Resumo
Apresentamos alguns resultados, de uma das fases da pesquisa institucionalizada na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), intitulada “Outros ‘ISMOS’: Cartografias da decolonialidade nas Artes Visuais da América Latina”. Neste trabalho, envidamos esforços no sentido de pensar outros “ismos” (racismo, sexismo, classismo) nas Artes Visuais. A partir destes, seguimos em direção oposta aos ismos aprendidos/ensinados com base em uma história da arte única. Importa não aquiescer essa versão única, seja de Arte ou de Educação, com base epistêmica no pensamento eurocêntrico/estadunidense, mas que, numa inflexão, lance olhares sobre outros saberes produzidos pelas Artes Visuais que consideramos serem fundamentais para a compreender a decolonialidade dos processos educacionais em Arte hoje.
Palavras-chave: Arte/Educação; Cartografias; Decolonialidade.
Introdução
Pensar a decolonialidade da Arte/Educação requer adentrar um campo de conhecimentos permeado pela hegemonia do pensamento eurocêntrico que produz hierarquias e limita-o a uma forma uni-versal de ver/sentir/pensar baseada nos ‘ismos’ de uma história da arte europeia/estadunidense.
Justificativa e problema
A proposta tem foco investigativo nas Artes Visuais, na contemporaneidade, numa perspectiva sociológica e problematiza: Quais cartografias da decolonialidade se desenham nas Artes Visuais, na contemporaneidade, fazendo emergir outros ‘ismos’?
Objetivos
Cartografar a decolonialidade latente nas Artes Visuais fazendo emergir outros ‘ismos’;
Pensar as (im)possibilidades de decolonialidade da Arte/Educação a partir de outros ‘ismos’: (racismo, sexismo, classismo, capitalismo, globalismo, machismo, feminismo, patriarcalismo).
Referencial teórico
Construímos um referencial teórico com base no pensamento decolonial latino-americano (Aníbal Quijano, Enrique Dussel, Catherine Walsh, Walter Mignolo, Rita Segato, Lélia Gonzalez, entre outras e outros); Ainda, trazemos um referencial com base em pensadores e pensadoras contemporâneos/as (Ailton Krenak, Daniel Munduruku, Kaká Werá Jecupé, Célia Xakriabá); Além de referenciais no campo da Arte/Educação como: Ana Mae Barbosa e Lucia Pimentel.
Propomos um desencobrimento dos saberes excluídos que implica compreender a colonialidade do saber em seu caráter eurocêntrico e articuladora das formas de domínio colonial, o que implica compreender, segundo o GESCO (Grupo de Estudos sobre colonialidade) (2012), que “el eurocentrismo funciona como un locus epistémico desde el cual se erige un modelo de conocimiento que, por un lado, universaliza la experiencia local europea como modelo normativo a seguir y, por otra parte, designa sus dispositivos de conocimiento como los únicamente validos” (GESCO, 2012, p. 11-12).
A partir deste referencial teórico construímos argumentos que corroboram a perspectiva de pensar epistemes outras para a produção de conhecimentos e a criação de pensamentos que renunciem de forma explícita e contundente às generalizações uni-versalistas (no sentido de uma única versão) hegemônicas que ocultam a diversidade, a pluralidade e os outros saberes.
Procedimentos metodológicos
Tratou-se de pesquisa documental imagética com abordagem qualitativa dos dados. Aqui trazemos a fase de levantamento, análise de imagens e cartografia (PASSOS, KASTRUP, TEDESCO, 2014). As imagens foram analisadas pelo viés artístico, sociológico e educacional na criação de cartografias para pensar a decolonialidade da Arte/Educação.
Análise dos dados e resultados
A investigação, nesta fase, seleciona produções em Artes Visuais e artistas contemporâneos/as que constituíram três cartografias, abrangendo diferentes coletivos/as sociais:
Cartografia 1 - Povos originários: Jaider Esbell, Daiara Tukano, Gustavo Caboco, Nei Xakriabá, Joseca Yanomami, Denilson Baniwa, Xadalu Tupã Jecupé, Arissana Pataxó, Coletivo MAHKU, Yacunã Tuxá, Edgar Kanaykõ Xakriabá, Isael e Sueli Maxakali.
Cartografia 2 – Negros e Negras: Emanoel Araújo, Rosana Paulino, Sidney Amaral, Renata Felinto, Silvana Mendes, Ayrson Heráclito, Luiz Moreira, OZI, Mulambo, Djanira, Walter Firmo, Marcelino Melo, Paulo Nazareth, Dalton Paula, Jarbas Lopes, Jonatas Andrade, Bispo do Rosário, Maxwel Alexandre, Tiago Gualberto, Criola.
Cartografia 3 – LGBTQIAP+: José Leonilson, Alex Flemming, Jota Mombaça, Guilhermina Augusti, Irmãs Brasil, Ciber_Org, Raylander Mártis dos Anjos, Ventura Profana, Bixarte, Rosa Luz, Hudnilson Jr., Atelier Transe, Lyz Parayzo, Uýra Sodoma, Rafael BQueer, Agrippina Manhattan, Elle de Bernardini.
As cartografias constituem coletâneas de visualidades a partir das quais busca-se relacionar as Artes Visuais de hoje e os ‘ismos’ que estas produzem para pensar a decolonialidade da Arte/Educação a partir de processos educacionais que dão vozes aos saberes excluídos.
Relação com o COPED
O objeto de estudos na investigação tem foco na Arte/Educação e pensa as (im)possibilidades de decolonialidade deste campo. O trabalho relaciona-se com o COPED por caracterizar-se como pesquisa no campo da Educação e Arte.
Considerações finais
As cartografias decorrentes da pesquisa não se configuram como receituários para ‘práticas educacionais decoloniais’. A decolonialidade não é vista como tema das Artes Visuais, mas são apresentadas como discursos com consciência artística e educacional. Assim, artistas e coletivos/as sociais são analisados pelo (re)pensamento crítico, fazendo emergir os outros ‘ismos’ que nos interessam para pensar uma Arte/Educação decolonial.
Referências
GESCO. Un Panorama General. KULA. Antropólogos del Atlántico Sur. Revista de Antropología y Ciencias Sociales. Buenos Aires, Argentina. N. 6. Abril de 2012. p. 8-2. Disponível em: <https://bityli.com/WqpOaz> Acesso em 10 abr 2023.
PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virginia; TEDESCO, Silvia (Orgs.). Pistas do método da cartografia. Porto Alegre: Sulina, 2014.
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