XLI Semana de História da Universidade Federal de Juiz de Fora

Passado silenciado, legado incontornável: as múltiplas faces da mulher na História e a luta por um lugar de protagonismo

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De 1 a 5 de dezembro Todos os dias das 19h00 às 21h30

Sobre o Evento

Este evento possui transmissão ao vivo.

No livro Minha História das Mulheres, a historiadora francesa Michelle Perrot evidencia que, ao longo dos séculos, as mulheres foram sistematicamente apagadas dos registros históricos. Sua presença, quando mencionada, foi frequentemente mediada pelo olhar masculino, reduzindo-as a papéis secundários ou estereotipados. Esse silenciamento não se deu ao acaso, mas foi resultado de estruturas sociais que marginalizaram a participação feminina na vida pública, na política, na ciência e em diversas outras esferas de poder.

Ao analisar o passado, percebe-se que as mulheres sempre estiveram presentes nos processos históricos, atuando como protagonistas em revoluções, movimentos sociais, lutas trabalhistas e transformações políticas. No entanto, sua participação foi sistematicamente negligenciada ou minimizada pelos relatos oficiais, perpetuando a ideia de que a história se fez exclusivamente por mãos masculinas. Essa distorção não apenas invisibilizou as contribuições femininas, mas também reforçou um modelo historiográfico excludente, que só recentemente começou a ser questionado de maneira mais ampla.

Nos últimos anos, a História das Mulheres e os Estudos de Gênero trouxeram novas perspectivas para a historiografia, permitindo a reconstrução de narrativas que contemplam as experiências femininas em diferentes períodos e contextos. Essa abordagem não se limita a destacar figuras femininas ilustres, mas busca compreender as estruturas de poder que condicionaram suas vidas, os mecanismos de resistência que desenvolveram e as formas como desafiaram as normas impostas. Ao resgatar essas trajetórias, não apenas se repara uma lacuna histórica, mas também se questionam os alicerces que sustentaram a exclusão das mulheres dos espaços de decisão e do conhecimento.

Assim, ao propor a questão das mulheres como tema central da Semana de História, busca-se não apenas dar visibilidade a essas trajetórias, mas também fomentar um debate sobre como o apagamento histórico impacta a forma como a sociedade atual compreende o papel das mulheres. Discutir a História das Mulheres não significa apenas acrescentar novos nomes à historiografia tradicional, mas repensar criticamente os processos de exclusão e as dinâmicas de poder que moldaram as sociedades ao longo do tempo. Dessa forma, a proposta é que a XLI Semana de História se proponha a discutir os múltiplos papéis das mulheres na história, suas estratégias de resistência e os desafios enfrentados para serem reconhecidas como agentes históricas.

Palestrantes

  • Profa. Dra. Thamara Rodrigues
  • Profa. Dra. Lívia Conceição
  • Profa. Dra. Hebe Mattos
  • Prof. Dr. Toni Morant I Ariño
  • Profa. Dra. Maria Cláudia Badan
  • Profa. Dra. Silvana Barbosa
  • Profa. Dra. Giovana Castro
  • Profa. Dra. Suelen Julio
  • Profa. Dra. Mônica Oliveira
  • Profa. Dra. Carolina Alves
  • Ma. Alessandra Germano
  • Profa. Dra. Maraliz Christo
  • Profa. Dra. Lauri Silva
  • Profa. Ma. Samara Silveira
  • Prof. Dr. Anderson Ferrari

Programação

15h00 Credenciamento Credenciamento
Local: Hall dos Auditórios - ICH/UFJF

Credenciamento somente nos dias 01 e 02 de dezembro.

15h30 Mesa de Abertura - O que é ser mulher? As diversas interseccionalidades das lutas feministas ontem e hoje Abertura
Local: Auditório 1 - ICH/UFJF

.

18h00 Atividade Cultural e Coffee Break Coffee break
Local: Hall dos Auditórios - ICH/UFJF

Atividade Cultural e coffee Break.

18h00 Credenciamento Credenciamento
Local: Hall dos Auditórios - ICH/UFJF

Credenciamento somente nos dias 01 e 02 de dezembro.

19h00 - Profa. Dra. Hebe Mattos, Profa. Dra. Lívia Conceição, Profa. Dra. Thamara Rodrigues MT1 - “Escrever é uma maneira de sangrar”: A construção de narrativas por e sobre mulheres ao longo da história Mesa Temática
Local: Auditório 1 - ICH/UFJF

Art. VI - A lei deve ser a expressão da vontade geral: todas as cidadãs e cidadãos

devem concorrer pessoalmente ou com seus representantes para sua formação; ela

deve ser igual para todos. Todas as cidadãs e cidadãos, sendo iguais aos olhos da

lei. devem ser igualmente admitidos a todas as dignidades, postos e empregos

públicos, segundo as suas capacidades e sem outra distinção a não ser suas

virtudes e seus talentos(...)

Art. X - Ninguém deve ser molestado por suas opiniões, mesmo de princípio; a

mulher tem o direito de subir ao patíbulo, deve ter também o de subir ao pódio

desde que as suas manifestações não perturbem a ordem pública estabelecida pela

lei. (DE GOUGES, 2022)

Em contraposição à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), Olympe de Gouges lançou em 1791 a Declaração dos Direitos da Mulher e Cidadã, onde se reivindicava uma maior participação feminina na esfera pública que ascendia com a Revolução Francesa. Autoras como Tânia Morin apresentam uma ruptura paradigmática no estudo do tema. Ao contrário do que boa parte da historiografia tradicional nos apresenta, a autora defende que a participação feminina no processo revolucionário francês não foi passiva e amorfa, mas sim extremamente presente.

Apesar de figuras femininas relevantes como Olympe de Gouges e Germaine de Staël terem atuado ativamente, surge, como um contraste negativo, a ausência de mulheres na produção intelectual. No campo da historiografia, esse silenciamento é auto evidente, na medida em que tanto a produção feminina é marginalizada, quanto a temáticas que tenham como objeto mulheres na história. A falta de presença das mulheres nesse meio, não é apenas um resultado estranho ou inesperado, pelo contrário: faz parte da construção e está fundamentado nas bases que dão sustentação à História.

Em meio ao cientificismo e à efervescência de novas disciplinas e campos de pesquisa no século XIX, áreas que antes eram, de certa forma, tratadas como apêndices, ganharam mais relevância e características próprias. Uma delas, foi justamente a História. Antes ligada à campos maiores como Filosofia, Direito, Teologia e até mesmo a Literatura, a disciplina se desmembrou dessas demais e ganhou autonomia acadêmica. Agora, era hora de se especializar. Com isso, foram sendo criados métodos e critérios que faziam com que uma certa produção acadêmica fosse identificada como fazendo parte da História. A escrita, as especificidades e as problemáticas foram se disciplinarizando, estabelecendo um padrão para o campo e as instituições onde esses textos eram produzidos.

Com a escolha de um certo tipo de narrativa, houve também a negação daquilo que não era considerado adequado. Preterido pelos arquivos formais, o reconhecimento dos pares e as regras metódicas que delimitavam a atuação do historiador, foi-se construindo uma “história paralela”, produzida por e para pessoas que eram constantemente negadas do seu direito de existir nos livros de História, como as mulheres. Esse afastamento das mulheres, para além do cenário marginal, acontecia também nos meios formais de produção intelectual, com a quantidade de mulheres sendo consideravelmente baixa se comparada aos homens.

Segundo o levantamento da Revista História da Historiografia, com o intuito de observar trabalhos produzidos por mulheres dentro de temas associados ao estudo da historiografia, observou-se que apenas 29% das produções de 2008 a 2018 foram elaboradas por mulheres. Se também forem observados os dados referentes aos membros cadastrados na Sociedade Brasileira de Teoria e História da Historiografia, nota-se que algo em torno de 39% se refere à participação feminina, demonstrando uma clara assimetria de gênero na produção acadêmica do tema. Embora também seja notável que há um aumento referente à participação feminina na historiografia, ainda existe um longo percurso para se percorrer até que a participação feminina no campo ganhe mais visibilidade.

Em vista disso, podemos nos perguntar: a História como disciplina, com seus preceitos e diretrizes delimitados há décadas, ainda são capazes de fornecer respostas à públicos que não surgem como objetos de estudo dentro da formalização do campo? Perguntas como essa podem nos fazer questionar os limites da área para lidar com certos temas, principalmente aqueles não abrangidos pelos meios protocolares de pesquisa. Os caminhos que tais perguntas podem nos levar são diversos, abrindo possibilidades para que transitemos por outros percursos, como aquela “história marginal”.

A escrita da história não é feita somente por historiadores nas universidades, mas diversas mulheres ao longo do tempo se utilizaram de narrativas como uma maneira de manifestação da sua própria existência. Tais narrativas, mesmo que não intencionalmente, podem ser vistas como um retrato (ou fonte) da sua época. Associado ao sentido de "escre(vivência)", termo cunhado por Conceição Evaristo, essas narrativas, portadoras de vivências da coletividade feminina, auxiliam na reflexão sobre a escrita para além do sujeito individual. É possível então afirmar que uma disputa de memória pode ser efetivamente estabelecida por essas mulheres, visando, justamente, quebrar o discurso hegemônico vigente e subverter seu próprio lugar social, dessa forma, abandonando seu “papel” como mero objeto literário e transfigurando-se como agentes históricas de suas narrativas. Como diz Conceição Evaristo:

“O que a História não nos oferece - e eu estou falando da História ciência,

literatura, ela pode oferecer. Esse vazio histórico, ele é preenchido pela

ficção. [...] Você registra a vida, você inventa a vida, você discorda da vida.

[...] Escrever é uma forma de sangrar”. (Evaristo, 2020, grifo nosso).

Diante dos elementos levantados nos parágrafos anteriores, é desejável que a mesa em questão trate de como está o cenário atual para as mulheres no campo historiográfico, tanto da presença delas como também produtoras de conhecimento, quanto como possíveis questões de pesquisa e abordagens metodológicas. Dentro destas questões, desenvolver problemáticas e entraves que a presença feminina possui dentro da História, bem como os próprios limites que a disciplinarização do campo impõe sobre o tema, além de alternativas outras capazes de oferecerem outros caminhos. Ademais, a mesa busca refletir como o reconhecimento de narrativas produzidas por e sobre mulheres ao longo da história é o primeiro passo para a consolidação de uma historiografia que faça sangrar, que seja cada vez mais plural e, ao mesmo tempo, comprometida a reconhecer pessoas antes entendidas como sujeitos sem agência.

