XXXI Semana de Estudos Clássicos

Continuidade e Ruptura: Um Olhar Contemporâneo sobre a Antiguidade

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De 25 a 30 de novembro Todos os dias das 08h00 às 18h00

Sobre o Evento

A Semana de Estudos Clássicos já faz parte do calendário oficial do Programa de Pós-Graduação em Letras, da Universidade Federal do Ceará (UFC), particularmente no âmbito do Departamento de Letras Estrangeiras e, neste ano de 2024, realizar-se-á sua XXXI Edição. Este evento busca ser não somente um fórum de intercâmbio de conhecimento entre pesquisadores de todo o país, mas também uma oficina na qual os alunos de graduação e pós-graduação podem se iniciar no convívio acadêmico e na pesquisa voltada aos Estudos Clássicos por meio de apresentação de trabalho. Além disso, o evento realizará atividades com os alunos do ensino médio, conectando-os com a pós-graduação e a graduação. As atividades presenciais só iniciarão no dia 27/11.

Palestrantes

  • Adílio Júnior de Souza
  • Rafael Silva
  • Sara Anjos
  • Jovelina Maria Ramos de Souza
  • Maria Aparecida de Paiva Montenegro
  • Beethoven Barreto Alvarez
  • Rafael Brunhara
  • Tito Lívio Cruz Romão
  • Carlos Eduardo da Costa Campos
  • Cristina de Souza Agostini
  • Liebert de Abreu Muniz
  • Vicente Thiago Freire Brazil
  • Alexandre P. Hasegawa
  • Sílvia Márcia Alves Siqueira
  • Luciano Heidrich Bisol
  • Felipe Campos de Azevedo
  • Filomena Yoshie Hirata
  • Francisco Edi de Oliveira Sousa
  • Pauliane Targino da Silva Bruno
  • Maria do Socorro Pinheiro
  • Fernanda Cardoso Nunes
  • Marco Formisano
  • Ana Maria César Pompeu

Programação

09h00 Gaminception: O Jogo de Criar Jogos (Atividade Externa) Atividade Prática
Local: Externo

Gaminception: o Jogo de Criar Jogos é uma ferramenta lúdica que leva os participantes a desenvolverem um jogo analógico (de cartas, de tabuleiro etc.). Dessa forma, enquanto discutem mecânicas e temas, estarão jogando e, ao final, conhecerão os jogos das outras equipes e os diferentes caminhos que elas percorreram. Para projetar um jogo, os atuantes devem passar por todo um processo criativo de etapas não sequenciais que geralmente envolvem: brainstorm (levantamento de ideias), desenvolvimento, prototipação e testes. O Gaminception surge como uma ludificação desse processo, no qual os atuantes podem jogar enquanto participam do processo criativo, de forma natural, prazerosa e harmoniosa. Nesta versão, o tema será Mitologia Grega, com suas divindades, personagens, criaturas fantásticas e lugares de destaque. No jogo, os participantes são divididos em equipes e devem criar um jogo analógico sobre Mitologia Grega, passando por etapas que pontuam até apresentar o protótipo do jogo e realizar a pontuação final. A equipe que obtiver mais pontos será a vencedora. A atividade faz parte da XXXI Semana de Estudos Clássicos e busca estreitar as relações entre a universidade e o ensino público, já que será realizada em escolas da cidade de Fortaleza.

14h00 Comunicações Online Comunicação científica
Local: Online

Reservado para comunicadores de fora da cidade de Fortaleza. Será realizado de forma online.

19h00 Estreia de A Festa dos Deuses Apresentação Artística
Local: YouTube

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09h00 Gaminception: O Jogo de Criar Jogos (Atividade Externa) Atividade Prática
Local: Externo

Gaminception: o Jogo de Criar Jogos é uma ferramenta lúdica que leva os participantes a desenvolverem um jogo analógico (de cartas, de tabuleiro etc.). Dessa forma, enquanto discutem mecânicas e temas, estarão jogando e, ao final, conhecerão os jogos das outras equipes e os diferentes caminhos que elas percorreram. Para projetar um jogo, os atuantes devem passar por todo um processo criativo de etapas não sequenciais que geralmente envolvem: brainstorm (levantamento de ideias), desenvolvimento, prototipação e testes. O Gaminception surge como uma ludificação desse processo, no qual os atuantes podem jogar enquanto participam do processo criativo, de forma natural, prazerosa e harmoniosa. Nesta versão, o tema será Mitologia Grega, com suas divindades, personagens, criaturas fantásticas e lugares de destaque. No jogo, os participantes são divididos em equipes e devem criar um jogo analógico sobre Mitologia Grega, passando por etapas que pontuam até apresentar o protótipo do jogo e realizar a pontuação final. A equipe que obtiver mais pontos será a vencedora. A atividade faz parte da XXXI Semana de Estudos Clássicos e busca estreitar as relações entre a universidade e o ensino público, já que será realizada em escolas da cidade de Fortaleza.

