Contextualização e justificativa da prática desenvolvida
Considerando que o diagnóstico do autismo é fechado na primeira infância, por volta dos três anos, e tendo em vista que os estudos das neurociências apontam que nos primeiros anos de vida a plasticidade cerebral é máxima sendo as intervenções a tempo essenciais (BORGES; NOGUEIRA, 2022, p.39), propomos em nossa pesquisa de doutorado desenvolvida na Escola de Música da UFMG, “o piano como instrumento musicalizador de crianças autistas de 03 a 05 anos” (NEVES et al., 2022).
Problema norteador e objetivos
Quais beneficios as aulas de piano podem trazer para crianças autistas? Objetivo geral: investigar as consequências da educação musical tendo o piano como instrumento musicalizador no desenvolvimento musical e no desenvolvimento da interação social de crianças autistas.
Procedimentos e/ou estratégias metodológicas
Participam da pesquisa 16 crianças autistas, distribuídas aleatoriamente em 02 grupos. Grupo 1: assistido no 1º semestre de 2023, com aulas de piano individuais e semanais ministradas pela pesquisadora, com duração de 30 minutos, no Centro de Musicalização Integrado (CMI/UFMG). Grupo 2: será atendido no 2º semestre de 2023 seguindo os mesmos parâmetros. Nas aulas, o piano é utilizado não apenas convencionalmente para a execução de peças de um repertório, mas também são exploradas técnicas estendidas[1] no ensino do instrumento. Como referência para o desenvolvimento das atividades utilizamos o livro PianoBrincando (PARIZZI; SANTIAGO, 2020).
Fundamentação teórica que sustentou/sustenta a prática desenvolvida
O piano pode ser visualmente atraente para autistas, principalmente devido a sistematização visual e sonora das teclas podendo servir como potencial canal de comunicação com esses indivíduos, sendo muitas vezes a primeira escolha de instrumento para essas crianças (OCKELFORD, 2009, 2013; SILARAT, 2020).
Resultados da prática
As crianças participantes tem demonstrado grande fascínio pelo instrumento, como se o piano fosse um de seus brinquedos, engajando no fazer musical “do jeito delas”, com suas singularidades, espontaneidade e criatividade. O trabalho é realizado “com” a criança e não “para” a criança compreendendo suas emoções e seus desejos, adentrando ao seu mundo e compartilhando de suas experiências estético-musicais.
Relevância social da experiência para o contexto/público destinado e para a educação e relações com o Grupo de Trabalho do COPED
Quando pensamos em investigar o desenvolvimento musical e da interação social da criança autista por meio de sua auto-expressão ao piano – “tocando do jeito delas” – acreditamos que a musicalidade e a sensibilidade (artística) expressiva, reveladas no instrumento e fora dele, nos permitirão captar peculiaridades da criança e estimulá-la a partir de suas reações, de modo a propocionar trocas intersubjetivas significativas. O atiçamento da musicalidade do autista “por meio de experiências musicais, inclusive ao piano, abrirá possibilidades singulares de engajamento e prazer” (PARIZZI, 2022, p.116).
Considerações finais
A literatura abordando “piano e autismo” é escassa, e essa temática se apresenta como um campo a ser explorado no que concerne à pedagogia do instrumento e à educação musical especial. Nesse sentido, incentivamos a produção e a divulgação acadêmica de trabalhos sobre esse tema a fim de fortalecer as ações dos professores de piano e educadores musicais, bem como contribuir com a formação inicial e continuada desses profissionais.
Agradecimentos:
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Brasil (CNPq), a quem agradecemos.
Referências
BORGES, Adriana Araújo Pereira; NOGUEIRA, Maria Luísa Magalhães. A Abordagem Comportamental e o Transtorno do Espectro do Autismo. In: OLIVEIRA, Gleisson; FREIRE, Marina; PARIZZI, Betânia; SAMPAIO, Renato. Música e Autismo: Ideias em contraponto. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2022.
NEVES, Maria Teresa; PARIZZI, Betânia; FREIRE, Marina; NUNES, Natália. Tocando do jeito delas: o piano como instrumento musicalizador de crianças com transtorno do espectro do autismo. 8º Nas Nuvens...Congresso de Música – de 01 a 08 de dezembro de 2022. Belo Horizonte – MG. Anais ISSN 2675-8105. p. 1-12.
OCKELFORD, Adam. In the key of genius: The extraordinary life of Derek Paravicini. London, United Kingdom: Random House, 2009.
OCKELFORD, Adam. Music, Language and Autism: Exceptional strategies for exceptional minds. London and Philadelphia: Jessica Kingsley Publishers, 2013.
PARIZZI, Betânia. O Piano ao alcance da primeira infância. In: PARIZZI, Betânia; SANTIAGO, Diana (Orgs). Música e Desenvolvimento Humano: Práticas Pedagógicas e Terapêuticas. São Paulo: Instituto Langage, 2022.
PARIZZI, Betânia; SANTIAGO, Patrícia Furst. PianoBrincando. 2a ed, rev. e ampl. Belo Horizonte [MG]: Fino Traço: Editora UFMG, 2020.
PONTES, Vânia Eger. Técnicas expandidas – Um estudo de relações entre comportamento postural e desempenho pianístico sob o ponto de vista da ergonomia. Florianópolis, 2010. 135p. Dissertação (Mestrado em performance). UDESC, Florianópolis, 2010.
SILARAT, Chomchat. Piano lessons: fostering Theory of Mind in ASD through imitation. International Journal of Disability, Development and Education. July, 2021, p.1-15.
[1] Toda forma não tradicional de se utilizar o instrumento respeitando suas possibilidades físico-acústicas (PONTES, 2010).
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