08h00 Simpósio Temáticos Simpósio Temático
Local: Instituto de Ciências Humanas/UFJF e Online

Cronograma Prévio dos Simpósios Temáticos na XLI Semana de História

Horário/Data

02/12/2025 (Terça-feira)

03/12/2025 (Quarta-feira)

04/12/2025 (Quinta-feira)

05/12/2025 (Sexta-feira)

08:00-12:00

Presenciais

ST02 - Visibilidades incontornáveis: as mulheres na História da Arte

Autores: Clarissa Videira Rocha de Souza; Rodrigo Felipe Fernandes; Rafael Soares dos Santos Silva; Laura Narazé Arruda.

Modalidade: Presencial.

Sala: Auditório 2

ST02 - Visibilidades incontornáveis: as mulheres na História da Arte

Autores: Clarissa Videira Rocha de Souza; Rodrigo Felipe Fernandes; Rafael Soares dos Santos Silva; Laura Narazé Arruda.

Modalidade: Presencial.

Sala: Auditório 2

ST16 - Ensino e diferença: o “eu” e o “outro” da História

Autores: Maria Beatriz de S. Thiago Ragon; Hiago Gonçalves Dias do Nascimento; Raquel Damasceno Martins dos Santos.

Modalidade: Presencial.

Sala: Auditório 2

ST16 - Ensino e diferença: o “eu” e o “outro” da História

Autores: Maria Beatriz de S. Thiago Ragon; Hiago Gonçalves Dias do Nascimento; Raquel Damasceno Martins dos Santos.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 2

ST06 - O século XX na história contemporânea: articulações entre Estados, intelectuais, movimentos e partidos políticos

Autores: Ana Julia Corrêa Ferreira; Tamires de Moura Nogueira Rosa; Juliana Nogueira Garcia Roque; Milene do Carmo Gomes.

Modalidade: Presencial.

Local: A-I-12

ST07 - Observatório da Extrema Direita: Campos historiográficos e perspectivas contemporâneas

Autores: Gabriel Benedito Machado; Mayara Balestro; Bruna Giovanna da Silva; Lavínea Oliveira da Rosa.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 3

ST18 - Memória e Violência: gênero, religião e Estado nas disputas por reconhecimento e reparação

Autores: Francisco Ramos de Farias; Pâmmela Silva Vieira Parreira; Amanda Lagemann Moura.

Modalidade: Presencial.

Sala: Auditório 1

ST21 - História Indígena e do Indigenismo no Brasil republicano (1910 - …)

Autores: Cesar de Miranda e Lemos; Vitória Luyza Cardoso Barbosa; Beatriz dos Santos da Silva.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 3

ST07 - Observatório da Extrema Direita: Campos historiográficos e perspectivas contemporâneas

Autores: Gabriel Benedito Machado; Mayara Balestro; Bruna Giovanna da Silva; Lavínea Oliveira da Rosa.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 3

ST11 - Do um ao todo, do micro ao macro: múltiplas escalas em História Social

Autores: Lucas Oliveira de Jesus; Bianca Ribeiro de Sá; Thaís do Nascimento Gonçalves; Victor José do Nascimento Custódio.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 1

ST22 - América Latina: entre a pluralidade de atores e tempos histórico

Autores: Luiza Rocha de Oliveira; Maria Eduarda Pedrete Vieira; Julia Delage Gomes Sabino.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 3

ST11 - Do um ao todo, do micro ao macro: múltiplas escalas em História Social

Autores: Lucas Oliveira de Jesus; Bianca Ribeiro de Sá; Thaís do Nascimento Gonçalves; Victor José do Nascimento Custódio.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 1

ST25 - Comunicações Livres

Coordenadoras: Beatriz Sales Dias; Dayana Oliveira.

Modalidade: Presencial

Local: A-I-12

Virtuais

ST03 - História Lésbica: Práticas, memórias e epistemologias

Autores: Jessica Marques Toledo; Joyce Mirella Alves de Souza; Julia Aleksandra Martucci Kumpera.

Modalidade: Online.

ST08 - Cultura e imprensa em circulação pelo espaço lusófono: autoritarismos e propaganda no século XX

Autores: Andrelise Gauterio Santorum; Gabriela Santi Pacheco.

Modalidade: Online.

ST12 - Tramas Sociais, Conflitos, Poder e Economia no Brasil

Autores: Vinicius Maia Cardoso; Randolpho Radsack Correa; Patricia de Oliveira Guerra Radsack Corrêa; Arthur da Costa Orlando.

Modalidade: Online.

ST01 - Violência, Gênero e Religiosidade

Autores: Tatiana Olegario da Silva; Welinaidia de Sousa Generoso.

Modalidade: Online

ST04 - História e Memória LGBTQIA+ em Minas Gerais

Autores: Ana Cecília Pereira Batista; Júlia de Castro Martins Ferreira Nogueira.

Modalidade: Online.

ST09 - Mundos do trabalho, movimentos sociais e culturas populares: experiências, reivindicações políticas e relações de gênero, raça e classe

Autor: Danilo Freire Rodrigues; Elilson Pedro Marquez Covre.

Modalidade: Online.

ST13 - Teorias da história: desafios contemporâneos do fazer historiográfico

Autores: Ricardo Vicente da Cunha Junior; Julia Ferrarezi Petrato; João Victor de Oliveira Calegari.

Modalidade: Online.

ST17 - Sujeitas e Sujeitos na História e História da Educação: periódicos, redes de sociabilidade e seus múltiplos campos de atuação.

Autores: Priscila Alves Ferreira; Diogo Piassá das Mercês; Patrícia Siqueira Marcondes.

Modalidade: Online.

ST05 - Revisitando as ditaduras e o pós-ditadura no Cone Sul: abordagens múltiplas sobre o passado que não passa

Autores: Samuel Torres Bueno; Iasmin do Prado Gomes; Isadora Silva Gomes.

Modalidade: Online.

ST10 - Olhares negros da História: raça, trabalho, sociabilidade e ativismos nos séculos XIX e XX

Autores: Chrigor Augusto Liberio; Jéssica Lopes de Assis; Maria Eloah Bernardo

Modalidade: Presencial.

ST14 - Novos olhares e novos métodos? Práticas e relações historiográficas em tempos digitais

Autores: Mateus Rezende de Andrade; Ian Kisil Marino; Maria Eduarda Taroco Vieira.

Modalidade: Online.

ST19 - Direitos Humanos, Arte e Memória: representações, silenciamentos e disputas narrativas

Autores: Amanda Muniz Oliveira; Milayne Ferraz de Azevedo; Giovanna Venturini.

Modalidade: Online.

ST15 - Ensino de História e Formação de Professores: afetos, saberes e práticas

Autores: Yara Cristina Alvim; Mariana de Oliveira Amorim.

Modalidade: Online.

ST23 - Antiguidade e Medievo: possibilidades de diálogos

Autores: Denise da Silva Menezes do Nascimento; Sofia Amélia Rego D'Andrea; Ismael da Silva Nunes; Aieska Pandolfi Monfardini.

Modalidade: Online.

ST24 - Espaços em Transformação: Colonização, Demografia e Dinâmicas Sociais (Séculos XVIII e XIX)

Autores: Igor Nogueira Lacerda; Tiago de Castro Braga; Cristian Gomes Lima.

Modalidade: Online.

ST20 - História do Esporte e das práticas corporais

Autor: Harian Pires Braga

Modalidade: Online.

Solicite o cronograma com os links de acesso no WhatsApp (32) 98855-1545 ou, caso esteja inscrito na Semana de História, verifique sua caixa de entrada ou spam do e-mail.

12h00 Almoço Almoço
Local: .

Intervalo.

13h30 Credenciamento Credenciamento
Local: Hall dos Auditórios - ICH/UFJF

Credenciamento somente nos dias 01 e 02 de dezembro.

14h00 MC1 - A atuação de Chimamanda Ngozi Adichie como escritora: entre lugares, ficção e história Minicurso
Local: Auditório - ICH/UFJF

Este minicurso visa discutir a relação entre ficção e história a partir da atuação da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Partindo do pressuposto de que o conhecimento histórico já não se apresenta como monopólio da historiografia profissional e de que existem diferentes maneiras de produzir conhecimento sobre o passado, o minicurso visa discutir o conhecimento histórico produzido por Chimamanda Adichie em sua atuação como escritora. Neste sentido, pretende-se relacionar a obra ficcional, a produção ensaísta e a atuação pública da autora na internet como procedimento de sondagem deste conhecimento, de maneira a mostrar o que seu trânsito entre diferentes gêneros e formas de atuação pode ter a ver com a historicidade do sujeito da cultura e do conhecimento.

Em um primeiro momento, conheceremos as nuances entre os dados biográficos de Chimamanda e sua obra literária, a fim de introduzir uma ideia que servirá como fio condutor do minicurso: a maneira complexa como Adichie explora sua condição histórica na atuação como escritora. A partir de materiais como entrevistas, ensaios e ficções, a ideia é investigar as interseções entre o trânsito de Adichie entre as diferentes tradições culturais do Terceiro Mundo e do Ocidente e sua obra literária, de forma a refletir sobre como estas interseções fazem parte do estilo de Chimamanda Adichie.

A fim de analisar com mais vagar esta exploração da própria condição histórica, discutiremos as relações entre dois dos romances de Adichie, Meio sol amarelo e Americanah, e sua experiência. Nossa leitura acontecerá em perspectiva com outras ficções contemporâneas em que a tematização do trânsito entre tradições culturais também conta com nuances entre autor, narrador e personagem, como O enigma da chegada, de V.S. Naipaul (1994) e Everyday is for the thief. Nosso intuito será situar a obra de Adichie em relação a esta tendência da ficção contemporânea, destacando suas singularidades.

