Local: A definir
Objetiva-se examinar e discutir em linhas gerais a concepção de esperança, considerando-se a experiência da alteridade e a filosofia concreta do filósofo francês Gabriel Marcel (1889-1973). Ele experienciou pelo menos duas grandes crises do século XX: a primeira e a segunda guerras mundiais. O pensamento filosófico marceliano constitui-se ligado aos mais profundos e decisivos acontecimentos de sua vida. Pretende compreender o homem na sua totalidade, considerando substancialmente sua singularidade, interioridade, intersubjetividade, concretude e transcendência. Para Marcel, deve-se partir da experiência existencial vivida. Não se trata de compreender o homem e a existência em geral, mas o homem que existe de fato, individual, singular, situado no mundo. A filosofia marceliana é conhecida como Filosofia Concreta, não empírica ou materialista , mas existencial, porquanto admite que uma filosofia só pode considerar-se autêntica quando se permite penetrar por experiências existenciais concretas, por realidades pessoais profundas e, compreendendo-as, refleti-las, pelo fato que o homem, que existe, é o homem singular, individual, e pensar no homem geral é uma abstração. Segundo ele, esperar requer compromisso e engajamento, implica ir ao encontro do outro, entrar em comunhão com ele, para juntos atuarem com o objetivo de fazer acontecer o que se espera. Marcel distingue entre "esperar que" e "esperar em". "Esperar que" significa acreditar que a realização do que se espera depende somente do outro, isto é, a ação é completamente exterior àquele que espera. Já "esperar em" pressupõe que aquele que espera se envolva para superar a provação com todo o seu ser. Evoca o auxílio do outro e espera receber a ajuda daqueles que responderem ao seu chamado. Conforme Marcel, na modernidade as pessoas parecem privilegiar o "esperar que" ao invés do "esperar em". Aquele que "espera em" acolhe e hospeda em si o ser do outro, estabelece vínculos e isso só é possível para aquele que ama, pois para Marcel, a esperança leva à transcendência dos desejos particulares, à superação do egocentrismo e à busca do auxílio do outro, proporciona o encontro, nasce no coração daquele que se abre ao amor.
Marcel entende que a esperança se converte em força a serviço do bem do ser humano, faz superar o desespero, os obstáculos e as provações que surgem ao longo da existência. A virtude da esperança, de acordo com Marcel, não é abstrata , é concreta. A esperança verdadeira é um mistério ontológico e implica esperar mesmo na incerteza. A falsa esperança, por sua vez, fundamenta-se na certeza, na convicção de que a provação será superada, sem que o sujeito que espera tome parte desse processo. A esperança, na concepção marceliana, proporciona uma solidariedade universal, exige uma abertura incondicional ao outro, que leva a um encontro real entre sujeitos que constroem. Ela requer a presença da alteridade.
Palavras-chave: Alteridade; Esperança; Filosofia Concreta; Gabriel Marcel.