HISTÓRIA E VIVÊNCIAS ALFABETIZADORAS: ESCOLA ESTADUAL GONÇALVES CHAVES, DO PASSADO AO PRESENTE (1980-2020)
Gisele Cunha Oliveira
Mestranda em Educação/ PPGE - Universidade Estadual de Montes Claros
Geisa Magela Veloso
Doutora em Educação. Professora da Universidade Estadual de Montes Claros
Resumo: A pesquisa situa-se no campo da História da Educação, tendo por objeto de estudo a cultura escolar de alfabetização. A pesquisa, em andamento, está situada na História Cultural, com o uso da história oral temática no processo de coleta de informações, realizando entrevista semiestruturada, com professoras alfabetizadoras que exerceram a função docente entre a década de 1980 ao momento contemporâneo, bem como, com as diretoras e supervisoras pedagógicas. Partimos do pressuposto de que a cultura escolar vai se constituindo ao longo de determinado tempo. A pesquisa tem por objetivo discutir o processo histórico de constituição da cultura escolar de alfabetização na Escola Estadual Gonçalves Chaves, estabelecendo diálogo com as políticas públicas educacionais e as ciências da educação, entre a década de 1980 e o momento contemporâneo. Como referencial teórico serão utilizados estudos de Julia (2001), Soares (2003; 2004; 2016), Faria Filho, Vidal (2006), dentre outros.
Palavras-chave: História da Educação. Cultura Escolar. Alfabetização. Políticas públicas de alfabetização.
Introdução: A pesquisa situa-se no campo da História da Educação, tendo por objeto a cultura escolar de alfabetização. Para Silva (2006, p.2), a cultura escolar perpassa por todas as ações do cotidiano da escola, seja “[...] na influência sobre os seus ritos ou sobre a sua linguagem, seja na determinação das suas formas de organização e de gestão, seja na constituição dos sistemas curriculares.
No campo da História da Educação, optamos por um recorte temporal situado a partir dos anos 1980 até o momento atual. Pensamos que as políticas públicas e proposições oficiais podem interferir nas práticas alfabetizadoras e produzir mudanças na própria cultura da escola. É importante propor essa discussão para buscar a compreensão da forma pela qual as políticas públicas refletem na cultura escolar de alfabetização.
Justificativa e problema: A pesquisa se justifica por contribuir para ampliação do conhecimento sobre a Educação local, para reconstruir faces da história e vivências educativas da instituição supracitada, a qual se encontra inscrita na tradição, integra o imaginário social dos montes-clarenses e foi o primeiro grupo escolar instituído na cidade de Montes Claros.
Foram elaboradas algumas questões norteadoras, sendo que, no decurso do estudo, novas questões poderão ser propostas, de forma a colocar foco sobre a realidade. São elas: De que forma as professoras recebem as orientações e concepções de alfabetização contida nas políticas públicas educacionais? As professoras produziram adesão às políticas públicas educacionais, gerando mudanças na cultura escolar e nas práticas que visam ao ensino inicial da leitura e da escrita? Em que medida a resistência às abordagens de alfabetização, propostas nas políticas públicas educacionais, se fez presente entre as professoras? Quais são as bases teóricas que norteiam as práticas pedagógicas de alfabetização de crianças na escola?
Objetivos: A pesquisa tem por objetivo geral: discutir o processo histórico de constituição da cultura escolar de alfabetização na Escola Estadual Gonçalves Chaves, estabelecendo diálogo com as políticas públicas educacionais e as ciências da educação, entre a década de 1980 e o momento contemporâneo. E por objetivos específicos: Discutir as mudanças, permanências, continuidades e rupturas na cultura escolar de alfabetização a partir da disseminação da Psicogênese da Língua Escrita nos processos de formação de professores e da instituição dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs); Analisar o modo como as proposições sobre letramento incidiram sobre a cultura escolar de alfabetização, captando as interlocuções das práticas alfabetizadoras com os estudos sobre consciência fonológica; Discutir o modo com as professoras, a coordenação e gestão pedagógicas da escola acolhem ou resistem às diretrizes e concepções contidas na Política Nacional de Alfabetização (PNA), que orienta processos e práticas pedagógicas desenvolvidos com as crianças.
Referencial teórico: A cultura escolar é compreendida como conjunto de normas que definem conhecimentos a serem ensinados, bem como, um conjunto de práticas que permitem a comunicação desses conhecimentos, podendo apresentar mudanças, com a implantação das políticas públicas de formação (JULIA, 2001).
No que se refere ao letramento, sua invenção se dá no Brasil na década de 1980. O surgimento do letramento pode ser interpretado como decorrência da necessidade de configurar e nomear comportamentos e práticas sociais na área da leitura e da escrita que ultrapassem o domínio do sistema alfabético e ortográfico, nível de aprendizagem da língua escrita perseguido, tradicionalmente, pelo processo de alfabetização (SOARES, 2004).