14h00 - Adílio Júnior de Souza Os Ensinamentos Estoicos de Sêneca para uma Vida Plena e Feliz Conferência
Local: YouTube

Nesta conferência, me deterei sobre os mais importantes ensinamentos estoicos do filósofo Sêneca para a nossa vida, pois deles extraímos as mais variadas reflexões sobre uma vida plena, o valor do ócio, a finitude do tempo, a imortalidade de alma, a paz de espírito etc. Partindo da corrente filosófica chamada de Estoicismo, fundada por Zenão (335-263 a.C.) e seguida especialmente por Sêneca (4-65 d.C.) e Marco Aurélio (121-180 d.C.), esta exposição pretende discutir vinte e uma máximas/trechos extraídos do Corpus Senecae, que é constituído por diálogos/epístolas e outros textos, entre os quais selecionei os seguintes: Sobre a brevidade da vida (De Brevitate Vitae), Sobre a firmeza do sábio (De Constantia Sapientis), Sobre a providência (De Providentia), Sobre a vida feliz (De Vita Beata), Sobre o ócio (De Otio), Sobre a tranquilidade da alma (De Tranquilitate Animi) e Sobre a ira (De Ira). Entre as muitas traduções dos diálogos em língua portuguesa, optei por utilizar as de Eduardo Lorner (2014, 2007, 2021), que reúne todos os sete diálogos e por ser uma tradução direta do latim, além disso, fiz uso da tradução de Lina Machado (2021), pois reúne cinco dos sete textos, para servir de comparação textual. A compreensão e adoção de uma vida baseada nas premissas da filosofia estoica de Sêneca é, sem dúvida, um meio de autoconhecimento, de fortalecimento de paz de espírito, que nos mostra que nem sempre temos o controle de tudo, que a vida é breve e deve ser aproveitada ao máximo e, também, que devemos evitar nos consumir por nossos desejos fúteis, em busca de uma vida mais plena e feliz.

19h00 Bate-papo com Elenco de A Festa dos Deuses Apresentação Artística
Local: Google Meet

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09h00 Abertura Abertura
Local: Sala Capitu - PPGLetras

Participantes: Ana Maria César Pompeu e Robert de Brose

09h30 - Rafael Silva, Sara Anjos O avesso de Sócrates: Xantipa e o lugar da mulher na história da Filosofia. Conferência
Local: Sala de Defesa Capitu – PPGLetras

Na história da Filosofia, Sócrates é representado como um indivíduo de caráter firme e temperante, ainda que intelectualmente inquieto, cujas investigações inauguram reflexões de ordem propriamente ética no âmbito do pensamento antigo. Sua posição histórica é considerada tão central que ele é escolhido como termo para a periodização da própria Filosofia Antiga (com filósofos organizados a partir da curiosa noção de “pré-socráticos”). Sua esposa, Xantipa, por outro lado, é representada pela tradição biográfica antiga como mal-humorada, voluntariosa e intemperante. Em várias anedotas, ela encarna o avesso de tudo o que se espera de um filósofo. A fim de refletir sobre algumas construções pautadas por aspectos de gênero no âmbito da história da Filosofia, vamos analisar o valor metonímico que representações de Sócrates, Xantipa e outras figuras femininas do seu entorno adquirem em obras filosóficas, especialmente naquelas compostas por Platão.

11h00 - Jovelina Maria Ramos de Souza, Maria Aparecida de Paiva Montenegro Feminino e Rupturas: Filosofia e Teatro Painel
Local: Sala de Defesa Capitu – PPGLetras

A Construção do Feminino em Platão (Jovelina Maria Ramos de Souza, UFPA)

Pretende-se mostrar como Platão retoma Heráclito e Parmênides, para pensar a construção do feminino. A ideia é observar como Platão recepciona e transpõe os discursos da primeira geração de filósofos, nos diversos modos de representações do feminino em seus diálogos, apontando como a diferença de gênero é marcante e delimitadora da própria orientação sexual, a se tomar como objeto de análise os fragmentos 17 e 18 de Parmênides, para pensar a tese da diferença entre o feminino e o masculino, no Timeu e no Político, ou mesmo a tese da semelhança da natureza de homens e mulheres, em República V. Resgat-se ainda os Fr. 8 e 62, para propor que a tese da imortalidade no corpo, esboçada por Sócrates, no Banquete, em sua alusão aos ensinamentos recebidos por Diotima de Mantineia, parece buscar suas fontes no princípio heraclitiano envolvendo o mortal e o imortal.


