A ESCRITA DO PORTUGUÊS POR ALUNOS SURDOS
Daniane Pereira
Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB)
danianepereira@hotmail.com
Leni Aparecida Rabelo da Silva Mendes
Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)
leni_rabelo@yahoo.com.br
Liliane Pereira Barbosa
Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)
lilianepeb@hotmail.com
Luana de Almeida Loiola
Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG)
salinasespanhol@gmail.com
Maria Leidiane Rodrigues Pereira Reis
Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)
leidiane219@gmail.com
Raimirys Costa Rocha
Secretaria Municipal de Educação de Brumado (SME Brumado)
raimirys@gmail.com
Resumo
Esse texto tem o intuito de discutir situações de aquisição de segunda língua, contato entre a Língua Portuguesa e a Língua de Sinais Brasileira, com o intuito de investigar a influência da primeira língua, que neste trabalho se refere à Língua de Sinais Brasileira, na escrita da segunda língua, que se refere à Língua Portuguesa escrita de indivíduos surdos, devido à interlíngua, que é gerada a partir pela interferência da primeira língua na segunda língua. A dificuldade do sujeito surdo na escrita da Língua Portuguesa evidencia um contato entre línguas, o que causa estranhamento aos sujeitos ouvintes e aos professores. A teoria do Contato de Línguas embasou os estudos desta pesquisa.
Palavras-chave: Contato de línguas. Educação Bilíngue. Língua de Sinais. Língua de Sinais Brasileira. Língua Portuguesa.
Introdução
Neste trabalho, discutimos situações de contato entre a Língua Portuguesa (LP), língua oral-auditiva, e a Língua de Sinais Brasileira (LSB), língua visuo-espacial, com o intuito de investigar as marcas de LSB na escrita da LP pelos alunos surdos.
Deve-se considerar que as línguas oral-auditivas e as Línguas de Sinais (LS) apresentam diferenças em relação à modalidade de comunicação, a saber: enquanto as línguas oral-auditivas utilizam, como meio de comunicação, sons articulados perceptíveis pelo ouvido – em que seu canal de produção é a boca, tendo como canal de recepção os ouvidos –, as LS são tidas como visual-espacial, pois sua realização tem como canal de produção as mãos e o canal de recepção os olhos.
Assim, enquanto, para os sujeitos ouvintes, a aprendizagem da escrita de sua língua materna corresponde a uma maneira diferenciada de representar a sua fala, para os indivíduos surdos, cuja primeira língua (L1) é uma LS, significa o aprendizado de uma nova língua, distinta da LS, uma segunda língua (L2) (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 47-48).
Justificativa e problema da pesquisa
Notam-se dificuldades gramaticais na construção de textos escritos em LP por indivíduos surdos que tem a LSB como primeira língua. Então, propomos investigar a influência da LSB na escrita da LP desses indivíduos. Esta proposta justifica-se pelo fato de haver marcas de LSB na escrita da LP pelos alunos surdos e, como o processo de apropriação da escrita pelos sujeitos surdos ocorre de forma distinta dos sujeitos ouvintes, pretendemos discutir situações de contato entre a LP e a LSB, com o intuito de fornecer subsídios teórico-pedagógicos a professores que ensinam LP a alunos surdos, de forma que essas marcas sejam minimizadas nesses textos escritos.
Objetivos da pesquisa
Investigar as marcas de LSB na escrita da LP por alunos surdos.
Referencial teórico que fundamenta a pesquisa
Segundo Vygotsky (1998), a organização das ideias nos ouvintes (através da oralidade) acontece da mesma maneira nos sujeitos surdos (através da LS). Em razão disso, nas produções textuais escritas do português desses sujeitos surdos, aparecem marcas da L1, por exemplo, a sua estrutura morfossintática, devido ao fato de o indivíduo organizar seu pensamento a partir de sua língua, logo ela reflete/interfere na sua escrita.
De acordo com Selinker (1972, p. 98), um dos resultados de contato de línguas, é a interlíngua (IL): um sistema linguístico intermediário entre a L1 e a L2, caracterizado pela interferência da L1 em L2, e que contém elementos próprios das duas línguas – não é mais a L1 nem a L2.
Procedimentos metodológicos
Quanto aos objetivos, esta pesquisa é exploratória, pois, envolve entrevistas a alunos surdos na escola pública e levantamento bibliográfico, quanto aos procedimentos técnicos, esta é uma pesquisa-ação, pois busca envolver os informantes de forma participativa.
Análise dos dados e resultados finais da pesquisa
Durante a pesquisa, percebemos que, para que o aluno surdo aprenda a LP escrita como L2, não basta a presença do tradutor/intérprete de LS em sala de aula. Para além disso, o contexto escolar deve estar apoiado na educação bilíngue. Práticas bilíngues proporcionam a aprendizagem da LP escrita como L2 por pessoas surdas, de forma contextualizada e significativa.
Relação do objeto de estudo com a pesquisa em Educação e Grupo de Trabalho do COPED
Este trabalho encaixa-se na proposta do Grupo de Trabalho Educação Inclusiva, por propiciar ao educando surdo condições para que se desenvolva de forma plena, como cidadão, com direitos e deveres em sociedade, proporcionando a inclusão.
Considerações finais
A aquisição de uma LS como L1 é imprescindível para a aprendizagem de uma L2 pelo indivíduo surdo, assim como o contato frequente com a escrita, aliados à uma prática pedagógica voltada para as especificidades deste sujeito, que possui o canal visual como principal mecanismo para compreender e interagir com o mundo.
Para que o processo de ensino e aprendizagem da LP escrita pelo aluno surdo ocorra eficientemente, a escola, em parceria com o professor de LP e o tradutor/ intérprete, necessita repensar as metodologias adotadas no processo de ensino e aprendizagem.
Referências
QUADROS, Ronice Müller de; KARNOPP, Lodenir Becher. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
SELINKER, Larry. Interlanguage. International Review of Applied Linguistics, v. 10, 1972.
VYGOTSKY, Lev Semenovitch. Pensamento e linguagem. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1998.