É interessante dar destaque também aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), documento orientador de currículos, práticas e políticas públicas, bem como, ao Pacto Nacional pela Alfabetização da Idade Certa PNAIC, política pública do governo federal, a qual o governo de Minas Gerais aderiu.
O PNAIC tinha uma abordagem fundamentada no letramento, na psicogênese da língua escrita e nos estudos sobre consciência fonológica. Os PCNs, com uma abordagem construtivista, apresentavam que os conteúdos e currículos não deveriam ser trabalhados apenas como transmissão de conhecimento. Ambas as políticas, não tinham por foco a consciência fonêmica e as práticas típicas ao método fônico de alfabetização, como a PNA.
Procedimentos metodológicos: A pesquisa é historiográfica, sustenta-se na abordagem da História Cultural. O estudo focaliza os modos como as professora concebem a alfabetização, os processos pedagógicos desenvolvidos com as crianças, assim como,o modo como recebem as orientações das políticas públicas para alfabetizar, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) e a Política Nacional de Alfabetização (PNA).
Quanto aos procedimentos técnicos, utilizamos a revisão de literatura e a pesquisa de campo. O estudo tem por base a história oral temática no processo de coleta de informações, com realização de entrevista semiestruturada com professas alfabetizadoras - 1º e 2º anos, que atuam ou atuaram da década de 1980 até o momento contemporâneo, bem como, com as diretoras e supervisoras pedagógicas. O lócus da pesquisa será na Escola Estadual Gonçalves Chaves, instituição pública localizada na região central da cidade de Montes Claros-MG. O tratamento dos dados será realizado numa abordagem qualitativa, observando-se todas as informações obtidas com os sujeitos envolvidas no estudo. Após coleta e organização dos dados será realizada uma análise descritiva e explicativa para compreensão do fenômeno em estudo.
Resultados parciais: O Grupo Escolar surgiu no Brasil inicialmente em São Paulo, em meados de 1893, buscava-se um novo modelo de organização educacional para as elites oligárquicas no início da República e, ao mesmo tempo, ancorava uma tentativa de romper com os laços do passado imperial. Em Minas Gerais, “os primeiros grupos escolares foram instalados em Belo Horizonte a partir de 1906 como afirmação do moderno em educação em substituição ao passado imperial ultrapassado representado pelas escolas isoladas” (FARIA FILHO; SOUZA, 2006, p.19).
Segundo Aguiar e Durães (2017), o modelo de organização da escola primária, denominado Grupo Escolar, foi instituído em Minas através da Lei nº 439 de 28 de Setembro de 1906. Já em Montes Claros foi o Decreto Estadual Nº 2352 de 05 de janeiro de 1909 que cria o primeiro Grupo Escolar da cidade: Grupo Escolar Gonçalves Chaves. Atual Escola Estadual Gonçalves Chaves, que se encontra inscrita na tradição e integra o imaginário social dos montes-clarenses.
Ainda como resultados parciais do estudo, constatamos que a Escola supracitada se constituiu por uma forte tradição na utilização de métodos analíticos de alfabetização, sobretudo, o método global de contos. Por esta tradição, na década de 1970, a escola ofereceu forte resistência para adoção do método fônico, proposto pela Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais. Naquele momento, as professoras permaneceram aplicando o método global de contos, alicerçado em uma cultura escolar solidamente constituída em torno desta abordagem, como também dos resultados obtidos no ensino inicial da leitura e escrita.
Considerações: Com o presente trabalho tem sido possível a discussão dos mecanismos que sustentam as práticas dos sujeitos da pesquisa, mapeando as possíveis interferências das políticas públicas nas práticas alfabetizadoras. É importante destacar que o modo como as políticas de formação de alfabetizadores são recebidas e gerenciadas, é capaz de influenciar nas práticas alfabetizadoras dos professores, podendo produzir mudanças na cultura da escola.
Comissão Organizadora
CLÁUDIA APARECIDA FERREIRA MACHADO
Andrey Guilherme Mendes de Souza
DENICE DO SOCORRO LOPES BRITO
Fatima Rita Santana Aguiar
Comissão Científica
Árlen Almeida Duarte de Sousa
Denice do Socorro Lopes Brito
Egeslaine De Nez
Fátima Rita Santana Aguiar
Geisa Magela Veloso
JOÃO LUIZ SIMPLÍCIO PORTO
Leandro Luciano Silva Ravnjak
Maria Clara Maciel de Araújo Ribeiro
Maria Jacy Maia Velloso
Monica Maria Teixeira Amorim
Rita Tavares de Mello
Rosângela Silveira Rodrigues
Shirley Patrícia Nogueira de Castro e Almeida