O coletivo "Moda e decolonialidade: Encruzilhadas do Sul Global"

  • Autor
  • Heloisa Helena de Oliveira Santos
  • Co-autores
  • Carla Costa , João Dalla Rosa Júnior , Michelle Medrado , Carolina Casarin
  • Resumo
  • O coletivo Moda e Decolonialidade: Encruzilhadas do Sul Global está associado ao Grupo de Pesquisa Direitos Humanos, Cultura e Identidade – DiHCI (Cnpq), linha de pesquisa Raça, Gênero e Opressão. Composto por pesquisadores interdisciplinares e em instituições no Brasil e nos Estados Unidos, tem como proposta elaborar análises, por meio de leituras de autores pós-coloniais e decoloniais, cuja chave conceitual examina de maneira crítica e analítica os modos que a Moda tem sido tradicionalmente abordada no Brasil. 

    A abordagem sobre a moda tem sido alvo de análise teórica no Brasil desde o século passado e têm se debruçado sobre as diversas relações com o vestuário a partir de alguns grupos conceituais específicos que, avaliamos, tem se repetido frequentemente desde então. Composto por pesquisadores interdisciplinares, o coletivo tem por finalidade realizar o que Aníbal Quijano denomina giro decolonial para as análises sobre moda e figurino, ou seja, uma mudança de perspectiva que, ao se posicionar como ex-colônia e no Eixo Sul, avalia as diversas relações com o vestuário a partir de uma perspectiva que insere a moda europeia, como maneira de se relacionar com o vestuário nas sociedades brancas eurocentradas, dentro de um conjunto de fluxos nos quais ela deixa de ser um centro difusor e se torna parte de um conjunto de redes em que a mesma se encontra horizontalmente posicionada num diálogo com outros modos de se relacionar com o vestuário. 

    Entendemos que o esquema conceitual que tradicionalmente tem sido utilizado para analisar a moda utiliza um conjunto epistêmico que se baseia em questões, metodologias e conceitos cujas bases se encontram em uma matriz de pensamento eurocentrado. Considerando a crítica proposta por autores pós-coloniais, como Frantz Fanon e Edward Saïd, e àquelas trazidas por feministas negras como Patricia Hill Collins e bell hooks, entendemos que é necessário questionar o próprio olhar colonial sobre as sociedades e populações analisadas e assumir a escrita sobre nós mesmos a partir de noções outras. A partir da matriz de reflexão decolonial, especialmente do grupo modernidade/colonialidade, entendemos ainda que é fundamental girar nosso olhar e produzir um saber local que, refundando epistemes, se analisa a partir das questões, metodologias e conceitos que se baseiam em nossa experiência como ex-colônia.

    Essa refundação conceitual se pauta firmemente na noção de experiência. Contudo, a percepção sobre a experiência aqui posta não é aquela de uma empiria racionalista e com um distanciamento acadêmico como proposta pelo pensamento europeu. Aqui, como propõe ainda Grada Kilomba, trata-se da experiência como valorização e valoração dos modos de vida locais. Trata-se, enfim, de uma recusa aos padrões de universalismo, neutralidade e objetividade da ciência européia e branca: dos mitos acadêmicos, como bem coloca ainda Kilomba.

    Essa relação entre a experiência e a produção do conhecimento se destaca no grupo devido à trajetória dos seus integrantes. Embora as formações sejam distintas, os pesquisadores possuem a educação como área de atuação e a necessidade desse giro se justifica pela preocupação com a construção de outras formas de pensar. Como professores, o compromisso do grupo com o deslocamento do saber funde os aspectos teóricos e as práticas profissionais, demarcando uma investigação constante das experiências materiais e subjetivas, do imaginário e das relações sociais. 

    Na dimensão do giro decolonial como prática metodológica e com objetivo de problematizar a tríade material (figurino, roupa e moda), problematizamos as relações culturais e econômicas entre países do Eixo Sul por meio das indústrias de mídia e moda. São reflexões acerca do processo de campo multi-situado cujo objetivo é examinar analiticamente o sistema de produção e circulação cultural do figurino e seus regimes de valores ao transversalizar mercados e hierarquias entre profissionais da moda no diálogo Sul-Sul. Aplicamos também as críticas pós-coloniais e decoloniais para pensar a criação do vestuário cênico no que diz respeito às narrativas do personagem no Teatro Brasileiro. Para abordagem e a construção de um pensamento decolonial acerca desse tema, usamos ainda conceitos como identidade, cultura e deslocamento a partir de intelectuais afrodiaspóricos como Stuart Hall, sobretudo problematizando as narrativas de subalternização das populações não  brancas e os trajes criados a partir dessas narrativas e avaliando novas possibilidades do vestuário cênico para os mesmos.

