INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO MILITAR BRASILEIRO

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06 de julho à 28 de outubro Terças e quintas das 19h as 21h

Sobre o Evento

As fileiras ainda não constituíram objeto de estudo sistemático e abrangente. Há respeitável literatura sobre processos políticos protagonizados pelos militares. Acumulam-se estudos sobre a Guerra do Paraguai, a Proclamação da República, o tenentismo, o Estado Novo e a Ditadura de 1964. Há bons livros sobre personalidades militares. Mas são rarefeitos os estudos sobre os liames entre o trajeto nacional e as estruturas orgânicas e funcionais das corporações.

Nas universidades, poucos pesquisadores se dedicam aos “assuntos da defesa” e aos “negócios militares”. A sociedade e o poder político pouco sabem acerca da aplicação de recursos públicos nas Forças Armadas e da capacidade brasileira de dissuadir eventuais agressores estrangeiros. Acordos internacionais envolvendo armas e equipamentos são analisados superficialmente. A cultura corporativa persiste como enigma para muitos. Como se formam e se exprimem os humores dos quartéis? O poder executivo, o parlamento e os partidos políticos não contam com assessorias especializadas em assuntos relativos ao poder militar.

Excetuados curtos períodos, desde a Proclamação da República são correntes os temores de golpes militares. As interpretações da intervenção militar na vida política desconsideram o que ocorre em quartéis e escolas militares. Corporações armadas são organismos complexos: indispensáveis ao Estado, alimentam desígnios próprios; impulsionam o conhecimento e as novidades, mas preservam antigos valores e costumes; mantidas pela sociedade, sempre buscam ditar-lhe os rumos.

Para a construção de um país democrático, desenvolvido e soberano é indispensável conhecer o militar brasileiro.

O estudo do militar requer perspectiva histórica alongada; pede a consideração de tendências mundiais e o exame das conexões com o processo sociopolítico nacional.

O curso utilizará amparos conceituais de múltiplas áreas do conhecimento. Não se pautará em abordagem histórica, apesar de respeitar certa ordem cronológica.

O professor apresentará o resultado de suas pesquisas e reflexões desenvolvidas desde os anos 1970. Discutirá seus trabalhos publicados e inéditos.

Através de entrevistas, palestras e mesas-redondas, os alunos terão oportunidade de ouvir e debater com especialistas reconhecidos e atores políticos que tiveram envolvimento com os assuntos da Defesa.

PROGRAMA

1.Guerra e civilização.

Guerra, instinto gregário e divisão do trabalho. A violência na história: defesa coletiva e origem do Estado. Construção da ordem internacional. Conflitos armados, desenvolvimento da ciência, economia e percepção dos direitos do homem.

2. Guerreiros e corporações militares

Religiosidade dos guerreiros. Honra e glória entre os combatentes. Importância da memória corporativa. Desenvolvimento das especialidades militares e modernização corporativa. O conceito “instituição total”. A socialização corporativa. “Partidos militares” e “partido fardado”.

3. O patriotismo castrense

Intercâmbios comerciais e ordem mundial. Colonialismo, genocídio e escravismo. Legitimação das corporações e construção das nacionalidades. Percepção militar da “pátria”.

4. Legado do colonialismo português

Instrumentos de força do Império Português. Papel do Exército e da Marinha na ordem escravocrata e na delimitação territorial. Mitologia de Guararapes.

5. Natureza miliciana do Exército imperial

Recrutamento da tropa, sistema disciplinar, regras de promoção hierárquica, distribuição dos efetivos e emprego da força. A engenharia militar. Características da Marinha Imperial: dependência externa e violência com a marujada.

6. Impactos da Guerra do Paraguai

Razões e significação do conflito. A mobilização nacional para a guerra. Despreparo da tropa e violência descabida. Custos financeiros do conflito. O desempenho dos militares brasileiros. A condição do militar após o conflito e a crise do regime monárquico.

7. O militar na instauração da República

Politização e quebra da hierarquia. Alcance do credo positivista. Conservadorismo dos governos militares. Contendas corporativas e disputas oligárquicas.

8. Guerra de Canudos

Razões do conflito. O brasileiro pobre como inimigo. Humilhação do Exército. Convivência das corporações com as oligarquias agroexportadoras.

9. Desenvolvimento da indústria de guerra.

Avanços da química dos explosivos e da metalurgia. Surgimento dos encouraçados e da aviação. Disputas entre potências estrangeiras pela influência militar na América Latina. Repercussões da Primeira Guerra Mundial sobre o militar brasileiro.

10. Modernização do Exército

Os “jovens turcos” e a Missão Militar Francesa. Serviço militar obrigatório. Reformas no ensino militar e nas regras de promoção hierárquica. Meritocracia e práticas de recrutamento endógeno. Formação das grandes unidades operacionais.

11. A modernização da Marinha

O que sobrou da Marinha nas contendas da Proclamação da República. A reconstrução da Armada na época do encouraçados. Espírito escravista da Marinha. Dependência da indústria estrangeira.

12. Clivagens provocadas pela modernização

Os oficiais como “representantes das classes médias”. União entre “germanófilos” e “francófilos”. O tenentismo e a Coluna Prestes: busca da legenda heroica. Chegada dos modernizadores ao topo da hierarquia. A ruptura de 1930.

13. Efeitos da modernização corporativa

“Guerra paulista” (1932): o Exército se firma como detentor da força. Corporação militar moderna em país arcaico: o militar em busca de um país digno de sua corporação.

14. Militares e comunistas

Aversão das fileiras às reformas sociais. Reflexos da Revolução Russa. Disputa entre conservadores e reformistas pela bandeira patriótica. O golpismo da esquerda em 1935.

