A história de um povo é, sem dúvida, “o ponto de partida do processo de construção de sua identidade” (MUNANGA, 2015). Quando contamos uma história procuramos provocar uma interpretação e aqui se abrem diferentes sentidos, disputas e relações de poder. A história do negro brasileiro foi contada pelo branco colonizador, resultando em um processo de apagamento, discriminação e racismo estrutural. É o “perigo da história única” (ADCHIE, 2019).
Houve avanço no campo legislativo com as leis 10.639/03 e 11.645/08, e a resolução CNE/CP nº 1/2004, que tornam obrigatório, em todos os níveis de educação pública e particular, o ensino da história do continente africano e dos negros brasileiros sob o viés de reparação histórica. Todavia, o cotidiano ainda reflete o racismo estrutural e estruturante nas narrativas curriculares e relacionamentos interpessoais em diferentes espaços, inclusive no Ensino Superior.
Problema norteador e objetivos
Diante da escassez de formas mais direcionadas para se trabalhar as relações étnico-raciais, esse relato de experiência evidencia uma estratégia desenvolvida através da disciplina Relações Étnico Raciais, oferecida no Ensino Superior da FAVENORTE. Como pré-requisito disciplina, foi realizado o projeto “Preto no Branco” que culminou em uma roda de conversa no Encontro Científico Interdisciplinar da Favenorte (ECIF) no segundo semestre do ano de 2022. O objetivo dessa proposta foi possibilitar um melhor enfrentamento das situações de racismo vivenciadas no cotidiano.
Procedimentos e/ou estratégias metodológicas e resultados
No início, foram utilizadas discussões e provocações dentro de sala de aula sobre a história da cultura afro-brasileira. Na segunda etapa, os alunos foram instigados a escreverem como tiveram acesso e como percebiam essa história. Na terceira, um seminário foi produzido sobre os conceitos importantes como racismo estrutural, mito da democracia racial no Brasil, representatividade, colorismo e privilégio de branco. Na sequência, os alunos realizaram uma entrevista com familiares e/ou amigos próximos na tentativa de trazerem essa discussão para o dia-a-dia. Na finalização do processo, foi realizada a palestra “Preto no Branco” no ECIF com profissionais de cada curso envolvido, na tentativa de pensar maneiras práticas de enfrentamento do racismo no contexto profissional.
Ao longo de todo o processo, percebemos a mudança de pensamento nas linguagens e atitudes dos acadêmicos no que se refere ao reconhecimento e valorização da identidade negra. Outro ponto positivo foi o desenvolvimento da consciência crítica dos acadêmicos em relação ao racismo estrutural, não mais “invisibilizado” em diferentes espaços.
Considerações finais
Histórias importam. Histórias podem destruir a dignidade de um povo, mas histórias também podem reparar essa dignidade perdida. Nesse processo de mudança, que começa quando nos tornamos responsáveis dentro do processo educacional, seja ele formal ou informal, o ensino superior é também um espaço de poder onde a história real do negro afro-brasileiro deve ser evidenciada, contribuindo para uma maior conscientização e criticidade.
Referências
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. Companhia das Letra: Brasil, 2019.
Brasil. Lei 10.639, de 09 de janeiro de 2003. [acesso 2023 maio 10] Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm .
MUNANGA, Kabengele. Por que ensinar a história da África e do negro no Brasil de hoje? Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, Brasil, n. 62, p. 20–31, dez. 2015.
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