EVASÃO NO ENSINO SUPERIOR: O CASO DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UFOP

  • Autor
  • Karen Cecília Dias Amorim
  • Co-autores
  • Célia Maria Fernandes Nunes , Letícia Pereira de Sousa , Iris Madalena Feijó Braga , Josiane Aparecida Machado
  • Resumo
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    Introdução

    A expansão da educação superior promovida nas últimas décadas foi resultado de uns série de políticas educacionais voltadas tanto para o setor público como privado. A ampliação do número de vagas, de cursos, instituições e a implantação de cotas para acesso a esse nível de ensino contribuíram para diversificação do público ingressante e enfatizaram a importância de ações voltadas para permanência desse público no ensino superior.

    Das mudanças ocorridas emergiram vários desafios relacionados à adaptação e a permanência desses estudantes, dentre eles tem-se o problema da evasão. Este fenômeno causa grande preocupação tanto no que diz respeito às mobilizações estruturais e econômicas efetivadas pelas instituições de ensino e pelo Estado, quanto por se constituir em um dificultador de uma democratização do acesso a esse nível de ensino. Nessa perspectiva, tomou-se como objeto de estudo a evasão no curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

    Os descritores utilizados para busca referencial se pautaram em produções sobre acesso, permanência e evasão do ensino superior O trabalho fundamentou-se em teóricos como Fristsch (2015), Baggi e Lopes (2011), Tinto (1995, apud JUNIOR 2015), Gibson (1998), Hoffmann; Nunes e Muller (2020), Moura, Mandarino e Silva (2020), Zago (2006), Gatti et al (2019), Nogueira (2012), entre outros.

    A perspectiva metodológica adotada consistiu-se em uma abordagem quantitativa e qualitativa e constituiu-se em um estudo de caso da evasão no curso de Pedagogia da UFOP. Foi realizado o mapeamento das produções sobre o tema da evasão no ensino superior numa busca por artigos científicos nos Grupos de Trabalhos (GTs), da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, a ANPEd, de 2010 a 2020 e na plataforma Scielo, a partir de descritores relacionadas aos temas da pesquisa. Os descritores utilizados para a busca foram: evasão; ensino superior, permanência e integração. O recorte temporal abrangeu os artigos publicados entre os anos de 2010 e 2020. A partir do levantamento foram encontrados estudos relacionados à evasão no ensino superior e a assuntos que perpassam esse tema, tais como a permanência, sucesso e fracasso escolar, retenção, integração, democratização de acesso e expansão desse nível de ensino.

    O universo pesquisado constituiu-se de 407 alunos em situação de evasão, no período que abarca o segundo semestre letivo de 2008, ano de implantação deste curso, até o primeiro período letivo de 2020. Responderam ao questionário 136 pessoas, o que representa 33,41%.

     

    A evasão no Curso de Pedagogia da UFOP

     

    Os dados do questionário permitiram traçar aspectos quanto a configuração familiar, o percurso escolar, a permanência na UFOP e a escolha pela instituição, bem como pelo curso de Pedagogia. Diante dos resultados alcançados com a análise das repercussões dos 136 participantes da pesquisa colocam-se em destaque atravessamentos de questões importantes que caracterizam não só o alunado evadido como também elementos que perpassam a permanência desses atores no mundo acadêmico.

    De acordo com dados da pesquisa realizada por Araújo, Nunes e Braga (2020), o perfil do egresso do curso de Pedagogia da UFOP é marcado pela presença majoritária de mulheres negras (94% a proporção de mulheres e 56,30% de participantes negros), egressas de escola pública (74%) e naturais das cidades de Mariana e Outro Preto, MG. No que se refere à trajetória acadêmica, durante a permanência no curso engajam-se ativamente em atividades de pesquisa e extensão, sendo necessários cerca de nove períodos para a diplomação. Quanto à inserção no mercado de trabalho, predomina o grupo de estudantes que conseguiram emprego, na área de formação, em até um ano após a conclusão do curso (74%). Já a escolha pelo curso de Pedagogia se justifica a partir do interesse pela área de educação e amor pela profissão. São bem avaliados pelas egressas o projeto pedagógico do curso, o currículo os professores e a infraestrutura da Instituição.