Por fim, concluiremos o minicurso retomando as questões lançadas anteriormente a fim de arregimentar a reflexão sobre qual conhecimento histórico o trânsito de Adichie entre ficção, não-ficção, gêneros literários, tradições culturais e formas de atuação é capaz de produzir. A ênfase recairá sobre os possíveis impactos desse estilo de Adichie em nosso imaginário sobre quem é, quem pode e como pode ser o sujeito da cultura e do conhecimento. (Enviado pelo autor)

14h00 MC2 - Ensino de História e as construções de gênero: a multiplicidade do ser mulher Minicurso
Local: Auditório - ICH/UFJF

A proposta deste minicurso se insere no tema geral do evento a partir de uma articulação entre as categorias diferença, alteridade e temporalidade, com o objetivo de problematizar as múltiplas formas de ser e significar “mulher” no mundo. Defendemos que o ensino de História, quando comprometido com a diferença, não pode se restringir à inclusão da mulher nas narrativas históricas já consolidadas, mas deve questionar os próprios regimes de verdade e representação que produziram silêncios, exclusões e naturalizações em torno do feminino.

O minicurso parte da constatação de que a identidade “mulher” não é uma essência fixa, mas uma categoria em disputa, construída histórica, discursiva e socialmente. Stuart Hall (2006) nos lembra que as identidades são sempre provisórias, fragmentadas e abertas a rearticulações. Derrida (1967), ao propor a différance, mostra que todo significado se constitui em relação ao outro, num processo de adiamento e deslocamento que impede fixações definitivas. Judith Butler (2003, 2015, 2021), por sua vez, enfatiza que gênero não é uma identidade natural, mas uma construção performativa, efeito de normas que podem ser repetidas e também subvertidas. Luce Irigaray (2002) denuncia a lógica do “um” universal e masculino que invisibiliza a mulher e propõe pensar uma ética do “dois”, fundada no reconhecimento da diferença sexual como originária. Já Emmanuel Levinas (2014) destaca que a alteridade radical do Outro nunca pode ser reduzida ao mesmo, sendo antes um chamado ético que antecede qualquer contrato. Ao articular esses referenciais, buscamos problematizar como o ensino de História pode se abrir ao que escapa às categorias fixas, permitindo pensar a alteridade como elemento constitutivo da formação histórica e ética.

Essa reflexão teórica encontra ressonância na prática escolar. O ensino de História, ao lidar com identidades e diferenças, tem sido historicamente atravessado por representações normativas da mulher: a mulher como mãe, esposa, cuidadora, ou, em outro polo, como exceção heroica em espaços masculinos de poder. Tais imagens reduzem a complexidade da experiência feminina, ao mesmo tempo em que silenciam múltiplos modos de ser mulher. Nosso propósito é questionar essas narrativas e abrir espaço para múltiplas vozes, temporalidades e cosmopercepções. Como aponta Macedo (2020), não se trata de “incluir a diferença” como adição a um currículo já dado, mas de repensar o currículo como espaço de disputa, negociação e deslocamento de sentidos.

No desenvolvimento do minicurso, propomos três movimentos principais:

  • Debate conceitual: discutiremos as transformações históricas da identidade “mulher” e os modos como o ensino de História pode operar a partir da diferença, não da identidade fixa. A questão central é: como a História ensinada pode contribuir para visibilizar experiências plurais de mulheres e, ao mesmo tempo, questionar as normas que as aprisionam em categorias estáveis?

  • Diálogo com cosmogonias indígenas: recuperaremos narrativas originárias de Abya Yala que não operam com uma lógica binária de gênero e que atribuem ao feminino centralidade ontológica, social e cosmológica. Essa parte será inspirada, entre outros referenciais, nas reflexões de Geni Núñez sobre a descolonização dos afetos, que problematiza como as normas de gênero coloniais se infiltraram nas formas de amar, desejar e existir, ao mesmo tempo em que resgata perspectivas indígenas que desestabilizam o binarismo e abrem para outros modos de ser e de se relacionar.

  • Oficina prática: convidaremos os/as participantes a realizar uma produção artística em argila, recriando coletivamente “Vênus” a partir de diferentes concepções de feminino. A argila, como material ancestral e central nas culturas indígenas, simboliza tanto a criação quanto a memória. A proposta é que cada participante molde uma figura que represente seu entendimento sobre o feminino, possibilitando que múltiplas formas artísticas e conceituais convivam no mesmo espaço. Essa prática finaliza o minicurso não apenas de modo sensível, mas também político: trata-se de materializar a recusa a uma única forma de representar a mulher e de abrir espaço para múltiplas narrativas.

A metodologia do minicurso articula, assim, momentos expositivos e dialogados, análises coletivas e práticas criativas. A intenção é que o espaço não seja apenas de transmissão de conteúdos, mas de produção conjunta de saberes, valorizando as experiências, afetos e perspectivas dos/as participantes.

Por fim, acreditamos que este minicurso contribui para o evento por três razões principais: (i) atualiza o debate sobre a presença das mulheres no ensino de História, deslocando-o da simples “inclusão” para uma problematização mais radical sobre diferença e alteridade; (ii) conecta o ensino de História a cosmopercepções indígenas, ampliando a reflexão para além da tradição ocidental e promovendo uma perspectiva descolonial; e (iii) oferece um espaço criativo de experimentação, no qual os/as participantes poderão articular teoria, sensibilidade e prática artística.

A aposta central é que pensar o ser mulher no ensino de História exige enfrentar os limites das categorias tradicionais e abrir-se a outras formas de significar a diferença. O currículo, nesse sentido, torna-se um espaço de disputa em que se decide não apenas quais histórias contar, mas também como contá-las, quem pode ser reconhecido como sujeito e quais futuros podem ser imaginados. Apostamos, portanto, em um ensino de História comprometido com a diferença, que não teme a multiplicidade, mas que nela encontra a possibilidade de um mundo mais justo, plural e democrático. (Enviado pela autora)

18h00 Atividade Cultural e Coffee Break Coffee break
Local: Hall dos Auditórios - ICH/UFJF

Atividade Cultural e coffee Break.

18h00 Credenciamento Credenciamento
Local: Hall dos Auditórios - ICH/UFJF

Credenciamento somente nos dias 01 e 02 de dezembro.

19h00 - Prof. Dr. Toni Morant I Ariño, Profa. Dra. Maria Cláudia Badan, Profa. Dra. Silvana Barbosa MT2 - Do centro a margem: Novas perspectivas historiográficas e o recorte de gênero Mesa Temática
Local: Auditório 1 - ICH/UFJF

Na historiografia, muitas vezes, a História das mulheres é resumida à opressão e ao papel de vítima, bem como à colaboração e à cumplicidade com os homens. Onde estão essas outras mulheres? Para Natalie Zemon Davis, deve-se contar outras histórias e falar algo a mais do que os méritos das grandes mulheres do passado. Deve-se complexificar essas histórias: como as mulheres resistiam? Como viviam? Fazer a História das mulheres é uma forma de sair do silêncio, de trazer à luz as múltiplas experiências do cotidiano que nem sempre são consideradas importantes por pesquisadores. As mulheres são sujeitos ativos na História; ela faz parte da história da sociedade, tal qual a “História dos homens”. Muitas vezes, nos livros didáticos, a participação de mulheres nos processos históricos — quando são retratadas — é reduzida a “boxes”, “para saber mais” ou “outras histórias”. Como se houvesse uma “história principal”, “canônica”, e o papel das mulheres fosse retratado de forma secundária e “não canônica”.

Neste sentido, é possível propor uma discussão ampla que enfatize a necessidade de incorporar a dimensão de gênero à história política, explorando as experiências das mulheres e sua relação com a cultura, a sociedade e os direitos. Assim, é preciso abordar as relações de todos os atores sociais com a política, ou com as relações econômicas e sociais em sua amplitude mais tangível. Como defende Louise Tilly, é preciso tratar o recorte de gênero como uma categoria conceitual (TILLY, 1988), assim, entendendo esse processo como uma variável crítica, rejeitando o argumento reducionista causal.

Podendo flexionar essas dinâmicas em sua projeção holística e conjuntural, inferindo os diferentes contextos, com ou sem direitos políticos formais para mulheres, e seu impacto na capacidade de ação coletiva, dentro de seus interesses e limitações. É necessário propor, como defende a historiadora Joan Wallach Scott, uma retomada da perspectiva thompsoniana from below (SCOTT, 2018), dando espaço para entender as nuances da atuação feminina na política para além dos grandes nomes. E, além disso, avançando para espaços de participação das mulheres que fujam ao esperado, encampando ambientes políticos não tão explorados.

Abrangendo ainda espaços e vozes que foram ultra-marginalizados, dando lugar para reflexões e debates que embarcam o cenário da atuação política feminina nas periferias do globo, não estando reduzidos aos grandes centros de poder e suas adjacências. A historiadora Lola G. Luna reforça que o silenciamento das mulheres latino-americanas está para além da invisibilidade historiográfica (LUNA, 2003). Devendo se, para estes casos, englobar a análise uma visão concreta das peculiaridades dos impactos do Estado patrimonialista, patriarcal e

colonial, bem como as estruturas pós-coloniais de dominação. Tendo em vista as mudanças importantes que afetaram a história política, incorporando às reflexões a existência de novos atores, novos campos de conflito e novas formas de participação política oriundas dos contextos de marginalidade geográfica e de classe. Como defende Lola G. Luna:

“Em outras palavras, a história política tem, entre outros tópicos (Estado,

instituições, sistema político, exército, cultura política e formas de sociabilidade), as relações de todos os atores sociais reais com a política, ou com o poder em seu sentido mais amplo, e os movimentos sociais das mulheres têm significados políticos que os tornam objeto de estudo nesse campo da historiografia”(LUNA, p. 45, 2003, tradução nossa).

Sendo assim, é preciso levar em conta as transformações no campo da história política, bem como a ampla renovação neste espaço de análise. Conforme aponta o historiador britânico James Epstein, é necessário redirecionar o campo a dos processos formais de governo e as instituições do Estado, para os investimentos simbólicos de ações e comunicação (EPSTEIN, 2013). Entendendo, para o recorte de gênero, como os significados foram produzidos, recebidos e sustentados, bem como eles impactaram na atuação feminina e nas operações de memória e seu uso político.

Como também defende Stefan Berger, a inflexão a ser superada em relação à Traditional Political History, deve perpassar pela contribuição valiosa de uma maior autorreflexividade sobre os vínculos da escrita da história política com a formação da identidade coletiva (BERGER, 2022). Contando com a já mencionada história vista de baixo, bem como outros crivos no campo de estudo, como os estudos comparativos e transacionais, existem vastas possibilidades que podem e devem ser feitas no estudo da história das mulheres dentro do escopo político e social.

