No português brasileiro, são encontradas quatro principais estratégias de relativização: a) relativa de lacuna, referente às relativas de sujeito e objeto direto; b) relativa pied-piping, nas quais há movimento da preposição à esquerda do pronome relativo. Essa variante é usada em contextos muito específicos, como a escrita e a fala monitorada, considerada uma forma “padrão” e recomendada pela tradição gramatical, no entanto, não constitui uma variante vernacular; c) relativa copiadora, caracterizada pela presença de um elemento correferente ao antecedente relativizado e d) relativa cortadora, estratégia de função preposicionada na qual há apagamento da preposição. O presente trabalho discorrerá sobre a variação que acontece tipicamente na função sintática de sujeito, isto é, entre a estratégia de lacuna e a copiadora. Embora tal variação esteja mais fortemente associada a variáveis linguísticas (TARALLO, 1983), certas variáveis sociais têm mostrado importante atuação frente à realização ou não da cópia pronominal, em especial o nível de escolaridade dos falantes. A presente exposição busca apresentar alguns resultados sobre as estratégias de relativização na fala de Vitória, tendo em vista a atuação de fatores já testados estatisticamente em outros trabalhos (CORRÊA, 1998; MOLLICA, 1977; SANTOS, 2020; SILVA E LOPES; 2007; TARALLO, 1983; VALE, 2014). Para tanto, foram analisadas as entrevistas que compõem o banco de dados do projeto PortVix (YACOVENCO et al., 2012) a partir dos pressupostos teórico-metodológicos da sociolinguística variacionista (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 1968; LABOV, 2008 [1972]). Os resultados indicam que parece pesar algum estigma social à estratégia copiadora, o que pode ser inferido pela produção de falantes menos escolarizados/as, que a empregam mais do que os/as mais escolarizados/as. Salientamos que as relativas em função de sujeito são as mais frequentes em todas as amostras analisadas, o que confirma ser essa posição sintática a mais acessível à relativização (KEENAN; COMRIE, 1977). Argumenta-se, também, com base em Silva e Lopes (2007), que a frequência de uso de relativas de sujeito tem desencadeado um processo de gramaticalização do pronome relativo que, fazendo com que esse pronome passe a exercer uma função mais gramatical, como a de complementizador (TARALLO, 1983) ou de relativo universal (BECHARA, 2009), o que corrobora haver, em determinados contextos, a necessidade da cópia. Diferentemente dos demais tipos de relativizadores, o relativo que não apresenta flexão de número ou gênero e, por ser o pronome mais empregado na função de sujeito, conforme resultados de Mollica (1977), Santos (2020), Silva e Lopes (2007), Tarallo (1983) e Vale (2014), as demais funções sintáticas passariam a apresentar a mesma estrutura superficial das relativas de lacuna, isto é, relativas cortadoras encabeçadas por que.
Chegamos à décima primeira edição do Encontro de Sociolinguística com o objetivo de ampliar a rede de pesquisas e pesquisadoras/es em Sociolinguística e dar maior destaque às produções acadêmicas na região Nordeste.
A programação deste ano, contou com uma conferência que abordou o panorama das pesquisas sociolinguísticas no Nordeste e quatro mesas-redondas sobre a Sociolinguística Variacionista, Sociolinguística Histórica, Sociofuncionalismo, como também Sociolinguística e Ensino. Todas formas por pesquisadoras/es de Estados diferentes para mostrar a diversidade de conhecimentos que são produzidos nessa região.
Os trabalhos apresentados ao longo de três dias, no período de 01 a 03 de dezembro de 2021, verseram sobre diferentes temáticas e os mais diversos dialetos da língua portuguesa, distribuídos em várias áreas da Sociolinguística, a saber:
Esperamos que a compilação dos trabalhos apresentados nestes anais possam contribuir para o desenvolvimento dos estudos sociolinguísticos e sirvam de inspiração a outras novas pesquisas.
Valter de Carvalho Dias
Membro da Comissão Organizadora
Aline Silva Gomes
Cristina dos Santos Carvalho
Norma da Silva Lopes
Norma Lúcia Fernandes Almeida
Pedro Daniel dos Santos Souza
Raquel Meister Ko Freitag
Silvana Silva de Farias Araujo
Valter de Carvalho Dias
Aline Silva Gomes
Aurelina Ariadne Domingues Almeida
Clézio Roberto Gonçalves
Fabrício da Silva Amorim
Fernanda de Oliveira Cerqueira
Geisa Borges da Costa
Huda da Silva Santiago
Marcela Moura Torres Paim
Pedro Daniel dos Santos Souza
Raquel Meister Ko Freitag
Sandra Carneiro de Oliveira
Silvana Silva de Farias Araújo
Valter de Carvalho Dias
I ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação - História - Mudança
01 de dezembro de 2011
Universidade do Estado da Bahia (Salvador)
II ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Estudos da Variação, da Mudança e da Sócio-História do Português Brasileiro; Sociofuncionalismo e Etnografia da Comunicação
28 e 29 de novembro de 2012
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
III ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
A pesquisa em Salvador
03 e 04 de outubro de 2013
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IV ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diferentes olhares sobre o português brasileiro
15 e 16 de setembro de 2014
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
V ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diálogos entre Brasil e África
09 e 10 de novembro de 2015
Universidade Estadual de Feira de Santana (Feira de Santana-BA)
VI ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
O português do Nordeste: (para além das) fronteiras linguísticas
29 e 30 de setembro de 2016
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
VII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Redes e contatos
28 a 30 de setembro de 2017
Universidade Federal de Sergipe (São Cristovão-SE)
VIII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação e ensino: unidade e diversidade
20 e 21 de julho de 2018
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IX ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Sociolinguística: quebrando tabus e inovando na escola
01 e 02 de agosto de 2019
Universidade Federal da Bahia (Salvador-BA)
Anais
X ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Desafios do isolamento social para a Sociolinguística e interfaces
De 01 a 04 de dezembro de 2021
Edição online
Anais