    Os temas que se referem às visualidades promovem ainda um debate sobre os fluxos de imagens e a formação dos imaginários em contextos antes colonizados, bem como sobre os modos de ver e os regimes escópicos, transversalizando temas pertinentes à educação, às artes, ao design e à moda. De maneira ampla, as possíveis epistemes para as reflexões que tematizam a moda e que podem ser produzidas a partir de uma análise crítica que se fundamenta nas teorias acima mencionadas é de central interesse para nós. Assim, as abordagens eurocêntricas tradicionalmente utilizadas são criticadas e traz-se a possibilidade de se pensar a moda e o figurino brasileiros e do Eixo Sul utilizando conceitos que se fundamentam nas relações que se estabelecem nestes locais, ou seja, produzidos aqui a partir das análises destes contextos.

    Desta maneira, a proposta desta comunicação é apresentar o coletivo Moda e Decolonialidade e lançar as bases para a construção desta crítica a este modo de pensar a moda, direcionando nossa proposta para a fundação desta episteme para o campo de análise sobre a moda que proponha novos perguntas, métodos e abordagens que, dentre outros, questiona mesmo a própria noção de moda como conceito para se refletir sobre a produção de vestuário em contextos antes coloniais. 

  • Palavras-chave
  • moda; decolonialidade; sul-sul;
  • Área Temática
  • ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades: gênero/gêneros
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O IFRJ campus Belford Roxo promove, anualmente, a Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo, que conta com palestras, mesas redondas, oficinas, minicursos, apresentações artísticas e culturais, além dos resultados de trabalhos desenvolvidos ao longo dos cursos oferecidos no referido campus. O evento costuma acontecer concomitantemente à Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa.

Dentro da Semana Acadêmica, ocorre, ainda, o Encontro de Pesquisadores, momento em que os servidores atuantes no campus Belford Roxo apresentam os resultados de seu trabalho, conectando pesquisa, ensino e extensão.

No ano de 2020, de 19/10 a 23/10, ocorreram a 3a. Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo e a Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa. Ainda compondo os eventos, de 16/11 a 18/11, ocorreu o 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. Com o isolamento social decorrente da pandemia do COVID-19, foi a primeira vez que os eventos aconteceram totalmente online. Também foi a primeira vez em que as submissões de trabalhos foram abertas aos pesquisadores de outras instituições e aos estudantes, movimento que só foi possível em razão da expertise adquirida com a realização dos eventos em anos anteriores.

Com o tema “Baixada Fluminense Presente! Diálogos entre Educação, cultura e Arte”, estudantes e profissionais, preferencialmente atuantes na Baixada Fluminense, puderam submeter seus resumos estruturados e/ou relatos de experiências. Estes trabalhos submetidos foram organizados e apresentados em quatro Simpósios Temáticos:

O ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades, coordenado pela professoras Heloisa Santos, Lívia Paiva e em parceria com a coordenadora do ST 06, Jaqueline Gomes recebeu trabalhos que discutiam as questões de gênero, raça e classe, a partir de uma perspectiva crítica que avaliasse o sexismo, o machismo, a lgbtfobia, o racismo e o classismo como violações dos direitos humanos. Considerando tais elementos, trabalhos que abordassem estas questões, especialmente a partir de uma perspectiva interseccional, eram de interesse deste ST, seja em uma perspectiva teórica, seja por meio de trabalhos que trouxessem resultados de práticas educativas, ativistas, artísticas, dentre outras formas de abordar a luta pelos direitos no mundo contemporâneo, especialmente aqueles que buscavam estabelecer diálogos que se voltem para o Eixo Sul-Sul.

O ST 02 - Gestão, design, moda e carnaval, coordenado pelos professores Flávio Sabrá, André Dias em parceria com a coordenadora do ST 06, Cássia Mousinho, se propôs a ser um espaço para a discussão e reflexão crítica de questões relacionadas às práticas de gestão e negócios no campo da moda, carnaval e festejos, observando sua relação com design, arte, vestuário, artesanato, modelagem, administração e as suas interlocuções entre o processo criativo, produtivo, distributivo e de validação dentro da Cadeia Têxtil/Confecção e da Economia Criativa, seja em trocas formais ou informais.

