Local: Saguão do Segundo Andar do Prédio Central da ECA (ao lado do elevador)
Apresentação e discussão dos pôsteres selecionados, com a presença dos autores.
AUTOR: Ricardo Peraça Cavassane (UNESP)
TÍTULO: Seriam os Big Data capazes de prever o comportamento de Sistemas Complexos?
Os entusiastas dos Big Data defendem que modelos estatísticos que visam datificar a totalidade das instâncias de um fenômeno podem obter informações acerca do comportamento do mesmo com muito mais rapidez e precisão do que a ciência tradicional. Isso seria possível através da análise de grandes quantidades de dados não estruturados, distribuídos em diversas bases, em diferentes formatos e em constante crescimento. Além disso, estes modelos poderiam prever o comportamento do fenômeno modelado sem a necessidade de hipóteses ou teorias e sem a influência de viéses humanos. Isto quer dizer também que modelos baseados em Big Data poderiam descrever e prever o comportamento do fenômeno modelado, mas não oferecer qualquer explicação causal do seu comportamento. Os críticos dos Big Data, por sua vez, acreditam que não é possível datificar a totalidade das instâncias de um fenômeno. Afirmam também que modelos estatísticos são sempre fundamentados em certas hipóteses e que os viéses humanos não são por eles eliminados, mas frequentemente naturalizados. Por fim, declaram que um modelo que pretenda descrever e prever o comportamento de um fenômeno sem identificar suas causas e suas possíveis consequências está fadado ao erro. Nosso objetivo é investigar em que medida modelos baseados em Big Data são ou não adequados à descrição e previsão do comportamento de sistemas complexos auto-organizados, como sociedades humanas, e se a aplicação dos resultados destes modelos pode interferir no comportamento de tais sistemas, eventualmente gerando feedback loops e fazendo os modelos comportar-se como profecias autorrealizáveis.
AUTORES: Valdirene Aparecida Pascoal (UNESP) e Felipe Eleutério (UNESP
TITULO: Estudo do possível impacto da computação ubíqua na conduta a partir de uma análise semiótica da informação
Neste trabalho buscamos investigar a possível relação entre informação, na perspectiva semiótica de Charles S. Peirce, e o direcionamento da ação promovida pelos dispositivos de computação ubíqua. Discute-se bastante na sociedade contemporânea a noção de informação, contudo, ainda não há um consenso na comunidade filosófica e científica sobre esse conceito, pois não sabemos o que é a informação, como ela se constitui, qual seria seu papel no direcionamento da ação. A nossa hipótese de trabalho é a de que a concepção semiótica de informação pode trazer contribuições significativas para o entendimento do papel que a informação e/ou os processos informacionais desempenham no direcionamento da conduta humana, em especial na ação mediada por tecnologias computacionais ubíquas. A informação na perspectiva peirceana é entendida como um processo semiótico: um signo transmite informação por meio de um elemento unificador que possibilita uma unidade dinâmica presente na constituição de padrões informacionais. Nesse sentido, a experiência colateral e a sintaxe que se estabelece entre icone (qualidade do signo) e índice (espaço temporal) é essencial para que um dicissigno transmita informação e direcione a ação dos agentes. Argumentamos que a abordagem semiótica peirceana possibilita a compreensão de processos informacionais mediados pela computação ubíqua que promovem o direcionamento da conduta dos agentes e a mudança de hábitos incorporados socialmente relevantes.
AUTORES: Gabriel Ducatti e Renata Souza
TITULO: Mecanismos de manipulação nas redes sociais digitais: uma investigação de possíveis impactos das Fake News
O objetivo deste trabalho é tecer possíveis hipóteses, inspirados em concepções da filosofia de Charles Sanders Peirce, sobre o que vem ocorrendo com a noção de verdade e sua aplicação na ação social, na qual a verdade como referência é desconsiderada em proveito da ênfase sobre efeitos emocionais estimulados por Fake News. Para tanto, as seguintes questões serão investigadas: 1) quais são os mecanismos e estruturas subjacentes na dinâmica de divulgação de Fake News? 2) quais são as possíveis consequências éticas do abandono da noção de verdade no contexto das relações sociais? Em sociedades informatizadas é premente investigar o design e mecanismos das redes que convidam os usuários a interagirem gerando dados diversificados. Para além disso, também entendemos que é premente a análise dos mecanismos utilizados por empresas de tratamento de dados interessadas em direcionar (através de ferramentas como microtargeting) a conduta dos usuários em prol de interesses particulares (políticos, comerciais). Como exemplo da tentativa de direcionamento da conduta dos usuários consideraremos as Fake News, caracterizadas como notícias fraudulentas direcionadas a determinados perfis. Tais “notícias” se definem não pela consideração da verdade como referência, mas sim pelos efeitos na dimensão afetiva por elas gerados. A conduta individual e coletiva, em tempos em que há uma possibilidade instantânea de compartilhar opiniões, parece perder sua importante referência. Discutiremos a hipótese de trabalho segundo a qual o abandono da noção de verdade pode gerar cenários que induzem polarização da opinião pública e, consequentemente, produz efeitos nocivos para a conduta de usuários que não sabem mais em quais notícias direcionar sua conduta.
