Conferência de encerramento 

  • A efêmera arte da revolução — ou quando aprendemos a respirar em meio ao gás lacrimogêneo - Prof.ª Dr.ª Rosângela Fachel (UFPel)

Em outubro de 2019, as ruas do Chile começaram a ser tomadas por multidões que se mobilizavam de maneira horizontal e orgânica — por meio das redes sociais e aplicativos de conversa — para exigir a renúncia do então presidente Sebastián Piñera e a redação de uma nova Constituição. Até então, o Chile representava o modelo de utopia neoliberal da América Latina, sendo assim evocado, por exemplo, durante a campanha do candidato que viria a ser eleito presidente do Brasil em 2018. Porém, o aumento de "30 pesos" no preço das passagens do metrô e a arrogante declaração contrária às manifestações populares que vinham acontecendo na América Latina feita por Piñera foram as últimas gotas que ajudaram a transbordar os trinta anos de precarização da classe trabalhadora e de elitização do acesso à educação, que assim como a Constituição então vigente haviam sido herdados da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). "Chile despertó", gritavam em uníssono as vozes diversas que semana após semana, mesmo com a violenta repressão do Estado, permaneciam nas ruas. Esse e outros slogans, que davam ritmo às marchas e às performances artísticas, foram se expandindo para a materialidade efêmera de cartazes, lambes, pichações, grafites e videomappings, dando protagonismo a manifestações identitárias — trans*feministas, dissidentes e mapuches — e a outras importantes pautas transversais, como os direitos animais e ambientais, a denúncia da violência de Estado e a memória das vítimas da ditadura no país, questões que se entrelaçavam discursiva e artivistamente no clamor por uma democracia pluralista, que se escrevia nas ruas.

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