15. O Militar e os povos originários

Preservação da índole colonial. O papel de Rondon. Populações nativas como estorvo à expansão capitalista. Iniciativas de ocupação territorial da Amazônia.

16. Estado Novo

Vitória do autoritarismo castrense e da vontade modernizadora. Góes Monteiro: “a política do Exército”. A figura de Getúlio como atenuante da responsabilidade dos militares no exercício de poderes ditatoriais.

17. O Surgimento da Força Aérea

O avião como símbolo da modernidade guerreira. A disputa dos fabricantes de aviões pelo mercado sul-americano. Concorrência entre o Exército e a Marinha. O aprofundamento da dependência dos fabricantes estrangeiros.

18. O Brasil na Segunda Guerra Mundial

Derrota dos simpatizantes do Eixo. Formação e desempenho da FEB. Vitória dos Estados Unidos na conquista do mercado consumidor brasileiro em armas e equipamentos. Guerra Fria: a militarização do Estado. Corrida armamentista. Consequências da aliança Brasil-EUA.

19. “Nacionalistas” e “entreguistas” castrenses

Escola Superior de Guerra: a “segurança nacional” como projeto político. O Clube Militar: o debate entre correntes. Luta pelo petróleo e pelo domínio da tecnologia nuclear. Criação do CNPq, do BNDES e do BNB. O conservadorismo dos “nacionalistas”. Consolidação do patriotismo castrense.

20. Preparação do golpe de 1964

Estratégias do Pentágono para a América Latina. Dependência brasileira em armas e equipamentos. Agitações nos anos 1950. O papel singular de Lott. Repressão ideológica nas fileiras. A “Cruzada Democrática”. Mobilização da Igreja católica. Empresariado e Forças Armadas.

21. A Ditadura Militar de 1964-1985

Projetos de Brasil-Potência. Os militares e o empresariado. A busca da autonomia em material bélico. O Banco Mundial durante a ditadura. Noção castrense de “integração nacional”. Proposições militares para a Amazônia. A ditadura e os meios de comunicação.

22. A repressão política.

Os serviços de informação. Censura à imprensa. Repercussões da guerrilha do Araguaia. Estratégia de recuo de Geisel-Golbery. Preservação da unidade política no meio militar. Os limites da lei de anistia.

23. Democracia como consentimento castrense.

Militares na Constituinte de 1988. O Artigo 142: preservação da Lei e da Ordem. Preservação constitucional do poder de tutela. A defensiva dos setores democráticos relativamente aos militares.

24. Forças Armadas na redemocratização

Criação e condução do Ministério da Defesa. Impactos das mudanças sociais sobre as corporações. Reações à “pauta de costumes”. Despreparo do poder político para conduzir a defesa nacional. Inexistência de civis especializados em Defesa e assuntos militares.

25. Reflexos da quebra da bipolaridade.

Proposições estratégicas dos Estados Unidos: as “novas ameaças”. Presença militar estadunidense na América Latina. A “estratégia de resistência” do Exército brasileiro.

26. Forças Armadas e segurança pública.

Desenvolvimento econômico, crescimento urbano e agravamento dos problemas da segurança pública. Militarização da Segurança Pública. Operações de garantia da Lei e da Ordem. Intervenção no Rio de Janeiro durante o governo Temer.

27. “Missões de paz”

Motivações para o envio de missões de paz da ONU. Presença brasileira em missões. Reflexos das missões sobre a carreira militar e sobre o preparo para operações de manutenção da Lei e Ordem.

28. O planejamento estratégico da Defesa

A formulação da Estratégia Nacional de Defesa. Definição do entorno estratégico. Os militares e a integração sul-americana. O Conselho Sul-americano de Defesa. O caso da Venezuela.

29. Os “projetos estratégicos”

O Programa Espacial Brasileiro. A base de Alcântara. O preparo para a guerra cibernética. O programa de submarinos. A renovação da frota de aviões. A Base Industrial de Defesa. Os acordos de cooperação militar com os Estados Unidos.

30. Retorno do militar ao palco político

Neoconservadorismo no meio militar. Ativismo da extrema-direita militar. Encruzilhada geopolítica. Rejeição às mudanças sociais. Dificuldades de inserção da “família militar” na sociedade. O Brasil sob a “Guerra híbrida”. O militar no golpe de 2016. A opção Bolsonaro. Atuação política da reserva militar.

31. Militares no governo Bolsonaro

Opção geopolítica das Forças Armadas. Presença militar na administração pública. Benefícios corporativos. Desmonte da capacidade científica e industrial. Forças Armadas e controle da pandemia. Preservação da disciplina e da unidade entre os militares.

32. A reforma das instituições militares

Alteração do Artigo 142 da Constituição. Prioridade para a autonomia da produção em armas e equipamentos. Propostas de criação de Polícia de Fronteira, Guarda Costeira, Polícia Ambiental e Guarda Nacional.

TEREMOS EMISSÃO DE CERTIFICADOS (64h)

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EVENTO PAGO. Participantes: 800,00. Estudantes: 400,00.

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Organizador

Manuel Domingos Neto

O curso oferecerá fundamentos teóricos e históricos para a compreensão da defesa nacional, das Forças Armadas e de seus integrantes. Buscará associar a vida orgânica e funcional das corporações às suas manifestações políticas. Apresentará a literatura disponível sobre as relações civis-militares e a atuação política dos quartéis. Ofertará elementos para a compreensão da mentalidade, costumes, aspirações e propensões políticas das fileiras. Concluirá elencando propostas de mudanças na política de Defesa e nas organizações militares em benefício da soberania nacional, da democracia e do desenvolvimento.