AUTOR: Luis Octavio Gabatelli
TITULO: Big data e games: criação em demanda de processos cognitivos e interativos
Este artigo, de metodologia exploratória, tem como objetivo analisar como o big data está sendo dirigido no aperfeiçoamento dos processos de interação e cognição dos usuários de jogos eletrônicos, através de ludologias e de narrativas criadas pelas produtoras de videogames que identificam, no exame empírico de grandes quantidades de informações, as demandas dos consumidores.
Neste cenário, tal estratégica mercadológica, que impacta diretamente na construção simbólica da interação homem-máquina, do corpo e da mente dos usuários com o virtual, tem como background information os dados extraídos de milhares de pessoas e dispositivos tecnológicos integrados nas redes telemáticas de comunicação. Além disso, assim como ocorre com outros produtos de consumo interativo, de entretenimento e aprendizado, o objetivo das produtoras de jogos eletrônicos consiste emcoletar e utilizar dados em grande escala para compreender as necessidades e os desejos dos usuários/consumidores, a fim de entregar jogos com histórias (narrativas) e formas de se jogar (ludologia) que trabalham, na busca sentidos qualitativos, a melhor relação do corpo e das dimensões cognitivas dos jogadores com os dispositivos mediadores de jogabilidade (consoles, PCs, dentro outros), bem como na imersão dos usuários no território virtual.
Desse modo, nesta proposta de estudo, partimos de dois pontos essenciais para que possamos compreender este fenômeno: 1) Como o big data vem sendo utilizado na coleta de informações para gênese narratológica e de ludologia dos jogos eletrônicos; 2) Como as informações analisadas com o auxílio do big data estão sendo empregadas na construção dos processos interativos e cognitivos em jogos eletrônicos.
O referencial teórico deste trabalho está ordenado em pesquisas contemporâneas, em especial de autores brasileiros na área de Games Studies, que analisam os processos cognição e interação em jogos eletrônicos. Em complemento, este estudo está ancorado em pesquisas sobre o fenômeno do big data e na análise de dois jogos que trazem colaborações significativa para a problemática deste trabalho, pois estão alinhados com a proposta de utilização do big data em sua produção: a franquia The Elder Scrolls V: Skyrim (2011-2016), da Bethesda Games Studios, e Call of Duty: Black Ops 3 (2015) da Treyarch.
AUTOR: Luís Roberto Albano Bueno da Silva
TITLE: COMUNICAÇÃO E COGNIÇÃO: APROXIMAÇÕES ENTRE MÁQUINA SEMIÓTICA E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL À LUZ DE CHARLES SANDERS PEIRCE
Esta pesquisa tem como tema a relação comunicação/cognição cujas aproximações se fazem entre os conceitos de máquina semiótica, Inteligência Artificial e semiótica peirceana. Considera-se, de um lado, a máquina semiótica como um dispositivo não necessariamente orgânico que realiza um processo cognitivo e, a Inteligência Artificial como um meio sintético que simula um processo cognitivo de tomada de decisões independentes; de outro lado, considera-se que os processos cognitivos envolvem transformações dos signos e não apenas troca de informações e dados. Diante deste contexto, pergunta-se: Quais aspectos da teoria cognitiva, na interpretação da semiótica de Charles Sanders Peirce, podem ser observados quando o processamento de um aprendizado de uma máquina semiótica e de uma Inteligência Artificial são aproximados? O objetivo geral consiste em compreender a relação entre comunicação e cognição, a partir de sistema inteligente e máquina semiótica, sob o ponto de vista de teorias peirceanas, enquanto tratar o conceito de cognição, na perspectiva do pensamento peirceano; explicitar os conceitos de cognição em Inteligência Artificial forte e máquina semiótica; identificar especificidades dos vínculos da cognição com a aprendizagem, percepção e tomada de decisão em máquina semiótica e sistema inteligente, bem como explicitar as aproximações de tais conceitos à cognição, constituem os objetivos específicos. A metodologia envolve pesquisa bibliográfica e comparação entre o conceito de cognição desenvolvido em Inteligência Artificial e em máquina semiótica, via teorias peirceanas, com foco na cognição, utilizando diagramas de semiose desenvolvidos para este fim. A relevância desta pesquisa reside na discussão sobre fundamentos teóricos ainda não utilizados em inteligência artificial forte para a compreensão da cognição e, a partir disso, propiciar uma ressignificação da relação entre comunicação e cognição. Em consulta efetuada no portal da CAPES e FAPESP, bem como nos bancos de dissertação das Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), constatou-se poucas pesquisas envolvendo inteligência artificial e semiótica, que se reportam à compreensão da cognição. As mais relevantes, como visto anteriormente, descrevem relações básicas ou iniciais, dando os primeiros passos na compreensão da interface entre semiótica peirceana (em máquinas semióticas) e inteligência artificial. Além disso, esta pesquisa contribui para uma melhor compreensão da inteligência artificial, pois os sistemas inteligentes estão se tornando players de grande importância nos processos comunicacionais e culturais.
