O PROJETO OH!CUPA E O LETRAMENTO URBANO: POR UM CIRCUITO DE OCUPAÇÕES DE ESPAÇOS PÚBLICOS EM MONTES CLAROS/MG
Contextualização e justificativa da prática desenvolvida
A cidade é polissêmica e objeto de anelo histórico de sujeitos, grupos, academia, forças do sistema e da produção capitalista ao se configurar como esteio de produção da existência (AGIER, 2011; VERSIANI, 2011; TEIXEIRA, 2018). Apesar de seu lastro produtivo, a cidade não é uma vivência autodidata, mas requer uma pedagogia própria para que seja plenamente vivida e interpretada de modo crítico e político (ZUKIN, 2000; ROLNIK, 2019; SANTOS, 2022).
O circuito intitulado Oh!cupa foi proposto no âmbito do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifipmoc, em Montes Claros/MG, como atividade que integrada de ensino, pesquisa e extensão. O Projeto piloto de ocupação urbana ocorreu no mês de junho de 2022, na Praça Coronel Ribeiro, localizada no centro da cidade, apresentando uma natureza mobilizada e educativa, por meio da liderança de discentes, docentes e instituições parceiras.
A proposta do circuito incluía a ocupação temporária de espaços públicos da cidade, com intuito de promover a retomada de seus usos, bem como ativar sentidos culturais, políticos e educativos de vivência do espaço urbano. Desta forma, a Praça Coronel Ribeiro foi escolhida para iniciar o circuito por se tratar de um ponto de referência geográfico e de transportes, mas sobretudo por abrigar o edifício que abrigou o Grande Hotel São José, cujo tombamento foi negado de forma controversa em 2022, culminando em sua demolição em 2022.
A compreensão dos espaços urbanos demanda uma análise em profundidade, que considera as diferentes camadas de funções, significados e memórias que se relacionam com a trama dinâmica de ruas, praças, edificações e pessoas. O objetivo da proposta foi desenvolver um circuito de atividades de ocupação educativa e cultural da Praça Cel. Ribeiro para promoção do direito à cidade de forma educativa.
Relato da prática: procedimentos e resultados
A proposta partiu de um esforço interdisciplinar de integração em ensino, pesquisa e extensão para a graduação em Arquitetura e Urbanismo, que se iniciam em sala de aula, com discussões teóricas abordando o Direito à Cidade e diálogos empíricos. A partir das reflexões, os grupos desenvolveram propostas de intervenção e ocupação temporárias, sugerindo atividades que pudessem ser realizadas coletivamente e que fossem capazes de provocar e atrair diferentes olhares e percepções para a praça.
A ação desenvolvida, contemplando desde sua iniciação em sala de aula, até a realização das ações na praça, buscou sensibilizar os estudantes de Arquitetura e Urbanismo sobre as relações entre a prática profissional, as intenções do planejamento urbano, os espaços construídos e os valores que apresentam para a sociedade, os processos de transformação urbanos e principalmente sobre o aspecto social e democrático da praça, que consiste essencialmente em um espaço público destinado ao lazer e à sociabilidade.
Os grupos de trabalho desenvolveram, inicialmente - partindo do pressuposto que os espaços públicos são ambiências de ocupação e experiência sensível da cidade -, um circuito de exercícios de relaxamento com alongamentos e relaxamento. A seguir, articulou-se vivências lúdicas e esportivas a partir do mobiliário e espacialidade própria da praça - entre bancos, gramados, piso e uso fortuito de meio-fio – com esportes coletivos e jogos de tabuleiro. Por fim, desenvolveu-se também atividades musicais com canções oferecidas aos presentes e transeuntes. O evento foi constituído ainda de fixação de cartazes insurgentes com mensagens de estímulo ao uso e ocupação dos espaços públicos e por refeição coletiva.
Nesta direção, a experiência foi socialmente relevante ao promover uma frente de trabalho de letramento e educação urbana incorporando sentidos vivenciais do direito à cidade por meio de ocupação educativa, insurgente e cultura de espaços públicos.- articular os papéis desempenhados pela praça, com destaque para a história e o patrimônio arquitetônico, em função da negligência sofrida pelas edificações antigas presentes naquela região, dentre elas o edifício que abrigava o hotel São José, que meses depois veio a ser demolido.
Considerações finais
Sendo assim, a promoção da ocupação da praça, ainda que temporária, repercutiu um apelo pelo direito de participar da cidade, de produzir os espaços e de experimentar a urbanidade. A ação evidenciou como o Direito à Cidade deve ser perseguido dentro da prática profissional dos arquitetos urbanistas, mas, para além disso, dentro de suas vivências citadinas. Isso demonstra que as instituições de ensino podem desenvolver processos de ensino e aprendizagem que extrapolem as salas de aula e proporcionem experiências mais completas e conscientes de suas funções sociais.
Referências
AGIER, M. Antropologia da cidade: lugares, situac?o?es, movimentos. Sa?o Paulo: Terceiro Nome, 2011.
ROLNIK, R. Paisagens para renda, paisagens para vida: disputas contemporâneas pelo território urbano. Indisciplinar, Belo Horizonte, v. 5, n. 1, p. 18–43, 2019.
SANTOS, G. S. Espaços de insurgência, espaços de citadinidade: a mobilização social e sua espacialidade. Revista GeoUECE, Fortaleza, v. 11, n. 20, p. 202-203, 2022.
TEIXEIRA, M. F. Sobre ruas e pessoas: uma análise espacial dos bairros Ibituruna e Major Prates de Montes Claros/MG. 2018, Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2018.
VERSIANI, I. V. L. A produção capitalista do espaço urbano e o papel da dimensão política na garantia dos bens de consumo coletivo. Argumentos (Unimontes), Montes Claros, v. 5, p. 25-46, 2011.
ZUKIN, S. Paisagens urbanas pós-modernas: mapeando cultura e poder. In: ARANTES, A. A. (Org.) O espaço da diferença. Campinas: Papirus, 2000. p. 80-103.
Comissão Organizadora
CLÁUDIA APARECIDA FERREIRA MACHADO
Francely Aparecida dos Santos
Pedro Aurélio Cardoso da Silva
Raiana Alves Maciel Leal do Carmo
Victória Lobo
Comissão Científica