Resumo: O texto de Apresentação, comumente introduz materiais didáticos impressos (MDI), é um gênero discursivo que emprega mecanismos linguístico-enunciativos, como modalizadores apreciativos e pragmáticos, permitindo aos autores manifestarem diferentes pontos de vistas sobre eles mesmos, sobre o aluno em formação e sobre o gênero. A análise desses modalizadores são objetivos deste trabalho. Partimos de um quadro teórico derivado dos estudos de Bakhtin (2010) e Bronckart (2009) acerca dos gêneros discursivos/textuais, atrelado às reflexões de Bronckart (2009), Koch (2007) e Ilari (1992) sobre os modalizadores. As bases metodológicas eleitas são teórica e qualitativa, permitindo desvelar os efeitos de sentidos desses modalizares na composição de três textos de Apresentação extraídos de MDIs do curso de Letras/Português da UAB/Unimontes. Os resultados denotam a produção de um gênero didático e o emprego desses modalizadores permitiram aos autores representações específicas das imagens deles próprios, do leitor-aluno e da função socio-formativa do texto produzido.
Palavras-chave: Texto de Apresentação; Gênero do Discurso; Modalizadores Apreciativos e Pragmáticos.
Introdução
O texto de Apresentação, elaborado para introduzir materiais didáticos impressos, é um gênero discursivo que emprega em sua composição mecanismos linguístico-enunciativos, como modalizadores apreciativos e pragmáticos, que permitem aos autores manifestarem diferentes pontos de vistas sobre eles mesmos, sobre o aluno em formação e sobre o gênero escrito.
Justificativa
Podemos afirmar que é imprescindível analisar textos pertencentes ao gênero Apresentação, visto que: i) o texto de Apresentação introduz MDI, considerado, por isso, uma das principais ferramentas didáticas usadas em sala de aula; ii) o texto de Apresentação desvela a(s) representações feitas pelo(s) autor(es) tanto em relação a ele(s) mesmo(s) quanto em relação ao leitor/aluno(s), além de designar o gênero elaborado. O que só é possível através do emprego dos modalizadores apreciativos e pragmáticos. Portanto, conhecer e desvelar esses modalizadores é, sem dúvida, uma importante justificativa para este trabalho.
Objetivos
Revelar e analisar os efeitos de sentidos das representações das imagens que os autor(es) de textos de Apresentação revelam em relação a ele(s) mesmo(s), em relação ao leitor/aluno(s), e a função socio-formativa do gênero elaborado.
Referencial teórico
Partimos de um pressuposto teórico pautado nos estudos de Mikhail Bakhtin (2010) e Jean-Paul Bronckart (2009) acerca dos gêneros discursivos/textuais atrelado às reflexões de Bronckart (2009), Koch (2007) e Ilari (1992) em relação aos modalizadores que se constituem categorias de análise neste trabalho.
De modo geral, Para Bakhtin (2010), gêneros são tipos relativamente estáveis de enunciados, que se caracterizam por uma imensa heterogeneidade constitutiva e funcional. Já a concepção de gênero de Bronckart (2009) filia-se ao quadro conceitual do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD) e incumbe-se de refletir as ações verbais e não-verbais reveladas nas tramas de organização dos textos.
Para mais, o gênero Apresentação é definido pelo Dicionário de Gêneros Textuais, como “Texto inicial de obra literária ou genérica, de um periódico ou de uma revista pela qual se apresenta o conteúdo e/ou o seu autor ou autores. Esse texto pode ser elaborado pelo autor ou por outra pessoa de reconhecida competência” (COSTA, 2009, p. 34).
Ademais, as avaliações e julgamentos elaborados pelo autor de um texto acerca de determinados traços do conteúdo temático têm sido reconhecidos pela gramática tradicional como modalizações (ILARI, 1992; KOCH, 2007; BRONCKART, 2009 – grifos nossos). As modalizações configuram-se em diferentes tipos, todavia, dado os objetivos deste trabalho, fez-se necessário selecionar apenas duas delas, sendo as seguintes: i) modalizações apreciativas e; ii) modalizações pragmáticas.
i) Modalizações Apreciativas: trata-se das avaliações subjetivas que o autor/enunciador faz acerca dele mesmo, de seu destinatário, e do conteúdo temático, revelando tanto seu estado psicológico quanto o estado de seu referente;
ii) Modalizações Pragmáticas: são os tipos de julgamentos que indicam as capacidades de ação atribuídas tanto ao agente-produtor quanto ao destinatário do texto, constituindo-se de verbos, locuções verbais, tempos verbais e orações modalizadoras.
