XII Encontro de Pesquisa em História - UFMG

Encruzilhadas historiográficas: itinerâncias nos saberes e caminhos para a história

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De 23 maio a 18 de outubro Todos os dias das 08h00 às 22h30

Sobre o Evento

O Encontro de Pesquisa em História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) é um evento organizado por estudantes da pós-graduação e da graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais, sendo realizado anualmente. O evento promove o debate entre historiadores jovens e suas pesquisas no cenário acadêmico brasileiro. Alunos de diversos estados do país se encontram na UFMG para apresentarem suas pesquisas e também acompanharem outros estudantes, além de participarem de atividades culturais, minicursos e simpósios temáticos.

Iniciado em 2012, o EPHIS é hoje o maior evento brasileiro de história organizado por discentes. Diversos professores universitários já participaram do encontro, como, por exemplo: Fernando Novais (USP), Sidney Chalhoub (UNICAMP/Harvard), Heloisa Starling (UFMG), Jurandir Malerba (UFRGS), Durval Muniz de Albuquerque (UFRN), Emilio Crenzel (Universidad de Buenos Aires), Edson Kayapó (UFMG/PUC-SP), a mestranda Keilla Vila Flor (UnB), entre outros.

Neste ano, o evento será realizado presencialmente entre os dias 15 a 18 de outubro, com a temática "Encruzilhadas historiográficas: Itinerâncias nos saberes e caminhos para a história", convidando-nos a refletir sobre as encruzilhadas que encontramos no ofício de historiador. São nelas que teorias e saberes se entrelaçam e se renovam, influenciando tanto nossa prática, quanto a teoria da história. O conceito de itinerância emerge como uma metáfora poderosa para descrever esse movimento, levando a teoria e a nós mesmos a percorrer caminhos que antes não foram pensados. Refletindo sobre os saberes que circulam em nosso tempo, é crucial cruzarmos nossos caminhos com outras formas de conhecimento que tensionam o lugar social do historiador. Nesse sentido, o XII EPHIS busca ampliar suas fronteiras para além dos espaços acadêmicos, convidando outros agentes históricos, como as comunidades quilombolas, de religiões afro-brasileiras e indígenas. É por meio desses diálogos que o EPHIS deste ano se propõe a entender os múltiplos caminhos que a história tem percorrido, refletindo sobre a diversidade de temas pesquisados, as experiências em sala de aula e em nossa atuação política de enterrar ou caminhar com o passado.

Além do evento presencial em Outubro, o XII EPHIS propõe minicursos online, a serem realizados entre maio e agosto, visando ampliar a proposta para todo o país.

Palestrantes

  • Luiz Felipe Anchieta Guerra
  • Debora Raiza Carolina Rocha Silva
  • Isabela Fernanda Gomes Oliveira
  • Nicole Faria Batista
  • Daiani da Silva Barbosa
  • Iasmin do Prado Gomes
  • Caroline Lopes Oliveira
  • Samuel Torres Bueno
  • David Ribeiro e Silva Neto
  • Giulia Abatti Kasper Silva
  • Roberta Guimarães Franco
  • Gabriel Filipe Matos dos Santos
  • Vinícius Novaes Ricardo
  • Júlia Soledade Caldas Saud Rodriguez
  • Bernardo Morais Marques
  • Vitória Ivo
  • Hygor Mesquita Faria
  • Guilherme Di Lorenzo Pires
  • Alaor Souza Oliveira
  • Paulo Renato Silva Andrade
  • Isadora Silva Gomes
  • Dirson Fontes da Silva Sobrinho
  • Caroline Rios Costa
  • Marina Oliveira
  • Mateus Frizzone

Programação

08h00 - Daiani da Silva Barbosa Os intelectuais e a recepção da Revolução Argelina no Brasil: responsabilidade, luta e engajamento político Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

Este minicurso apresenta uma análise do papel dos intelectuais no engajamento, crítica e recepção do movimento de libertação nacional argelino no Brasil entre 1956, dois anos após o início da revolução, e 1962, quando a Argélia se torna independente. Através da análise de periódicos e de livros publicados no período, percebemos as diversas perspectivas debatidas pelos intelectuais engajados na causa anticolonial e anti-imperialista. Nesse sentido, buscamos demonstrar de que maneira as implicações da Revolução Argelina os influenciou a refletirem sobre contextos sociais propícios ou não para o estabelecimento da democracia. Quais foram as questões que mobilizaram os intelectuais na imprensa nacionalista? Qual foi a influência do movimento anticolonial no Brasil? Pretendemos, com isso, compreender o papel dos intelectuais na opinião pública e na proposição de uma ação política inspirada nos ideais revolucionários e motivada pela circulação transnacional de ideias. Sendo assim, este minicurso justifica-se pela importância do debate acerca da influência das lutas anticoloniais em África nos periódicos em um contexto de disputas para a consolidação de uma identidade nacional brasileira, além de apresentar um exercício de articulação metodológica para a análise de periódicos em diálogo com a História Intelectual e Política.

Dia 1:

  • Intelectuais, responsabilidade, engajamento e debate de ideias - um diálogo entre a História dos Intelectuais e a História Política;
  • A Revolução Argelina (1954-1962): contexto, implicações e o papel da imprensa.

Dia 2:

  • Recepção da Revolução Argelina na imprensa nacionalista brasileira
  • O que é imprensa nacionalista?
  • O Semanário (1956-1964) - Édouard Bailby, Alberto Guerreiro Ramos e Nelson Werneck Sodré;Arthur José Poerner (Argélia, o Caminho da Independência - 1966).


Bibliografia


ARAÚJO, Rodrigo Nabuco de. A voz da Argélia. A propaganda revolucionária da Frente de Libertação Nacional Argelina no Brasil. Independência nacional e revolução socialista (1954-1962). Rio de Janeiro, Estudos Históricos, vol. 30, no 61, p. 401-424, maio-agosto 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/eh/a/99WmnGqrKxfptgQ9nrRRD9z/abstract/?lang=pt. Acesso em: 03 jul. 2024.
POERNER, Arthur José. Argélia: o caminho da independência. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.
DOSSE, François. A saga dos intelectuais franceses, vol. 1: à prova da história (1944-1968). São Paulo: Estação Liberdade, 2021.
FANON, Frantz. Por uma revolução africana: Textos políticos. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.
_______. Escritos políticos. São Paulo: Boitempo, 2021.
LIPPOLD, Walter Günther Rodrigues. Frantz Fanon e a Revolução Argelina. São Paulo: Editora Raízes da América, 2021.
SARTRE, Jean-Paul. Colonialismo y Neocolonialismo. Buenos Aires: Losadas, 1968.
SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: REMÓND, René (org.). Por uma História Política. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996.
STANTON, Andrea. L. The Changing face of El Moudjahid during the Algerian War of Independence. The Journal of North American Studies. Vol. 16, No. 1, March 2011, p. 59-76.

08h00 - David Ribeiro e Silva Neto, Giulia Abatti Kasper Silva Adversidades e sucessos na produção de fontes de História Oral em locais de memória: Um estudo de caso no Bicentenário da Independência em São Paulo Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - FAFICH

O propósito deste minicurso é discutir a experiência de produção de fontes de história oral em locais de memória, abordando as dificuldades e os benefícios oriundos desse processo. Partiremos da discussão da experiência base dos dois ministrantes, que realizaram trabalho de coleta de entrevistas no Parque do Ipiranga, em São Paulo, na comemoração do bicentenário da Independência. Os registros feitos mostram entrevistas realizadas com diferentes visitantes do monumento, com suas motivações, sonhos, aspirações e ideias sobre o evento presenciado, além de filmagens das intervenções artísticas realizadas no evento. As entrevistas registram comentários sobre o espaço de memória, figuras notórias da política brasileira, trajetórias pessoais e conhecimento histórico de diversos participantes.
Dentro dos temas abordados nessas conversas, questionamos como e porque o Ipiranga se tornou o destino desses entrevistados na data comemorativa, buscando deixar as respostas livres para extrapolar o roteiro que foi planejado. A partir do material coletado, conseguimos construir um quadro da ocasião e seus frequentadores. Mobilizamos, neste estudo de caso, discussões acerca das metodologias de História Oral aplicadas ao contexto da transitoriedade de uma comemoração de uma efeméride; para além disso, exporemos os riscos e as tensões de praticar história oral num local de memória quando de uma situação política adversa, como é o caso das manifestações presidenciais em 2022, no contexto de uma das eleições mais conturbadas da história recente do Brasil. Nesse exercício, procuramos compartilhar com colegas e ouvintes como planejamentos, organizações e estratégias compreendidas dentro do cânone da História Oral podem ser exploradas dentro do Brasil contemporâneo e aplicadas por jovens historiadores.
O minicurso irá criar uma intersecção entre teoria e prática - através de exposições do material coletado e discussões bibliográficas - da experiência de coleta de fontes orais, bem como demonstrar as dificuldades e burocracias desse processo. Além disso, vamos explorar o papel da memória coletiva na formação da identidade nacional, considerando como as narrativas orais contribuem para a compreensão e a preservação do patrimônio histórico-cultural de um país. Analisaremos como essas histórias revelam e influenciam a percepção pública sobre eventos históricos e espaços de memória, destacando a importância de ampliar e diversificar as fontes de pesquisa histórica.
Ao examinar esse aspecto, pretendemos fomentar reflexões sobre a construção e a transmissão do conhecimento histórico, bem como sobre os desafios enfrentados pelos pesquisadores ao lidar com narrativas subjetivas e múltiplas interpretações dos eventos passados. Por fim, ambicionamos entender que país é este que está no ideário dos nossos compatriotas, tão distinto do da academia, mas influenciado pelas produções culturais, pela escola, pela memória coletiva, pela televisão e pela arte.

08h00 - Hygor Mesquita Faria, Vitória Ivo Memória, Ditaduras e Transição no Cone sul: as complexidades e os desafios contemporâneos da luta por reparação Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

Diante dos 60 anos do golpe que instaurou a ditadura no Brasil, é crucial refletir sobre os desafios atuais na busca por memória, verdade e justiça. Analisando a realidade brasileira sob uma perspectiva transnacional, especialmente em diálogo com os países do cone-sul, surgem urgências relacionadas à justiça e reparação, exacerbadas pelo desmonte das políticas de memória durante períodos de instabilidade democrática na região. Cada contexto nacional, com suas especificidades, oferece uma oportunidade para examinar como as políticas de memória ou esquecimento podem responder às crises políticas e aos complexos laços transnacionais que envolvem a ditadura e a luta pela memória, verdade e justiça hoje. Dessa forma, o minicurso propõe um percurso teórico que se articula com a análise de trajetórias práticas relacionadas à pauta da memória, verdade e justiça, com recortes que sistematizam e abordam questões como a dos indígenas e a da luta das mulheres durante a ditadura militar diante deste cenário. O objetivo, a partir dessas demandas entrelaçadas pela questão reparatória, é estimular reflexões críticas sobre as diferentes formas de se pensar a reparação nesse contexto. Para aprofundar esses debates, buscamos o diálogo com as análises já consagradas da historiografia sobre o tema e visamos contribuir com a percepção de que a análise dos casos latino-americanos deve considerar a complexidade e as especificidades dos desdobramentos das violências ditatoriais. Esses elementos se tornam bastante evidentes quando nos deparamos com percepções dos direitos coletivos e da elaboração de distintos significados e temporalidades sobre a existência da ditadura militar. Na primeira parte do minicurso, abordaremos o contexto das transições das ditaduras no Cone Sul e a consolidação da justiça de transição. Focaremos em dois eixos principais: primeiro, exploraremos o surgimento do campo teórico sobre transição e a construção das comissões da verdade; segundo, analisaremos a luta dos povos indígenas e das mulheres durante esse processo. A segunda parte do encontro focará na consolidação das comissões da verdade, incluindo a apuração e divulgação dos relatórios finais, bem como as ações do Estado sobre memória, verdade e justiça. Serão apresentados os resultados das dissertações dos proponentes: uma análise das transformações dos antigos centros de tortura no Brasil (DOPS/RJ e DOI-Codi/SP) por Larissa Vitória Ivo (2023), e o estudo da questão indígena na Comissão Nacional da Verdade (CNV) por Hygor Mesquita Faria (2022). Em seguida, haverá um debate transnacional sobre as comissões da verdade no Brasil e na Argentina. Na terceira parte, dialogaremos com as análises da primeira e da segunda partes para examinar a relação entre o entendimento da transição, a construção dos mecanismos de justiça e as especificidades da realidade latino-americana. Buscaremos identificar os passos necessários para desenvolver políticas de reparação que considerem as perspectivas dos violados e seus entendimentos sobre existência, mundo e território.

Cronograma


1º Encontro:

  • Introdução às Transições políticas e a Luta por Memória
  • Introdução ao contexto das transições na América Latina.
  • Consolidação dos mecanismos da Justiça de Transição no Cone Sul: as Comissões da Verdade na Argentina e no Brasil.
  • A presença indígena na Constituinte do Brasil e sua participação na luta por direitos.
  • Las Madres y Abuelas de la Plaza de Mayo – a luta das mães e avós argentinas por memória, verdade e justiça.

2º Encontro:

  • Desafios da memória: Comissões da Verdade, Memoriais e Resistência Indígena no Cone Sul
  • Consolidação das Comissões da Verdade: análise dos processos de apuração e divulgação dos relatórios finais no Brasil e na Argentina.
  • Políticas da Memória e Políticas do Esquecimento: as disputas e projetos políticos para os antigos centros de tortura no Brasil.
  • Cosmopolíticas de memórias: Povos indígenas e a Ditadura Militar

3º Encontro:

  • Reparação e Complexidades contemporâneas em evidência
  • Lei da Anistia: implicações, esquecimentos e silêncios sobre a memória da ditadura no Brasil.
  • Memórias negadas e memórias desmontadas: os mandatos de Jair Bolsonaro e Javier Milei e o reforço dos projetos de esquecimento das ditaduras no Cone-sul.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUER, Caroline Silveira. A produção dos relatórios Nunca Mais na Argentina e no Brasil: aspectos das transições políticas e da constituição da memória sobre a repressão. Revista de História Comparada, v. 2, n. 1, p. 4, 2008.
BEVERNAGE, Berber. History, memory, and state-sponsored violence: Time and justice. Routledge, 2012.
CLAVERO, Bartolomé. Justicia transicional, comisiones de verdad y pueblos indígenas en América Latina, 2011. Disponível em: https://www.ictj.org/sites/default/files/NY-.
FARIA, Hygor Mesquita. Entre permanências, reparações e avanços: a questão indígena na Comissão Nacional da Verdade (CNV). 2022.
HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos, mídia. 2000.
IVO, Larissa Vitória. Políticas da memória e políticas do esquecimento: uma análise das transformações dos antigos centros de tortura do Brasil em memorial-DOPS/RJ e DOI-Codi/SP.
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Revista estudos históricos, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989.
TEITEL, Ruti G. Transitional Justice. Nova York: Oxford University Press, 2000.
TOLENTINO, Marcos. Arquivo, testemunhos e direitos humanos: o Arquivo Oral do Memoria Abierta. História Oral, v. 22, n. 1 (2019).
URQUIDI; TEIXEIRA; LANA. Questão Indígena na América Latina: Direito Internacional, Novo Constitucionalismo e Organização dos Movimentos Indígenas. Cadernos PROLAM/USP, vol. 1, p. 199-222, 2008.
VALENTE, Rubens. Os fuzis e as flechas: história de sangue e resistência indígena na ditadura. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

08h00 - Alaor Souza Oliveira, Guilherme Di Lorenzo Pires, Paulo Renato Silva Andrade Islã e Culturas Políticas no Oriente Médio: dos movimentos proféticos do século VII E.C aos desafios da Modernidade Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

Nas últimas décadas, a relação entre Islã e política tornou-se um tema central nas pesquisas acadêmicas sobre o Oriente Médio, tanto na literatura nacional quanto estrangeira. Conceitos como Islã Político, jihadismo e salafismo têm sido amplamente utilizados — não apenas pela academia, mas também pela mídia —, muitas vezes para descrever fenômenos e, em alguns casos, para interpretar a história de toda a região. Diante da importância da História do Oriente Médio como campo de pesquisa e ensino, este minicurso propõe oferecer uma breve história das culturas políticas da região, desde o surgimento do Islã até os dilemas contemporâneos do século XXI. Guiado pela problematização das múltiplas interpretações sobre a história política do Oriente Médio, o curso se estrutura em torno de uma análise contextual das principais ideias que moldaram a relação entre Islã e política nas sociedades do Oriente Médio, destacando as diferenças e convergências nos pensamentos, vocabulários e momentos históricos.