AUTOR: Déborah Alves
TITULO: Um olhar sobre a pós-verdade através da perspectiva semiótica de Peirce
Embora Peirce tenha se reposicionado várias vezes ao longo de sua vida enquanto um pesquisador voraz, a noção de verdade e o questionamento sobre as intenções reais do discurso sempre se fizeram presente. Esses reposicionamentos também apontaram aos seus estudiosos uma possibilidade de catalogação por data, para facilitar a compreensão da evolução filosófica da sua noção de lógica e verdade.
Peirce, à frente do que se imaginava em seu tempo, teorizou sobre questões que nos permitem ligar o questionamento semiótico à esse posicionamento na era da pós-verdade.
Em a Fixação da crença, Peirce propõe métodos diferentes para que uma ideia seja aceita pelo homem e seja fixada para esse, até que se torne uma crença. Os métodos observados pelo filósofo são científico, a priori, de autoridade e o de tenacidade, cada qual com uma característica diferente entre si, ambos apontando para o caminho da ativação da crença.
Há, antes de tudo, que se filosofar sobre a verdade pura e sua mudança ao longo dos tempos. O que Kepler, Copérnico e Galileu, tendo em comum o caráter desafiador da verdade que prevalecia em sua época. “O objecto do raciocínio é descobrir, a partir da consideração daquilo que já sabemos, alguma outra coisa que desconhecemos”, afirma Peirce em A fixação da crença.
Pela perspectiva Pierciana compreende-se que se se quer algo, é mais fácil acreditar naquilo e ter nossas ações sobre influência desse desejo, independente se é um fato real ou apenas uma criação por algum motivo qualquer. Crer no que se quer é mais fácil para impulsionar o agir. A dúvida em alguma questão não impulsiona o agir. Encontrar uma verdade a que se possa apegar, independente de sua fonte de origem é um refresco para um desejo.
Acreditar em algo é encontrar um conforto para o pensamento, enquanto a dúvida é a situação oposta, é o desconforto e o incômodo, do qual se busca correr para o descanso do pensamento. A dúvida, ao contrário do que se parece de primeira, é valiosa do sentido de instigar a busca pela verdade. “A dúvida gera a luta para atingir a inquirição” Criar uma dúvida, é o início de uma luta para a satisfação de um desejo.
A partir do momento que a crença é estabelecida, o homem busca o conforto naquilo que crê, e procura intuitivamente fechar os olhos para as outras possibilidades, já que a crença é mais reconfortante que a dúvida. Ora, se olharmos para os esclarecimentos filosóficos propostos por Peirce e validarmos o esforço na divulgação de notícias falsas, poderemos constatar que a construção da crença se dá de maneira a reconhecer fatos, como dito no início, e que a veracidade do fato, que se transformará mais tarde na crença consolidada é relevante se pensarmos que o estado de conformidade chegará, e que em determinado ponto as notícias não serão mais contestadas, é subentendido, então, que as crenças podem ser manipuladas, caso sejam espalhados fatos que sirvam como satisfação de um desejo.
AUTOR: Thais Jesus
TITULO: Novos processos autorais, autopublicação e Direitos de Autor na era do Big Data
Quais são os impactos do uso de ferramentas de automação de dados sobre o mercado editorial? Como funcionam e quais papéis essas ferramentas operam nos processos autorais? De que maneira estão transformando as etapas de seleção de obras, o perfilhamento dos autores e leitores, e a própria criação literária? E ainda, diante deste cenário como prevalecer os Direitos de Autor?
Nossa pesquisa busca investigar o tema da autoria na internet, analisando os uso de ferramentas de automação de dados na produção e circulação de obras literárias em plataformas de autopublicação digital, verificando como essas tecnologias estão desestabilizando a noção de autoria e a própria perspectiva de Direitos de Autor.
