A metáfora da arqueologia como metáfora de um método [filosófico] de análise remonta a Kant, tendo sido utilizada, posteriormente, por Freud, Benjamin, Husserl, Foucault, Agamben, entre outros. No curso “Walter Benjamin enquanto arqueólogo”, propomos ir além — ou aquém! — desta metáfora, ao articular o motivo da arqueologia na obra do filósofo judeu-alemão, buscando uma aproximação deste com a disciplina da arqueologia propriamente dita. Entre outras coisas, interrogamos, ao longo do curso: se há uma arqueologia benjaminiana, qual seria a especificidade desta arqueologia?
Partimos da hipótese central de que o programa para uma nova escrita da história, tal como esboçado por Benjamin em “Sobre o conceito de história” (1940), só pode ser levado a cabo se, antes, formos capazes de enfrentar, como o faz a Arqueologia, os vestígios materiais do passado — e, neste caso, aqueles vestígios deixados para trás pelos vencidos. Isto é, uma escrita da história que não parta, exclusivamente, dos documentos escritos — objeto-mor da História —, uma vez que a escrita, historicamente, [quase] sempre esteve a serviço da legitimação e manutenção do poder e, portanto, da história dos vencedores.
O curso é uma iniciativa do Programa de Pós-graduação em Literatura e Cultura da UFBA, do Núcleo de Estudos da Crítica e da Cultura Contemporânea da mesma instituição, do Programa de Artes Visuais da UFRGS, e do GT de Literatura Comparada da Associação Nacional de Pós-graduação em Literatura e Linguística.
LINK DO CURSO: https://meet.google.com/xsm-hqqv-ztv
Maykson Cardoso
Maykson Cardoso (Divinópolis, MG, 1988) vive em Berlim desde 2018. É doutorando em Artes Visuais/ História da Arte pela UFRJ. Em sua pesquisa, dedica-se à articulação do motivo da arqueologia ao longo da obra de Walter Benjamin, a partir da qual propõe uma leitura "arqueológica" das chamadas "teses" de Sobre o conceito de história (1940), bem como o que vem chamando de uma “arqueologia da violência/Gewalt”: um método de escrita da história que parte da premissa de que a história dos vencidos só pode ser escrita se, antes, aquele que a escreve se dedicar à análise dos vestígios materiais que dão testemunho de sua existência, levando em consideração que, historicamente, a escrita sempre foi uma ferramenta para a legitimação e manutenção do poder dos vencedores.
Dia 1. Do sonho do arqueólogo à alegoria da escavação: introdução da pesquisa + leitura e discussão do texto “Escavar e recordar” (c. 1935) e outros excertos do autor;
Dia 2. Das ruínas da tradição aos escombros da guerra: desvios de tradução e delimitações epistemológicas. Entre o Drama Trágico Alemão (1928) e as [Teses] Sobre um conceito de história (1940).
Dia 3. O que viria a ser uma “arqueologia benjamiana”? Apresentação de outras pesquisas relacionadas à uma arqueologia benjaminiana (Christine Buci-Glucksmann; Marc Sagnol; Josef Fürnkäs; Christian Emden; Knut Ebeling; Nadine Werner).