Cronograma:

Aula 1:

  • Orientalismo e as representações do Oriente na historiografia: repensando conceitos e preconceitos

Discussão crítica sobre o Orientalismo e as representações do Oriente por parte da historiografia. Análise dos principais conceitos e temas que permeiam as discussões contemporâneas sobre a relação entre política e religião no Oriente Médio.
Bibliografia
- SAID, Edward. Introdução. In: SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p.27-60.


Aula 2:

  • Antiguidade Tardia, Profetismo, e o nascimento do Islã (2 horas/aula)
  • Esboço do surgimento do movimento profético de Muhammad e do subsequente desenvolvimento do Islã enquanto identidade político-religiosa à luz da historiografia recente; apresentação e discussão de problemas historiográficos.

Bibliografia
- ANDRADE, P.R.S. A (problemática) Problemática das Fontes. In: Recita, em nome do Teu Senhor: As raízes judaico-cristãs do movimento proto-islâmico e os profetismos na Península Arábica. (séc. VII E.C.). 227 pgs. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017. p. 18-48.
- DONNER, F. Muhammad and the Believers: At the Origins of Islam. Cambridge: Belknap Press, 2010.

Aula 3:

  • Autoridade e Comunidade Política no pensamento político Otomano (2 horas/aula)
  • Formação e a expansão dos grandes Impérios Islâmicos da Modernidade. Organização social e política do Império Otomano. Conceitos de autoridade e comunidade política no pensamento Islâmico no período moderno. O encontro com a Europa e o período Tanzimat. A “Questão Oriental” revisitada pela historiografia.

Bibliografia
- LEWIS, Bernard. The Conquerors; The City; Faith and Learning. In: Istanbul and the Civilization of the Ottoman Empire. University of Oklahoma Press, 1972, pp.10-35; pp.96-172.
- YILMAZ, Hüseyin. The discourse on rulership. In: Caliphate redefined: the mystical turn in Ottoman political thought. Princeton University Press, 2018, p.22-96.


Aula 4:

  • Reformadores, Liberais e muito além: (re)imaginando o passado islâmico ao fim da Era Otomana (2 horas/aula)
  • A dissolução do Império Otomano e o período dos Mandatos. O surgimento dos movimentos Nacionalistas. O Revivalismo Islâmico e o Pan-Islamismo. Solidariedades supranacionais: tensões entre o Pan-Arabismo e o Pan-Islamismo. A Turquia secular de Mustafa Kemal Atatürk.

Bibliografia
- ROSHWALD, Aviel. Nationalism in Middle East, 1876-1945. In: BREUILLY, John (ed.) The Oxford Handbook of the History of Nationalism. Oxford: Oxford University Press: 2013.
- GELVIN, James. Nationalism in the Arab Middle East: Resolving Some Problems. In: SADIKI, Larbi (ed.). Routledge Handbook of Middle East Politics. Routledge: 2020.
- Episode 323: Kemalism and the making of Modern Turkey. Entrevistado: Erik-Jan Zürcher. Entrevistadores: Andreas Guidi & Elif Becan. Ottoman History Podcast, 06 Jul 2017. Disponível em https://www.ottomanhistorypodcast.com/2017/07/zurcher.html. Acesso em 02 abr 2021.


Aula 5:

  • Conclusão - Os dilemas do Oriente Médio Contemporâneo (2 horas/aula)
  • Os diversos projetos nacionalistas no século XX. As lutas pela independência. Democracia e religião no Oriente Médio Contemporâneo.

Bibliografia:
- AYOOB, Mohammed. The Many Faces of Political Islam: Religion and Politics in Muslim Societies. Ann Arbor: University of Michigan Press, 2020.
Bibliografia complementar
ALI, K. The Lives of Muhammad. Cambridge: Harvard University Press, 2014.
ARMSTRONG, Karen. Em nome de Deus: o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
AYUBI, Nazih N. The theory and practice of the Islamic State. In: Political Islam: religion and politics in Arab world.Londres, Nova York : Routledge, 1991, pp.1-27.
ESPOSITO, John. Islam and politics. New York: Syracuse University Press, 1998.
GELVIN, James. Was there a Mandates period? Some concluding thoughts. In: SCHAYEGH, Cyrus; ARSAN, Andrew (ed). The Routledge Handbook of the History of the Middle East Mandates. Routledge: 2015.
HOURANI, Albert. O pensamento árabe na era liberal. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
_______. Uma história dos povos árabes. São Paulo : Companhia das Letras, 2006.
KHALIDI, T. Images of Muhammad: The Evolution of Portrayals of the Prophet in Islam Across the Centuries. New York: Crown Publishing Group, 2009.
MADELUNG, W. The Succession to Muhammad: A study of the early Caliphate. Cambridge: Cambridge university Press, 1997.
PROVENCE, Michael. Introduction. In: The Last Ottoman Generation and the Making of the Modern Middle East. Cambridge University Press, 2017.

08h00 - Caroline Rios Costa, Dirson Fontes da Silva Sobrinho, Isadora Silva Gomes Quem são os sujeitos de Direitos Humanos? Justiça de Transição, Comissão Nacional da Verdade do Brasil e a construção do sentido de vítima de Estado. Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

O século XX foi marcado por uma série de eventos de extrema violência e episódios traumáticos que causaram uma ruptura tanto na percepção do tempo quanto em como lidar com as consequências materiais e subjetivas causadas por esses acontecimentos. Ao pensar sobre a relação entre passado, presente e futuro, o desenvolvimento dos estudos sobre Justiça de Transição configura uma importante evidência deste debate. Segundo a historiadora Maria Paula Araujo, esse mecanismo pode ser definido como: “[...] um conjunto de procedimentos jurídicos e políticos que tem por objetivo auxiliar nesta transição, revelando os crimes cometidos sobretudo pelo Estado, reparando as vítimas, criando as condições para um novo pacto nacional.”.
Dentro deste escopo, as Comissões da Verdade têm sido um dos instrumentos mais representativos da justiça transicional no Cone Sul. Nesse minicurso, nos centraremos no caso brasileiro analisando, em especial, a criação da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Com o acúmulo de medidas anteriores como a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (1995) e a Comissão de Anistia (2002), a CNV foi criada através da Lei 12.528 de 18 de novembro de 2011. Na esteira do debate provocado pelo lançamento da terceira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos, a criação da Comissão significou um marco inédito de resgate da verdade histórica e inserção do direito à memória e à reparação na institucionalidade do Estado brasileiro.
Ainda que seja uma elementar política pública de memória, a Comissão como tal abarca e institucionaliza determinadas memórias enquanto outras permanecem sendo subterrâneas. Podemos observar essa seleção ao analisarmos o conceito de vítima construído pela CNV, principalmente, no caso dos mortos e desaparecidos políticos. O que esse apagamento nos diz sobre as políticas de memória do país? Nesse sentido, é fundamental nos debruçarmos sobre os marcadores sociais e de raça buscando compreender seu papel na construção da cidadania e, consequentemente, no significado de vítima do Estado.
Dessa forma, a proposta deste minicurso é fazer um estudo de caso da Comissão Nacional da Verdade, no contexto da justiça de transição, buscando compreender sua amplitude e limitações. Na primeira aula, discorreremos sobre o conceito e os parâmetros básicos da Justiça de Transição bem como a definição e características das Comissões da Verdade. Além disso, abordaremos o contexto de aprovação da CNV e a estrutura interna do órgão. Como último ponto dessa aula, analisaremos a Comissão como uma política pública de memória debatendo sobre sua representação na sociedade brasileira.
No que tange à segunda aula, focaremos na CNV comentando sobre as diretrizes dos Direitos Humanos bem como os significados das graves violações de direitos humanos (variadas formas de violência política) considerados pelo órgão. Aqui, optamos por falar da violência de gênero e sexual, dos desaparecimentos forçados e das violações cometidas pelo Estado na Guerrilha do Araguaia. Por fim, na terceira aula, discutiremos sobre o conceito de vítima construído pela CNV considerando os marcadores sociais e de raça utilizados para definir quem são os desaparecidos políticos da ditadura militar, em especial, no caso dos indígenas. Tomando a CNV enquanto política de memória direcionada às vítimas, pretendemos questionar os limites da cidadania e da consolidação democrática na história recente do país.
Carga horária:

Referências Bibliográficas
ARAUJO, Maria Paula Nascimento. “Redemocratização e justiça de transição no Brasil”. IN: Stvdia historica. Historia contemporánea. Salamanca, V. 33, p. 67-85, 2015.
AZEVEDO. Desirée de Lemos. Ausências Incorporadas – Etnografia entre Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil. São Paulo. Ed: UNIFESP. 2018. p. 148.
BAUER, Caroline Silveira. Como será o passado?: história, historiadores e a Comissão Nacional da Verdade. São Paulo: Paco, 2017.
BRASIL. COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. Relatório/ Comissão Nacional da Verdade. Volume I, II, III. Brasília: CNV, 2014.
FARIA, Hygor Mesquita. Entre permanências, reparações e avanços:a questão indígena na Comissão Nacional da Verdade (CNV). Dissertação de Mestrado defendida no Programa de Pós Graduação em História do Instituto de Ciências Humanas. Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Minas Gerais, 2021.
MBEMBE, Achille. Necropolítica: Biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. N-1 Edições. São Paulo. Agosto, 2022.
MERLINO, Tatiana; OJEDA, Igor (Orgs..). Luta, substantivo feminino: mulheres torturadas, desaparecidas e mortas na resistência à ditadura. São Paulo: Editora Caros Amigos, 2010.
PEDRETTI, Lucas. A transição inacabada: Violência de Estado e direitos humanos na redemocratização. São Paulo: Ed: Companhia das Letras, 2024.
POLLAK, Michael. “Memória, Esquecimento, Silêncio”. IN: Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 2. n. 3, 1989, p. 3-15.
TELES, Edson e QUINALHA, Renan. (Orgs.). Espectros da Ditadura: da Comissão da Verdade ao bolsonarismo. São Paulo, SP: Ed. Autonomia Literária, 2020.

09h00 - Vinícius Novaes Ricardo Virando os anos 1990 de cabeça para baixo: os discursos e representações do Partido Pantera Negra nas obras de Tupac Shakur Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

O Partido Pantera Negra (1966-1982) foi um dos principais movimentos antirracistas nos EUA durante meados do século XX, impactando a política e a cultura estadunidense desde o seu surgimento. Durante os anos 1990, ocorreu um processo de retomada de um conjunto de fundamentos ideológicos defendidos pelos Panteras, que influenciou novos movimentos políticos - por exemplo New Black Panther Party e o Black Panther Militia - e desempenhou uma influência substancial na produção cultural negra dos EUA. Entre os adeptos dessa retomada do partido estava Tupac Shakur, que através da personagem musical 2Pac, mobilizou em suas produções artísticas (músicas e poemas) o pensamento do partido. Shakur defendeu que o movimento negro estadunidense deveria “virar os anos 1990 da cabeça para baixo”, com o objetivo de transformá-los nos anos 1960, aludindo à mobilização antirracista do período e mencionando a trajetória de importantes militantes do partido, por exemplo Huey Newton, Fred Hampton e Afeni Shakur (sua mãe).
Em vista do exposto acima, o minicurso propõe a investigação da circulação e deslocamento espaço-temporal dos discursos ensejados pelos Panteras em meados do século XX e sua reverberação na produção artística de Shakur durante os anos 1990. Para isso, faz-se necessária a compreensão do ambiente político, cultural e social da população negra dos EUA durante a segunda metade do século XX. Nessa perspectiva, serão explicitadas as permanências e transformações nos dispositivos de racismo institucional ao longo desse período, identificando os acontecimentos históricos que ensejaram no debate público uma aproximação temporal entre os anos de 1960 e 1990. Com intuito de desvelar a historicidade desse processo, foi coligido um conjunto documental para análise composto de fontes escritas, sonoras e audiovisuais dos Panteras e de Tupac Shakur, que fundamentam este trabalho do campo da História Intelectual.
Portanto, considerando o supracitado, o cerne do minicurso é a reflexão sobre as itinerâncias dos discursos e representações, bem como das formas desenvolvidas para mediação dos pensamentos que constituem a tradição radical do pensamento de libertação negra defendida pelos Panteras e retomada por Tupac Shakur.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Aula 1:

  • A nova segregação

ALEXANDER, Michelle.; DAVOGLIO, Pedro.; ALMEIDA, Silvio Luiz de. A nova segregação: racismo e encarceramento em massa. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2018, p. 10 - 28
Aula 2:

  • Tupac Shakur

Texto base: ROBINSON, Staci. Tupac Shakur: A biografia autorizada. 1 ed. Rio de Janeiro: BestSeller, 2023, p. 137-184


Aula 3:

  • O Partido Pantera Negra

Texto base: BLOOM, Joshua; MARTIN JR, Waldo E.; MARTIN, Waldo E. Black against empire: The history and politics of the Black Panther Party. Univ of California Press, 2013, p. 17-45.


Aula 4:

  • Os anos 1990 de cabeça para baixo

Texto base: RICARDO, Vinícius Novaes. Virando os anos 1990 de cabeça para baixo. In: Tupac Amaru Shakur e os Panteras Negras: a esfera pública da experiência musical e os tempos históricos no rap (1991-1996). 2021, p. 95-132.

08h00 - Debora Raiza Carolina Rocha Silva, Isabela Fernanda Gomes Oliveira, Nicole Faria Batista Memórias, lugares e cosmologias: metodologias multidisciplinares para a pesquisa em territórios coletivos Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - FAFICH

Este minicurso oferece uma abordagem multidisciplinar e participativa para a pesquisa em ciências humanas, buscando confluir metodologias da História, Geografia e Antropologia para a pesquisa com interlocutores e grupos situados em territórios coletivos. Com ênfase especial na pesquisa com comunidades tradicionais (se estendendo ainda para pesquisa com outros tipos de coletivos, como movimentos sociais, contextos educacionais, detentores do patrimônio cultural, etc), o objetivo é refletir e oferecer recursos para uma abordagem ampla de contextos socioespaciais, históricos e culturais diversos, estudados seja na pesquisa acadêmica, seja na elaboração de políticas públicas, projetos culturais, análise de impactos socioculturais etc.
Partindo da metodologia de cartografia cultural participativa, pretendemos descrever maneiras de aliá-la a técnicas consolidadas da História e Antropologia como história oral, etnografia, pesquisa em arquivo, análise de imagens, dentre outras, refletindo acerca do papel dos interlocutores na construção do conhecimento. Compreende-se que, em contextos coletivos, muitas vezes permeados por conflitos e pautas sensíveis, abordagens multidisciplinares e participativas são premissas fundamentais para a construção do conhecimento e valorização identitária.


CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:


PARTE 1: Introdução às abordagens multidisciplinares e participativas nas ciências humanas


Introdução às metodologias da História, Geografia e Antropologia na pesquisa em ciências humanas. Apresentação breve das concepções existentes lugar e território. Apresentação do conceito de abordagem participativa e sua importância na pesquisa com interlocutores e grupos situados em territórios coletivos. Discussão sobre a pesquisa e o papel do pesquisador em relação a comunidades tradicionais e outros coletivos em diferentes contextos, incluindo academia, políticas públicas, projetos culturais e análise de impacto sociocultural.


Referências:
BARROS, José D’Assunção. História e memória– uma relação na confluência entre tempo e espaço. MOUSEION, vol. 3, n.5, Jan-Jul/2009.Smith, L. T. (2012). Descolonizando Metodologias: Pesquisa e Poder. Zouk Mosbeh: Adyan Publishing House.
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Cultura” e cultura: conhecimentos tradicionais e direitos intelectuais. Cultura com aspas, p. 311-373, 2009.
HOLZER, Werther. Sobre territorialidades e lugaridades. Revista Cidades. v. 10, n. 17. UNESP. 2013. p. 18-29


PARTE 2: Cartografia Cultural Participativa: abordagem prática


Conceituação da cartografia cultural participativa como abordagem metodológica para a pesquisa em ciências humanas, fundamentada na Geografia Cultural. Apresentação de estudos de caso que exemplificam a aplicação da cartografia cultural participativa. O estudo de caso contará com apresentação de mapas mentais e de percepção, entrevistas, arquivos e outros dados levantados em pesquisas anteriores realizadas pelas facilitadoras.


Referências:
ALMEIDA, Maria Geralda de. Geografia Cultural: um modo de ver. Goiânia: Gráfica UFG, 2018.
KOZEL, Salete. Mapas mentais: dialogismo e representações. 1. Ed. Curitiba: Appris, 2018.


PARTE 3: Confluindo metodologias: memória, lugar e cosmologia na produção sobre territórios coletivos


A partir do estudo de caso da aula anterior, propõe-se na aula final a discussão sobre a importância da pesquisa em História para a valorização da memória coletiva na compreensão da identidade e da territorialidade de comunidades tradicionais e outros grupos situados em territórios coletivos. Dando enfoque na memória enquanto motor para compreensão da ideia de espaço e lugar para grupos coletivos. E para a reflexão sobre a incorporação de conhecimentos tradicionais e cosmologias locais na pesquisa em ciências humanas, reconhecendo a diversidade epistemológica e ontológica das diferentes comunidades e grupos sociais.


Referências:
ALMEIDA, Maria Geralda de. Territórios de tradições e de festas. Curitiba: Ed. UFPR. 2018.
CATELA, Ludmila da Silva. “Territorios de memoria política. Los archivos de la represión em Brasil”. In: CATELA, Ludmila da Silva & JELIN, Elizabeth (orgs.). Los archivos de la represión: Documentos, memoria y verdad. Madrid: Siglo XXI, 2002b.
SANTOS, Antônio Bispo dos. A terra dá, a terra quer. São Paulo: Ubu Editora/PISEAGRAMA, 2023.

08h00 - Daiani da Silva Barbosa Os intelectuais e a recepção da Revolução Argelina no Brasil: responsabilidade, luta e engajamento político Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

Este minicurso apresenta uma análise do papel dos intelectuais no engajamento, crítica e recepção do movimento de libertação nacional argelino no Brasil entre 1956, dois anos após o início da revolução, e 1962, quando a Argélia se torna independente. Através da análise de periódicos e de livros publicados no período, percebemos as diversas perspectivas debatidas pelos intelectuais engajados na causa anticolonial e anti-imperialista. Nesse sentido, buscamos demonstrar de que maneira as implicações da Revolução Argelina os influenciou a refletirem sobre contextos sociais propícios ou não para o estabelecimento da democracia. Quais foram as questões que mobilizaram os intelectuais na imprensa nacionalista? Qual foi a influência do movimento anticolonial no Brasil? Pretendemos, com isso, compreender o papel dos intelectuais na opinião pública e na proposição de uma ação política inspirada nos ideais revolucionários e motivada pela circulação transnacional de ideias. Sendo assim, este minicurso justifica-se pela importância do debate acerca da influência das lutas anticoloniais em África nos periódicos em um contexto de disputas para a consolidação de uma identidade nacional brasileira, além de apresentar um exercício de articulação metodológica para a análise de periódicos em diálogo com a História Intelectual e Política.

Dia 1:

  • Intelectuais, responsabilidade, engajamento e debate de ideias - um diálogo entre a História dos Intelectuais e a História Política;
  • A Revolução Argelina (1954-1962): contexto, implicações e o papel da imprensa.

Dia 2:

  • Recepção da Revolução Argelina na imprensa nacionalista brasileira
  • O que é imprensa nacionalista?
  • O Semanário (1956-1964) - Édouard Bailby, Alberto Guerreiro Ramos e Nelson Werneck Sodré;Arthur José Poerner (Argélia, o Caminho da Independência - 1966).


Bibliografia


ARAÚJO, Rodrigo Nabuco de. A voz da Argélia. A propaganda revolucionária da Frente de Libertação Nacional Argelina no Brasil. Independência nacional e revolução socialista (1954-1962). Rio de Janeiro, Estudos Históricos, vol. 30, no 61, p. 401-424, maio-agosto 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/eh/a/99WmnGqrKxfptgQ9nrRRD9z/abstract/?lang=pt. Acesso em: 03 jul. 2024.
POERNER, Arthur José. Argélia: o caminho da independência. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.
DOSSE, François. A saga dos intelectuais franceses, vol. 1: à prova da história (1944-1968). São Paulo: Estação Liberdade, 2021.
FANON, Frantz. Por uma revolução africana: Textos políticos. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.
_______. Escritos políticos. São Paulo: Boitempo, 2021.
LIPPOLD, Walter Günther Rodrigues. Frantz Fanon e a Revolução Argelina. São Paulo: Editora Raízes da América, 2021.
SARTRE, Jean-Paul. Colonialismo y Neocolonialismo. Buenos Aires: Losadas, 1968.
SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: REMÓND, René (org.). Por uma História Política. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996.
STANTON, Andrea. L. The Changing face of El Moudjahid during the Algerian War of Independence. The Journal of North American Studies. Vol. 16, No. 1, March 2011, p. 59-76.

08h00 - Hygor Mesquita Faria, Vitória Ivo Memória, Ditaduras e Transição no Cone sul: as complexidades e os desafios contemporâneos da luta por reparação Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

Diante dos 60 anos do golpe que instaurou a ditadura no Brasil, é crucial refletir sobre os desafios atuais na busca por memória, verdade e justiça. Analisando a realidade brasileira sob uma perspectiva transnacional, especialmente em diálogo com os países do cone-sul, surgem urgências relacionadas à justiça e reparação, exacerbadas pelo desmonte das políticas de memória durante períodos de instabilidade democrática na região. Cada contexto nacional, com suas especificidades, oferece uma oportunidade para examinar como as políticas de memória ou esquecimento podem responder às crises políticas e aos complexos laços transnacionais que envolvem a ditadura e a luta pela memória, verdade e justiça hoje. Dessa forma, o minicurso propõe um percurso teórico que se articula com a análise de trajetórias práticas relacionadas à pauta da memória, verdade e justiça, com recortes que sistematizam e abordam questões como a dos indígenas e a da luta das mulheres durante a ditadura militar diante deste cenário. O objetivo, a partir dessas demandas entrelaçadas pela questão reparatória, é estimular reflexões críticas sobre as diferentes formas de se pensar a reparação nesse contexto. Para aprofundar esses debates, buscamos o diálogo com as análises já consagradas da historiografia sobre o tema e visamos contribuir com a percepção de que a análise dos casos latino-americanos deve considerar a complexidade e as especificidades dos desdobramentos das violências ditatoriais. Esses elementos se tornam bastante evidentes quando nos deparamos com percepções dos direitos coletivos e da elaboração de distintos significados e temporalidades sobre a existência da ditadura militar. Na primeira parte do minicurso, abordaremos o contexto das transições das ditaduras no Cone Sul e a consolidação da justiça de transição. Focaremos em dois eixos principais: primeiro, exploraremos o surgimento do campo teórico sobre transição e a construção das comissões da verdade; segundo, analisaremos a luta dos povos indígenas e das mulheres durante esse processo. A segunda parte do encontro focará na consolidação das comissões da verdade, incluindo a apuração e divulgação dos relatórios finais, bem como as ações do Estado sobre memória, verdade e justiça. Serão apresentados os resultados das dissertações dos proponentes: uma análise das transformações dos antigos centros de tortura no Brasil (DOPS/RJ e DOI-Codi/SP) por Larissa Vitória Ivo (2023), e o estudo da questão indígena na Comissão Nacional da Verdade (CNV) por Hygor Mesquita Faria (2022). Em seguida, haverá um debate transnacional sobre as comissões da verdade no Brasil e na Argentina. Na terceira parte, dialogaremos com as análises da primeira e da segunda partes para examinar a relação entre o entendimento da transição, a construção dos mecanismos de justiça e as especificidades da realidade latino-americana. Buscaremos identificar os passos necessários para desenvolver políticas de reparação que considerem as perspectivas dos violados e seus entendimentos sobre existência, mundo e território.

Cronograma


1º Encontro:

  • Introdução às Transições políticas e a Luta por Memória
  • Introdução ao contexto das transições na América Latina.
  • Consolidação dos mecanismos da Justiça de Transição no Cone Sul: as Comissões da Verdade na Argentina e no Brasil.
  • A presença indígena na Constituinte do Brasil e sua participação na luta por direitos.
  • Las Madres y Abuelas de la Plaza de Mayo – a luta das mães e avós argentinas por memória, verdade e justiça.

2º Encontro:

  • Desafios da memória: Comissões da Verdade, Memoriais e Resistência Indígena no Cone Sul
  • Consolidação das Comissões da Verdade: análise dos processos de apuração e divulgação dos relatórios finais no Brasil e na Argentina.
  • Políticas da Memória e Políticas do Esquecimento: as disputas e projetos políticos para os antigos centros de tortura no Brasil.
  • Cosmopolíticas de memórias: Povos indígenas e a Ditadura Militar

3º Encontro:

  • Reparação e Complexidades contemporâneas em evidência
  • Lei da Anistia: implicações, esquecimentos e silêncios sobre a memória da ditadura no Brasil.
  • Memórias negadas e memórias desmontadas: os mandatos de Jair Bolsonaro e Javier Milei e o reforço dos projetos de esquecimento das ditaduras no Cone-sul.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUER, Caroline Silveira. A produção dos relatórios Nunca Mais na Argentina e no Brasil: aspectos das transições políticas e da constituição da memória sobre a repressão. Revista de História Comparada, v. 2, n. 1, p. 4, 2008.
BEVERNAGE, Berber. History, memory, and state-sponsored violence: Time and justice. Routledge, 2012.
CLAVERO, Bartolomé. Justicia transicional, comisiones de verdad y pueblos indígenas en América Latina, 2011. Disponível em: https://www.ictj.org/sites/default/files/NY-.
FARIA, Hygor Mesquita. Entre permanências, reparações e avanços: a questão indígena na Comissão Nacional da Verdade (CNV). 2022.
HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos, mídia. 2000.
IVO, Larissa Vitória. Políticas da memória e políticas do esquecimento: uma análise das transformações dos antigos centros de tortura do Brasil em memorial-DOPS/RJ e DOI-Codi/SP.
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Revista estudos históricos, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989.
TEITEL, Ruti G. Transitional Justice. Nova York: Oxford University Press, 2000.
TOLENTINO, Marcos. Arquivo, testemunhos e direitos humanos: o Arquivo Oral do Memoria Abierta. História Oral, v. 22, n. 1 (2019).
URQUIDI; TEIXEIRA; LANA. Questão Indígena na América Latina: Direito Internacional, Novo Constitucionalismo e Organização dos Movimentos Indígenas. Cadernos PROLAM/USP, vol. 1, p. 199-222, 2008.
VALENTE, Rubens. Os fuzis e as flechas: história de sangue e resistência indígena na ditadura. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

08h00 - Alaor Souza Oliveira, Guilherme Di Lorenzo Pires, Paulo Renato Silva Andrade Islã e Culturas Políticas no Oriente Médio: dos movimentos proféticos do século VII E.C aos desafios da Modernidade Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

Nas últimas décadas, a relação entre Islã e política tornou-se um tema central nas pesquisas acadêmicas sobre o Oriente Médio, tanto na literatura nacional quanto estrangeira. Conceitos como Islã Político, jihadismo e salafismo têm sido amplamente utilizados — não apenas pela academia, mas também pela mídia —, muitas vezes para descrever fenômenos e, em alguns casos, para interpretar a história de toda a região. Diante da importância da História do Oriente Médio como campo de pesquisa e ensino, este minicurso propõe oferecer uma breve história das culturas políticas da região, desde o surgimento do Islã até os dilemas contemporâneos do século XXI. Guiado pela problematização das múltiplas interpretações sobre a história política do Oriente Médio, o curso se estrutura em torno de uma análise contextual das principais ideias que moldaram a relação entre Islã e política nas sociedades do Oriente Médio, destacando as diferenças e convergências nos pensamentos, vocabulários e momentos históricos.


Cronograma:

Aula 1:

  • Orientalismo e as representações do Oriente na historiografia: repensando conceitos e preconceitos

Discussão crítica sobre o Orientalismo e as representações do Oriente por parte da historiografia. Análise dos principais conceitos e temas que permeiam as discussões contemporâneas sobre a relação entre política e religião no Oriente Médio.
Bibliografia
- SAID, Edward. Introdução. In: SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p.27-60.


Aula 2:

  • Antiguidade Tardia, Profetismo, e o nascimento do Islã (2 horas/aula)
  • Esboço do surgimento do movimento profético de Muhammad e do subsequente desenvolvimento do Islã enquanto identidade político-religiosa à luz da historiografia recente; apresentação e discussão de problemas historiográficos.

Bibliografia
- ANDRADE, P.R.S. A (problemática) Problemática das Fontes. In: Recita, em nome do Teu Senhor: As raízes judaico-cristãs do movimento proto-islâmico e os profetismos na Península Arábica. (séc. VII E.C.). 227 pgs. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017. p. 18-48.
- DONNER, F. Muhammad and the Believers: At the Origins of Islam. Cambridge: Belknap Press, 2010.

Aula 3:

  • Autoridade e Comunidade Política no pensamento político Otomano (2 horas/aula)
  • Formação e a expansão dos grandes Impérios Islâmicos da Modernidade. Organização social e política do Império Otomano. Conceitos de autoridade e comunidade política no pensamento Islâmico no período moderno. O encontro com a Europa e o período Tanzimat. A “Questão Oriental” revisitada pela historiografia.

Bibliografia
- LEWIS, Bernard. The Conquerors; The City; Faith and Learning. In: Istanbul and the Civilization of the Ottoman Empire. University of Oklahoma Press, 1972, pp.10-35; pp.96-172.
- YILMAZ, Hüseyin. The discourse on rulership. In: Caliphate redefined: the mystical turn in Ottoman political thought. Princeton University Press, 2018, p.22-96.


Aula 4:

  • Reformadores, Liberais e muito além: (re)imaginando o passado islâmico ao fim da Era Otomana (2 horas/aula)
  • A dissolução do Império Otomano e o período dos Mandatos. O surgimento dos movimentos Nacionalistas. O Revivalismo Islâmico e o Pan-Islamismo. Solidariedades supranacionais: tensões entre o Pan-Arabismo e o Pan-Islamismo. A Turquia secular de Mustafa Kemal Atatürk.