A Quebra de Padrões no Mito e na Tragédia "As Suplicantes" de Ésquilo (Maria Aparecida de Paiva Montenegro, UFC)

Nessa comunicação, pretendo mostrar uma sequência de quebras de padrões concernentes tanto ao mito das Danaides, quanto à tragédia As Suplicantes, de Ésquilo. De acordo com o mito, 49 de 50 jovens irmãs recusam-se a casar, respectivamente, com 49 dos seus 50 jovens primos, degolando-os, na noite de núpcias. Tal atitude de recusa ao casamento e de violência contra seus noivos denota uma surpreendente ruptura dos padrões sociais referentes ao comportamento feminino na Antiguidade Grega. Na tragédia As Suplicantes, Ésquilo redobra a quebra de padrões presente no mito fazendo o coro atuar como protagonista, bem como apresentando o personagem Pelasgo, rei de Argos, numa atitude estranha a um monarca. Com efeito, ao receber as súplices danaides em busca de asilo, o rei recorre à assembleia da cidade para deliberar a esse respeito. Segundo Cinzia Arruzza (2019), é nessa tragédia que se tem o registro mais antigo do termo democracia.

14h30 Rodas de Conversa Roda de Conversa
Local: Sala de Defesa Capitu – PPGLetras

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16h30 - Beethoven Barreto Alvarez, Rafael Brunhara, Tito Lívio Cruz Romão Tradução, Hermenêutica e Reinterpretação Criativa dos Clássicos Painel
Local: Sala Capitu - PPGLetras

Naturalização Filológica e Hermenêutica Lúdica: per Catullum (Beethoven Barreto Alvarez, UFF)

Interseções práticas e epistemológicas entre as áreas da Filologia Clássica e dos Estudos da Tradução são pontos de contato fecundos, mas, por vezes, pouco tematizados. Partindo dessa ideia, pretendo propor, duas leituras-traduções que evidenciem cruzamentos entre esses campos do saber, num diálogo que tensiona certos limites e abre possibilidades de interpretação. Primeiramente, apresento uma proposta de tradução do poema 6 de Catulo (ad Flavium), repropondo uma leitura tradutória de “febriculosi scorti” e “latera effutata”, numa tentativa de chamar a atenção para certa naturalização de uma visão heteronormativa filologicamente multifundamentada – e aqui investirei mais esforço e tempo. Em seguida, passo a uma tradução do poema 4 de Catulo (de phaselo) que, haroldianamente em chave de tradução e crítica, lê o barquinho do veronês, em hermenêutica lúdica, baseado no jogo da tópica da “mentula flacida”. Ao final, esperarei ter oferecido, de dois poemas de Catulo, novas interpretações que podem ser filologicamente críticas e, ao mesmo tempo, criticamente especulativas e que adicionam, em polifonia criativa, outras possibilidades sincrônicas de leitura de textos do passado.


Tradução e Retradução nos Estudos Clássicos: Um Estudo de Caso (Rafael Brunhara, UFRGS)

A retradução de obras da literatura grega e latina da Antiguidade faz, hoje, parte do horizonte dos estudiosos de Clássicos no Brasil. Embora sempre tenha existido, nos tempos recentes ela cresceu em número e importância: um exemplo da reconfiguração do cenário de retradução é o caso da Ilíada, que recebeu nos últimos dez anos mais traduções integrais para o português do que em todo o século XX. Certamente contribuem para este caso a criação e a ampliação de cursos de Letras Clássicas na primeira década dos anos 2000, bem como as demandas do mercado editorial por certos clássicos, conforme já observado por Duarte (2016). Entretanto, apesar de a retradução ter se tornado comum, estudos amplos do fenômeno ainda estão por ser feitos, como mostram os trabalhos de Milton e Torres (2003). Na área dos Estudos Clássicos, estes são praticamente inexistentes, senão por breves comentários – quando há -- nas introduções de cada obra que é novamente traduzida e menciona os seus antecessores. Nosso propósito nesta comunicação é, a partir do percurso teórico delineado nos trabalhos de Faleiros (2009) e Martins&Faleiros (2014), que explicitaram os modos pelos quais a crítica analisou a retradução, voltar a nossa atenção para este tema nos Estudos Clássicos traçando um breve estudo de caso: a tradução da tragédia grega, mais especificamente das Bacantes de Eurípides, apresentando também nossa própria tradução em progresso desta obra.


