Local: Sala 12
PALESTRA DUPLA
Artes fronteiriças - Um diálogo com Donna Haraway e Gloria Anzaldúa
Debora Pazetto (CEFET/MG)
Donna Haraway e Gloria Anzaldúa argumentam, no contexto da filosofia feminista, em favor da necessidade de reconhecer e ultrapassar as fronteiras binárias que organizam afetivo, material e simbolicamente os vários sistemas de opressão sociopolítica a que nossos corpos são submetidos. As artes – na medida em que criam novos afetos, pensamentos, narrativas, significados, modos de existência e coexistência – são apontadas por ambas as autoras como modos de cruzar, contornar ou transformar essas fronteiras.
Haraway constata, em meados da década de oitenta, a consolidação de uma nova ordem mundial tecnológica: a “informática da dominação”, na qual a humanidade é reduzida a um sistema funcional cujos modos de operação básicos são estatísticos e probabilísticos. Essa nova ordem sustenta seus nexos de dominação em velhas categorias binárias: homem-mulher, branco-negro/indígena, rico-pobre, desenvolvido-subdesenvolvido. Para resistir à informática da dominação, Haraway aposta na produção de gestos artísticos, afetos, pensamentos – sobre o corpo e no corpo – capazes de embaralhar essas fronteiras impostas como naturais.
Na mesma época, a escritora chicana Gloria Anzaldúa teoriza sobre a necessidade de formar uma “consciência mestiça” ou “consciência de fronteira”. A ideia de fronteira aparece de vários modos ao longo de seus textos, ora como fronteira geopolítica, ora como fronteira cultural, linguística ou metafórica. A autora critica as fronteiras rígidas criadas pelo pensamento binário ocidental, que dividem os corpos em colonizadores e colonizados, seja em termos de países e regiões, seja em termos de gênero, raça, classe, orientação sexual, religião, território, escolaridade, etc. Cruzar essas fronteiras, embora seja um ato perigoso, é um movimento artístico-político que evita o aprisionamento em categorias colonizadoras.
Arte/Artefato: uma análise desses limites
Rachel Costa (UEMG)
Arthur Danto utiliza o conceito de realidade, na maioria das vezes, em contraposição ao conceito de obra de arte. Logo, a arte é o espaço do não-real, daquilo que se encontra no fora da experiência comum. Essa contraposição fundamenta a concordância do filósofo com o trecho do Sofista de Platão, no qual a arte é compreendida como “sonhos produzidos por homens para aqueles que estão acordados” (266C). A retirada da arte da realidade serve, na filosofia dantiana, para estabelecer a distinção metafísica entre obras de arte e meras coisas do mundo, visto que o problema que organiza sua filosofia é o da indiscernibilidade visual entre arte e artefato no século XX. Tendo em vista que essa distinção é fundamental para a invenção da arte no século XVIII – como afirma Larry Shiner em livro homônimo –, a ontologia dantiana pode ser compreendida como um artifício contemporâneo para a manutenção das distinções oitocentistas entre arte, artefato e artesanato. Portanto, o objetivo da presente comunicação é analisar a ontologia dantiana para mostrar a impossibilidade de manutenção dessa distinção em um momento onde as artes e os mundos são plurais.