Bibliografia
- ROSHWALD, Aviel. Nationalism in Middle East, 1876-1945. In: BREUILLY, John (ed.) The Oxford Handbook of the History of Nationalism. Oxford: Oxford University Press: 2013.
- GELVIN, James. Nationalism in the Arab Middle East: Resolving Some Problems. In: SADIKI, Larbi (ed.). Routledge Handbook of Middle East Politics. Routledge: 2020.
- Episode 323: Kemalism and the making of Modern Turkey. Entrevistado: Erik-Jan Zürcher. Entrevistadores: Andreas Guidi & Elif Becan. Ottoman History Podcast, 06 Jul 2017. Disponível em https://www.ottomanhistorypodcast.com/2017/07/zurcher.html. Acesso em 02 abr 2021.


Aula 5:

  • Conclusão - Os dilemas do Oriente Médio Contemporâneo (2 horas/aula)
  • Os diversos projetos nacionalistas no século XX. As lutas pela independência. Democracia e religião no Oriente Médio Contemporâneo.

Bibliografia:
- AYOOB, Mohammed. The Many Faces of Political Islam: Religion and Politics in Muslim Societies. Ann Arbor: University of Michigan Press, 2020.
Bibliografia complementar
ALI, K. The Lives of Muhammad. Cambridge: Harvard University Press, 2014.
ARMSTRONG, Karen. Em nome de Deus: o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
AYUBI, Nazih N. The theory and practice of the Islamic State. In: Political Islam: religion and politics in Arab world.Londres, Nova York : Routledge, 1991, pp.1-27.
ESPOSITO, John. Islam and politics. New York: Syracuse University Press, 1998.
GELVIN, James. Was there a Mandates period? Some concluding thoughts. In: SCHAYEGH, Cyrus; ARSAN, Andrew (ed). The Routledge Handbook of the History of the Middle East Mandates. Routledge: 2015.
HOURANI, Albert. O pensamento árabe na era liberal. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
_______. Uma história dos povos árabes. São Paulo : Companhia das Letras, 2006.
KHALIDI, T. Images of Muhammad: The Evolution of Portrayals of the Prophet in Islam Across the Centuries. New York: Crown Publishing Group, 2009.
MADELUNG, W. The Succession to Muhammad: A study of the early Caliphate. Cambridge: Cambridge university Press, 1997.
PROVENCE, Michael. Introduction. In: The Last Ottoman Generation and the Making of the Modern Middle East. Cambridge University Press, 2017.

08h00 - Caroline Rios Costa, Dirson Fontes da Silva Sobrinho, Isadora Silva Gomes Quem são os sujeitos de Direitos Humanos? Justiça de Transição, Comissão Nacional da Verdade do Brasil e a construção do sentido de vítima de Estado. Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

O século XX foi marcado por uma série de eventos de extrema violência e episódios traumáticos que causaram uma ruptura tanto na percepção do tempo quanto em como lidar com as consequências materiais e subjetivas causadas por esses acontecimentos. Ao pensar sobre a relação entre passado, presente e futuro, o desenvolvimento dos estudos sobre Justiça de Transição configura uma importante evidência deste debate. Segundo a historiadora Maria Paula Araujo, esse mecanismo pode ser definido como: “[...] um conjunto de procedimentos jurídicos e políticos que tem por objetivo auxiliar nesta transição, revelando os crimes cometidos sobretudo pelo Estado, reparando as vítimas, criando as condições para um novo pacto nacional.”.
Dentro deste escopo, as Comissões da Verdade têm sido um dos instrumentos mais representativos da justiça transicional no Cone Sul. Nesse minicurso, nos centraremos no caso brasileiro analisando, em especial, a criação da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Com o acúmulo de medidas anteriores como a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (1995) e a Comissão de Anistia (2002), a CNV foi criada através da Lei 12.528 de 18 de novembro de 2011. Na esteira do debate provocado pelo lançamento da terceira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos, a criação da Comissão significou um marco inédito de resgate da verdade histórica e inserção do direito à memória e à reparação na institucionalidade do Estado brasileiro.
Ainda que seja uma elementar política pública de memória, a Comissão como tal abarca e institucionaliza determinadas memórias enquanto outras permanecem sendo subterrâneas. Podemos observar essa seleção ao analisarmos o conceito de vítima construído pela CNV, principalmente, no caso dos mortos e desaparecidos políticos. O que esse apagamento nos diz sobre as políticas de memória do país? Nesse sentido, é fundamental nos debruçarmos sobre os marcadores sociais e de raça buscando compreender seu papel na construção da cidadania e, consequentemente, no significado de vítima do Estado.
Dessa forma, a proposta deste minicurso é fazer um estudo de caso da Comissão Nacional da Verdade, no contexto da justiça de transição, buscando compreender sua amplitude e limitações. Na primeira aula, discorreremos sobre o conceito e os parâmetros básicos da Justiça de Transição bem como a definição e características das Comissões da Verdade. Além disso, abordaremos o contexto de aprovação da CNV e a estrutura interna do órgão. Como último ponto dessa aula, analisaremos a Comissão como uma política pública de memória debatendo sobre sua representação na sociedade brasileira.
No que tange à segunda aula, focaremos na CNV comentando sobre as diretrizes dos Direitos Humanos bem como os significados das graves violações de direitos humanos (variadas formas de violência política) considerados pelo órgão. Aqui, optamos por falar da violência de gênero e sexual, dos desaparecimentos forçados e das violações cometidas pelo Estado na Guerrilha do Araguaia. Por fim, na terceira aula, discutiremos sobre o conceito de vítima construído pela CNV considerando os marcadores sociais e de raça utilizados para definir quem são os desaparecidos políticos da ditadura militar, em especial, no caso dos indígenas. Tomando a CNV enquanto política de memória direcionada às vítimas, pretendemos questionar os limites da cidadania e da consolidação democrática na história recente do país.
Carga horária:

Referências Bibliográficas
ARAUJO, Maria Paula Nascimento. “Redemocratização e justiça de transição no Brasil”. IN: Stvdia historica. Historia contemporánea. Salamanca, V. 33, p. 67-85, 2015.
AZEVEDO. Desirée de Lemos. Ausências Incorporadas – Etnografia entre Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil. São Paulo. Ed: UNIFESP. 2018. p. 148.
BAUER, Caroline Silveira. Como será o passado?: história, historiadores e a Comissão Nacional da Verdade. São Paulo: Paco, 2017.
BRASIL. COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. Relatório/ Comissão Nacional da Verdade. Volume I, II, III. Brasília: CNV, 2014.
FARIA, Hygor Mesquita. Entre permanências, reparações e avanços:a questão indígena na Comissão Nacional da Verdade (CNV). Dissertação de Mestrado defendida no Programa de Pós Graduação em História do Instituto de Ciências Humanas. Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Minas Gerais, 2021.
MBEMBE, Achille. Necropolítica: Biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. N-1 Edições. São Paulo. Agosto, 2022.
MERLINO, Tatiana; OJEDA, Igor (Orgs..). Luta, substantivo feminino: mulheres torturadas, desaparecidas e mortas na resistência à ditadura. São Paulo: Editora Caros Amigos, 2010.
PEDRETTI, Lucas. A transição inacabada: Violência de Estado e direitos humanos na redemocratização. São Paulo: Ed: Companhia das Letras, 2024.
POLLAK, Michael. “Memória, Esquecimento, Silêncio”. IN: Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 2. n. 3, 1989, p. 3-15.
TELES, Edson e QUINALHA, Renan. (Orgs.). Espectros da Ditadura: da Comissão da Verdade ao bolsonarismo. São Paulo, SP: Ed. Autonomia Literária, 2020.

09h00 - Caroline Lopes Oliveira, Iasmin do Prado Gomes, Samuel Torres Bueno Mulheres colaboradoras dos golpes e das ditaduras no Brasil e no Chile Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

As ditaduras de segurança nacional implementadas no Chile (1973-1990) e no Brasil (1964-1985) foram marcadas por sistemáticas violações de direitos humanos e por transições à democracia altamente negociadas. Assim, observamos rastros danosos desses regimes até a atualidade. No Chile, a Constituição de 1980, realizada para legitimar o governo ditatorial, e a economia neoliberal, também implementada no período de exceção, seguem vigentes, enquanto no Brasil, a lei da “anistia” de 1979 propiciou não somente o esquecimento institucional das marcas da violência, mas trouxe a impunidade aos repressores e seus apoiadores. Desde o início, ambos os regimes contaram com um amplo escopo de civis comprometidos com ideais conservadores e anticomunistas. No bojo destas discussões, este minicurso propõe examinar a colaboração de mulheres em ambos os contextos. No caso chileno, abordaremos tanto o colaboracionismo exercido por mulheres que estavam fora do sistema repressivo, vinculadas a grupos conservadores e direitistas quanto aquelas que desempenharam papéis dentro da máquina persecutória, a exemplo de detidas que passaram a colaborar com a repressão e que, portanto, estão localizadas no delicado lugar da “zona cinzenta”, entre a condição de serem vítimas e perpetradoras. Além disso, investigaremos as participações de mulheres das culturas políticas conservadoras e das direitas no que tange à construção do golpe contra Salvador Allende em 11 de setembro de 1973, ressaltando o quanto as suas mobilizações corroboraram para a valorização de um ideal de mulher fomentado pelo Estado ditatorial. No caso brasileiro, focaremos nas mulheres que, organizadas em torno de movimentos femininos, apoiaram o golpe militar de 1964, contribuíram para a manutenção do regime autoritário através da mobilização de discursos como a defesa da “família” e “bons costumes”. Desta maneira, almejamos compreender as intricadas facetas éticas, políticas e historiográficas relativas à cooptação de civis às ditaduras no Chile e no Brasil, sobretudo no que tange à participação de mulheres. Tal abordagem visa desconstruir a ideia de que as mulheres conservadoras e das direitas são unicamente submissas e vítimas do patriarcado, atribuindo maior complexidade às suas atuações e ao cenário político.


Referências Bibliográficas


BILBIJIA, Ksenija. Ni perversas ni traidoras: ficciones de colaboración femenina en las dictaduras de Argentina y Chile. Santiago, Editorial Cuarto Propio, 2022
BLANES, Jaume Peris. Figuras y figuraciones de la colaboración en Chile: espacios de ambivalencia entre víctima y perpetrador. In: FERRER, Anacleto; SÁNCHEZ-BIOSCA, Vicente (org.). El infierno de los perpetradores: Imágenes, relatos y conceptos. Barcelona: Edicions Bellaterra, 2019. p. 156-175
CORDEIRO, Janaina Martins. A nação que se salvou a si mesma: entre memória e história, a campanha da mulher pela democracia (1962-1974). Niterói: UFF, Dissertação de mestrado - História, 2008.
ISLA, Pablo. Dictadura militar y construcción identitaria: La categoría `Mujer Chilena'. Rev. Est. de Políticas Públicas, 2017, pp.171-185.
LEVI, Primo. A Zona Cinzenta. Os afogados e os sobreviventes: os delitos, os castigos, as penas e as impunidades. Trad. de Luiz Sérgio Henriques. 2ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004, p.31-59
LONGONI, Ana. Traiciones: La figura del traidor en los relatos acerca de los sobrevivientes de la represión. Buenos Aires: Grupo Editorial Norma, 2007.
POWER, Margaret. Conexões internacionais entre mulheres de direita: Brasil, Chile e Estados Unidos. Varia Historia, p. 67-83, 2014.
POWER, Margaret. La mujer de derecha: el poder femenino y la lucha contra Salvador Allende, 1964-1973. Direção de Bibliotecas, Arquivos e Museus, Santiago, Chile, 2008.
SEPÚLVEDA, Vanessa. El influjo del falangismo español en Chile: La Secretaría Nacional de la Mujer y la recepción de los modelos y políticas de la Sección Femenina de FET y de las JONS. Historia 396, Valparaíso v. 13, n. 2, Ahead of Print, pp. 00-00, jul-dic. 2023.
SIMÕES, Solange de Deus. Deus, pátria e família: as mulheres no golpe de 1964. Petrópolis: Vozes, 1985.
Fontes
ARCE, Luz. El infierno. Planeta: Santiago, 1993.
Fundo Campanha da Mulher pela Democracia: SIAN- Arquivo Nacional
LA FLACA Alejandra. Direção de Carmen Castillo e Guy Girard. 1994. (59 min.), son., color.
La Junta Militar se dirige a las mujeres chilenas, discurso proclamado por Augusto Pinochet em 1974;
Os senhores das gerais: os novos inconfidentes e o golpe militar de 1964: Livro publicado pela historiadora Heloísa Starling.
Periódicos Mineiros (1961-1965): Voz Diocesana - Campanha; Semana Religiosa - Pouso Alegre; A Semana - Divinópolis.
Revista CEMA - Chile. Memoria Chilena.
VEGA, Marcia Alejandra Merino. Mi verdad: “más allá del horror, yo acuso”. Santiago: A.T.G, 1993.

09h00 - Vinícius Novaes Ricardo Virando os anos 1990 de cabeça para baixo: os discursos e representações do Partido Pantera Negra nas obras de Tupac Shakur Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

O Partido Pantera Negra (1966-1982) foi um dos principais movimentos antirracistas nos EUA durante meados do século XX, impactando a política e a cultura estadunidense desde o seu surgimento. Durante os anos 1990, ocorreu um processo de retomada de um conjunto de fundamentos ideológicos defendidos pelos Panteras, que influenciou novos movimentos políticos - por exemplo New Black Panther Party e o Black Panther Militia - e desempenhou uma influência substancial na produção cultural negra dos EUA. Entre os adeptos dessa retomada do partido estava Tupac Shakur, que através da personagem musical 2Pac, mobilizou em suas produções artísticas (músicas e poemas) o pensamento do partido. Shakur defendeu que o movimento negro estadunidense deveria “virar os anos 1990 da cabeça para baixo”, com o objetivo de transformá-los nos anos 1960, aludindo à mobilização antirracista do período e mencionando a trajetória de importantes militantes do partido, por exemplo Huey Newton, Fred Hampton e Afeni Shakur (sua mãe).
Em vista do exposto acima, o minicurso propõe a investigação da circulação e deslocamento espaço-temporal dos discursos ensejados pelos Panteras em meados do século XX e sua reverberação na produção artística de Shakur durante os anos 1990. Para isso, faz-se necessária a compreensão do ambiente político, cultural e social da população negra dos EUA durante a segunda metade do século XX. Nessa perspectiva, serão explicitadas as permanências e transformações nos dispositivos de racismo institucional ao longo desse período, identificando os acontecimentos históricos que ensejaram no debate público uma aproximação temporal entre os anos de 1960 e 1990. Com intuito de desvelar a historicidade desse processo, foi coligido um conjunto documental para análise composto de fontes escritas, sonoras e audiovisuais dos Panteras e de Tupac Shakur, que fundamentam este trabalho do campo da História Intelectual.
Portanto, considerando o supracitado, o cerne do minicurso é a reflexão sobre as itinerâncias dos discursos e representações, bem como das formas desenvolvidas para mediação dos pensamentos que constituem a tradição radical do pensamento de libertação negra defendida pelos Panteras e retomada por Tupac Shakur.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Aula 1:

  • A nova segregação

ALEXANDER, Michelle.; DAVOGLIO, Pedro.; ALMEIDA, Silvio Luiz de. A nova segregação: racismo e encarceramento em massa. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2018, p. 10 - 28
Aula 2:

  • Tupac Shakur

Texto base: ROBINSON, Staci. Tupac Shakur: A biografia autorizada. 1 ed. Rio de Janeiro: BestSeller, 2023, p. 137-184


Aula 3:

  • O Partido Pantera Negra

Texto base: BLOOM, Joshua; MARTIN JR, Waldo E.; MARTIN, Waldo E. Black against empire: The history and politics of the Black Panther Party. Univ of California Press, 2013, p. 17-45.