Os processos digitais de classificação, ordenação, filtragem, pesquisa, priorização, recomendação e decisão computacional cada vez mais fazem parte do cotidiano das empresas editorias, e os reflexos desses usos impactam no consumo e produção autoral que é desenvolvida, visto que possuem a capacidade de moldar conhecimentos e produzir resultados, ou seja, de promover ações e/ou inações destinadas a influenciar percepções, cognições e preferências de autores, editores e leitores.
Nossa proposta é fazer uma análise exploratória dessas questões, buscando analisar teoricamente e na prática a dinâmica desse ecossistema digital.
AUTORES: Robson Rodrigues Monteiro, Claudia Wanderley (CLE-UNICAMP)
TÍTULO: Do grego antigo ao grego moderno: um caso de estudos para modelos de sistemas complexos e big data
Numa abordagem sistêmica, podemos ver a língua em funcionamento a partir do seu próprio sistema (linguístico) e para além do uso linguístico realizado pelos falantes de determinada língua. Pode ser entendida como um organismo vivo. A língua evolui à medida que seus falantes a usam no cotidiano. É interessante como as variantes da língua grega têm interagido sistêmica e dinamicamente desde o período clássico, e dentro dessa complexidade do funcionamento da língua está uma série de processos (em nossa hipótese) auto-organizados que se refletem no sistema linguístico. No período clássico, uma variante da língua grega tem mais prestígio entre seus falantes enquanto outras variantes também continuam a ser faladas. Como consequência do crescente reconhecimento da literatura, existiu a língua koiné, baseada no dialeto (ou como me referi aqui, variante) ático, considerada uma língua grega "comum" (koiné). A literatura grega bizantina ainda foi fortemente influenciada pelo grego antigo, que também influenciou o grego bíblico, um vernáculo o qual é escrito o Antigo Testamento e uma língua utilizada pela Igreja Ortodoxa Grega. Por pressões linguísticas após o fim do Império Otomano e a Independência da G?ecia, também influenciou a katharévoussa, esta foi a nova koiné do Novo Estado Grego, a língua oficial do país em paralelo ao demótico, a língua falada pelo povo, sendo a katarévoussa uma língua era dita “purificada” pelo motivo que é baseada no grego antigo e evita recorrer aos estrangeirismos que fazem influenciar o demótico. A língua grega tem sido de grande importância no meio acadêmico, e também na grande aquisição do conhecimento compartilhado nessa língua, o que é relevante e possível que este conhecimento seja disponibilizado de maneira acessível. Este projeto tem como objetivo discutir a ideia de sistemas complexos e auto-organização no plano linguístico e no contexto de uma base de dados linguística, além de iterar a relevância da complexidade das línguas, como o grego, e do conhecimento compartilhado linguisticamente pelos falantes. No caso deste estudo, a ideia de sistemas complexos como plano de fundo para compreender a linguagem nos permite entender como sistemas interagem, como uma rede dinâmica, de forma que atua como um processo auto-organizado, um reflexo de interações que trabalham dinamicamente para o próprio funcionamento e o funcionamento de outros sistemas, tornando possível neste trabalho, explorar uma perspectiva para a ideia de sistemas complexos, a percepção da forma abstrata da língua como uma unidade. Neste trabalho foram estudadas teorias em sistemas complexos e auto-organização com a intenção de poder descrever e dinamizar estes estudos junto ao objeto “língua grega”, do qual foi necessário o conhecimento adquirido dessa língua, tanto do léxico quanto do seu funcionamento linguístico, além de sua história. Estudos em linguística computacional também compõem as atividades, tendo em vista que este projeto inclui estudos sobre big data. Ao acessarmos uma base de dados que contenha todas as variantes do que se pode chamar hipoteticamente (sistema complexo da) língua grega, não podemos desconsiderar as variantes, de maneira que elas possam ser entendidas num panorama diacrônico através das suas mudanças históricas, na sintaxe, na morfologia, na semântica, na fonética e fonologia, mas também de maneira que tem sido utilizada como língua por pessoas que, ou como falante, ou como acadêmico, ou ainda como leitor, possa acessar e fazer uso desta língua, de maneira que possa entender a sua complexidade. A língua grega, assim como o conhecimento compartilhado nesta língua, tem sido de grande relevância principalmente no meio acadêmico. É interessante como, dinamicamente, a língua grega traz em sua forma, significados e ideias que ao circular entre outros sistemas (línguas) foram sendo modificados de maneira auto-organizada. Dadas essas circunstâncias, a comunidade acadêmica e externa podem usufruir desse conhecimento de maneira mais acessível.