    A caracterização do perfil dos estudantes evadidos se configurou como predominantemente feminino (80,15%). Desse fato fica explícito a reincidência do curso de Pedagogia ser caracterizado como um curso de e para mulheres. Com relação à cor/raça dos pesquisados, o Censo Demográfico realizado pelo IBGE (2020) mostra que do total de residentes em Minas Gerais, 45,10% são brancos, 44,6% prados, 9,20% pretos, 1% amarelo, 0,2% indígenas. Isso evidencia não só predominância da população negra no estado, mas também a inserção do público negro na instituição, já que a pesquisa revela que a Pedagogia foi acessada por 54,42% de pessoas pretas e pardas. Além disso, essa expressividade se mostra também nos alunos diplomados (ARAÚJO; NUNES; BRAGA, 2020). Constatou-se ainda que 36,76% os evadidos têm filhos. Quanto à escolarização de mães e pais dos alunos, fica indubitável perceber que 61,03% dos ex-estudantes têm nível de escolaridade superior ao de seus pais e que estes dados indicam “um impacto geracional proporcionado pela ampliação das oportunidades de acesso às IFES brasileiras” (ANDIFES; FONAPRACE, 2019, p. 9). Com relação ao rendimento bruto familiar dos pesquisados, detectou-se que 58,09% concentra-se na faixa entre 1 a 3 salários mínimos. Dito isso, é importante destacar a ressalva de Silva na publicação dos resultados de estudos e pesquisas pelo Ipea que “a despeito do imaginário social de que as instituições públicas abrigam, na maior parte de suas vagas, estudantes oriundos de estratos mais privilegiados economicamente, o estudo mostra que 53,5% dos discentes têm renda familiar per capita de até 1 SM” (IPEA, 2020, p. 65).

    Os resultados da pesquisa revelam que os principais motivos de desistência ou abandono referem-se às questões relacionadas com trabalho/tempo (20,59%), sejam pela necessidade de trabalhar ou mesmo pela priorização do trabalho em detrimento do curso, sejam pelas dificuldades de conciliar trabalho com os estudos implicando em tempo insuficiente ou incompatível para dedicação; e, também, pela mudança de curso (19,12%).

    Alguns cruzamentos entre os motivos de desistência foram realizados a fim de verificar como estes se distribuíam conforme algumas categorias de análise. Assim, identificou-se que, embora o principal agente motivador seja o fator trabalho/tempo, a maioria dos evadidos não solicitou auxílio estudantil (58,65%) o que invoca a reflexão sobre a falta de conhecimento sobre os programas de assistência ou, mesmo conhecendo os programas, esses sujeitos optaram pelo trabalho por, talvez, o valor dos auxílios serem insuficientes para suprir suas demandas.

    No entrelaçamento entre motivos de desistência v.s. filhos, a mudança de curso se mostrou o principal motivo para os que não tem filhos (24,71%), já a categoria ‘outros’ que engloba questões como gravidez, dificuldade de acompanhamento do processo ensino-aprendizagem, etc., aparece em primeiro lugar para as pessoas que têm filhos (26,00%).

    A maioria dos evadidos estão concentrados na categoria de renda de 1 a 3 salários mínimos (58,09%) sendo as categorias ‘outros’ e mudança de curso as mais expressivas, com 19,74% cada.

    Pelos resultados dos cruzamentos entre evasão v.s. modalidade de ingresso, detectou-se que a facilidade de acesso pode se tornar um fator crucial quando o sujeito está apenas se aventurando pelos cursos que sente alguma afinidade ou que utilizam da relação de semelhança entre áreas como porta de entrada em outro curso de maior interesse, pois a mudança de curso foi o principal relato para ambos os casos. Além disso, a facilidade de acesso pode acarretar numa possível frustração quanto ao nível de exigência do processo de aprendizagem e na testagem para alguns estudantes de se lançar na graduação sem ter um plano ou um “projeto profissional”.

     

    Considerações finais

    De tudo o que foi investigado, pode-se dizer que as relações entre trabalho, tempo e dinheiro são questões que merecem atenção especial por parte dos órgãos superiores da educação e da própria UFOP, tanto no que diz respeito ao fenômeno da evasão quanto à garantia de acesso e permanência nas universidades brasileiras. Além disso, acredita-se que o trabalho buscou explicitar não só as causas da evasão como também enfocar o olhar para a configuração social da qual são provenientes as pessoas que vivenciam esse fenômeno.

     

  • Palavras-chave
  • Ensino superior, acesso, permanência, evasão.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Pesquisa em Educação e a Formação de Professores
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