No livro Minha História das Mulheres, a historiadora francesa Michelle Perrot evidencia que, ao longo dos séculos, as mulheres foram sistematicamente apagadas dos registros históricos. Sua presença, quando mencionada, foi frequentemente mediada pelo olhar masculino, reduzindo-as a papéis secundários ou estereotipados. Esse silenciamento não se deu ao acaso, mas foi resultado de estruturas sociais que marginalizaram a participação feminina na vida pública, na política, na ciência e em diversas outras esferas de poder.
Ao analisar o passado, percebe-se que as mulheres sempre estiveram presentes nos processos históricos, atuando como protagonistas em revoluções, movimentos sociais, lutas trabalhistas e transformações políticas. No entanto, sua participação foi sistematicamente negligenciada ou minimizada pelos relatos oficiais, perpetuando a ideia de que a história se fez exclusivamente por mãos masculinas. Essa distorção não apenas invisibilizou as contribuições femininas, mas também reforçou um modelo historiográfico excludente, que só recentemente começou a ser questionado de maneira mais ampla.
Nos últimos anos, a História das Mulheres e os Estudos de Gênero trouxeram novas perspectivas para a historiografia, permitindo a reconstrução de narrativas que contemplam as experiências femininas em diferentes períodos e contextos. Essa abordagem não se limita a destacar figuras femininas ilustres, mas busca compreender as estruturas de poder que condicionaram suas vidas, os mecanismos de resistência que desenvolveram e as formas como desafiaram as normas impostas. Ao resgatar essas trajetórias, não apenas se repara uma lacuna histórica, mas também se questionam os alicerces que sustentaram a exclusão das mulheres dos espaços de decisão e do conhecimento.
Assim, ao propor a questão das mulheres como tema central da Semana de História, busca-se não apenas dar visibilidade a essas trajetórias, mas também fomentar um debate sobre como o apagamento histórico impacta a forma como a sociedade atual compreende o papel das mulheres. Discutir a História das Mulheres não significa apenas acrescentar novos nomes à historiografia tradicional, mas repensar criticamente os processos de exclusão e as dinâmicas de poder que moldaram as sociedades ao longo do tempo. Dessa forma, a proposta é que a XLI Semana de História se proponha a discutir os múltiplos papéis das mulheres na história, suas estratégias de resistência e os desafios enfrentados para serem reconhecidas como agentes históricas.