Anticomunismos e conspiracionismos no Brasil e nas Américas: passados, presentes
Embora sejam fenômenos com características e trajetórias singulares, anticomunismos e conspiracionismos muitas vezes se combinaram ao longo dos últimos dois séculos, o que gerou sérios obstáculos à afirmação da democracia e dos direitos humanos em diferentes regiões do mundo. Mobilizando imagens e narrativas como a da conspiração vermelha, do inimigo estrangeiro ou da ameaça à moral, entre muitas outras, tais movimentos têm buscado justificar ações autoritárias e violentas em nome da defesa da ordem, com notáveis impactos políticos e sociais.
As teorias ou mitos conspirativos são fenômenos sociais presentes há vários séculos, mas apenas nas últimas décadas tornaram-se objeto de estudo. A literatura acadêmica tem mostrado que tais narrativas indicam ansiedades e temores agudos partilhados por certos grupos humanos, especialmente em períodos de crise e de mudança social. A partir de visões simplificadoras sobre os problemas que elas buscam denunciar, as teorias conspirativas apontam agentes sinistros que, atuando desde as sombras, seriam os responsáveis por diferentes “males”. Entretanto, esses temores são historicamente situados, de maneira que as formas assumidas pelos conspiracionismos muitas vezes dizem mais sobre ansiedades e temores (às vezes desejos ocultos) do próprio grupo do que sobre os supostos agentes malignos denunciados. Nesse sentido, é relevante analisar quem cria e faz circular as teorias e rumores conspirativos, quais grupos sociais são visados, quem são os setores mais propensos a aceitarem tais visões e por que razões.
Por anticomunismo, entendemos um conjunto de discursos e movimentos políticos orientados contra o comunismo, identificado tanto com o modelo marxista-leninista como com outras tendências à esquerda do espectro político. Para além da mera oposição a ideias ou a projetos políticos, os movimentos “anti” constituem fenômenos de caráter mais visceral. Eles implicam uma rejeição total, que não admite meio termo ou possibilidade de convivência, tendo como objetivo a destruição política (ou física) do inimigo. Com frequência os discursos anticomunistas se manifestam na forma de teorias conspirativas, pois denunciam agentes poderosos e ocultos, conectados a forças estrangeiras, supostamente tramando ações violentas e malignas para impor seu projeto de poder. Embora o comunismo seja fenômeno inscrito na realidade, as representações conspirativas criam distorções para apresentá-lo mais poderoso e ameaçador, e prestam-se a inúmeras formas de distorção e manipulação oportunista.
Tais discursos, imaginários e ações se mostram presentes em diferentes partes do globo, mas incidem de forma particularmente notável no Brasil e em outras regiões das Américas, tendo contribuído para aguçar conflitos políticos, estimular a violência e o autoritarismo, e bloquear processos de reforma sociais e de afirmação de instituições democráticas. Dessa forma, o estudo de tais temas importa não apenas à produção de conhecimento acadêmico, mas pode contribuir para o fortalecimento da democracia e do respeito aos direitos humanos e à diversidade.
O Seminário vai reunir apresentações de pesquisadores(as) interessados por esses temas que atuam nos campos da História, Antropologia, Sociologia, Ciência Política e Ciências da Comunicação. Os palestrantes, que são provenientes de diferentes países, vão apresentar reflexões conectando anticomunismos e conspiracionismos, com foco em diferentes temporalidades e partindo de distintas perspectivas teóricas, mas com ênfase em Brasil e nas Américas.
Instituições organizadoras:
Universidade Federal de Minas Gerais - Laboratório de História do Tempo Presente
Universität Tübingen - ERC PACT: Populism and Conspiracy Theory
Université Paris Cité - “Ennemi intérieur : sociohistoire du gouvernement de la menace” (Programme Émergence - Ville de Paris)
Apoio:
Baden-Württembergisches Brasilien -und Lateinamerika- Zentrum
European Research Council
Fapemig
Global Research Institute of Paris
Tübingen Research Takeoff
Ville de Paris
27 de novembro de 2024, 09h00 até 29 de novembro de 2024, 19h00
Auditório 1 da Faculdade de Ciências Econômicas - FACE-UFMG, Av. Pres. Antônio Carlos, 6627, Pampulha, Belo Horizonte - Minas Gerais
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