Metodologia
Guiamo-nos por uma análise metodológica teórica qualitativa, ancorada nos pressupostos dos quadros da abordagem sociodiscursiva, para o estudo de gêneros discursivos/textuais e da Linguística Textual em relação ao emprego de modalizardores apreciativos e pragmáticos em três textos de Apresentação produzidos para introduzir materiais didáticos do curso de Letras/Português da UAB/Unimontes, sendo eles: Introdução à Leitura - 1º período, Ensino de Gramática na Escola - 4º período e Linguística Aplicada ao Ensino da Língua Portuguesa - 8º período[1], materiais produzidos para o período de 2014-2017.
Análise
Fragmento 1
“Tudo foi cuidadosamente planejado, para que você tire o máximo de proveito e se torne um leitor eficiente, preparando-se também para fazer com que seus alunos o sejam.” (Texto de Apresentação do MDI de Introdução à Leitura, 2013, p.9 – grifos nossos.).
Fonte: Quadro elaborado pelas autoras.
O advérbio de intensidade, cuidadosamente, modalizado neste fragmento, revela que os autores consideram o trabalho desenvolvido por eles, na elaboração do material, meticuloso. Revela ainda que eles também consideram o material importante não apenas para a formação do indivíduo enquanto um leitor/aluno, mas também como um profissional de sucesso, preparando-se também para fazer com que seus alunos o sejam, refletindo na formação desse sujeito.
Fragmento 2
“Sabemos que a Língua Portuguesa é nossa língua natural e, portanto, a empregamos, sem maiores dificuldades, a partir do momento em que iniciamos nosso processo comunicacional.” (Texto de Apresentação do MDI de Ensino de Gramática na Escola, 2015, p. 9 – grifos nossos)
Fonte: Quadro elaborado pelas autoras.
Neste excerto, ao empregar a seguinte modalização, Sabemos que, os autores se colocam no mesmo lugar do leitor/aluno, caracterizando a linguagem dialógica usada na escrita do texto, cujo propósito é o de estabelecer interação e, consequentemente, adesão entre esses sujeitos sociais. Além disso, essa modalização também revela a projeção autoral empregada no enunciado, pois evidencia a representação dos autores acerca do leitor/aluno, como alguém perfeitamente capaz de usar a Língua Portuguesa, considerando essa uma capacidade inerente à formação do indivíduo.
Fragmento 3
“...discutiremos questões relativas ao ensino de língua materna, visando explicitar problemas e possibilidades de ensino da língua portuguesa.” (Texto de Apresentação do MDI de Linguística Aplicada ao Ensino da Língua Portuguesa, 2012, p. 9 – grifos nossos).
Fonte: Quadro elaborado pelas autoras.
Dado que a autora inicia o texto com verbos empregados na primeira pessoa do singular (apresento, tenho, etc.), a mudança de pessoa verbal sinalizada pela expressão modalizadora, discutiremos, mostra que ela se coloca no mesmo lugar do leitor/aluno, buscando estabelecer uma relação de parceria e confiança, tendo em vista o comprometimento almejado. Já a locução verbal, visando explicitar, desvela um desejo da autora em relação às possibilidades e/ou porventura às lacunas do conteúdo temático do material que se segue.
Considerações finais
Os resultados mostraram que a produção de um gênero didático e o emprego de modalizadores possibilitaram aos autores a construção de um texto, cuja função é servir de bússola ao estudo da disciplina ofertada, na modalidade em educação a distância, considerando que se trata de um texto além de introduzir determinados conteúdos curriculares de um curso como Letras Português, tem como objetivos apresentar a organização da disciplina a ser estudada e guiar o leitor aluno em seus estudos. Além disso, o emprego desses modalizadores permitiram aos autores representações específicas das imagens deles próprios, do leitor-aluno e da função socio-formativa do texto produzido.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio-discursivo. São Paulo: EDUC, 2009.
COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
ILARI, Rodolfo (org). Gramática do português falado: níveis de análise linguística. 2. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 1992.
KOCH, Ingedore Villaça. A inter-ação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 2007.
LEITE, João de Deus; CARVALHO, Maria de Lourdes Guimarães de. Introdução à Leitura. 2. ed. Montes Claros: Editora Unimontes, 2013. Disponível em: <http://www.ead.unimontes.br/arquivos/cadernos/uab/oferta2/letrasportugues/periodo1/introducao-a-leitura.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2021.
NEVES, et al. Ensino de Gramática na Escola. Montes Claros: Editora Unimontes, 2015. Disponível em: <http://www.ead.unimontes.br/arquivos/cadernos/uab/oferta2/letras-portugues/periodo4/ensino-gramatica-escola.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2021.
QUEIROZ, Érika Karine Ramos. Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa. Montes Claros: Editora Unimontes, 2012. Disponível em: <http://www.ead.unimontes.br/arquivos/cadernos/uab/oferta2/letrasportugues/periodo8/linguistica-aplicada-ensino-lingua-portuguesa.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2021.
[1] Dado o espaço deste trabalho, fez-se necessário selecionar apenas um único trecho do corpus para análise.
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Maria Jacy Maia Velloso
Monica Maria Teixeira Amorim
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