Diante disso, é desejável que o debate da mesa leve em consideração os pontos levantados nos parágrafos anteriores, tratando o campo da história política e social sob o recorte de gênero. Entendendo as mudanças e transformações deste campo, assim como outras problemáticas de pesquisa e metodologia que eventualmente afetem o campo e possam contribuir para o debate. Por fim, espera-se que sejam desenvolvidas importantes abordagens e reflexões sobre este tema, assim, engrandecendo o evento e prestigiando este campo de estudo e a história das mulheres.

08h00 Simpósio Temáticos Simpósio Temático
Local: Instituto de Ciências Humanas/UFJF e Online

Cronograma Prévio dos Simpósios Temáticos na XLI Semana de História

Horário/Data

02/12/2025 (Terça-feira)

03/12/2025 (Quarta-feira)

04/12/2025 (Quinta-feira)

05/12/2025 (Sexta-feira)

08:00-12:00

Presenciais

ST02 - Visibilidades incontornáveis: as mulheres na História da Arte

Autores: Clarissa Videira Rocha de Souza; Rodrigo Felipe Fernandes; Rafael Soares dos Santos Silva; Laura Narazé Arruda.

Modalidade: Presencial.

Sala: Auditório 2

ST02 - Visibilidades incontornáveis: as mulheres na História da Arte

Autores: Clarissa Videira Rocha de Souza; Rodrigo Felipe Fernandes; Rafael Soares dos Santos Silva; Laura Narazé Arruda.

Modalidade: Presencial.

Sala: Auditório 2

ST16 - Ensino e diferença: o “eu” e o “outro” da História

Autores: Maria Beatriz de S. Thiago Ragon; Hiago Gonçalves Dias do Nascimento; Raquel Damasceno Martins dos Santos.

Modalidade: Presencial.

Sala: Auditório 2

ST16 - Ensino e diferença: o “eu” e o “outro” da História

Autores: Maria Beatriz de S. Thiago Ragon; Hiago Gonçalves Dias do Nascimento; Raquel Damasceno Martins dos Santos.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 2

ST06 - O século XX na história contemporânea: articulações entre Estados, intelectuais, movimentos e partidos políticos

Autores: Ana Julia Corrêa Ferreira; Tamires de Moura Nogueira Rosa; Juliana Nogueira Garcia Roque; Milene do Carmo Gomes.

Modalidade: Presencial.

Local: A-I-12

ST07 - Observatório da Extrema Direita: Campos historiográficos e perspectivas contemporâneas

Autores: Gabriel Benedito Machado; Mayara Balestro; Bruna Giovanna da Silva; Lavínea Oliveira da Rosa.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 3

ST18 - Memória e Violência: gênero, religião e Estado nas disputas por reconhecimento e reparação

Autores: Francisco Ramos de Farias; Pâmmela Silva Vieira Parreira; Amanda Lagemann Moura.

Modalidade: Presencial.

Sala: Auditório 1

ST21 - História Indígena e do Indigenismo no Brasil republicano (1910 - …)

Autores: Cesar de Miranda e Lemos; Vitória Luyza Cardoso Barbosa; Beatriz dos Santos da Silva.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 3

ST07 - Observatório da Extrema Direita: Campos historiográficos e perspectivas contemporâneas

Autores: Gabriel Benedito Machado; Mayara Balestro; Bruna Giovanna da Silva; Lavínea Oliveira da Rosa.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 3

ST11 - Do um ao todo, do micro ao macro: múltiplas escalas em História Social

Autores: Lucas Oliveira de Jesus; Bianca Ribeiro de Sá; Thaís do Nascimento Gonçalves; Victor José do Nascimento Custódio.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 1

ST22 - América Latina: entre a pluralidade de atores e tempos histórico

Autores: Luiza Rocha de Oliveira; Maria Eduarda Pedrete Vieira; Julia Delage Gomes Sabino.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 3

ST11 - Do um ao todo, do micro ao macro: múltiplas escalas em História Social

Autores: Lucas Oliveira de Jesus; Bianca Ribeiro de Sá; Thaís do Nascimento Gonçalves; Victor José do Nascimento Custódio.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 1

ST25 - Comunicações Livres

Coordenadoras: Beatriz Sales Dias; Dayana Oliveira.

Modalidade: Presencial

Local: A-I-12

Virtuais

ST03 - História Lésbica: Práticas, memórias e epistemologias

Autores: Jessica Marques Toledo; Joyce Mirella Alves de Souza; Julia Aleksandra Martucci Kumpera.

Modalidade: Online.

ST08 - Cultura e imprensa em circulação pelo espaço lusófono: autoritarismos e propaganda no século XX

Autores: Andrelise Gauterio Santorum; Gabriela Santi Pacheco.

Modalidade: Online.

ST12 - Tramas Sociais, Conflitos, Poder e Economia no Brasil

Autores: Vinicius Maia Cardoso; Randolpho Radsack Correa; Patricia de Oliveira Guerra Radsack Corrêa; Arthur da Costa Orlando.

Modalidade: Online.

ST01 - Violência, Gênero e Religiosidade

Autores: Tatiana Olegario da Silva; Welinaidia de Sousa Generoso.

Modalidade: Online

ST04 - História e Memória LGBTQIA+ em Minas Gerais

Autores: Ana Cecília Pereira Batista; Júlia de Castro Martins Ferreira Nogueira.

Modalidade: Online.

ST09 - Mundos do trabalho, movimentos sociais e culturas populares: experiências, reivindicações políticas e relações de gênero, raça e classe

Autor: Danilo Freire Rodrigues; Elilson Pedro Marquez Covre.

Modalidade: Online.

ST13 - Teorias da história: desafios contemporâneos do fazer historiográfico

Autores: Ricardo Vicente da Cunha Junior; Julia Ferrarezi Petrato; João Victor de Oliveira Calegari.

Modalidade: Online.

ST17 - Sujeitas e Sujeitos na História e História da Educação: periódicos, redes de sociabilidade e seus múltiplos campos de atuação.

Autores: Priscila Alves Ferreira; Diogo Piassá das Mercês; Patrícia Siqueira Marcondes.

Modalidade: Online.

ST05 - Revisitando as ditaduras e o pós-ditadura no Cone Sul: abordagens múltiplas sobre o passado que não passa

Autores: Samuel Torres Bueno; Iasmin do Prado Gomes; Isadora Silva Gomes.

Modalidade: Online.

ST10 - Olhares negros da História: raça, trabalho, sociabilidade e ativismos nos séculos XIX e XX

Autores: Chrigor Augusto Liberio; Jéssica Lopes de Assis; Maria Eloah Bernardo

Modalidade: Presencial.

ST14 - Novos olhares e novos métodos? Práticas e relações historiográficas em tempos digitais

Autores: Mateus Rezende de Andrade; Ian Kisil Marino; Maria Eduarda Taroco Vieira.

Modalidade: Online.

ST19 - Direitos Humanos, Arte e Memória: representações, silenciamentos e disputas narrativas

Autores: Amanda Muniz Oliveira; Milayne Ferraz de Azevedo; Giovanna Venturini.

Modalidade: Online.

ST15 - Ensino de História e Formação de Professores: afetos, saberes e práticas

Autores: Yara Cristina Alvim; Mariana de Oliveira Amorim.

Modalidade: Online.

ST23 - Antiguidade e Medievo: possibilidades de diálogos

Autores: Denise da Silva Menezes do Nascimento; Sofia Amélia Rego D'Andrea; Ismael da Silva Nunes; Aieska Pandolfi Monfardini.

Modalidade: Online.

ST24 - Espaços em Transformação: Colonização, Demografia e Dinâmicas Sociais (Séculos XVIII e XIX)

Autores: Igor Nogueira Lacerda; Tiago de Castro Braga; Cristian Gomes Lima.

Modalidade: Online.

ST20 - História do Esporte e das práticas corporais

Autor: Harian Pires Braga

Modalidade: Online.

Solicite o cronograma com os links de acesso no WhatsApp (32) 98855-1545 ou, caso esteja inscrito na Semana de História, verifique sua caixa de entrada ou spam do e-mail.

12h00 Almoço Almoço
Local: .

Intervalo.

14h00 Atividade Cultural e Lançamento de Livros Lançamento de Livro
Local: Hall dos Auditórios - ICH/UFJF

Atividade Cultural e Lançamento de Livros

19h00 - Profa. Dra. Giovana Castro, Profa. Dra. Mônica Oliveira, Profa. Dra. Suelen Julio MT3 - O feminino é político: As múltiplas dimensões da mulher indígena e quilombola na história Mesa Temática
Local: Auditório 1 - ICH/UFJF

Durante os séculos de colonização do Brasil, as questões da escravização, trabalho forçado e exploração da terra marcaram esse processo. Os portugueses, ao chegarem no país, impuseram sua identidade cultural, religiosa e política sob aqueles considerados por eles inferiores ao homem branco europeu. Povos compostos por pessoas aculturadas, sem história, animalescas e, naturalmente, incapazes de progredir como sociedade por conta própria.

Os indígenas foram retratados dessa maneira pela historiografia por muito tempo, sem o devido aprofundamento sobre suas vivências como agentes de sua história. Bem como os quilombos, retratados com rebeldia e violência. A desvalorização das tradições e costumes dos povos originários reforçou sua posição subordinada na narrativa histórica, o que consequentemente, atrelou sua própria existência ao colonizador e ao trabalho forçado. Entretanto, a resistência sempre existiu, manifestando-se de múltiplas formas e em diversos contextos de enfrentamento de violências e discriminação; formas de viver que perpassam gerações para a manuteção de saberes ancestrais. A interseccionalidade das dimensões de raça, gênero e outros entrecruzamentos que estruturam e condicionam a vida das mulheres indígenas e quilombolas na atualidade, afetam e complexificam a posição marginalizada ocupada por elas na sociedade. Por isso, os movimentos sociais são capazes de fortalecer os indivíduos pulsantes da história, trazendo à superfície e dando fôlego às suas lutas, onde a(s) política(s) é vista como arma poderosa na luta incansável por um lugar de protagonismo da mulher indígena na História. Elas têm encontrado um palco potente para disseminar os debates políticos de seus interesses e suas contestações sociais perante a uma realidade, historicamente, inferiorizada.