O ST 03 - Cidades, territórios, culturas e educação, coordenado pelas professoras Gabriela Ribeiro e Bárbara Friaça, abordou trabalhos que traziam o debate sobre cidades, territórios e as vivências deles e neles, intermediadas por diversas vertentes culturais e educacionais (artesanato, moda, culinária, acervos de espaços de cultura e memória, patrimônio cultural, espaços culturais, espaços de lazer, urbanismo, design, educação formal, não formal e informal, entre outros). Também recebeu trabalhos que discutiam sobre inclusão social, entendendo que possibilitar acesso e usufruto amplos e irrestritos aos espaços citadinos contribuem para o incremento da inclusão social, propiciando uma formação holística às pessoas, nos âmbitos cultural, social, educacional, de lazer, de desporto, entre outros.

O ST 04 - Periferia é Centro: processos artísticos e culturais em contramão, coordenado pelas professoras Ana Adelaide Balthar e Lucia Vignoli, buscava discutir como os rearranjos espaciais reverberam nas produções artísticas culturais das periferias urbanas frente a questão do distanciamento social devido a pandemia de COVID-19. “Reinventamos e experimentamos existências bidimensionais, através de dispositivos digitais. Telas de telas. Os deslocamentos se restringiram, mas os encontros se constelaram. De repente, a Baixada não sofre de lonjura, de repente a periferia é centro”.

O ST 05 - Corpos, diversidades, identidades e culturas, coordenado pela professora Jaqueline Gomes, objetivava fomentar, em um ambiente complexo, a inclusão de pessoas oriundas de diferentes grupos sociais. Recebia trabalhos que promovessem investigações e propostas de intervenção, considerando os corpos em suas possibilidades na cultura das aparências. 

O ST 06 - Design, artesanato e tecnologia, coordenado pela professora Cassia Mousinho, buscava fomentar a análise do trabalho artesanal, através de seus aspectos estéticos, técnicos, mercadológicos e sociais. Também pretendia reforçar a importância do desenvolvimento de tecnologias e os artefatos a elas associados no âmbito material ou digital, realizando uma ponte entre o artesanato e o design.

Estes Anais são resultantes dos trabalhos aprovados e apresentados no 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. É uma das nossas contribuições para a reafirmação da Baixada Fluminense enquanto território potente cultural, artística e educacionalmente.

Boa leitura!

  • ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades: gênero/gêneros
  • ST 02 - Gestão, design, moda e carnaval
  • ST 03 - Cidades, territórios, culturas e educação
  • ST 04 - Periferia é Centro: processos artísticos e culturais em contramão
  • ST 05 - Corpos, diversidades, identidades e culturas
  • ST 06 - Design, artesanato e tecnologia

3º Encontro de Pesquisadores - IFRJ/Campus Belford Roxo

Comissão Organizadora

Docentes

Heloisa Helena de Oliveira Santos - Coordenadora de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação
André Monte Pereira Dias
Flávio Glória Caminada Sabrá
Gabriela Sousa Ribeiro
Lucivania Filomeno Ponte

 

Estudantes
Sara Canto
Gregory Andrade

Comissão Científica

Alicia Romero - UNESA

Ana Adelaide Lyra Porto Balthar - Nena Balthar

André Monte Pereira Dias

Bárbara Boaventura Friaça

Cassia Mousinho de Figueiredo

Charles Leite - UFPE

Denise Loyla Silva

Flávio Glória Caminada Sabrá

Gabriela Sousa Ribeiro

Heloisa Helena de Oliveira Santos

Jaqueline Gomes de Jesus

Lívia de Meira Lima Paiva

Lucivania Filomeno Ponte

Maria Lucia Vignoli Rodrigues de Moraes - INES

Vanessa Santos Ximenes

 

Reitor

Raphael Barreto Almada

Pró-reitora de Extensão

Ana Luisa Lima

Diretor de Implantação - Campus Belford Roxo

Marcio Franklin de Oliveira

Diretora de Ensino

Rosi Marina Rezende

Coordenação de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação do Campus Belford Roxo: extensao.cbel@ifrj.edu.br