Transcriação de Figuras Míticas da Antiguidade Clássica por Franz Kafka: Provocação Autoral ou Reflexo do Zeitgeist no Início do Século XX? (Tito Lívio Cruz Romão, UFC)

Em julho de 2024, registrou-se o centenário da morte do escritor judeu germanófono Franz Kafka. Muito conhecido no Brasil sobretudo pela novela A metamorfose e, de certo modo, pelos romances O Processo, América e O Castelo, Kafka também se notabilizou, ao redor do mundo, pelas muitas narrativas curt(íssim)as que escreveu. Nesta fala serão destacadas algumas figuras míticas do universo da Antiguidade Clássica que Kafka revisitou, reinterpretou e transcriou, emprestando-lhes novas feições e vieses. As micronarrativas kafkianas selecionadas referem-se às sereias homéricas, a Posídon, Prometeu e Bucéfalo. Trata-se de figuras que, uma vez expressas em alegorias e (anti)parábolas kafkianas, acabam ganhando um novo significado, que precisa ser desvendado à luz – ou à sombra – do cotidiano literário e pessoal do escritor nascido na Boêmia. Igualmente serão feitas algumas referências a traduções brasileiras das narrativas escolhidas, que, por vezes, transformam ou até deformam a transcriação kafkiana.

18h00 - Carlos Eduardo da Costa Campos Divulgação Científica, Humanidades Digitais e o Acervo de Numismática Romana do Museu Histórico Nacional em Mato Grosso do Sul Conferência
Local: Sala de Defesa Capitu – PPGLetras

Prof. Dr. Carlos Eduardo da Costa Campos (PPGAS-UFMS / PROFHIST-UEMS / CNPQ)

O acervo de numismática romana do Museu Histórico Nacional (MHN) apresenta diversos temas iconográficos sobre as práticas cívicas da Roma Antiga, especialmente através das moedas augustanas. Essas peças, cunhadas durante o período de Augusto (27 AEC – 14 EC), refletem a propaganda política e os ideais de renovação e unidade sob a sua liderança. As representações monetárias incluem símbolos de vitória, divindades e referências ao restabelecimento da paz e à fundação de uma nova era, os quais servem de ponto de partida para discussões sobre o poder, a religião e a sociedade na Roma Antiga. Ao integrar essas moedas ao Ensino de Antiguidade com suporte das Humanidades Digitais, nas escolas de Mato Grosso do Sul, os professores têm a oportunidade de enriquecer o currículo com uma abordagem tangível da história que se faz presente em nosso país. Esse enfoque não só desperta o interesse dos alunos pela História Antiga, bem como permite desenvolver habilidades críticas sobre a análise de fontes primárias e promover uma compreensão mais profunda de eventos culturais e políticos que impactaram na construção do mundo contemporâneo. Desse modo, o nosso foco é apresentar os recursos tecnológicos gerados pelo ATRIVM / UFMS para a divulgação científica do acervo de numismática do MHN e do Ensino de Antiguidade Romana.

09h30 - Cristina de Souza Agostini, Liebert de Abreu Muniz, Vicente Thiago Freire Brazil Diluição do Conhecimento e Representações Culturais na Tradição Clássica Painel
Local: Sala Capitu - PPGLetras

A Inevitável Diluição do Conhecimento e do Bem Comum na Sociedade Democrática (Cristina de Souza Agostini, UFMS)

No diálogo platônico Fedro, uma das discussões que ocupa grande parte da atenção de Sócrates e do jovem Fedro consiste na constatação de que a escrita é um veículo que dissemina, indiscriminadamente, o conhecimento tanto para entendidos no assunto quanto para ignorantes. Com efeito, enquanto os leitores podem ter acesso a diferentes discursos acerca dos quais não detêm nenhuma ideia, os escritores, habilidosos na composição das letras e palavras, podem elaborar diversos textos sobre inúmeros temas sem que, necessariamente, conheçam o assunto em relação ao qual escrevem. Já no livro VIII da República, Sócrates analisa o modo pelo qual os pilares do regime democrático, a saber, liberdade e igualdade são fundamentais para explicar o porquê na democracia o conhecimento se torna fluido e a autoridade daquele que efetivamente conhece passa a ser questionada. Desse modo, a partir das argumentações do Fedro e da República, procurarei demonstrar de que modo a compreensão radicalizada dos conceitos de liberdade e igualdade está na origem tanto da diluição do conhecimento, quanto da própria democracia.


O Banquete como Gênero no Livro V de "O Banquete dos Sábios" de Ateneu de Náucratis (Liebert de Abreu Muniz, UFERSA)

Ateneu, nascido em Náucratis no Egito - não conhecemos a data de seu nascimento - representa a interseção entre três culturas centrais do mundo antigo: nasceu no Egito, escreveu em grego e viveu em Roma. Sua obra O banquete dos sábios (gr. Deipnosofistái), foi finalizada nos anos subsequentes à morte do imperador Cômodo, ca.192 d.C. Modelada pelo Banquete de Platão (Trapp, M. 2000), o texto de Ateneu interessa não só à pesquisa sobre o evento social do banquete na cultura clássica (a considerar a comida, bebida, mobília, música, poesia, dança e costume), mas também ao estudo desse evento enquanto forma literária (Relihan, J. 1992). Nossa proposta se concentra no Livro V, no qual Ateneu reúne excertos homéricos que versam sobre o banquete como um evento social, formando uma espécie de catálogo de simpósios, suas formas, suas circunstâncias e regras. A obra de Ateneu não parece planejar uma simples reunião de simpósios, mas parece estruturar uma complexa arquitetura composicional que promove uma variação (gr. poikilía) de autores, gêneros literários, temas, e recursos retórico-discursivos (Lukinovich, A. 1990). Além de fazer conhecer Ateneu, seu texto e a tradição literária na qual se insere, nossa proposta pretende abrir uma discussão para o banquete como um tipo composicional mais amplo e presente em literaturas contemporâneas. Dessa forma, esperamos demonstrar que o banquete continua a ser um evento de variação cultural, literária, musical e artística.


Quem é o Alcibíades das Representações Alcibideanas? (Vicente Thiago Freire Brazil, UECE)

Alcibíades, o célebre estratego ateniense, é uma das figuras mais controversas da antiguidade grega. Criado como herdeiro do espólio político de Péricles, educado junto ao “homem mais sábio de toda a Hélade”, multivencedor dos jogos olímpicos, inigualavelmente belo; Alcibíades sintetizava em si o que havia de melhor entre os helenos. Porém, sobre esta personagem também recaiu o desprezo da tradição. De historiadores (Tucídides e Plutarco) a poetas (Aristófanes), incluindo os filósofos (Platão), os registros literários – em um acontecimento raríssimo no mundo antigo – são unânimes em descredibilizar, de algum modo, Alcibíades. A ele não se dedicou nenhum encômio. Chama atenção o fato de que até os acontecimentos que precederam, e constituíram, o fracasso da Expedição à Sicília, Alcibíades usufruía de um verdadeiro salvo-conduto social. Ele não só podia fazer, como agia de modo incontrolável. Esta palestra tem como objetivo problematizar essa aparente homogeneidade depreciativa com a qual a tradição tem avaliado o político ateniense, bem como discutir as implicações históricas, políticas e literárias desse processo. Como hipótese pretende-se demonstrar a artificialidade dessa construção imagética malévola, bem como apontar os usos políticos dos quais a produção literária sobre o Alcibíades se serviu. Num ambiente de fracasso comunitário, de derrota bélico-econômica, o erastes de Sócrates foi convertido no símbolo máximo da derrocada da pólis. Contudo, convém questionar: são sobre Alcibíades as representações alcibideanas? Deste modo, compreender os diferentes vieses nas fontes antigas nos servirá como etapa preparatória à possibilidade de eventuais leituras construtivas sobre Alcibíades.

14h00 Comunicações Presenciais Comunicação científica
16h30 - Alexandre P. Hasegawa, Luciano Heidrich Bisol, Sílvia Márcia Alves Siqueira Transformações Literárias e Releituras de Gênero na Tradição Clássica Painel
Local: Sala Capitu - PPGLetras

Continuidade e Ruptura na Carreira Poética de Horácio (Alexandre P. Hasegawa, USP)

Horácio, em lugares estratégicos de sua obra, ao passar de um gênero poético a outro, propõe a ruptura com o passado. Assim, por exemplo, em C. 1.16, no livro inicial da carreira lírica, declara o fim da produção iâmbica (vv. 1-4), obra da “doce juventude” (v. 23). Rupturas ocorrem também no interior de um mesmo gênero. No livro dos Epodos, o poeta, no início da segunda metade da obra (Epod. 11), afirma não lhe agradar mais escrever versinhos como antes (vv. 1-2), compondo em metro diferente do usado até então. Ferido por “pesado amor” (v. 2), a matéria da segunda parte do livro epódico se modifica. No Epod. 14, depois de Mecenas lhe pedir a continuar a obra iâmbica, diz o poeta que um deus o proíbe de levar ao fim os iniciados iambos (vv. 6-8), insistindo assim na ruptura da segunda metade. No início do livro de Epístolas, depois também de insistência de Mecenas para que continue em sua carreira poética, Horácio afirma que deixa de lado os versos e os demais divertimentos (v. 10), propondo nova ruptura em sua carreira, para se dedicar ao verdadeiro e o decoroso (v. 11). No fim de Odes 4, porém, o poeta sugere continuidade, ao concluir a recolha lírica com canemus (C. 4.15.32: “cantaremos”). Horácio, portanto, propõe continuidade e ruptura ao longo de sua carreira, ao editar a própria obra, em lugares estratégicos e programáticos.


Mulheres que Escrevem, Mulheres que Lêem: A Ruptura Silenciosa na Tradição Literária no Mundo Romano (Sílvia Márcia Alves Siqueira, UECE)

Esta conferência tem por finalidade discorrer sobre um tema muito caro para a História das Mulheres no mundo greco-romano, qual seja, a difícil relação entre a escrita feminina e a cultura escrita. A tradição literária no mundo romano ostenta um silêncio constrangedor sobre o letramento de mulheres tanto no período clássico quanto na antiguidade tardia, pouco sabemos sobre a formação escolar proporcionada para elas. Não obstante, é possível encontrar raros textos supostamente escritos por mulheres, faremos uma análise de alguns deles, para entendermos um pouco mais sobre a difusão da escrita feminina, quais os objetivos das composições e problematizamos também a formação leitora no eixo continuidade e ruptura a partir das relações de gênero.


Helena no Egito e a Descolonização dos Clássicos (Luciano Heidrich Bisol, SEDUC/CE)

No drama Helena (c. 412 AEC) de Eurípides (c. 484 - 406 AEC), a heroína é transportada para o Egito, enquanto uma imagem espectral, eídolon, toma seu lugar em Troia, enganando a gregos e troianos. Esta conferência reflete sobre a importância epistêmica dos estudos clássicos no sul global a partir de uma visão descolonial. A permanência de Helena no Egito é analisada como ponto de partida para questionar o papel do “Outro” nos estudos clássicos, desafiando a hegemonia eurocêntrica das narrativas clássicas. Baseamo-nos no orientalismo de Edward Said (2012) e no perspectivismo de Eduardo Viveiros de Castro (2014) para problematizar como as narrativas clássicas reforçam o colonialismo cultural. Com base na teoria de Michel Foucault (1988, 2006), especialmente sua análise das relações entre discurso, verdade e poder, a conferência explora como o deslocamento de Helena subverte as hierarquias culturais. O discurso torna-se tanto uma ferramenta de dominação quanto de resistência, revelando as dinâmicas de poder que sustentam as verdades impostas. Através da crítica literária comparada e do pensamento descolonial de Walter Mignolo (2008), argumenta- se que, analogamente à antítese entre o eídolon e a realidade, os estudos brasileiros sobre tragédia devem ir de encontro às demandas locais como os estudos de gênero e de subalternidade, promovendo uma compreensão plural e subversiva das identidades antigas.

18h00 Divulgação de Livros Encontro
Local: Hall - PPGLetras

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09h00 - Alexandre P. Hasegawa, Felipe Campos de Azevedo Editora Mnema - Projeto Editorial e Gráfico Conferência
Local: Sala Capitu - PPGLetras

Felipe Campos de Azevedo (MNEMA) e Alexandre P. Hasegawa (USP)

A apresentação pretende expor as diretrizes editoriais e gráficas da Editora Mnema e traçar um panorama da edição dos clássicos no Brasil e no exterior. Na primeira parte apresentam-se as coleções e livros da editora, com exemplos de capa, projeto gráfico, detalhes da edição e diagramação das obras. Divide-se em quatro seções: Tradução dos Clássicos (Biblioteca Monumenta); Pesquisa dos Clássicos (Estudos Clássicos); Línguas Clássicas (Dicionários, Gramáticas etc.); Recepção dos Clássicos (Idade Média, Renascimento e Modernidade). Na segunda parte apresentam-se edições e coleções internacionais dos clássicos que serviram de modelo: Inglaterra (Oxford Classical Texts, Cambridge Greek and Latin Classics); Estados Unidos (Loeb Classical Library, Murty Classical Library of India, Clay Sanskrit Library); Alemanha (Bibliotheca Scriptorum Graecorum et Romanorum Teubneriana); França (Budé, Commentario, Indika e Série Indienne), Itália (Classici Greci e Latini) e Espanha (Biblioteca Clásica Gredos).

10h30 - Filomena Yoshie Hirata, Francisco Edi de Oliveira Sousa, Pauliane Targino da Silva Bruno Gêneros Poéticos na Literatura Antiga Painel
Local: Sala Capitu - PPGLetras

Algumas observações sobre As Troianas (Filomena Yoshie Hirata, USP)

Há toda uma linha de pensamento que pretende que a tragédia As Troianas de Eurípides seja uma obra de oportunidade. Eurípides desenvolveu o tema da guerra em muitas das suas peças mas, nesta tragédia, tratou-o de forma mais pungente e emocionante, escolhendo o fim da guerra como o momento da ação dramática. Estamos em 415 a.C. e Eurípides devia estar simplesmente cansado de viver em tempos de guerra, porque afinal era o que o século V oferecia, desde o início com as invasões dos persas até o momento com a guerra do Peloponeso. Por outro lado, alguns estudiosos pretendem que a motivação tenha vindo de um acontecimento devastador, como a conquista da ilha de Melos, massacrada e saqueada pelos atenienses. Enfim, se no século XX, era possível alertar sobre os horrores da guerra, no caso, da Argélia ou do Vietnã, com encenações d' As Troianas, por que não no tempo de Eurípides?


Epigramas de Filodemo de Gádara e a Elegia Romana (Francisco Edi de Oliveira Sousa, UFC)

A poesia epigramática do filósofo epicurista Filodemo de Gádara (c. 110-post 44 a.C.) se faz ouvir em Roma, especialmente na obra de Virgílio, de Horácio, de Catulo e dos elegíacos augustanos. Filodemo viveu no mundo romano do final dos anos 70 até pelo menos o final dos anos 40 do século I a.C., e sua produção filosófica e poética influenciou a cultura romana nesse período; em particular, muitascomposições em dísticos elegíacos aludem a epigramas de Filodemo. Em razão dessa influência, acreditamos que a produção poética desse filósofo participe da elaboração dos contornos da elegia erótica romana. Assim, exploramos nesta apresentação diálogos entre epigramas de Filodemo e poemas em dísticos elegíacos de Catulo e de poetas augustanos.


A Adivinhação e a Natureza na Pharsalia de Lucano (Pauliane Targino da Silva Bruno, UECE)

Na Pharsalia, de Lucano, verifica-se nove manifestações divinatórias com seus respectivos prenúncios, a maioria está vinculada a fenômenos naturais atípicos, que acontecem antes e/ou depois de cada adivinhação. Tais fenômenos cooperam para os processos divinatórios, quer como elemento material usado para obter o prenúncio (ex. observação dos astros, exame das chamas etc.), quer como sinal externo indicador dos presságios (ex. devastação de florestas, nascimento de animais deformados etc.). Diante disso, o presente trabalho pretende apresentar como as manifestações da natureza anunciam ou confirmam as adivinhações, revelando que a exibição prévia do estado da natureza já prenuncia um processo divinatório com presságios bons ou ruins; além disso, pretende-se mostrar como essa presença da natureza atípica está vinculada ao prenúncio, considerando o tipo de adivinhação (natural ou superficial) e a sua validação pelo Estado romano, examinando, assim, como o poeta constroi esse tipo de elo. Por fim, intenciona-se expor o entrelaçamento entre a adivinhação e a natureza, justificando a primeira como parte da manifestação da última, pois pode-se concluir que sem natureza possivelmente não há adivinhação.

14h00 Comunicações Presenciais 2 Comunicação científica
16h30 - Fernanda Cardoso Nunes, Maria do Socorro Pinheiro A Literatura Erótica na Antiguidade Clássica e seus Ecos na Contemporaneidade Painel
Local: Sala Capitu - PPGLetras

A Literatura Erótica Latina: Do Império Clássico à Decadência (Maria do Socorro Pinheiro, FECLI / PPGIHL / UECE)

Desde seu passado mais longínquo existiu entre os romanos uma literatura erótica cultivada inicialmente entre os povos simples como camponeses e mais tarde entre os poetas quando a civilização romana já estava mais desenvolvida. Diante disso, tem se como objetivo investigar o percurso da literatura erótica latina pelo viés histórico e literário com enfoque em alguns autores e obras para compreender como esse gênero foi cultivado, considerando sua influência para a toda a literatura erótica europeia. Quanto aos aspectos metodológicos utilizados reúnem-se em torno de um corpus de obras literárias eróticas de autores como Plauto, Catulo, Propércio, Ovídio, Petrônio, Marcial e Apuleio situados entre o período de ouro até a decadência. O constructo teórico se atém aos estudos de Alexadrian (1994), Correia (2022), Paratore (1983) e Veyne (1985). As reflexões tecidas no âmbito deste estudo traduzem nosso interesse por este tema que tem um lugar central na imaginação literária e um diálogo com outras áreas do conhecimento como a filosofia e outras artes ao expor os tensionamentos e ressignificações da existência humana.


A Poética de Eros em Safo de Lesbos e Gilka Machado (Fernanda Cardoso Nunes, UECE-FAFIDAM)

Esta pesquisa objetiva analisar comparativamente as obras poéticas de Safo de Lesbos (c.630 a. C.) e de Gilka Machado (1893-1980). A poeta grega representa um dos expoentes da poesia grega, principalmente em se tratando do gênero mélica ou lírica, sendo o único nome feminino da poesia da Grécia arcaica (c. 800 – c 480 a. C.). Muito do que nos chegou até hoje de sua autoria é constituído de fragmentos. A carioca Gilka Machado, cujos primeiros livros, Cristais partidos (1915) e Estados de alma (1917), revolucionaram a poesia de autoria feminina no Brasil, escreveu versos plenos de um erotismo ao mesmo tempo sensual e transcendente que chocaram a época por transgredirem o papel social convencionado à mulher enquanto escritora. Tal transgressão relegou-a a uma condição de marginalidade e ao ostracismo. Percebemos que o fenômeno erótico se faz nos versos das duas autoras, mesmo distantes no tempo e no espaço, configurando mesmo uma tradição de literatura de autoria feminina tecida ao longo dos tempos pelos fios do deus Eros. Através dos estudos de Ragusa (2005, 2010, 2011), Fontes (2001), Carson (2022), Nunes (2022) e Bataille (2007), bem como de outros estudiosos, pretendemos investigar a presença do erotismo nos versos das duas autoras que ousaram cantar seus corpos e desejos na poesia. Esperamos contribuir no sentido de traçar toda uma linhagem de poesia erótica feminina desde a Grécia antiga até a literatura brasileira do século XX.

17h30 - Marco Formisano Um Regresso Errado. O Exílio na Obra de Daniel Mendelsohn (Uma Odisseia e Três Aneis) Painel
Local: Sala Capitu - PPGLetras

O nova-iorquino Daniel Mendelsohn é um classicista e um autor de romances e ensaios de grande sucesso. Duas obras em particular, “Uma Odisseia. Um pai, um filho e uma epopeia” e “Três Anéis” tematizam a experiência do exílio ou do distanciamento da terra natal. Nesta palestra, discuto essas experiências existenciais sob a perspectiva do nomadismo e da errância. E aqui o retorno preconcebido por Mendelsohn é fundamentalmente errado, porque reproduz o preconceito do sedentarismo.

09h00 - Ana Maria César Pompeu Aristófanes: Visionário de Virtuoses e Virtualidades Vigentes Conferência
Local: Sala Capitu - PPGLetras

A Comédia de Aristófanes nos apresenta sinais do que viria a ser progressos tecnológicos e sociais da atualidade. Em As Nuvens, haverá o Pensatório de Sócrates como uma instituição de ensino, e as Nuvens serão representantes miméticas e portadoras de ensinamentos, como a nuvem atual portadora de arquivos; em As Vespas, o protagonista fará o trabalho de juiz do tribunal em casa, antecipando o trabalho à distância; em Thesmoforiantes, palavras essencialmente masculinas terão o equivalente feminino para contemplar o povo das mulheres; e em Assembleia das Mulheres, os mais velhos, homens e mulheres, terão prioridade nas questões de sexo, pois, de acordo com o governo das mulheres, os jovens enamorados terão que satisfazer sexualmente os mais velhos antes de satisfazerem seus pares mais jovens.

10h00 Lisístrata Apresentação Artística
Local: Sala Capitu - PPGLetras

Grupo Paideia

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Sala Capitu (PPGLetras) e Auditório Valnir Chagas, 60020-181, Avenida da Universidade, 2762 , Benfica, Fortaleza, Ceará
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NUCLASS - Núcleo de Cultura Clássica

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60020-181 Fortaleza, CE

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