Aula 4:

  • Os anos 1990 de cabeça para baixo

Texto base: RICARDO, Vinícius Novaes. Virando os anos 1990 de cabeça para baixo. In: Tupac Amaru Shakur e os Panteras Negras: a esfera pública da experiência musical e os tempos históricos no rap (1991-1996). 2021, p. 95-132.

08h00 - Luiz Felipe Anchieta Guerra O Terror como fonte: leitura e comentário dos manifestos de Tarrant e Suzano, e suas possibilidades na pesquisa Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

Advertimos que parte do conteúdo deste minicurso contém tópicos sensíveis: violência.

Em julho de 2011, Anders Breivik matou 77 pessoas durante uma colônia de férias do Partido Trabalhista da Noruega, ele disse que o objetivo do ataque era salvar a Europa Ocidental de uma tomada de poder muçulmana. Três meses antes, Wellington de Oliveira matou 12 alunos do ensino fundamental em Realengo, no Rio de Janeiro. Em comum, ambos os terroristas deixaram escritos para serem lidos.
Na forma de manifestos ou testamentos, essas produções autografas são, frequentemente, alvo de atenção jornalística e sensacionalismo midiático, com manchetes como: “Polícia acha escritos do Satanismo em caderno de assassino de Suzano”. Já o interesse acadêmico por essas fontes, embora presente, é, definitivamente, mais restrito. A dificuldade acessar alguns desses escritos na íntegra, somada ao peso e estigma que os cercam, contribuem para essa situação.
Apesar disso, é inegável que tais textos podem ser ricas fontes para pesquisa, e que possuem alto valor para se compreender alguns aspectos dos movimentos que classificamos hoje como parte das Novas Direitas. Através deles é possível acessar perspectivas únicas das ideias e ideologias que fundamentam o neonazismo, a cultura incel, e a intolerância, e que resultam em atos de terror, extermínio e feminicídio.
Este minicurso visa introduzir brevemente os participantes ao campo dos “estudos estratégicos”, e apresentar os manifestos e escritos de terroristas como fontes. Em seguida faremos a leitura de dois desses textos: o testamento de Realengo e “The Great Replacement” o manifesto de Brenton Tarrant, interseccionalisada por excertos dos diários de Suzano e do manifesto de Breivik. O objetivo aqui é mostrar como esses textos podem ser utilizados academicamente de forma efetiva e ética, discutindo os principais aspectos teóricos e metodológicos, além das suas perspectivas de estudos. Para isso, as atividades serão divididas em dois dias (4 horas em cada), sendo o primeiro utilizado para uma discussão mais teórica e introdutória, porém permeada por exemplos práticos.
Nesse dia, tentaremos definir o que é “terrorismo” e quais as distinções entre suas diferentes formas, em especial o estocástico e o organizado. Abordaremos também alguns conceitos complementares, vindos de outros campos das humanidades, como por exemplo os de “direitas grupusculares” e o de “neoconservadorismo”. Em seguida, e continuando no segundo dia, faremos a leitura na íntegra dos textos selecionados, contrastando-os com fragmentos de outros manifestos, a fim de apontar como existe não só um diálogo entre eles, mas quase uma “cultura intelectual” própria.

Programação:


Dia I:
1) Introdução: O Terrorismo hoje.
2) Feminicídio, Escolas e Incels.
3) Estocástico vs. Organizado: existem lobos solitários?
4) A influência de Breivik:
4.1 2083 A European Declaration of Independence:
4.2 Neo-conservatismo, neo-nazismo e neo-medievalismo?
5) Um autor defunto ou um defunto autor?
5.1 Escritos para a posteridade
5.2 O martírio como parte da obra
5.3 Obras privadas e fontes acidentais
6) Minha fonte é um crime? Os limites da legalidade
7) Lendo o Terror:
a Tarrant
b Realengo
c Excertos de Breivik


Dia II:
8) Lendo o Terror.
a Tarrant
b Realengo
c Os diários de Suzano
9) Conclusões e debate

08h00 - Gabriel Filipe Matos dos Santos, Roberta Guimarães Franco O cinema português pós-25 de abril: a revisitação do passado como ato de restituição Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

A proposta tem como foco analisar as realizações do cinema português no contexto posterior ao 25 de abril de 1974, quando ocorreu a Revolução dos Cravos, que pós fim aos 48 anos de um regime totalitário de caráter fascista em Portugal. As reflexões em torno das produções cinematográficas partem de uma perspectiva comparativa, levando em consideração a comemoração em 2024 dos cinquenta anos do processo de redemocratização, consequentemente pautadas no conceito de “longa duração” de Fernand Braudel. Nesse sentido, meio século após a Revolução é possível identificar um percurso de formas de usos do passado no cinema, produções documentais e ficcionais que constroem um caráter testemunhal, de âmbito individual e coletivo, acerca do que foram os anos de silenciamento, repressão e manutenção de um imaginário colonialista/imperialista, base para uma ideia de identidade portuguesa a ser defendida pelo Estado Novo. A criação do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), em 1933, alicerça um dos mecanismos de propagação desse imaginário, a exemplo de outros regimes totalitários, por meio do cinema. Por exemplo, em 1935, António Ferro, diretor do SPN, inaugura o Cinema Ambulante, para transmitir as mensagens do regime por todo o país. A Sociedade Portuguesa de Actualidades Cinematográficas (SPAC) produziu entre 1938 e 1951 “O Jornal Português”, um cinejornal exibido nas salas dos cinemas antes dos longa-metragem, igualmente para divulgar as ideias do Estado Novo. Enfim, estratégias que foram eficazes para criar realidades próprias do que seria a vida portuguesa, pelo prisma do imaginário criado/defendido pelo salazarismo, a exemplo do que o historiador Fernando Rosas (2001) chamou de “sistema de valores”, responsável por sustentar “os mitos ideológicos fundadores do Estado Novo”. Diante desse cenário, vivenciado em Portugal por 48 anos, aquilo que se observa após a Revolução dos Cravos de 1974 é a exploração de um ambiente de liberdade de ideias para abordar uma série de assuntos silenciados e/ou deturpados anteriormente. Se a literatura, especialmente a prosa portuguesa, já recebe o “Pós-25 de abril” como um marco temporal, o cinema também tem um lugar nesse trabalho de enfrentamento do passado. Em um primeiro momento, temos por exemplo a obra de Rui Simões – Deus, Pátria, Autoridade (1976) e Bom Povo Português (1980) – que regressa a Portugal logo após a Revolução, depois de viver em Paris e Bruxelas, tentando fugir do serviço militar que significava a ida para a guerra na África. Mais recentemente, podemos citar a obra de João Canijo – Fantasia Lusitana (2010) – e de Susana de Sousa Dias – 48 (2010) e Luz obscura (2016) –, ambos nascidos nos anos das últimas décadas do Estado Novo, portanto pertencente a uma geração que vivenciou o fim do regime na adolescência; ou ainda Marta Pessoa – Quem vai à guerra (2011) – nascida no ano da Revolução, pertencente ao que poderíamos chamar de segunda geração, vinculada ao conceito de Pós-memória (HIRSCH, 2016). Estes são alguns exemplos de um breve percurso do cinema documental realizado no Pós-25 de abril português. No curso, o objetivo é concentrarmos as reflexões nas produções do século XXI, compreendendo a existência de um afastamento temporal significativo para a exploração de novos temas e técnicas para abordar o passado e seus ecos no presente na sociedade portuguesa, utilizando o conceito de “ato de restituição” do filósofo Didi-Huberman. Esta proposta é parte das atividades desenvolvidas no projeto homônimo financiado pela reitoria da UFMG e das reflexões realizadas no projeto CNPq “A longa duração do Pós-25 de abril: testemunho, pós-memória e pós-migração".
Programação:

Aula 1:

  • Introdução – O Estado Novo português e seus sistemas de valores
  • A Revolução dos Cravos, o cinema pós-74 e o seu lugar testemunhal
  • “Capitães de abril” (2000) – Maria de Medeiros
  • “Fantasia Lusitana” (2010) – João Canijo

Aula 2:

  • “48” (2010) – Susana Sousa Dias
  • “Quem vai à guerra” (2011) – Marta Pessoa
  • O cinema como “ato de restituição”
  • Por uma história pública urgente


Referências bibliográficas:
BRAUDEL, Fernand. História e Ciências Sociais. A longa duração. Tradução: Ana Maria de Almeida Camargo. Revista de História. Vol. XXX, no. 62, p. 261-294, 1965.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Restituir (a quem de direito). In: Remontagens do tempo sofrido (O olho da história, II). Tradução: Márcia Arbex e Vera Casa Nova. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2018.
HIRSCH, Marianne. "A geração da pós-memória". In: ALVES, Fernanda Mota Alves; SOARES, Luísa Afonso; RODRIGUES, Cristiana Vasconcelos. Estudos da memória: teoria e análise cultural. Famalicão: Edições Húmus, 2016, p. 299- 325.
ROSAS, Fernando. O salazarismo e o homem novo: ensaio sobre o Estado Novo e a questão do totalitarismo. Revista Análise Social, v.35, n.157, 2001, 1031-1054.
VIEIRA, Patrícia. Cinema no Estado Novo: a encenação do regime. Lisboa: Edições Colibri, 2011.

08h00 - Hygor Mesquita Faria, Vitória Ivo Memória, Ditaduras e Transição no Cone sul: as complexidades e os desafios contemporâneos da luta por reparação Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

Diante dos 60 anos do golpe que instaurou a ditadura no Brasil, é crucial refletir sobre os desafios atuais na busca por memória, verdade e justiça. Analisando a realidade brasileira sob uma perspectiva transnacional, especialmente em diálogo com os países do cone-sul, surgem urgências relacionadas à justiça e reparação, exacerbadas pelo desmonte das políticas de memória durante períodos de instabilidade democrática na região. Cada contexto nacional, com suas especificidades, oferece uma oportunidade para examinar como as políticas de memória ou esquecimento podem responder às crises políticas e aos complexos laços transnacionais que envolvem a ditadura e a luta pela memória, verdade e justiça hoje. Dessa forma, o minicurso propõe um percurso teórico que se articula com a análise de trajetórias práticas relacionadas à pauta da memória, verdade e justiça, com recortes que sistematizam e abordam questões como a dos indígenas e a da luta das mulheres durante a ditadura militar diante deste cenário. O objetivo, a partir dessas demandas entrelaçadas pela questão reparatória, é estimular reflexões críticas sobre as diferentes formas de se pensar a reparação nesse contexto. Para aprofundar esses debates, buscamos o diálogo com as análises já consagradas da historiografia sobre o tema e visamos contribuir com a percepção de que a análise dos casos latino-americanos deve considerar a complexidade e as especificidades dos desdobramentos das violências ditatoriais. Esses elementos se tornam bastante evidentes quando nos deparamos com percepções dos direitos coletivos e da elaboração de distintos significados e temporalidades sobre a existência da ditadura militar. Na primeira parte do minicurso, abordaremos o contexto das transições das ditaduras no Cone Sul e a consolidação da justiça de transição. Focaremos em dois eixos principais: primeiro, exploraremos o surgimento do campo teórico sobre transição e a construção das comissões da verdade; segundo, analisaremos a luta dos povos indígenas e das mulheres durante esse processo. A segunda parte do encontro focará na consolidação das comissões da verdade, incluindo a apuração e divulgação dos relatórios finais, bem como as ações do Estado sobre memória, verdade e justiça. Serão apresentados os resultados das dissertações dos proponentes: uma análise das transformações dos antigos centros de tortura no Brasil (DOPS/RJ e DOI-Codi/SP) por Larissa Vitória Ivo (2023), e o estudo da questão indígena na Comissão Nacional da Verdade (CNV) por Hygor Mesquita Faria (2022). Em seguida, haverá um debate transnacional sobre as comissões da verdade no Brasil e na Argentina. Na terceira parte, dialogaremos com as análises da primeira e da segunda partes para examinar a relação entre o entendimento da transição, a construção dos mecanismos de justiça e as especificidades da realidade latino-americana. Buscaremos identificar os passos necessários para desenvolver políticas de reparação que considerem as perspectivas dos violados e seus entendimentos sobre existência, mundo e território.

Cronograma


1º Encontro:

  • Introdução às Transições políticas e a Luta por Memória
  • Introdução ao contexto das transições na América Latina.
  • Consolidação dos mecanismos da Justiça de Transição no Cone Sul: as Comissões da Verdade na Argentina e no Brasil.
  • A presença indígena na Constituinte do Brasil e sua participação na luta por direitos.
  • Las Madres y Abuelas de la Plaza de Mayo – a luta das mães e avós argentinas por memória, verdade e justiça.

2º Encontro:

  • Desafios da memória: Comissões da Verdade, Memoriais e Resistência Indígena no Cone Sul
  • Consolidação das Comissões da Verdade: análise dos processos de apuração e divulgação dos relatórios finais no Brasil e na Argentina.
  • Políticas da Memória e Políticas do Esquecimento: as disputas e projetos políticos para os antigos centros de tortura no Brasil.
  • Cosmopolíticas de memórias: Povos indígenas e a Ditadura Militar

3º Encontro:

  • Reparação e Complexidades contemporâneas em evidência
  • Lei da Anistia: implicações, esquecimentos e silêncios sobre a memória da ditadura no Brasil.
  • Memórias negadas e memórias desmontadas: os mandatos de Jair Bolsonaro e Javier Milei e o reforço dos projetos de esquecimento das ditaduras no Cone-sul.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUER, Caroline Silveira. A produção dos relatórios Nunca Mais na Argentina e no Brasil: aspectos das transições políticas e da constituição da memória sobre a repressão. Revista de História Comparada, v. 2, n. 1, p. 4, 2008.
BEVERNAGE, Berber. History, memory, and state-sponsored violence: Time and justice. Routledge, 2012.
CLAVERO, Bartolomé. Justicia transicional, comisiones de verdad y pueblos indígenas en América Latina, 2011. Disponível em: https://www.ictj.org/sites/default/files/NY-.
FARIA, Hygor Mesquita. Entre permanências, reparações e avanços: a questão indígena na Comissão Nacional da Verdade (CNV). 2022.
HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos, mídia. 2000.
IVO, Larissa Vitória. Políticas da memória e políticas do esquecimento: uma análise das transformações dos antigos centros de tortura do Brasil em memorial-DOPS/RJ e DOI-Codi/SP.
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Revista estudos históricos, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989.
TEITEL, Ruti G. Transitional Justice. Nova York: Oxford University Press, 2000.
TOLENTINO, Marcos. Arquivo, testemunhos e direitos humanos: o Arquivo Oral do Memoria Abierta. História Oral, v. 22, n. 1 (2019).
URQUIDI; TEIXEIRA; LANA. Questão Indígena na América Latina: Direito Internacional, Novo Constitucionalismo e Organização dos Movimentos Indígenas. Cadernos PROLAM/USP, vol. 1, p. 199-222, 2008.
VALENTE, Rubens. Os fuzis e as flechas: história de sangue e resistência indígena na ditadura. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

08h00 - Alaor Souza Oliveira, Guilherme Di Lorenzo Pires, Paulo Renato Silva Andrade Islã e Culturas Políticas no Oriente Médio: dos movimentos proféticos do século VII E.C aos desafios da Modernidade Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

Nas últimas décadas, a relação entre Islã e política tornou-se um tema central nas pesquisas acadêmicas sobre o Oriente Médio, tanto na literatura nacional quanto estrangeira. Conceitos como Islã Político, jihadismo e salafismo têm sido amplamente utilizados — não apenas pela academia, mas também pela mídia —, muitas vezes para descrever fenômenos e, em alguns casos, para interpretar a história de toda a região. Diante da importância da História do Oriente Médio como campo de pesquisa e ensino, este minicurso propõe oferecer uma breve história das culturas políticas da região, desde o surgimento do Islã até os dilemas contemporâneos do século XXI. Guiado pela problematização das múltiplas interpretações sobre a história política do Oriente Médio, o curso se estrutura em torno de uma análise contextual das principais ideias que moldaram a relação entre Islã e política nas sociedades do Oriente Médio, destacando as diferenças e convergências nos pensamentos, vocabulários e momentos históricos.


