A falta de interesse dos alunos para ler é um desafio enfrentado por vários professores da educação básica que, visando à promoção do incentivo à leitura, dispõem de estratégias como pausas protocoladas, oficinas literárias, aulas em bibliotecas, entre outros. Desse modo, os textos fragmentados podem ser utilizados como técnica para abordagem da leitura em sala de aula. A fragmentação textual pode ser entendida como textos que possuem uma estrutura descontínua. De forma narrativa, o texto pode ser disposto de modo não linear ou não cronológico, exigindo que o leitor reconstrua a história por meio de peças soltas. A adoção dessa prática para promoção da leitura exige que o leitor faça conexões e preencha lacunas, podendo ser uma experiência desafiadora, já que o texto não oferece respostas prontas. Desse modo, este trabalho, fruto de ações do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), justifica-se na necessidade de práticas que promovam a literatura na educação básica de modo a formar sujeitos leitores, uma vez que a formação literária é fundamental para todas as áreas do conhecimento promovendo o desenvolvimento do pensamento crítico e criativo.Este trabalho objetivou o desenvolvimento do interesse literário e das habilidades de leitura e compreensão de textos dos participantes, bem como a retextualização dos contos por parte dos alunos, aqui entendida como o processo de produção de um novo texto a partir de um ou mais textos-base. Os procedimentos metodolóicos consistiram na aplicação de oficinas literárias divididas em duas partes e intituladas “(Des)encaixando textos” em turmas do 1º ano do ensino médio da Escola Estadual Doutor Carlos Albuquerque, atingindo um público de aproximadamente 120 estudantes. Para a elaboração da primeira parte das oficinas, fragmentaram-se três contos do livro Laços de Família, da autora Clarice Lispector, cujos títulos são: “Mistério em São Cristóvão”, “O Jantar” e “Começos de uma fortuna” para os quais os recortes fragmentados foram distribuídos em caixas diferentes. Nas salas de aula apresentou-se a proposta da oficina e os alunos escolheram as caixas e, em grupo, fizeram a montagem dos contos que estavam divididos e, portanto, com seus excertos misturados. Já na segunda parte das oficinas, os alunos tiveram que recontar a narrativa dos contos de forma livre, de modo que ficou por livre escolha deles a metodologia de apresentação da narrativa (teatro, poemas, HQs, música etc.).
Na primeira parte da oficina literária, os alunos em grupos tiveram o primeiro contato com o conto por meio das primeiras leituras e, durante as observações feitas, notou-se que os participantes começaram a elaborar estratégias para a montagem do texto, partindo de noções de escrita, tais como: presença de travessão indicando fala, as marcas de abertura de parágrafos, o uso das letras maiúsculas e minúsculas demarcando início e fim de frase, assim como a abordagem em equipe da leitura, em que houve a divisão dos recortes do conto entre os integrantes dos grupos, a fim de sistematizar a montagem. Na segunda etapa da oficina, que consistiu na retextualização dos contos, notou-se que os alunos conseguiram compreender o texto e recontá-lo por meio de outros gêneros literários escolhidos pelos grupos como: peça teatral, poema, teatro com fantoches, reconto com imagens/desenhos. Os estudantes também puderam reconhecer seus intertextos, na medida em que produziram paródias e paráfrases a partir dos contos clariceanos. Nesse contexto, a fragmentação potencializou as noções de coerência, coesão e intertextualidade e contribuiu para o desenvolvimento das competências de leitura, escrita e compreensão dos textos nestes discentes. A fragmentação textual confirmou ser uma estratégia eficaz para abordagem em oficinas literárias que contribuem no incentivo à leitura dos alunos, já que é necessário que eles busquem resolver o desafio, atuando também como forma de motivação de leitura e das atividades apresentadas em sala de aula. Infere-se que a busca na resolução do desafio de montagem dos textos desencadeia, nos alunos, a utilização de conceitos presentes na língua portuguesa e que contribuem para a leitura e escrita, tais como noção de coerência e coesão, noção de construção básica de um texto, entre outros.Por fim, conclui-se que a proposta e objetivos da oficina e da técnica de fragmentação textual foram atingidos com êxito, uma vez que incentivaram os alunos na leitura, assim como contribuiu para abordagens de conceitos textuais.
Comissão Organizadora
XV Congresso Nacional de Pesquisa em Educação: "ED
Comissão Científica
Comissão Organizadora do XV COPED
Profa. Dra. Francely Aparecida dos Santos
Prof. Dr. Heiberle Hirsgberg Horácio
Prof. Dr. Lailson dos Reis Pereira
Prof. Dr. Leando Luciano Silva Ravnjak
Profa. Dra. Raiana Alves Maciel Leal do Carmo
Profa. Dra. Úrsula Adelaide de Lélis
Profa. Dra. Viviane Bernadeth Gandra Brandão
Profa. Dra. Zilmar Gonçalves Santos
Realização
Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE)
Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais (DMTE)
Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)
Financiamento
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG)