Local: Auditório
Objeto de recorrentes controvérsias relativas aos seus sentidos, funções e importância na formação de estudantes, os livros didáticos de História estão presentes em espaços escolares brasileiros há mais de 170 anos. Nesse período, transformações na sociedade e na educação formal foram acompanhadas pela formulação de diferentes políticas públicas ligadas ao artefato cultural em questão, as quais promoveram alterações em seus conteúdos, práticas de ensino e avaliações. Devido à hegemonia de projetos educativos elitistas e excludentes em grande parte dos séculos XIX e XX, as perspectivas metodológicas dos materiais didáticos de História ficaram conhecidas por práticas mnemônicas distantes das demandas das classes populares, além de difundir noções hierarquizadoras de cidadania, patriotismo, religiosidade, raça, gênero, sexualidade, dentre outras. No processo de afirmação da disciplina, autoras/es de materiais educativos, professoras/es e estudantes, entre olhares tradicionais e dissonantes, contribuíram para a propagação e (re)elaboração de modalidades de uso dos livros didáticos. Nesse contexto, foram editados e entraram em circulação diferentes composições com propósitos por vezes paradoxais: enquanto alguns buscaram problematizar temas que privilegiavam a histórica política do Estado e seus grandes líderes, outros permaneceram excluindo a representação de minorias e seu protagonismo na história. Ora considerado imprescindível, ora marginalizado por sujeitos em virtude de possíveis ausências e narrativas silenciadoras, a pluralidade de propostas e práticas ligadas aos livros didáticos de História serão discutidas neste espaço interdisciplinar, interessado na ampliação dos diálogos entre as áreas da História e Educação, bem como na análise de obras escolares, currículos e linguagens colocadas em ação.
Nesse sentido, o objetivo do minicurso pautou-se pela reflexão acerca da pluralidade de propostas e práticas de ensino da disciplina História relacionadas aos usos de livros didáticos em diferentes períodos da escolarização brasileira. Tematizamos, especialmente, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e a problematização, a partir das lentes fornecidas pelo campo dos Estudos de Gênero e Sexualidade, dos processos, mediações e forças sociais que disputam os quais saberes históricos são considerados desejáveis ou indesejáveis nos materiais didáticos.
Nosso intento é estabelecer diálogos problematizadores acerca do tema acompanhando três eixos de conteúdos programáticos: 1) o PNLD como política de Estado na qual atuam forças sociais contraditórias, em disputas e tensões por demarcar lembranças e produzir esquecimentos; 2) livros didáticos e documentos históricos: a diversidade de leituras colocadas em ação por professoras/es, estudantes e outros sujeitos; e 3) elaboração e debate sobre práticas que potencializem uma abordagem crítica dos livros didáticos nas aulas de História, focalizando noções de autoria e processos de seleção das fontes incluídas em algumas obras, permitindo a pluralização dos sujeitos históricos em diálogo com as relações, histórica e discursivamente construidas, de gênero e sexualidade.