Cronograma:

Aula 1:

  • Orientalismo e as representações do Oriente na historiografia: repensando conceitos e preconceitos

Discussão crítica sobre o Orientalismo e as representações do Oriente por parte da historiografia. Análise dos principais conceitos e temas que permeiam as discussões contemporâneas sobre a relação entre política e religião no Oriente Médio.
Bibliografia
- SAID, Edward. Introdução. In: SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p.27-60.


Aula 2:

  • Antiguidade Tardia, Profetismo, e o nascimento do Islã (2 horas/aula)
  • Esboço do surgimento do movimento profético de Muhammad e do subsequente desenvolvimento do Islã enquanto identidade político-religiosa à luz da historiografia recente; apresentação e discussão de problemas historiográficos.

Bibliografia
- ANDRADE, P.R.S. A (problemática) Problemática das Fontes. In: Recita, em nome do Teu Senhor: As raízes judaico-cristãs do movimento proto-islâmico e os profetismos na Península Arábica. (séc. VII E.C.). 227 pgs. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017. p. 18-48.
- DONNER, F. Muhammad and the Believers: At the Origins of Islam. Cambridge: Belknap Press, 2010.

Aula 3:

  • Autoridade e Comunidade Política no pensamento político Otomano (2 horas/aula)
  • Formação e a expansão dos grandes Impérios Islâmicos da Modernidade. Organização social e política do Império Otomano. Conceitos de autoridade e comunidade política no pensamento Islâmico no período moderno. O encontro com a Europa e o período Tanzimat. A “Questão Oriental” revisitada pela historiografia.

Bibliografia
- LEWIS, Bernard. The Conquerors; The City; Faith and Learning. In: Istanbul and the Civilization of the Ottoman Empire. University of Oklahoma Press, 1972, pp.10-35; pp.96-172.
- YILMAZ, Hüseyin. The discourse on rulership. In: Caliphate redefined: the mystical turn in Ottoman political thought. Princeton University Press, 2018, p.22-96.


Aula 4:

  • Reformadores, Liberais e muito além: (re)imaginando o passado islâmico ao fim da Era Otomana (2 horas/aula)
  • A dissolução do Império Otomano e o período dos Mandatos. O surgimento dos movimentos Nacionalistas. O Revivalismo Islâmico e o Pan-Islamismo. Solidariedades supranacionais: tensões entre o Pan-Arabismo e o Pan-Islamismo. A Turquia secular de Mustafa Kemal Atatürk.

Bibliografia
- ROSHWALD, Aviel. Nationalism in Middle East, 1876-1945. In: BREUILLY, John (ed.) The Oxford Handbook of the History of Nationalism. Oxford: Oxford University Press: 2013.
- GELVIN, James. Nationalism in the Arab Middle East: Resolving Some Problems. In: SADIKI, Larbi (ed.). Routledge Handbook of Middle East Politics. Routledge: 2020.
- Episode 323: Kemalism and the making of Modern Turkey. Entrevistado: Erik-Jan Zürcher. Entrevistadores: Andreas Guidi & Elif Becan. Ottoman History Podcast, 06 Jul 2017. Disponível em https://www.ottomanhistorypodcast.com/2017/07/zurcher.html. Acesso em 02 abr 2021.


Aula 5:

  • Conclusão - Os dilemas do Oriente Médio Contemporâneo (2 horas/aula)
  • Os diversos projetos nacionalistas no século XX. As lutas pela independência. Democracia e religião no Oriente Médio Contemporâneo.

Bibliografia:
- AYOOB, Mohammed. The Many Faces of Political Islam: Religion and Politics in Muslim Societies. Ann Arbor: University of Michigan Press, 2020.
Bibliografia complementar
ALI, K. The Lives of Muhammad. Cambridge: Harvard University Press, 2014.
ARMSTRONG, Karen. Em nome de Deus: o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
AYUBI, Nazih N. The theory and practice of the Islamic State. In: Political Islam: religion and politics in Arab world.Londres, Nova York : Routledge, 1991, pp.1-27.
ESPOSITO, John. Islam and politics. New York: Syracuse University Press, 1998.
GELVIN, James. Was there a Mandates period? Some concluding thoughts. In: SCHAYEGH, Cyrus; ARSAN, Andrew (ed). The Routledge Handbook of the History of the Middle East Mandates. Routledge: 2015.
HOURANI, Albert. O pensamento árabe na era liberal. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
_______. Uma história dos povos árabes. São Paulo : Companhia das Letras, 2006.
KHALIDI, T. Images of Muhammad: The Evolution of Portrayals of the Prophet in Islam Across the Centuries. New York: Crown Publishing Group, 2009.
MADELUNG, W. The Succession to Muhammad: A study of the early Caliphate. Cambridge: Cambridge university Press, 1997.
PROVENCE, Michael. Introduction. In: The Last Ottoman Generation and the Making of the Modern Middle East. Cambridge University Press, 2017.

08h00 - Caroline Rios Costa, Dirson Fontes da Silva Sobrinho, Isadora Silva Gomes Quem são os sujeitos de Direitos Humanos? Justiça de Transição, Comissão Nacional da Verdade do Brasil e a construção do sentido de vítima de Estado. Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

O século XX foi marcado por uma série de eventos de extrema violência e episódios traumáticos que causaram uma ruptura tanto na percepção do tempo quanto em como lidar com as consequências materiais e subjetivas causadas por esses acontecimentos. Ao pensar sobre a relação entre passado, presente e futuro, o desenvolvimento dos estudos sobre Justiça de Transição configura uma importante evidência deste debate. Segundo a historiadora Maria Paula Araujo, esse mecanismo pode ser definido como: “[...] um conjunto de procedimentos jurídicos e políticos que tem por objetivo auxiliar nesta transição, revelando os crimes cometidos sobretudo pelo Estado, reparando as vítimas, criando as condições para um novo pacto nacional.”.
Dentro deste escopo, as Comissões da Verdade têm sido um dos instrumentos mais representativos da justiça transicional no Cone Sul. Nesse minicurso, nos centraremos no caso brasileiro analisando, em especial, a criação da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Com o acúmulo de medidas anteriores como a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (1995) e a Comissão de Anistia (2002), a CNV foi criada através da Lei 12.528 de 18 de novembro de 2011. Na esteira do debate provocado pelo lançamento da terceira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos, a criação da Comissão significou um marco inédito de resgate da verdade histórica e inserção do direito à memória e à reparação na institucionalidade do Estado brasileiro.
Ainda que seja uma elementar política pública de memória, a Comissão como tal abarca e institucionaliza determinadas memórias enquanto outras permanecem sendo subterrâneas. Podemos observar essa seleção ao analisarmos o conceito de vítima construído pela CNV, principalmente, no caso dos mortos e desaparecidos políticos. O que esse apagamento nos diz sobre as políticas de memória do país? Nesse sentido, é fundamental nos debruçarmos sobre os marcadores sociais e de raça buscando compreender seu papel na construção da cidadania e, consequentemente, no significado de vítima do Estado.
Dessa forma, a proposta deste minicurso é fazer um estudo de caso da Comissão Nacional da Verdade, no contexto da justiça de transição, buscando compreender sua amplitude e limitações. Na primeira aula, discorreremos sobre o conceito e os parâmetros básicos da Justiça de Transição bem como a definição e características das Comissões da Verdade. Além disso, abordaremos o contexto de aprovação da CNV e a estrutura interna do órgão. Como último ponto dessa aula, analisaremos a Comissão como uma política pública de memória debatendo sobre sua representação na sociedade brasileira.
No que tange à segunda aula, focaremos na CNV comentando sobre as diretrizes dos Direitos Humanos bem como os significados das graves violações de direitos humanos (variadas formas de violência política) considerados pelo órgão. Aqui, optamos por falar da violência de gênero e sexual, dos desaparecimentos forçados e das violações cometidas pelo Estado na Guerrilha do Araguaia. Por fim, na terceira aula, discutiremos sobre o conceito de vítima construído pela CNV considerando os marcadores sociais e de raça utilizados para definir quem são os desaparecidos políticos da ditadura militar, em especial, no caso dos indígenas. Tomando a CNV enquanto política de memória direcionada às vítimas, pretendemos questionar os limites da cidadania e da consolidação democrática na história recente do país.
Carga horária:

Referências Bibliográficas
ARAUJO, Maria Paula Nascimento. “Redemocratização e justiça de transição no Brasil”. IN: Stvdia historica. Historia contemporánea. Salamanca, V. 33, p. 67-85, 2015.
AZEVEDO. Desirée de Lemos. Ausências Incorporadas – Etnografia entre Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil. São Paulo. Ed: UNIFESP. 2018. p. 148.
BAUER, Caroline Silveira. Como será o passado?: história, historiadores e a Comissão Nacional da Verdade. São Paulo: Paco, 2017.
BRASIL. COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. Relatório/ Comissão Nacional da Verdade. Volume I, II, III. Brasília: CNV, 2014.
FARIA, Hygor Mesquita. Entre permanências, reparações e avanços:a questão indígena na Comissão Nacional da Verdade (CNV). Dissertação de Mestrado defendida no Programa de Pós Graduação em História do Instituto de Ciências Humanas. Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Minas Gerais, 2021.
MBEMBE, Achille. Necropolítica: Biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. N-1 Edições. São Paulo. Agosto, 2022.
MERLINO, Tatiana; OJEDA, Igor (Orgs..). Luta, substantivo feminino: mulheres torturadas, desaparecidas e mortas na resistência à ditadura. São Paulo: Editora Caros Amigos, 2010.
PEDRETTI, Lucas. A transição inacabada: Violência de Estado e direitos humanos na redemocratização. São Paulo: Ed: Companhia das Letras, 2024.
POLLAK, Michael. “Memória, Esquecimento, Silêncio”. IN: Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 2. n. 3, 1989, p. 3-15.
TELES, Edson e QUINALHA, Renan. (Orgs.). Espectros da Ditadura: da Comissão da Verdade ao bolsonarismo. São Paulo, SP: Ed. Autonomia Literária, 2020.

09h00 - Caroline Lopes Oliveira, Iasmin do Prado Gomes, Samuel Torres Bueno Mulheres colaboradoras dos golpes e das ditaduras no Brasil e no Chile Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

As ditaduras de segurança nacional implementadas no Chile (1973-1990) e no Brasil (1964-1985) foram marcadas por sistemáticas violações de direitos humanos e por transições à democracia altamente negociadas. Assim, observamos rastros danosos desses regimes até a atualidade. No Chile, a Constituição de 1980, realizada para legitimar o governo ditatorial, e a economia neoliberal, também implementada no período de exceção, seguem vigentes, enquanto no Brasil, a lei da “anistia” de 1979 propiciou não somente o esquecimento institucional das marcas da violência, mas trouxe a impunidade aos repressores e seus apoiadores. Desde o início, ambos os regimes contaram com um amplo escopo de civis comprometidos com ideais conservadores e anticomunistas. No bojo destas discussões, este minicurso propõe examinar a colaboração de mulheres em ambos os contextos. No caso chileno, abordaremos tanto o colaboracionismo exercido por mulheres que estavam fora do sistema repressivo, vinculadas a grupos conservadores e direitistas quanto aquelas que desempenharam papéis dentro da máquina persecutória, a exemplo de detidas que passaram a colaborar com a repressão e que, portanto, estão localizadas no delicado lugar da “zona cinzenta”, entre a condição de serem vítimas e perpetradoras. Além disso, investigaremos as participações de mulheres das culturas políticas conservadoras e das direitas no que tange à construção do golpe contra Salvador Allende em 11 de setembro de 1973, ressaltando o quanto as suas mobilizações corroboraram para a valorização de um ideal de mulher fomentado pelo Estado ditatorial. No caso brasileiro, focaremos nas mulheres que, organizadas em torno de movimentos femininos, apoiaram o golpe militar de 1964, contribuíram para a manutenção do regime autoritário através da mobilização de discursos como a defesa da “família” e “bons costumes”. Desta maneira, almejamos compreender as intricadas facetas éticas, políticas e historiográficas relativas à cooptação de civis às ditaduras no Chile e no Brasil, sobretudo no que tange à participação de mulheres. Tal abordagem visa desconstruir a ideia de que as mulheres conservadoras e das direitas são unicamente submissas e vítimas do patriarcado, atribuindo maior complexidade às suas atuações e ao cenário político.


Referências Bibliográficas


BILBIJIA, Ksenija. Ni perversas ni traidoras: ficciones de colaboración femenina en las dictaduras de Argentina y Chile. Santiago, Editorial Cuarto Propio, 2022
BLANES, Jaume Peris. Figuras y figuraciones de la colaboración en Chile: espacios de ambivalencia entre víctima y perpetrador. In: FERRER, Anacleto; SÁNCHEZ-BIOSCA, Vicente (org.). El infierno de los perpetradores: Imágenes, relatos y conceptos. Barcelona: Edicions Bellaterra, 2019. p. 156-175
CORDEIRO, Janaina Martins. A nação que se salvou a si mesma: entre memória e história, a campanha da mulher pela democracia (1962-1974). Niterói: UFF, Dissertação de mestrado - História, 2008.
ISLA, Pablo. Dictadura militar y construcción identitaria: La categoría `Mujer Chilena'. Rev. Est. de Políticas Públicas, 2017, pp.171-185.
LEVI, Primo. A Zona Cinzenta. Os afogados e os sobreviventes: os delitos, os castigos, as penas e as impunidades. Trad. de Luiz Sérgio Henriques. 2ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004, p.31-59
LONGONI, Ana. Traiciones: La figura del traidor en los relatos acerca de los sobrevivientes de la represión. Buenos Aires: Grupo Editorial Norma, 2007.
POWER, Margaret. Conexões internacionais entre mulheres de direita: Brasil, Chile e Estados Unidos. Varia Historia, p. 67-83, 2014.
POWER, Margaret. La mujer de derecha: el poder femenino y la lucha contra Salvador Allende, 1964-1973. Direção de Bibliotecas, Arquivos e Museus, Santiago, Chile, 2008.
SEPÚLVEDA, Vanessa. El influjo del falangismo español en Chile: La Secretaría Nacional de la Mujer y la recepción de los modelos y políticas de la Sección Femenina de FET y de las JONS. Historia 396, Valparaíso v. 13, n. 2, Ahead of Print, pp. 00-00, jul-dic. 2023.
SIMÕES, Solange de Deus. Deus, pátria e família: as mulheres no golpe de 1964. Petrópolis: Vozes, 1985.
Fontes
ARCE, Luz. El infierno. Planeta: Santiago, 1993.
Fundo Campanha da Mulher pela Democracia: SIAN- Arquivo Nacional
LA FLACA Alejandra. Direção de Carmen Castillo e Guy Girard. 1994. (59 min.), son., color.
La Junta Militar se dirige a las mujeres chilenas, discurso proclamado por Augusto Pinochet em 1974;
Os senhores das gerais: os novos inconfidentes e o golpe militar de 1964: Livro publicado pela historiadora Heloísa Starling.
Periódicos Mineiros (1961-1965): Voz Diocesana - Campanha; Semana Religiosa - Pouso Alegre; A Semana - Divinópolis.
Revista CEMA - Chile. Memoria Chilena.
VEGA, Marcia Alejandra Merino. Mi verdad: “más allá del horror, yo acuso”. Santiago: A.T.G, 1993.