Mulheres quilombolas e indígenas são grandes responsáveis por levar adiante os saberes e práticas ancestrais, por lutar pelo território, por garantir o sustento partindo dos recursos naturais, e por cuidar, não apenas do bem-estar do grupo, mas pelo cuidado da terra. São estas mesmas mulheres, que permanecem sendo violentadas e impactadas pelos conflitos territoriais (ONU Mulheres, 2017), por invasores de terras, por garimpeiros, por companheiros. E permanecem carecendo de políticas públicas objetivas. No contexto na proposição de estratégias para o “Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030”, uma entrevista pela ONU Mulheres foi realizada com Maria Rosalina dos Santos, quilombola, coordenadora estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí e também integrante da Coordenação Nacional de Comunidades Quilombolas. Quando questionada sobre os impactos ambientais contemporâneos em mulheres quilombolas, Maria Rosalina afirma que:

“Os grandes empreendimentos de desenvolvimento da mineração vêm destruindo as comunidades. E a principal vítima são as mulheres, pois elas ficam nas comunidades e sofrem os impactos dessa neocolonização. A mineração não garante trabalho e nem renda para nós quilombolas. Então, o desenvolvimento é para quem? [...]” (Santos, 2017).

A revolução que pretende-se alcançar nessa discussão está em protagonizar mulheres indígenas e quilombolas no campo historiográfico acadêmico, abarcando suas identidades e tradições culturais apagadas pelo processo colonial. É nesse sentido que percebe-se como existir em uma sociedade estruturalmente machista, patriarcal e preconceituosa, torna-se ainda mais difícil para a comunidade indígena e quilombola. Dar voz à essas mulheres impacta toda sua comunidade na medida em que, ao oferecer abertura para reflexões sobre as resistências políticas-sociais femininas, as memórias de gerações são potencializadas para a preservação e manutenção da história de seu povo. Portanto, apresenta-se como objetivo dessa mesa discutir o lugar feminino não apenas nas comunidades indígenas e quilombolas, mas na sociedade como um todo; a garantia de exercer seu papel de cidadã; o planejamento e fortalecimento de políticas públicas que retirem das sombras as violências e os abusos à essas mulheres; a multiplicidade de saberes de cuidado da terra e do coletivo - e do cuidado com suas iguais. A discussão das estratégias de resistência empregadas nesse contexto auxiliam a reafirmar o espaço ocupado pelos povos originários durante os séculos, e assegurar sua existência como agente histórico perante ao campo de estudo.

08h00 Simpósio Temáticos Simpósio Temático
Local: Instituto de Ciências Humanas/UFJF e Online

Cronograma Prévio dos Simpósios Temáticos na XLI Semana de História

Horário/Data

02/12/2025 (Terça-feira)

03/12/2025 (Quarta-feira)

04/12/2025 (Quinta-feira)

05/12/2025 (Sexta-feira)

08:00-12:00

Presenciais

ST02 - Visibilidades incontornáveis: as mulheres na História da Arte

Autores: Clarissa Videira Rocha de Souza; Rodrigo Felipe Fernandes; Rafael Soares dos Santos Silva; Laura Narazé Arruda.

Modalidade: Presencial.

Sala: Auditório 2

ST02 - Visibilidades incontornáveis: as mulheres na História da Arte

Autores: Clarissa Videira Rocha de Souza; Rodrigo Felipe Fernandes; Rafael Soares dos Santos Silva; Laura Narazé Arruda.

Modalidade: Presencial.

Sala: Auditório 2

ST16 - Ensino e diferença: o “eu” e o “outro” da História

Autores: Maria Beatriz de S. Thiago Ragon; Hiago Gonçalves Dias do Nascimento; Raquel Damasceno Martins dos Santos.

Modalidade: Presencial.

Sala: Auditório 2

ST16 - Ensino e diferença: o “eu” e o “outro” da História

Autores: Maria Beatriz de S. Thiago Ragon; Hiago Gonçalves Dias do Nascimento; Raquel Damasceno Martins dos Santos.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 2

ST06 - O século XX na história contemporânea: articulações entre Estados, intelectuais, movimentos e partidos políticos

Autores: Ana Julia Corrêa Ferreira; Tamires de Moura Nogueira Rosa; Juliana Nogueira Garcia Roque; Milene do Carmo Gomes.

Modalidade: Presencial.

Local: A-I-12

ST07 - Observatório da Extrema Direita: Campos historiográficos e perspectivas contemporâneas

Autores: Gabriel Benedito Machado; Mayara Balestro; Bruna Giovanna da Silva; Lavínea Oliveira da Rosa.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 3

ST18 - Memória e Violência: gênero, religião e Estado nas disputas por reconhecimento e reparação

Autores: Francisco Ramos de Farias; Pâmmela Silva Vieira Parreira; Amanda Lagemann Moura.

Modalidade: Presencial.

Sala: Auditório 1

ST21 - História Indígena e do Indigenismo no Brasil republicano (1910 - …)

Autores: Cesar de Miranda e Lemos; Vitória Luyza Cardoso Barbosa; Beatriz dos Santos da Silva.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 3

ST07 - Observatório da Extrema Direita: Campos historiográficos e perspectivas contemporâneas

Autores: Gabriel Benedito Machado; Mayara Balestro; Bruna Giovanna da Silva; Lavínea Oliveira da Rosa.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 3

ST11 - Do um ao todo, do micro ao macro: múltiplas escalas em História Social

Autores: Lucas Oliveira de Jesus; Bianca Ribeiro de Sá; Thaís do Nascimento Gonçalves; Victor José do Nascimento Custódio.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 1

ST22 - América Latina: entre a pluralidade de atores e tempos histórico

Autores: Luiza Rocha de Oliveira; Maria Eduarda Pedrete Vieira; Julia Delage Gomes Sabino.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 3

ST11 - Do um ao todo, do micro ao macro: múltiplas escalas em História Social

Autores: Lucas Oliveira de Jesus; Bianca Ribeiro de Sá; Thaís do Nascimento Gonçalves; Victor José do Nascimento Custódio.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 1

ST25 - Comunicações Livres

Coordenadoras: Beatriz Sales Dias; Dayana Oliveira.

Modalidade: Presencial

Local: A-I-12

Virtuais

ST03 - História Lésbica: Práticas, memórias e epistemologias

Autores: Jessica Marques Toledo; Joyce Mirella Alves de Souza; Julia Aleksandra Martucci Kumpera.

Modalidade: Online.

ST08 - Cultura e imprensa em circulação pelo espaço lusófono: autoritarismos e propaganda no século XX

Autores: Andrelise Gauterio Santorum; Gabriela Santi Pacheco.

Modalidade: Online.

ST12 - Tramas Sociais, Conflitos, Poder e Economia no Brasil

Autores: Vinicius Maia Cardoso; Randolpho Radsack Correa; Patricia de Oliveira Guerra Radsack Corrêa; Arthur da Costa Orlando.

Modalidade: Online.

ST01 - Violência, Gênero e Religiosidade

Autores: Tatiana Olegario da Silva; Welinaidia de Sousa Generoso.

Modalidade: Online

ST04 - História e Memória LGBTQIA+ em Minas Gerais

Autores: Ana Cecília Pereira Batista; Júlia de Castro Martins Ferreira Nogueira.

Modalidade: Online.

ST09 - Mundos do trabalho, movimentos sociais e culturas populares: experiências, reivindicações políticas e relações de gênero, raça e classe

Autor: Danilo Freire Rodrigues; Elilson Pedro Marquez Covre.

Modalidade: Online.

ST13 - Teorias da história: desafios contemporâneos do fazer historiográfico

Autores: Ricardo Vicente da Cunha Junior; Julia Ferrarezi Petrato; João Victor de Oliveira Calegari.

Modalidade: Online.

ST17 - Sujeitas e Sujeitos na História e História da Educação: periódicos, redes de sociabilidade e seus múltiplos campos de atuação.

Autores: Priscila Alves Ferreira; Diogo Piassá das Mercês; Patrícia Siqueira Marcondes.

Modalidade: Online.

ST05 - Revisitando as ditaduras e o pós-ditadura no Cone Sul: abordagens múltiplas sobre o passado que não passa

Autores: Samuel Torres Bueno; Iasmin do Prado Gomes; Isadora Silva Gomes.

Modalidade: Online.

ST10 - Olhares negros da História: raça, trabalho, sociabilidade e ativismos nos séculos XIX e XX

Autores: Chrigor Augusto Liberio; Jéssica Lopes de Assis; Maria Eloah Bernardo

Modalidade: Presencial.

ST14 - Novos olhares e novos métodos? Práticas e relações historiográficas em tempos digitais

Autores: Mateus Rezende de Andrade; Ian Kisil Marino; Maria Eduarda Taroco Vieira.

Modalidade: Online.

ST19 - Direitos Humanos, Arte e Memória: representações, silenciamentos e disputas narrativas

Autores: Amanda Muniz Oliveira; Milayne Ferraz de Azevedo; Giovanna Venturini.

Modalidade: Online.

ST15 - Ensino de História e Formação de Professores: afetos, saberes e práticas

Autores: Yara Cristina Alvim; Mariana de Oliveira Amorim.

Modalidade: Online.

ST23 - Antiguidade e Medievo: possibilidades de diálogos

Autores: Denise da Silva Menezes do Nascimento; Sofia Amélia Rego D'Andrea; Ismael da Silva Nunes; Aieska Pandolfi Monfardini.

Modalidade: Online.

ST24 - Espaços em Transformação: Colonização, Demografia e Dinâmicas Sociais (Séculos XVIII e XIX)

Autores: Igor Nogueira Lacerda; Tiago de Castro Braga; Cristian Gomes Lima.

Modalidade: Online.

ST20 - História do Esporte e das práticas corporais

Autor: Harian Pires Braga

Modalidade: Online.

Solicite o cronograma com os links de acesso no WhatsApp (32) 98855-1545 ou, caso esteja inscrito na Semana de História, verifique sua caixa de entrada ou spam do e-mail.

