Local: Sala de Oficinas
com tatiana nascimento
um cuíerlombo de palavras: de denúncia da dor a direito ao devaneio, a complexa poesia negra da diáspora sexual-dissidente
“A noite está tépida. O céu já está salpicado de estrelas. Eu que sou exótica gostaria de recortar um pedaço de céu para fazer um vestido”
Carolina de Jesus
o que a gente tem feito com a avalanche de produções literárias negras LGBTQI contemporâneas? como temos lido, entendido, apresentado e difundido esses textos, livros, vídeos? tá rolando uma bombação de produções publicadas em diversas plataformas (livros por editoras independentes, blogs, saraus, batalhas de poesia, de rima, lambe-lambe, a volta dos zines mesmo que não idos, youtube…), o que sugere que a diagnosticada invisibilidade é mais um processo de invisibilização dessas obras quanto seu status. processo que opera tanto pelo não reconhecimento de sua existência quanto por seu enquadramento (leitura, crítica, intelecção) a partir de uma determinada moldura organizada, de um lado, pela mirada branca (a “white gaze” que toni morrison discute em entrevista de 1998), e de outro pela mirada cishétero.
afinal tamos falando de leitura literária de textos políticos ("discurso", "panfletária"), ou da leitura política de textos literários? dois caminhos que parecem conflitantes mas talvez nos chamam pra experimentar um terceiro-lugar, two-spiritado, que nos permita escapar da assunção corrente e homogeneizante pra qual a literatura negra LGBTQI é taxada quase sempre como literatura de resistência - ao racismo, às lgbtfobias y outras opressões - de forma a muitas vezes desconsiderar sua tessitura literária y mesmo ignorar outros temas pulsantes ali, além das denúncias.
nesse lab, vamo ler y falar sobre poemas de algumas/alguns escritorxs de literatura negra LGBTQI contemporânexs - kika sena (AL), victória Sales (SP), esteban rodrigues (BA), nina ferreira (DF), maré de matos (MG/PE), laila oliveira (SP) y eu mesma (tatiana nascimento, DF), pra ver como construir coletivamente ferramentas outras de compreensão, leitura y interpretação dessas obras, articulando tanto seu viés deliberadamente político de funcionar sim como escritas da resistência aos sistemas de opressão quanto um teor/valor literário específico: y aqui estou sonhando-pensando literatura como cosmogonia, como espaço do inédito, do maravilhoso, do inimaginável, como direito ao devaneio (lembra do que audre lorde fala sobre o ousar sonhar pra então transformar em linguagem e ação? é por aí). y seguiremos tb a partir da explicitação dos extravasamentos estéticos/literários y/ou temáticos que fazem dessas obras literatura desde uma definição canônica (a qual também será debatida), não "só" discurso político.
sipá, no final a gente produz, cada qual de seu lugar de fala, um poema no calor do tema, pra ver no que vai dar, e testar a densidade das alianças políticas-poéticas que conseguimos construir em ambientes mistos em termos de raça y gênero, desde o objetivo de difundir literaturas negras LGBTQI a partir duma leitura antirracista/antiLGBTQIfóbica complexa.