09h00 - Vinícius Novaes Ricardo Virando os anos 1990 de cabeça para baixo: os discursos e representações do Partido Pantera Negra nas obras de Tupac Shakur Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

O Partido Pantera Negra (1966-1982) foi um dos principais movimentos antirracistas nos EUA durante meados do século XX, impactando a política e a cultura estadunidense desde o seu surgimento. Durante os anos 1990, ocorreu um processo de retomada de um conjunto de fundamentos ideológicos defendidos pelos Panteras, que influenciou novos movimentos políticos - por exemplo New Black Panther Party e o Black Panther Militia - e desempenhou uma influência substancial na produção cultural negra dos EUA. Entre os adeptos dessa retomada do partido estava Tupac Shakur, que através da personagem musical 2Pac, mobilizou em suas produções artísticas (músicas e poemas) o pensamento do partido. Shakur defendeu que o movimento negro estadunidense deveria “virar os anos 1990 da cabeça para baixo”, com o objetivo de transformá-los nos anos 1960, aludindo à mobilização antirracista do período e mencionando a trajetória de importantes militantes do partido, por exemplo Huey Newton, Fred Hampton e Afeni Shakur (sua mãe).
Em vista do exposto acima, o minicurso propõe a investigação da circulação e deslocamento espaço-temporal dos discursos ensejados pelos Panteras em meados do século XX e sua reverberação na produção artística de Shakur durante os anos 1990. Para isso, faz-se necessária a compreensão do ambiente político, cultural e social da população negra dos EUA durante a segunda metade do século XX. Nessa perspectiva, serão explicitadas as permanências e transformações nos dispositivos de racismo institucional ao longo desse período, identificando os acontecimentos históricos que ensejaram no debate público uma aproximação temporal entre os anos de 1960 e 1990. Com intuito de desvelar a historicidade desse processo, foi coligido um conjunto documental para análise composto de fontes escritas, sonoras e audiovisuais dos Panteras e de Tupac Shakur, que fundamentam este trabalho do campo da História Intelectual.
Portanto, considerando o supracitado, o cerne do minicurso é a reflexão sobre as itinerâncias dos discursos e representações, bem como das formas desenvolvidas para mediação dos pensamentos que constituem a tradição radical do pensamento de libertação negra defendida pelos Panteras e retomada por Tupac Shakur.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Aula 1:

  • A nova segregação

ALEXANDER, Michelle.; DAVOGLIO, Pedro.; ALMEIDA, Silvio Luiz de. A nova segregação: racismo e encarceramento em massa. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2018, p. 10 - 28
Aula 2:

  • Tupac Shakur

Texto base: ROBINSON, Staci. Tupac Shakur: A biografia autorizada. 1 ed. Rio de Janeiro: BestSeller, 2023, p. 137-184


Aula 3:

  • O Partido Pantera Negra

Texto base: BLOOM, Joshua; MARTIN JR, Waldo E.; MARTIN, Waldo E. Black against empire: The history and politics of the Black Panther Party. Univ of California Press, 2013, p. 17-45.


Aula 4:

  • Os anos 1990 de cabeça para baixo

Texto base: RICARDO, Vinícius Novaes. Virando os anos 1990 de cabeça para baixo. In: Tupac Amaru Shakur e os Panteras Negras: a esfera pública da experiência musical e os tempos históricos no rap (1991-1996). 2021, p. 95-132.

09h00 - Bernardo Morais Marques, Júlia Soledade Caldas Saud Rodriguez História das esquerdas em perspectiva comparada: os desafios da Revolução no Brasil e em Burkina Faso na década de 1980 Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

As recentes instabilidades políticas em Burkina Faso e outros países do Sahel têm atraído olhares de todo o mundo para a região. Na década de 1980, o pequeno país esteve em evidência em virtude da revolução protagonizada por Thomas Sankara, célebre revolucionário, militar e intelectual burquinense que foi presidente de 1983 a 1987, data de seu assassinato. Sankara é uma das lideranças africanas que tem sido cada vez mais lembrada e reivindicada pelas esquerdas, dentro e fora do continente africano – conhecido por suas contundentes posturas contra o neocolonialismo e por medidas tidas como avançadas em relação às mulheres, ao meio ambiente, à saúde e à educação em seu país.
O Atlântico, que para nós é apenas um rio, divide o Brasil da África por uma faixa de extensão menor que a do próprio país, quando medido de ponta a ponta. É assim mesmo que as experiências em decurso no continente encontram seus ecos nas terras brasileiras. No Brasil a década de 80 chega com o fim da hegemonia pecebista no campo das esquerdas e com a intensificação das lutas pela abertura democrática. A crise das direções do Partido Comunista veio acompanhada do vento de mudança na URSS e nos países do bloco socialista. A ascensão do Partido dos Trabalhadores, pensado para representar os operários fora do esquema do marxismo-leninismo, simboliza a transformação dos símbolos e pautas associadas ao campo das esquerdas no período – o que, por sua vez, traduziu-se em boa parte dos dilemas que vivemos nas décadas seguintes e até hoje, quando o PT está encarregado da difícil tarefa de reorganizar um esgarçado pacto republicano, firmado àquele momento.

Aula 1

  • Introdução: perspectiva analítica da história comparada;
  • Contextualização: desafios das esquerdas na década de 1980 em nível global, regional (América Latina e África) e local (Burkina Faso e Brasil): crise do bloco soviético, ascensão de governos neoliberais; ditadura no Brasil, golpes em sequência em Burkina Faso, seca no Sahel;
  • Estratégias e programas das forças políticas analisadas.


Aula 2

  • Estratégias e programas políticos das forças políticas analisadas;
  • Balanço crítico sobre as duas experiências: reflexão sobre suas reverberações na atualidade em questões como as lutas de minorias, a questão climática e o neocolonialismo no “fim da história".

Referências Bibliográficas
BARBOSA, M. S. Pan-africanismo e marxismo: aproximações e diferença a partir do pensamento africano contemporâneo. Fim do mundo, Marília, pp. 60-86, n. 4, jan.-abr. 2021.
BARROS, C. R. PT, uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
MURREY, A. A Certain Amount of Madness: The Life, Politics and Legacies of Thomas Sankara . Londres: Pluto Press, 2018. p. 127-146.
CARONE, E. O P.C.B. Três Volumes. São Paulo: Difusão Editorial LTDA. 1982.
FERNANDES, S. Sintomas mórbidos: a encruzilhada da esquerda brasileira. São Paulo: Autonomia Literária, 2019.
PETERSON, B. Thomas Sankara: A Revolutionary in Cold War Africa. Bloomington: Indiana University Press, 2021.
RANGER, T. A Invenção da Tradição na África Colonial. In: HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence (Org). A Invenção das Tradições. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2008, p. 219-270.
RIDENTI, M. REIS, D. A. (orgs.). História do marxismo no Brasil: Partidos e movimentos após os anos 1960. Campinas: Editora da Unicamp, 2007.

Entre letras, tintas e papéis: paleografia e materialidade

Este minicurso propõe discutir a paleografia a partir de uma perspectiva que valoriza a materialidade dos documentos. Em um primeiro momento serão apresentados e discutidos aspectosmateriais relacionados à cultura escrita, desde suportes, instrumentos de escrita, tintas até as posturas do scriptor. Também serão abordadas diferentes formatos de acesso aos manuscritos para pesquisa histórica (originais em papel, microfilmados, digitalizados, fotocopiados), as particularidades materiais de cada uma delas e como elas influenciam na leitura paleográfica. Por fim, serão feitas atividades de leitura de manuscritos em língua portuguesa com orientações básicas sobre paleografia.

 

Bibliografia:
ACIOLI, Vera Lúcia Costa. A Escrita no Brasil Colônia: Um guia para leitura de documentos
manuscritos. Recife: Fundação Joaquim Nabuco / Massangana, 1994.
BERWANGER, Ana Regina; LEAL, João Eurípedes Franklin. Noções de Paleografia e
Diplomática. Santa Maria: Centro de Ciências Sociais e Humanas-UFSM, 1991.
CONTRERAS, Luis Nuñes. Manual de Paleografia. Fundamentos e historia de la escritura latina
hasta el siglo VIII. Madrid: Cátedra (col. Historia, Serie Mayor), 1994
FARIA, M.I., PERICÃO, M.G.(orgs.). Dicionário do livro: da escrita ao livro eletrónico. Coimbra:
Almedina; 2008.
FLEXOR, Maria Helena Ochi. Abreviaturas: Manuscritos dos séculos XVI ao XIX. 3. ed. rev. aum.
Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2008.

LIMA, Douglas. et al. Cadernos de Paleografia, Número 1. Belo Horizonte : Imprensa Oficial de
Minas Gerais, 2014.
LIMA, Yedda Dias. Leitura e transcrição de documentos dos séculos XVI ao XIX. São Paulo:
ARQSP/Arquivo do Estado, 2000.
LOSE, Alícia Duhá; SOUZA, Arivaldo Sacramento de (orgs.). Paleografia e suas interfaces Vol. 1.
Salvador: Memória & Arte, 2018
LOSE, Alícia Duhá; MAGALHÃES, Lívia Borges Souza; MAZZONI, Vanilda Salignac (orgs.).
Paleografia e suas interfaces Vol. 2. Salvador: Memória & Arte, 2021.
NUNES, E. Borges. Abreviaturas paleográficas portuguesas. 3. ed. Lisboa, Faculdade de Letras,
1981.
PETRUCCI, Armando. La ciencia de la escritura: primeira lección de paleografía. Buenos
Aires: Fondo de Cultura Económica Argentina, 2002.
RODRIGUES, Ubirajara Alencar. Codicologia, história e cultura. ETD - Educação Temática
Digital, Campinas, SP, v. 18, n. 3, p. 614-627, ago. 2016. ISSN 1676-2592.

Às09h00 - Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH
08h00 - Luiz Felipe Anchieta Guerra O Terror como fonte: leitura e comentário dos manifestos de Tarrant e Suzano, e suas possibilidades na pesquisa Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

Advertimos que parte do conteúdo deste minicurso contém tópicos sensíveis: violência.

Em julho de 2011, Anders Breivik matou 77 pessoas durante uma colônia de férias do Partido Trabalhista da Noruega, ele disse que o objetivo do ataque era salvar a Europa Ocidental de uma tomada de poder muçulmana. Três meses antes, Wellington de Oliveira matou 12 alunos do ensino fundamental em Realengo, no Rio de Janeiro. Em comum, ambos os terroristas deixaram escritos para serem lidos.
Na forma de manifestos ou testamentos, essas produções autografas são, frequentemente, alvo de atenção jornalística e sensacionalismo midiático, com manchetes como: “Polícia acha escritos do Satanismo em caderno de assassino de Suzano”. Já o interesse acadêmico por essas fontes, embora presente, é, definitivamente, mais restrito. A dificuldade acessar alguns desses escritos na íntegra, somada ao peso e estigma que os cercam, contribuem para essa situação.
Apesar disso, é inegável que tais textos podem ser ricas fontes para pesquisa, e que possuem alto valor para se compreender alguns aspectos dos movimentos que classificamos hoje como parte das Novas Direitas. Através deles é possível acessar perspectivas únicas das ideias e ideologias que fundamentam o neonazismo, a cultura incel, e a intolerância, e que resultam em atos de terror, extermínio e feminicídio.
Este minicurso visa introduzir brevemente os participantes ao campo dos “estudos estratégicos”, e apresentar os manifestos e escritos de terroristas como fontes. Em seguida faremos a leitura de dois desses textos: o testamento de Realengo e “The Great Replacement” o manifesto de Brenton Tarrant, interseccionalisada por excertos dos diários de Suzano e do manifesto de Breivik. O objetivo aqui é mostrar como esses textos podem ser utilizados academicamente de forma efetiva e ética, discutindo os principais aspectos teóricos e metodológicos, além das suas perspectivas de estudos. Para isso, as atividades serão divididas em dois dias (4 horas em cada), sendo o primeiro utilizado para uma discussão mais teórica e introdutória, porém permeada por exemplos práticos.
Nesse dia, tentaremos definir o que é “terrorismo” e quais as distinções entre suas diferentes formas, em especial o estocástico e o organizado. Abordaremos também alguns conceitos complementares, vindos de outros campos das humanidades, como por exemplo os de “direitas grupusculares” e o de “neoconservadorismo”. Em seguida, e continuando no segundo dia, faremos a leitura na íntegra dos textos selecionados, contrastando-os com fragmentos de outros manifestos, a fim de apontar como existe não só um diálogo entre eles, mas quase uma “cultura intelectual” própria.

Programação:


Dia I:
1) Introdução: O Terrorismo hoje.
2) Feminicídio, Escolas e Incels.
3) Estocástico vs. Organizado: existem lobos solitários?
4) A influência de Breivik:
4.1 2083 A European Declaration of Independence:
4.2 Neo-conservatismo, neo-nazismo e neo-medievalismo?
5) Um autor defunto ou um defunto autor?
5.1 Escritos para a posteridade
5.2 O martírio como parte da obra
5.3 Obras privadas e fontes acidentais
6) Minha fonte é um crime? Os limites da legalidade
7) Lendo o Terror:
a Tarrant
b Realengo
c Excertos de Breivik


Dia II:
8) Lendo o Terror.
a Tarrant
b Realengo
c Os diários de Suzano
9) Conclusões e debate

08h00 - Gabriel Filipe Matos dos Santos, Roberta Guimarães Franco O cinema português pós-25 de abril: a revisitação do passado como ato de restituição Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

