que são produzidos nessa região.
Os trabalhos apresentados ao longo de três dias, no período de 01 a 03 de dezembro de 2021, verseram sobre diferentes temáticas e os mais diversos dialetos da língua portuguesa, distribuídos em várias áreas da Sociolinguística, a saber:
Esperamos que a compilação dos trabalhos apresentados nestes anais possam contribuir para o desenvolvimento dos estudos sociolinguísticos e sirvam de inspiração a outras novas pesquisas.
Valter de Carvalho Dias
Membro da Comissão Organizadora
Aline Silva Gomes
Cristina dos Santos Carvalho
Norma da Silva Lopes
Norma Lúcia Fernandes Almeida
Pedro Daniel dos Santos Souza
Raquel Meister Ko Freitag
Silvana Silva de Farias Araujo
Valter de Carvalho Dias
Aline Silva Gomes
Aurelina Ariadne Domingues Almeida
Clézio Roberto Gonçalves
Fabrício da Silva Amorim
Fernanda de Oliveira Cerqueira
Geisa Borges da Costa
Huda da Silva Santiago
Marcela Moura Torres Paim
Pedro Daniel dos Santos Souza
Raquel Meister Ko Freitag
Sandra Carneiro de Oliveira
Silvana Silva de Farias Araújo
Valter de Carvalho Dias
I ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação - História - Mudança
01 de dezembro de 2011
Universidade do Estado da Bahia (Salvador)
II ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Estudos da Variação, da Mudança e da Sócio-História do Português Brasileiro; Sociofuncionalismo e Etnografia da Comunicação
28 e 29 de novembro de 2012
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
III ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
A pesquisa em Salvador
03 e 04 de outubro de 2013
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IV ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diferentes olhares sobre o português brasileiro
15 e 16 de setembro de 2014
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
V ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diálogos entre Brasil e África
09 e 10 de novembro de 2015
Universidade Estadual de Feira de Santana (Feira de Santana-BA)
VI ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
O português do Nordeste: (para além das) fronteiras linguísticas
29 e 30 de setembro de 2016
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
VII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Redes e contatos
28 a 30 de setembro de 2017
Universidade Federal de Sergipe (São Cristovão-SE)
VIII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação e ensino: unidade e diversidade
20 e 21 de julho de 2018
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IX ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Sociolinguística: quebrando tabus e inovando na escola
01 e 02 de agosto de 2019
Universidade Federal da Bahia (Salvador-BA)
Anais
X ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Desafios do isolamento social para a Sociolinguística e interfaces
De 01 a 04 de dezembro de 2021
Edição online
Anais