14h00 MC3 - História e Historiografia do Crime e das Drogas no Brasil: entre a marginalidade e o controle social Minicurso
Local: Auditório - ICH/UFJF

O estudo da história do crime e das drogas no Brasil tem ganhado relevância nas últimas décadas, sobretudo diante do avanço das políticas de segurança e do encarceramento em massa. A historiografia brasileira vem demonstrando como as práticas de controle social e as representações do criminoso se articulam a projetos de poder, moralidade e racialização. Ao propor este minicurso, busca-se contribuir para a formação crítica dos estudantes de História, oferecendo ferramentas para compreender as origens e permanências de discursos e práticas que associam crime, pobreza e drogas, e que continuam a moldar o imaginário social e as políticas públicas contemporâneas. Sendo assim, minicurso propõe discutir as relações históricas entre crime, drogas e controle social no Brasil, a partir da historiografia recente e de debates interdisciplinares. Busca-se compreender como a figura do criminoso foi construída ao longo do tempo, em especial na relação entre o uso, o comércio e a criminalização das substâncias entorpecentes. Serão abordados os discursos científicos, jurídicos e midiáticos que moldaram a percepção pública sobre o “inimigo interno”, bem como as políticas estatais de repressão e os impactos sociais e raciais desse processo. O objetivo principal é analisar as transformações históricas e historiográficas sobre o crime e as drogas no Brasil, com ênfase na construção da figura do “criminoso” e do “usuário/vendedor de drogas”, passando pelos principais referenciais teóricos sobre o crime e as drogas na historiografia brasileira. Como metodolgia pensamos em uma exposição dialogada com apoio de slides e trechos de documentos históricos, matérias de jornais e relatórios ppolicais, discussão coletiva a partir de textos selecionados da bibliografia, análise de casos históricos (como o Rio de Janeiro nas décadas de 1930–1980 e o papel da legislação de drogas). (Enviado pela autora)

14h00 MC4 - Rupturas Negras na Historiografia: Clóvis Moura, Beatriz Nascimento, Guerreiro Ramos, Neuza Santos Souza, Abdias Nascimento e Lélia Gonzalez Minicurso
Local: Auditório - ICH/UFJF

O Brasil foi propulsor de novas perspectivas para a História no século XX, alterando e modificando as teorias e metodologias produzidas no norte global para contar sua história à sua maneira. Dessa movimentação historiográfica, temos uma gama de autoras e autores negros que alicerçaram os pilares dessa ciência, dando novas metodologias, teorias, conceitos e formas de escrever sobre o passado e seus personagens. O presente minicurso tem como objeto explorar alguns desses nomes: Clóvis Moura, Beatriz Nascimento, Guerreiro Ramos, Neuza Santos Sousa, Abdias Nascimento e Lélia Gonzalez, os apontando como pedra angular dos estudos sobre o Brasil com sua nação majoritariamente negra. A partir dos autores, visamos compreender sua contribuição à história e História do Brasil, como a possibilidade e pluralidade de formas de diálogo de suas obras com as pesquisas históricas, evidenciando as conexões e tensões com a tradição do pensamento social brasileiro.

Considerando o trabalho de autores como Joaze Bernardino-Costa (2024), que estabelece diálogos entre diferentes intelectuais negros, é possível conectar essas contribuições às recentes discussões sobre o conceito de interseccionalidade, entendido como uma zona heterogênea de desprivilégio racial vivenciado segundo as dimensões de classe, gênero, sexualidade etc.

Interessa-nos questionar os espaços de circulação dessas ideias, bem como sua recepção e difusão no meio intelectual, de modo a destacar como autores negros formularam críticas e alternativas em torno de temas centrais sobre o Brasil e seu desenvolvimento ao longo do século XX, explorando temas como: nacionalidade, democracia racial, racismo, trabalho, ativismo, mobilidade social, visões de liberdade e afins.

Adotamos aqui, também, uma noção ampla de decolonialidade, não restrita a um conjunto fechado de autores, mas voltada a apreender os processos históricos de resistência e reexistência das populações afrodiaspóricas, em especial da população negra, contra o epistemicídio. Diante uma academia composta majoritariamente por autoras e autores brancos, que exploravam a temática negra e seus personagens em uma ótica colonialista e europeia, os autores em questão são vozes sufocadas a conclamar por uma verdadeira História Negra (Domingues, 2025). É Beatriz Nascimento, inclusive, que vai proclamar, ainda na década de 1970, a necessidade de rever a história do negro, num enfoque “etnográfico, religioso, socioeconômico, ou seja, fragmentariamente” (Nascimento, 1974), na transformação do antigo objeto, para agente, da História. Diante dessas práticas de remodulação dos autores, em intervir diretamente em como o negro é tido na historiografia, vemos, quase como uma resposta direta à Spivak (1988), autoras e autores negros apontando para a branquitude que “pode o subalterno falar”!.

Diante uma gama de novas formas de se ver o negro na história, produzidas pelos próprios intelectuais negros brasileiros, ve-sê a modificação de suas características embrionárias a refazer os pilares da metodologia histórias. Seu empenho em produzir e reconstruir uma história do Brasil que olhe e toque a epiderme, mostra novas ferramentas para o arcabouço de formas de fazer História. Mesmo que apropriadas/roubadas por autores brancos, a produção dessas novas ferramentas, no presente trabalho, vai ser visibilizada e apontada para seus reais produtores, descortinando o véu do epistemicídio colocados sob esses intelectuais e suas obras. Um verdadeiro trabalho decolonial de arregimentar a produção historiográfica a um olhar não ocidental, fazendo a decolonialidade antes mesmo que qualquer autor “cunhasse” tal termo (Grosfoguel, 2024).

Nesse sentido, é a partir dessa concepção ampla de decolonialidade que pensamos a seleção de autores e autoras para este minicurso. Ao invés de enquadrá-los em categorias importadas que podem silenciar suas especificidades, buscaremos evidenciar como suas obras e trajetórias, em diferentes momentos do século XX, ofereceram respostas intelectuais próprias às hierarquias raciais, às desigualdades sociais e às disputas em torno da ideia de nação no Brasil. A escolha de Clóvis Moura, Beatriz Nascimento, Alberto Guerreiro Ramos, Neusa Santos Souza, Abdias Nascimento e Lélia Gonzalez se justifica exatamente por esse compromisso: todos, em suas formas singulares de atuação, romperam com leituras tradicionais do pensamento social brasileiro, tensionam o cânone acadêmico e formularam novas interpretações sobre raça, cultura, subjetividade e identidade nacional. Tal perspectiva evidencia como a “história negra” (Domingues, 2025) se apresenta como um projeto adicional ao da historiografia dita canônica: edificar narrativas que revelam a diferença e, a partir dela, tensionam e desestabilizam as versões etnocêntricas tradicionais do passado nacional. (Enviado pelos autores)

14h00 Almoço Almoço
Local: .

Intervalo.

18h00 Atividade Cultural e Coffee Break Coffee break
Local: Hall dos Auditórios - ICH/UFJF

Atividade Cultural e coffee Break.

18h30 Sessão Solene - O Grupo de Trabalho de Memória da Semana de História Sessão Solene
Local: Auditório 1 - ICH/UFJF

.

19h00 - Ma. Alessandra Germano, Profa. Dra. Carolina Alves, Profa. Dra. Maraliz Christo MT4 - Passado arquivado e musealizado: Questões sobre o registro da agência feminina nos museus e arquivos históricos Mesa Temática
Local: Auditório 1 - ICH/UFJF

Os arquivos históricos, por vezes percebidos como repositórios objetivos da memória, são, na realidade, construções profundamente marcadas por escolhas políticas e sociais. Espelhos de uma historiografia que, por décadas, atribuiu exclusivamente à figura masculina o papel de sujeito histórico ativo, e de uma museologia centrada na preservação da trajetória de grandes homens, os arquivos — longe de serem meros depositários de fatos — funcionaram como dispositivos ativos na consolidação de narrativas históricas masculinas. Nesse sentido, o arquivo não apenas preserva, mas também silencia; não apenas registra, mas também esquece. Como afirmam Cook e Schwartz (2002), “os arquivos têm o poder de privilegiar ou de marginalizar”, podendo se constituir em ferramentas de hegemonia ou resistência, conforme os interesses que os moldam. A disputa em torno do que deve ou não ser lembrado revela embates mais amplos, atravessados por desigualdades de classe, raça, gênero e poder. Refletir sobre a natureza social e política dos arquivos, portanto, é essencial para compreender os mecanismos pelos quais determinadas vozes foram historicamente legitimadas, enquanto outras, sistematicamente, silenciadas.

Os arquivos são templos modernos — templos da memória. Como instituições, tanto como coleções, os arquivos servem como monumentos às pessoas e instituições julgadas merecedoras de serem lembradas. Igualmente, as que são rejeitadas por serem julgadas não merecedoras, têm seu acesso negado a esses templos da memória e estão fadadas, assim, ao esquecimento de nossas histórias e de nossa consciência social. […] O controle do passado, e o controle sobre a criação e preservação do passado pelos arquivos, reflete as lutas de poder do presente e, na verdade, sempre as refletiram. (Cook, 1998, p. 143, grifo nosso)

Na escrita da história, às mulheres foi frequentemente relegado um papel coadjuvante, definidas não por suas ações ou produções, mas à sombra de figuras masculinas centrais, “a esposa de”, “a viúva de”. Reduzidas a nomenclaturas genéricas, elas aparecem nos registros históricos sem nome, sem rosto e sem voz. No entanto, essas mesmas mulheres que foram silenciadas nos arquivos tiveram, em suas vidas concretas, múltiplas atuações: foram pintoras, escritoras, educadoras, militantes, políticas. O contraste entre a riqueza de suas experiências e a pobreza de sua representação documental evidencia uma seletividade arquivística que não apenas ignora, como apaga a diversidade de suas trajetórias.

Frente a esse cenário de silenciamento, as teorias de gênero e os estudos pós-coloniais têm buscado suscitar reflexões acerca da subrepresentação feminina nas instituições de memória, como arquivos históricos, centros de documentação e museus, propondo uma crítica à suposta neutralidade arquivística. É interessante destacar, por exemplo, a Rede Arquivo de Mulheres (RAM), que surge em 2020 como uma iniciativa conjunta do Centro de Pesquisa e Documentação

de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV) e do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP), com o objetivo de reunir pesquisadoras e pesquisadores comprometidos com a reflexão sobre a salvaguarda de arquivos de mulheres, contribuindo para a valorização de suas histórias e memórias em suas múltiplas dimensões (Rede Arquivos de Mulheres)1. Repensar metodologias de organização e processamento de arquivos, com atenção especial aos instrumentos de descrição e às práticas de indexação e classificação (Cerchiaro; Alves, 2022), desnaturalizando o processo, constitui assim um passo fundamental para avançar na garantia do direito à memória das mulheres.