A proposta tem como foco analisar as realizações do cinema português no contexto posterior ao 25 de abril de 1974, quando ocorreu a Revolução dos Cravos, que pós fim aos 48 anos de um regime totalitário de caráter fascista em Portugal. As reflexões em torno das produções cinematográficas partem de uma perspectiva comparativa, levando em consideração a comemoração em 2024 dos cinquenta anos do processo de redemocratização, consequentemente pautadas no conceito de “longa duração” de Fernand Braudel. Nesse sentido, meio século após a Revolução é possível identificar um percurso de formas de usos do passado no cinema, produções documentais e ficcionais que constroem um caráter testemunhal, de âmbito individual e coletivo, acerca do que foram os anos de silenciamento, repressão e manutenção de um imaginário colonialista/imperialista, base para uma ideia de identidade portuguesa a ser defendida pelo Estado Novo. A criação do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), em 1933, alicerça um dos mecanismos de propagação desse imaginário, a exemplo de outros regimes totalitários, por meio do cinema. Por exemplo, em 1935, António Ferro, diretor do SPN, inaugura o Cinema Ambulante, para transmitir as mensagens do regime por todo o país. A Sociedade Portuguesa de Actualidades Cinematográficas (SPAC) produziu entre 1938 e 1951 “O Jornal Português”, um cinejornal exibido nas salas dos cinemas antes dos longa-metragem, igualmente para divulgar as ideias do Estado Novo. Enfim, estratégias que foram eficazes para criar realidades próprias do que seria a vida portuguesa, pelo prisma do imaginário criado/defendido pelo salazarismo, a exemplo do que o historiador Fernando Rosas (2001) chamou de “sistema de valores”, responsável por sustentar “os mitos ideológicos fundadores do Estado Novo”. Diante desse cenário, vivenciado em Portugal por 48 anos, aquilo que se observa após a Revolução dos Cravos de 1974 é a exploração de um ambiente de liberdade de ideias para abordar uma série de assuntos silenciados e/ou deturpados anteriormente. Se a literatura, especialmente a prosa portuguesa, já recebe o “Pós-25 de abril” como um marco temporal, o cinema também tem um lugar nesse trabalho de enfrentamento do passado. Em um primeiro momento, temos por exemplo a obra de Rui Simões – Deus, Pátria, Autoridade (1976) e Bom Povo Português (1980) – que regressa a Portugal logo após a Revolução, depois de viver em Paris e Bruxelas, tentando fugir do serviço militar que significava a ida para a guerra na África. Mais recentemente, podemos citar a obra de João Canijo – Fantasia Lusitana (2010) – e de Susana de Sousa Dias – 48 (2010) e Luz obscura (2016) –, ambos nascidos nos anos das últimas décadas do Estado Novo, portanto pertencente a uma geração que vivenciou o fim do regime na adolescência; ou ainda Marta Pessoa – Quem vai à guerra (2011) – nascida no ano da Revolução, pertencente ao que poderíamos chamar de segunda geração, vinculada ao conceito de Pós-memória (HIRSCH, 2016). Estes são alguns exemplos de um breve percurso do cinema documental realizado no Pós-25 de abril português. No curso, o objetivo é concentrarmos as reflexões nas produções do século XXI, compreendendo a existência de um afastamento temporal significativo para a exploração de novos temas e técnicas para abordar o passado e seus ecos no presente na sociedade portuguesa, utilizando o conceito de “ato de restituição” do filósofo Didi-Huberman. Esta proposta é parte das atividades desenvolvidas no projeto homônimo financiado pela reitoria da UFMG e das reflexões realizadas no projeto CNPq “A longa duração do Pós-25 de abril: testemunho, pós-memória e pós-migração".
Programação:

Aula 1:

  • Introdução – O Estado Novo português e seus sistemas de valores
  • A Revolução dos Cravos, o cinema pós-74 e o seu lugar testemunhal
  • “Capitães de abril” (2000) – Maria de Medeiros
  • “Fantasia Lusitana” (2010) – João Canijo

Aula 2:

  • “48” (2010) – Susana Sousa Dias
  • “Quem vai à guerra” (2011) – Marta Pessoa
  • O cinema como “ato de restituição”
  • Por uma história pública urgente


Referências bibliográficas:
BRAUDEL, Fernand. História e Ciências Sociais. A longa duração. Tradução: Ana Maria de Almeida Camargo. Revista de História. Vol. XXX, no. 62, p. 261-294, 1965.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Restituir (a quem de direito). In: Remontagens do tempo sofrido (O olho da história, II). Tradução: Márcia Arbex e Vera Casa Nova. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2018.
HIRSCH, Marianne. "A geração da pós-memória". In: ALVES, Fernanda Mota Alves; SOARES, Luísa Afonso; RODRIGUES, Cristiana Vasconcelos. Estudos da memória: teoria e análise cultural. Famalicão: Edições Húmus, 2016, p. 299- 325.
ROSAS, Fernando. O salazarismo e o homem novo: ensaio sobre o Estado Novo e a questão do totalitarismo. Revista Análise Social, v.35, n.157, 2001, 1031-1054.
VIEIRA, Patrícia. Cinema no Estado Novo: a encenação do regime. Lisboa: Edições Colibri, 2011.

09h00 - Vinícius Novaes Ricardo Virando os anos 1990 de cabeça para baixo: os discursos e representações do Partido Pantera Negra nas obras de Tupac Shakur Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

O Partido Pantera Negra (1966-1982) foi um dos principais movimentos antirracistas nos EUA durante meados do século XX, impactando a política e a cultura estadunidense desde o seu surgimento. Durante os anos 1990, ocorreu um processo de retomada de um conjunto de fundamentos ideológicos defendidos pelos Panteras, que influenciou novos movimentos políticos - por exemplo New Black Panther Party e o Black Panther Militia - e desempenhou uma influência substancial na produção cultural negra dos EUA. Entre os adeptos dessa retomada do partido estava Tupac Shakur, que através da personagem musical 2Pac, mobilizou em suas produções artísticas (músicas e poemas) o pensamento do partido. Shakur defendeu que o movimento negro estadunidense deveria “virar os anos 1990 da cabeça para baixo”, com o objetivo de transformá-los nos anos 1960, aludindo à mobilização antirracista do período e mencionando a trajetória de importantes militantes do partido, por exemplo Huey Newton, Fred Hampton e Afeni Shakur (sua mãe).
Em vista do exposto acima, o minicurso propõe a investigação da circulação e deslocamento espaço-temporal dos discursos ensejados pelos Panteras em meados do século XX e sua reverberação na produção artística de Shakur durante os anos 1990. Para isso, faz-se necessária a compreensão do ambiente político, cultural e social da população negra dos EUA durante a segunda metade do século XX. Nessa perspectiva, serão explicitadas as permanências e transformações nos dispositivos de racismo institucional ao longo desse período, identificando os acontecimentos históricos que ensejaram no debate público uma aproximação temporal entre os anos de 1960 e 1990. Com intuito de desvelar a historicidade desse processo, foi coligido um conjunto documental para análise composto de fontes escritas, sonoras e audiovisuais dos Panteras e de Tupac Shakur, que fundamentam este trabalho do campo da História Intelectual.
Portanto, considerando o supracitado, o cerne do minicurso é a reflexão sobre as itinerâncias dos discursos e representações, bem como das formas desenvolvidas para mediação dos pensamentos que constituem a tradição radical do pensamento de libertação negra defendida pelos Panteras e retomada por Tupac Shakur.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Aula 1:

  • A nova segregação

ALEXANDER, Michelle.; DAVOGLIO, Pedro.; ALMEIDA, Silvio Luiz de. A nova segregação: racismo e encarceramento em massa. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2018, p. 10 - 28
Aula 2:

  • Tupac Shakur

Texto base: ROBINSON, Staci. Tupac Shakur: A biografia autorizada. 1 ed. Rio de Janeiro: BestSeller, 2023, p. 137-184


Aula 3:

  • O Partido Pantera Negra

Texto base: BLOOM, Joshua; MARTIN JR, Waldo E.; MARTIN, Waldo E. Black against empire: The history and politics of the Black Panther Party. Univ of California Press, 2013, p. 17-45.


Aula 4:

  • Os anos 1990 de cabeça para baixo

Texto base: RICARDO, Vinícius Novaes. Virando os anos 1990 de cabeça para baixo. In: Tupac Amaru Shakur e os Panteras Negras: a esfera pública da experiência musical e os tempos históricos no rap (1991-1996). 2021, p. 95-132.

09h00 - Bernardo Morais Marques, Júlia Soledade Caldas Saud Rodriguez História das esquerdas em perspectiva comparada: os desafios da Revolução no Brasil e em Burkina Faso na década de 1980 Minicurso
Local: Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

As recentes instabilidades políticas em Burkina Faso e outros países do Sahel têm atraído olhares de todo o mundo para a região. Na década de 1980, o pequeno país esteve em evidência em virtude da revolução protagonizada por Thomas Sankara, célebre revolucionário, militar e intelectual burquinense que foi presidente de 1983 a 1987, data de seu assassinato. Sankara é uma das lideranças africanas que tem sido cada vez mais lembrada e reivindicada pelas esquerdas, dentro e fora do continente africano – conhecido por suas contundentes posturas contra o neocolonialismo e por medidas tidas como avançadas em relação às mulheres, ao meio ambiente, à saúde e à educação em seu país.
O Atlântico, que para nós é apenas um rio, divide o Brasil da África por uma faixa de extensão menor que a do próprio país, quando medido de ponta a ponta. É assim mesmo que as experiências em decurso no continente encontram seus ecos nas terras brasileiras. No Brasil a década de 80 chega com o fim da hegemonia pecebista no campo das esquerdas e com a intensificação das lutas pela abertura democrática. A crise das direções do Partido Comunista veio acompanhada do vento de mudança na URSS e nos países do bloco socialista. A ascensão do Partido dos Trabalhadores, pensado para representar os operários fora do esquema do marxismo-leninismo, simboliza a transformação dos símbolos e pautas associadas ao campo das esquerdas no período – o que, por sua vez, traduziu-se em boa parte dos dilemas que vivemos nas décadas seguintes e até hoje, quando o PT está encarregado da difícil tarefa de reorganizar um esgarçado pacto republicano, firmado àquele momento.

Aula 1

  • Introdução: perspectiva analítica da história comparada;
  • Contextualização: desafios das esquerdas na década de 1980 em nível global, regional (América Latina e África) e local (Burkina Faso e Brasil): crise do bloco soviético, ascensão de governos neoliberais; ditadura no Brasil, golpes em sequência em Burkina Faso, seca no Sahel;
  • Estratégias e programas das forças políticas analisadas.


Aula 2

  • Estratégias e programas políticos das forças políticas analisadas;
  • Balanço crítico sobre as duas experiências: reflexão sobre suas reverberações na atualidade em questões como as lutas de minorias, a questão climática e o neocolonialismo no “fim da história".

Referências Bibliográficas
BARBOSA, M. S. Pan-africanismo e marxismo: aproximações e diferença a partir do pensamento africano contemporâneo. Fim do mundo, Marília, pp. 60-86, n. 4, jan.-abr. 2021.
BARROS, C. R. PT, uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
MURREY, A. A Certain Amount of Madness: The Life, Politics and Legacies of Thomas Sankara . Londres: Pluto Press, 2018. p. 127-146.
CARONE, E. O P.C.B. Três Volumes. São Paulo: Difusão Editorial LTDA. 1982.
FERNANDES, S. Sintomas mórbidos: a encruzilhada da esquerda brasileira. São Paulo: Autonomia Literária, 2019.
PETERSON, B. Thomas Sankara: A Revolutionary in Cold War Africa. Bloomington: Indiana University Press, 2021.
RANGER, T. A Invenção da Tradição na África Colonial. In: HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence (Org). A Invenção das Tradições. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2008, p. 219-270.
RIDENTI, M. REIS, D. A. (orgs.). História do marxismo no Brasil: Partidos e movimentos após os anos 1960. Campinas: Editora da Unicamp, 2007.

Entre letras, tintas e papéis: paleografia e materialidade

Este minicurso propõe discutir a paleografia a partir de uma perspectiva que valoriza a materialidade dos documentos. Em um primeiro momento serão apresentados e discutidos aspectosmateriais relacionados à cultura escrita, desde suportes, instrumentos de escrita, tintas até as posturas do scriptor. Também serão abordadas diferentes formatos de acesso aos manuscritos para pesquisa histórica (originais em papel, microfilmados, digitalizados, fotocopiados), as particularidades materiais de cada uma delas e como elas influenciam na leitura paleográfica. Por fim, serão feitas atividades de leitura de manuscritos em língua portuguesa com orientações básicas sobre paleografia.

 

Bibliografia:
ACIOLI, Vera Lúcia Costa. A Escrita no Brasil Colônia: Um guia para leitura de documentos
manuscritos. Recife: Fundação Joaquim Nabuco / Massangana, 1994.
BERWANGER, Ana Regina; LEAL, João Eurípedes Franklin. Noções de Paleografia e
Diplomática. Santa Maria: Centro de Ciências Sociais e Humanas-UFSM, 1991.
CONTRERAS, Luis Nuñes. Manual de Paleografia. Fundamentos e historia de la escritura latina
hasta el siglo VIII. Madrid: Cátedra (col. Historia, Serie Mayor), 1994
FARIA, M.I., PERICÃO, M.G.(orgs.). Dicionário do livro: da escrita ao livro eletrónico. Coimbra:
Almedina; 2008.
FLEXOR, Maria Helena Ochi. Abreviaturas: Manuscritos dos séculos XVI ao XIX. 3. ed. rev. aum.
Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2008.

LIMA, Douglas. et al. Cadernos de Paleografia, Número 1. Belo Horizonte : Imprensa Oficial de
Minas Gerais, 2014.
LIMA, Yedda Dias. Leitura e transcrição de documentos dos séculos XVI ao XIX. São Paulo:
ARQSP/Arquivo do Estado, 2000.
LOSE, Alícia Duhá; SOUZA, Arivaldo Sacramento de (orgs.). Paleografia e suas interfaces Vol. 1.
Salvador: Memória & Arte, 2018
LOSE, Alícia Duhá; MAGALHÃES, Lívia Borges Souza; MAZZONI, Vanilda Salignac (orgs.).
Paleografia e suas interfaces Vol. 2. Salvador: Memória & Arte, 2021.
NUNES, E. Borges. Abreviaturas paleográficas portuguesas. 3. ed. Lisboa, Faculdade de Letras,
1981.
PETRUCCI, Armando. La ciencia de la escritura: primeira lección de paleografía. Buenos
Aires: Fondo de Cultura Económica Argentina, 2002.
RODRIGUES, Ubirajara Alencar. Codicologia, história e cultura. ETD - Educação Temática
Digital, Campinas, SP, v. 18, n. 3, p. 614-627, ago. 2016. ISSN 1676-2592.

Às09h00 - Faculdade de Filosofia e Ciências humanas - FAFICH

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Local

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (FAFICH - UFMG), 31270-901, Avenida Presidente Antônio Carlos 6627, Pampulha, Belo Horizonte, Minas Gerais
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Organizador

Encontro de Pesquisa em História - EPHIS

O Encontro de Pesquisa em História da UFMG é um evento organizado por estudantes da pós-graduação e da graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais, sendo realizado anualmente. O evento promove o debate entre historiadores jovens e suas pesquisas no cenário acadêmico brasileiro. Alunos de diversos estados do país se encontram na UFMG para apresentarem suas pesquisas e também acompanharem outros estudantes, além de participarem de atividades culturais, minicursos e simpósios temáticos.

Iniciado em 2012, o EPHIS é hoje o maior evento brasileiro de história organizado por discentes. Diversos professores universitários já participaram do encontro, como, por exemplo: Fernando Novais (USP), Sidney Chalhoub (UNICAMP/Harvard), Heloisa Starling (UFMG), Jurandir Malerba (UFRGS), Durval Muniz de Albuquerque (UFRN), Emilio Crenzel (Universidad de Buenos Aires), Edson Kayapó (UFMG/PUC-SP), a mestranda Keilla Vila Flor (UnB), entre outros.

Neste ano, o evento será realizado presencialmente entre os dias 03 e 06 de setembro, com a temática "Encruzilhadas historiográficas: Itinerâncias nos saberes e caminhos para a história", convidando-nos a refletir sobre as encruzilhadas que encontramos no ofício de historiador. São nelas que teorias e saberes se entrelaçam e se renovam, influenciando tanto nossa prática, quanto a teoria da história. O conceito de itinerância emerge como uma metáfora poderosa para descrever esse movimento, levando a teoria e a nós mesmos a percorrer caminhos que antes não foram pensados.
Refletindo sobre os saberes que circulam em nosso tempo, é crucial cruzarmos nossos caminhos com outras formas de conhecimento que tensionam o lugar social do historiador. Nesse sentido, o XII EPHIS busca ampliar suas fronteiras para além dos espaços acadêmicos, convidando outros agentes históricos, como as comunidades quilombolas, de religiões afro-brasileiras e indígenas.
É por meio desses diálogos que o EPHIS deste ano se propõe a entender os múltiplos caminhos que a história tem percorrido, refletindo sobre a diversidade de temas pesquisados, as experiências em sala de aula e em nossa atuação política de enterrar ou caminhar com o passado.