O presente trabalho tem por objetivo discutir o hiato entre o padrão escolar e a realidade linguística brasileira no que diz respeito à variação do clítico acusativo de terceira pessoa em função de um objeto direto anafórico. Para tanto, tomando por base a Teoria da Variação e Mudança Linguística, de W. Labov (1972 [2008]) analisamos a amostra da comunidade de fala da zona rural de Santa Leopoldina, cidade do interior do Espírito Santo contrapondo esses resultados aos obitdos na cidade de Vitória, capital do ES (LAUAR, 2015). As gramáticas normativas e, em consonância, a escola, através da imposição do padrão da língua, tentam manter em uso o clítico acusativo de terceira pessoa como a única forma correta para o preenchimento do objeto direto anafórico e, em contra partida, tentam desautorizar a forma não-padrão, o pronome pleno, considerado erro (CUNHA E CINTRA, 2001; BECHARA, 2004). No entanto, não logram êxito, uma vez que o clítico já não faz parte do repertório linguístico do brasileiro, enquanto o pronome pleno, presente na língua desde o século XIX, possui forte encaixamento linguístico. Em Santa Leopoldina não há ocorrência de clítico acusativo, mesmo resultado encontrado no trabalho de Silva (2004) em comunidades rurais de descendentes de afro-brasileiros no interior da Bahia. Em Vitória, observamos que seu uso é praticamente nulo, apenas 0,5% dos casos (15 ocorrências), surgindo apenas em falantes com mais de15 anos, período em que já houve certa influência da escolarização na fala dos indivíduos. A partir desses e de outros trabalhos (Omena 1978, Duarte, 1986, Freire, 2006), é possível concluir que a variante padrão não pertence ao vernáculo brasileiro, sendo aprendida e tendo seu uso mantido por meio da escolarização e do letramento. Já o pronome pleno em Vitória tem frequência geral de uso de 13,6%, decrescendo conforme aumenta a escolarização do falante. Por outro lado, em comunidades rurais, como a de Santa Leopoldina, bastante homogêneas, com pouco contato com a zona urbana, em que a pressão da escolarização não se faz sentir, o pronome pleno (13,1%) é utilizado similarmente por pessoas de todos os níveis de escolaridade. Assim, a perda do clítico acusativo de terceira pessoa na fala dos brasileiros parece ser um processo já concluído, não sendo, portanto, uma variante vernacular. Entretanto, por força normativa da escola, é encontrada raríssimas vezes na fala, normalmente em contextos muito formais, mas não aparece em comunidades com pouca influência da escolarização. Mesmo na escrita, modalidade que, por seu caráter mais conservador, ainda preserva o clítico, sua frequência de uso também tem diminuído (ZANELATTO et al. 2021). O ensino baseado em uma forma que já não pertence ao vernáculo do português brasileiro faz com que os alunos não reconheçam como sua a língua que é apresentada na escola, fato que pode prejudicar o interesse ou mesmo fazer com que se sintam incapazes de usar a própria língua.
Chegamos à décima primeira edição do Encontro de Sociolinguística com o objetivo de ampliar a rede de pesquisas e pesquisadoras/es em Sociolinguística e dar maior destaque às produções acadêmicas na região Nordeste.
A programação deste ano, contou com uma conferência que abordou o panorama das pesquisas sociolinguísticas no Nordeste e quatro mesas-redondas sobre a Sociolinguística Variacionista, Sociolinguística Histórica, Sociofuncionalismo, como também Sociolinguística e Ensino. Todas formas por pesquisadoras/es de Estados diferentes para mostrar a diversidade de conhecimentos que são produzidos nessa região.
Os trabalhos apresentados ao longo de três dias, no período de 01 a 03 de dezembro de 2021, verseram sobre diferentes temáticas e os mais diversos dialetos da língua portuguesa, distribuídos em várias áreas da Sociolinguística, a saber:
Esperamos que a compilação dos trabalhos apresentados nestes anais possam contribuir para o desenvolvimento dos estudos sociolinguísticos e sirvam de inspiração a outras novas pesquisas.
Valter de Carvalho Dias
Membro da Comissão Organizadora
Aline Silva Gomes
Cristina dos Santos Carvalho
Norma da Silva Lopes
Norma Lúcia Fernandes Almeida
Pedro Daniel dos Santos Souza
Raquel Meister Ko Freitag
Silvana Silva de Farias Araujo
Valter de Carvalho Dias
Aline Silva Gomes
Aurelina Ariadne Domingues Almeida
Clézio Roberto Gonçalves
Fabrício da Silva Amorim
Fernanda de Oliveira Cerqueira
Geisa Borges da Costa
Huda da Silva Santiago
Marcela Moura Torres Paim
Pedro Daniel dos Santos Souza
Raquel Meister Ko Freitag
Sandra Carneiro de Oliveira
Silvana Silva de Farias Araújo
Valter de Carvalho Dias
I ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação - História - Mudança
01 de dezembro de 2011
Universidade do Estado da Bahia (Salvador)
II ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Estudos da Variação, da Mudança e da Sócio-História do Português Brasileiro; Sociofuncionalismo e Etnografia da Comunicação
28 e 29 de novembro de 2012
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
III ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
A pesquisa em Salvador
03 e 04 de outubro de 2013
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IV ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diferentes olhares sobre o português brasileiro
15 e 16 de setembro de 2014
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
V ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diálogos entre Brasil e África
09 e 10 de novembro de 2015
Universidade Estadual de Feira de Santana (Feira de Santana-BA)
VI ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
O português do Nordeste: (para além das) fronteiras linguísticas
29 e 30 de setembro de 2016
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
VII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Redes e contatos
28 a 30 de setembro de 2017
Universidade Federal de Sergipe (São Cristovão-SE)
VIII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação e ensino: unidade e diversidade
20 e 21 de julho de 2018
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IX ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Sociolinguística: quebrando tabus e inovando na escola
01 e 02 de agosto de 2019
Universidade Federal da Bahia (Salvador-BA)
Anais
X ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Desafios do isolamento social para a Sociolinguística e interfaces
De 01 a 04 de dezembro de 2021
Edição online
Anais