Nesta mesa, propomos refletir sobre os atuais movimentos de transformação no campo dos arquivos históricos e museus, que têm buscado ampliar olhares, perspectivas e perfis em seus acervos. O objetivo é discutir como essas instituições vêm se abrindo para incluir novas narrativas e em seus acervos no que diz respeito à presença das mulheres. A partir do entrelaçamento entre arquivo e memória, pretendemos problematizar o passado que foi arquivado e musealizado, refletindo sobre as relações de poder institucionalizadas que ainda estruturam os processos de salvaguarda e colaboram para a homogeneização de determinadas narrativas. Assim, a preservação de acervos femininos surge como uma demanda por reconhecimento e uma prática política que busca restaurar a agência histórica das mulheres.

08h00 Simpósio Temáticos Simpósio Temático
Local: Instituto de Ciências Humanas/UFJF e Online

Cronograma Prévio dos Simpósios Temáticos na XLI Semana de História

Horário/Data

02/12/2025 (Terça-feira)

03/12/2025 (Quarta-feira)

04/12/2025 (Quinta-feira)

05/12/2025 (Sexta-feira)

08:00-12:00

Presenciais

ST02 - Visibilidades incontornáveis: as mulheres na História da Arte

Autores: Clarissa Videira Rocha de Souza; Rodrigo Felipe Fernandes; Rafael Soares dos Santos Silva; Laura Narazé Arruda.

Modalidade: Presencial.

Sala: Auditório 2

ST02 - Visibilidades incontornáveis: as mulheres na História da Arte

Autores: Clarissa Videira Rocha de Souza; Rodrigo Felipe Fernandes; Rafael Soares dos Santos Silva; Laura Narazé Arruda.

Modalidade: Presencial.

Sala: Auditório 2

ST16 - Ensino e diferença: o “eu” e o “outro” da História

Autores: Maria Beatriz de S. Thiago Ragon; Hiago Gonçalves Dias do Nascimento; Raquel Damasceno Martins dos Santos.

Modalidade: Presencial.

Sala: Auditório 2

ST16 - Ensino e diferença: o “eu” e o “outro” da História

Autores: Maria Beatriz de S. Thiago Ragon; Hiago Gonçalves Dias do Nascimento; Raquel Damasceno Martins dos Santos.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 2

ST06 - O século XX na história contemporânea: articulações entre Estados, intelectuais, movimentos e partidos políticos

Autores: Ana Julia Corrêa Ferreira; Tamires de Moura Nogueira Rosa; Juliana Nogueira Garcia Roque; Milene do Carmo Gomes.

Modalidade: Presencial.

Local: A-I-12

ST07 - Observatório da Extrema Direita: Campos historiográficos e perspectivas contemporâneas

Autores: Gabriel Benedito Machado; Mayara Balestro; Bruna Giovanna da Silva; Lavínea Oliveira da Rosa.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 3

ST18 - Memória e Violência: gênero, religião e Estado nas disputas por reconhecimento e reparação

Autores: Francisco Ramos de Farias; Pâmmela Silva Vieira Parreira; Amanda Lagemann Moura.

Modalidade: Presencial.

Sala: Auditório 1

ST21 - História Indígena e do Indigenismo no Brasil republicano (1910 - …)

Autores: Cesar de Miranda e Lemos; Vitória Luyza Cardoso Barbosa; Beatriz dos Santos da Silva.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 3

ST07 - Observatório da Extrema Direita: Campos historiográficos e perspectivas contemporâneas

Autores: Gabriel Benedito Machado; Mayara Balestro; Bruna Giovanna da Silva; Lavínea Oliveira da Rosa.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 3

ST11 - Do um ao todo, do micro ao macro: múltiplas escalas em História Social

Autores: Lucas Oliveira de Jesus; Bianca Ribeiro de Sá; Thaís do Nascimento Gonçalves; Victor José do Nascimento Custódio.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 1

ST22 - América Latina: entre a pluralidade de atores e tempos histórico

Autores: Luiza Rocha de Oliveira; Maria Eduarda Pedrete Vieira; Julia Delage Gomes Sabino.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 3

ST11 - Do um ao todo, do micro ao macro: múltiplas escalas em História Social

Autores: Lucas Oliveira de Jesus; Bianca Ribeiro de Sá; Thaís do Nascimento Gonçalves; Victor José do Nascimento Custódio.

Modalidade: Presencial.

Local: Auditório 1

ST25 - Comunicações Livres

Coordenadoras: Beatriz Sales Dias; Dayana Oliveira.

Modalidade: Presencial

Local: A-I-12

Virtuais

ST03 - História Lésbica: Práticas, memórias e epistemologias

Autores: Jessica Marques Toledo; Joyce Mirella Alves de Souza; Julia Aleksandra Martucci Kumpera.

Modalidade: Online.

ST08 - Cultura e imprensa em circulação pelo espaço lusófono: autoritarismos e propaganda no século XX

Autores: Andrelise Gauterio Santorum; Gabriela Santi Pacheco.

Modalidade: Online.

ST12 - Tramas Sociais, Conflitos, Poder e Economia no Brasil

Autores: Vinicius Maia Cardoso; Randolpho Radsack Correa; Patricia de Oliveira Guerra Radsack Corrêa; Arthur da Costa Orlando.

Modalidade: Online.

ST01 - Violência, Gênero e Religiosidade

Autores: Tatiana Olegario da Silva; Welinaidia de Sousa Generoso.

Modalidade: Online

ST04 - História e Memória LGBTQIA+ em Minas Gerais

Autores: Ana Cecília Pereira Batista; Júlia de Castro Martins Ferreira Nogueira.

Modalidade: Online.

ST09 - Mundos do trabalho, movimentos sociais e culturas populares: experiências, reivindicações políticas e relações de gênero, raça e classe

Autor: Danilo Freire Rodrigues; Elilson Pedro Marquez Covre.

Modalidade: Online.

ST13 - Teorias da história: desafios contemporâneos do fazer historiográfico

Autores: Ricardo Vicente da Cunha Junior; Julia Ferrarezi Petrato; João Victor de Oliveira Calegari.

Modalidade: Online.

ST17 - Sujeitas e Sujeitos na História e História da Educação: periódicos, redes de sociabilidade e seus múltiplos campos de atuação.

Autores: Priscila Alves Ferreira; Diogo Piassá das Mercês; Patrícia Siqueira Marcondes.

Modalidade: Online.

ST05 - Revisitando as ditaduras e o pós-ditadura no Cone Sul: abordagens múltiplas sobre o passado que não passa

Autores: Samuel Torres Bueno; Iasmin do Prado Gomes; Isadora Silva Gomes.

Modalidade: Online.

ST10 - Olhares negros da História: raça, trabalho, sociabilidade e ativismos nos séculos XIX e XX

Autores: Chrigor Augusto Liberio; Jéssica Lopes de Assis; Maria Eloah Bernardo

Modalidade: Presencial.

ST14 - Novos olhares e novos métodos? Práticas e relações historiográficas em tempos digitais

Autores: Mateus Rezende de Andrade; Ian Kisil Marino; Maria Eduarda Taroco Vieira.

Modalidade: Online.

ST19 - Direitos Humanos, Arte e Memória: representações, silenciamentos e disputas narrativas

Autores: Amanda Muniz Oliveira; Milayne Ferraz de Azevedo; Giovanna Venturini.

Modalidade: Online.

ST15 - Ensino de História e Formação de Professores: afetos, saberes e práticas

Autores: Yara Cristina Alvim; Mariana de Oliveira Amorim.

Modalidade: Online.

ST23 - Antiguidade e Medievo: possibilidades de diálogos

Autores: Denise da Silva Menezes do Nascimento; Sofia Amélia Rego D'Andrea; Ismael da Silva Nunes; Aieska Pandolfi Monfardini.

Modalidade: Online.

ST24 - Espaços em Transformação: Colonização, Demografia e Dinâmicas Sociais (Séculos XVIII e XIX)

Autores: Igor Nogueira Lacerda; Tiago de Castro Braga; Cristian Gomes Lima.

Modalidade: Online.

ST20 - História do Esporte e das práticas corporais

Autor: Harian Pires Braga

Modalidade: Online.

Solicite o cronograma com os links de acesso no WhatsApp (32) 98855-1545 ou, caso esteja inscrito na Semana de História, verifique sua caixa de entrada ou spam do e-mail.

12h00 Almoço Almoço
Local: .

Intervalo.

14h00 OF5 - Arquivos interioranos: apontamentos e possibilidades de pesquisas Oficina
Local: Auditório - ICH/UFJF

Esta oficina tem como proposta instigar os acadêmicos de graduação e pós-graduação a explorar as múltiplas possibilidades de pesquisa histórica a partir do uso de fontes regionais. A ideia é mostrar como documentos guardados em arquivos locais, regionais ou até mesmo particulares podem revelar caminhos ricos para compreender questões nacionais e internacionais. Além disso, será um espaço para refletir sobre os desafios e descobertas que surgem no processo de organizar, interpretar e dar vida a essas fontes no campo da História.

14h00 MC6 - Propositivas pedagógicas e encantarias mitológicas no ensino de história: os mitos de criação e as atuações do PIBID Minicurso
Local: Auditório - ICH/UFJF

Leão! Vai encontrar Suçuarana

A sombra de uma imburana

Ao lado de mil tracajás.

Num ritual, arara pula no cipó

Lá na beira do igapó, encantados ancestrais

Por seu legado, mãe da mata de Tupi

Neste solo sagrado, ao pajé foi levado

O rei guarani.

Estácio de Sá/Samba-enredo2025.

A sabedoria ancestral indígena ensina que a humanidade precisa reencontrar o equilíbrio com o planeta e resgatar raízes humanas no contato com a terra. Tanto o planeta precisa de revitalização quanto o humano deve voltar-se à sua alma para o sentir do coração. Nossa orientação é “suleadora”. Ou seja, valorizamos nossas culturas latino-americanas. Decolonizar o currículo é também uma descolonização de nosso ser. Reconhecemos nossa dependência, não somos seres autossuficientes. Precisamos de todo o ecossistema. Nossas relações são circulares e nos atravessam de modo que nos completam e (in)completam. A terra quando abusivamente explorada torna-se estéril. Reage às nossas ações. Não há vergonha em precisar dos outros, humanos ou não. Isso é sair do antropocentrismo e assumir papeis no mundo que precisa de todo o ecossistema. O cuidar é reparação histórica. Nisso, os carnavais de 2024 e 2025 trouxeram o mote dos povos originários e seus ancestrais tecendo diálogos culturais, mitológicos, históricos e de regionalidades, como os enredos “Gbalá - viagem ao templo da criação” da escola Unidos de Vila Isabel, e “O Leão se engerou no Encantado Amazônico” da agremiação Estácio de Sá. O lócus, a nossa floresta Amazônica, suas culturas e mitologias ricas em encantamentos que se perpetuam entre gerações, trazendo narrativas históricas das culturas populares.

É nesse sentido que os mitos são parte integrante do currículo escolar de História, estando presentes em documentos normativos como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e nos livros didáticos que circulam pelo país. Entretanto, para além das normativas curriculares, conhecer diferentes mitos, em destaque nessa proposta, os mitos de criação, nos aproxima da cosmovisão e da produção de epistemologias de diferentes povos, etnias, religiões e crenças. Nesse contexto, o trabalho com os mitos de criação apresenta também interdisciplinaridade com discussões do campo das ciências naturais, como as teorias evolucionista e criacionista. Nossa proposta se baseia em uma prática comparativa entre diferentes mitos, não no sentido hierarquizante, mas tendo como objetivo reconhecer suas diferenças e similaridades, assumindo uma posição de curiosidade respeitosa em relação às diferentes crenças. Portanto, serão apresentadas as narrativas mitológicas de povos indígenas do Brasil, mitos afro-brasileiros e da tradição Iorubá, e a partir da discussão inicial sobre suas histórias e estórias, será produzido o material comparativo.

A intenção dessa proposta é lhe encontrar nas esquinas da distância onde somente o ortografar pode nos levar. Deslocamo-nos na direção de outros por meio desta oficina, narrando a trajetória do nosso trabalho pedagógico enquanto professoras da rede municipal de Juiz de Fora, desenvolvido no âmbito do PIBID, como professoras supervisoras dos bolsistas, licenciandos dos cursos de História e de Pedagogia da UFJF.

Propomos aos participantes uma oficina que apresente possibilidades de trabalho pedagógico no ensino de história (nos anos iniciais e nos anos finais do Ensino Fundamental), a partir da mobilização de narrativas mitológicas de povos indígenas do Brasil, mitos afro-brasileiros e da tradição Iorubá. Nossa intenção é provocar outros movimentos docentes e engendrar mudanças. Nesse preâmbulo, narrar essa experiência em trio, cada qual dentro de sua realidade escolar, proporciona o entender e o valorizar do trabalho dos professores.

Escrevemos sobre os cotidianos escolares, apoiadas em Certeau (1996) e autorizamo-nos a escrita com Fernandez (1994). Das possibilidades imbricadas de ensino/aprendizagem do aprendente e o espaço outorgado pelo ensinante. Propomos o questionamento e o desenvolvimento das aprendizagens. Outrossim, o aprender tem a ver com o tocar o outro, pôr-se em contato com este em suavidades intencionais a convite do ensino-aprendizagem. Educar deve permitir ao educando ler o mundo e operá-lo nas suas diversas condições de análise e reconstrução do conhecimento, promovendo o desenvolvimento efetivo de habilidades cognitivas e sócio-históricas..

Para que a aprendizagem aconteça, o trabalho deve ser ordenado, lento, profundo e contumaz, e, sobretudo, desvinculado de uma cultura curricular que prioriza o conteúdo marcado pela erudição. De acordo com Forquin (1993), se pensarmos nos problemas educacionais, muitos deles referem-se à transmissão cultural da escola, algumas confusas e cruciais. Portanto, é preciso reconhecer que a ordem humana da cultura não é um tecido imutável e uniforme, ao contrário, existe uma diversidade de aparências e formas no tempo que variam por entre sociedades. Não há homogeneidade, e os elementos podem provir de fontes e tempos diversos, o que nos leva à “metáfora da bricolagem” (processo criativo com materiais e recursos disponíveis, muitas vezes de forma improvisada e não convencional, para criar algo novo).

A aprendizagem é apropriação e reconstrução do conhecimento do outro, ou uma parte deste, que se encontra com nossos próprios saberes pessoais, como completa Fernandez (1994), sendo gerada na inquietude. Portanto, abrimos a escrita das confidências de sala de aula, que nos permitem contar das aventuras, dos saberes em vivências docentes/discentes na contramão de um mundo de vazios modernos e desencantados[1]. Queremos resgatar o que foi perdido e trazer, novamente, as encantarias humanas para o chão da escola.A memória nasce das vivências pontua Vigotiski (2008). Nenhuma palavra está descolada das emoções. O mundo é formado por sinais cheios de signos e sentidos. Essa atribuição de sentidos não é uma condição inata, são processos da construção social.

A inspiração é a criança, portanto, visualizamos para além de um ser humano isolado e passamos a descortinar o humano existindo em um determinado tempo e espaço. Na educação escolar é dado o nome de “obutchénie”[2]. Esse termo refere-se ao processo pedagógico que envolve professores e alunos. Ele é caracterizado pela unidade da ação de ambos e o foco está na aprendizagem do estudante, e pode ser traduzida como uma aprendizagem desenvolvimental. Quando o cultural e o social se encontram, conseguimos ver a transformação. Em situação concreta, em condição social e de natureza.

Nesse trabalho sobre as narrativas da criação, conseguimos comparar vozes, histórias e dizeres. Segundo Cooper (2006), cabe ao professor constituir com os alunos as noções do tempo a partir do sequenciamento de acontecimentos, fontes e os objetos no sentido cronológico, assim como lançar mão de linguagem própria que demarcam a passagem do tempo, para depois trabalhar ideias transversais como semelhanças e diferenças, causas e efeitos. A intenção, enquanto docente, é o resgate do encantamento de um mundo que foi desencantado pela racionalidade formalizadora. Ou seja, romper com o espírito capitalista que neutraliza existências e dessacraliza a vida no que diz Weber (2014). Tempos espumosos que envolvem nossa sociedade, e a escola precisa se blindar para abrir-se á tempos de respiro, não permitindo que o sufocamento capitalista direcione o nosso fazer pedagógico. Logo, permitindo a densidade do profundo a molde Larossa (2017). A busca é a de não se render ao engessamento canônico, elitista do mesmo, mas sim, olhar para o desconhecido. Convidamos a dúvida para podermos imaginar novos mundos. A partir dos contos criacionistas, trabalhamos o que era mito e ciência, e promovemos a produção a partir dos olhares criativos das crianças. Com elas, pudemos ultrapassar práticas rotineiras e lançar novos caminhos a fim de favorecer o crescimento intelectual, cultural e social dos sujeitos. Nossa intenção foi a de promover costuras entre os saberes, incentivando a prática de relatos para desenvolver conceitos acerca do tempo e outros que envolvam o pensamento histórico.

18h00 Atividade Cultural e Coffee Break Coffee break
Local: Hall dos Auditórios - ICH/UFJF

Atividade Cultural e coffee Break.

19h00 - Prof. Dr. Anderson Ferrari, Profa. Dra. Lauri Silva, Profa. Ma. Samara Silveira MT5 - Para além de mentes desencarnadas: As implicações do corpo cis e trans feminino no Ensino de História Mesa Temática
Local: Auditório 1 - ICH/UFJF

Entende-se o Ensino de História como um campo que provoca mobilização de experiências, afetos, temporalidades e identidades, sendo estes elementos possíveis de denotar sua singularidade como campo epistemológico e as particularidades do saber histórico escolar. Esta ementa, norteia as questões em torno da relação docente e discente dentro da perspectiva do ensinar e aprender história, problematizando a noção de que esta relação se resume apenas em métodos de “aplicação” de um certo conhecimento acadêmico para alunos que supostamente carregam mentes “vazias” e não contribuem para a produção e articulação de debates em sala de aula. Logo, a sala de aula possui inúmeras complexidades para além desta noção aqui apresentada.

Ao chegar na sala de aula, principalmente no primeiro dia de aula, o copo do docente fala, antes da voz ecoar na sala de aula, seus trejeitos, aparência, vestimenta são analisados pelos alunos, sendo aprovada ou desaprovada. Porém, ao princípio da aula, aparentemente essa materialidade se esvai, a carnalidade torna-se desimportante, os discentes são percebidos como mentes incorpóreas, a carnalidade deve se silenciar para a mente falar. O corpo do professor também é silenciado, apenas seu intelecto é valorizado, mas o que o corpo do discente e do docente falam? O que o corpo feminino tem a dizer? (Albuquerque, 2023). Essa discussão sobre a carnalidade é ampla, mas o objetivo da mesa é o recorte do debate sobre corpos cis e trans femininos docentes. A professora traz consigo um modelo do que é “ser mulher” na sociedade e um modelo de identidade de gênero, pela forma de se portar, vestir, falar… Ao repelir do debate a discussão do corpo, pode-se silenciar abusos, assédios morais e sexuais. A presença dos corpos tende a ser impensável nesse espaço. Os corpos podem ser documentos, perpassados por traumas e processos históricos, tanto dos professores quanto dos alunos. Pensar esses aspectos pode tornar objeto de reflexão o currículo, o ensino, os processos de aprendizagem e a produção do conhecimento histórico escolar.

Vale ressaltar, que o debate aqui proposto, não tem como intuito se fechar nas discussões em torno do corpo físico somente. Mas também expor as contribuições das releituras na escrita histórica, assim como na forma de aprender e ensinar que os estudos feministas têm apresentado para o campo do Ensino de História. Visto que, a narrativa histórica hegemônica se estrutura em torno de noções patriarcais, onde a figura masculina branca cis héteronormativo é centralizada e assume o protagonismo de diferentes perspectivas. Logo a reafirmação da presença da subjetividade feminina, seja ela cis ou trans, no processo de ensino e aprendizagem de história se torna uma necessidade, pois são capazes de mobilizar a construção de sujeito e a introduzir outras perspectivas históricas para além daquelas tidas como “oficiais” e que são comumente apresentadas em sala de aula.

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Local

Instituto de Ciências Humanas / Universidade Federal de Juiz de Fora, 36036-900, Rua José Lourenço Kelmer, S/Nº, São Pedro, Juiz de Fora, Minas Gerais
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Organizador

Semana de História da Universidade Federal de Juiz de Fora

A Semana de História da Universidade Federal de Juiz de Fora é um evento anual realizado por estudantes da graduação e pós-graduação em história, cuja programação inclui conferências, mesas redondas, simpósios temáticos, comunicações livres, minicursos e atividades culturais.