Este trabalho é decorrente do projeto de pesquisa “Espaços comerciais de artesanato: as dinâmicas cultural e turística na territorialização dos espaços citadinos”, desenvolvido de 2017 a 2018, no âmbito do IFRJ campus Belford Roxo. Entendemos, baseadas em Canclini (1983), artesanato como forma de expressão dos aspectos socioculturais da população de uma localidade que, a partir de matérias primas, mão de obra e significantes socioculturais locais, os materializa em distintos artefatos, tanto objetos utilitários como decorativos. Nesse sentido, os espaços comerciais de artesanato, como as feiras de artesanato, podem comunicar aspectos socioculturais de uma localidade, tanto em função das peças artesanais como pelas trocas sociais e culturais realizadas nesses locais. Defendemos, portanto, a importância de estimular a potência das feiras de artesanato no trato urbano, cultural e turístico, visto a diversidade de pessoas, atividades, trocas, signos e significados socioculturais envolvidos nas mesmas, contribuindo para ser consideradas territórios pela população local. Objetivamos entender, a partir da disputa de forças existentes nos tratos cultural, urbano e turístico, em que medida o artesanato e seus espaços de venda contribuem para a ocupação do espaço urbano de distintas cidades da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, de modo que as pessoas percebam as feiras de artesanato enquanto seus territórios pela identificação com seus aspectos socioculturais nas mesmas. Para isso, foram realizadas pesquisas bibliográficas e pesquisa de campo. Em campo, iniciamos com a aplicação de questionário online com perguntas fechadas e abertas, objetivando mapear as feiras de artesanato existentes na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, entender os motivos das pessoas frequentarem ou não feiras de artesanato e quais se destacam na Região. Selecionamos três feiras de artesanato em distintas cidades, sendo elas: Feira da 25 de agosto, em Duque de Caxias, FeirArt Bel, em Belford Roxo, e Feira do Rio Antigo, na capital. Nelas, foram realizadas observações assistemáticas e entrevistas semiestruturadas com artesãos e frequentadores dessas três feiras. Foi possível perceber que as feiras de artesanato fazem parte da vivência de ampla gama populacional fluminense e que quanto mais atrações socioculturais apresentam, mais as pessoas se sentem convidadas a vivenciar esses espaços. Dependendo da cidade e da região da cidade onde as feiras se encontram, percebemos que há um tratamento urbanístico diferenciado, em função da feira de artesanato servir também como atrativo turístico. É o caso da Feira do Rio Antigo, que acontecia mensalmente na Lapa, na cidade do Rio de Janeiro. Já feiras de artesanato localizadas na Baixada Fluminense, como a Feira da 25 de agosto, em Duque de Caxias, que acontece aos domingos no bairro 25 de agosto, não obtém o mesmo tratamento em termos de limpeza e conservação urbana que a feira anteriormente citada. O mesmo ocorre com a FeirArt Bel, que não é entendida como promotoria de cultura e turismo pelo município, a feira busca o público tentando se localizar em local de grande movimentação de pedestres. O turismo pode se apropriar da vivência da população local existente nos espaços comerciais de artesanato e, dependendo da forma como for manejado, pode ser positivo ou negativo para essa população. É preciso tentar equilibrar as relações de forças (SANTOS, 2009) existentes nesses locais, de modo que a população local possa se sentir incluída nesses espaços. Aliar turismo a melhorias urbanísticas para a população local é benéfico tanto para moradores da cidade como para turistas. Foi possível perceber que quando as melhorias urbanísticas são voltadas para a população local, ganham todos. A cultura precisa ser preservada não para o turista, mas para contribuir para que as pessoas se reconheçam nas suas práticas, no seu mundo. A cidade precisa ser de e para todas as pessoas. Se ela for boa para a população local, por consequência, os turistas terão boas experiências no local. Mas o contrário nem sempre é verdadeiro.
O IFRJ campus Belford Roxo promove, anualmente, a Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo, que conta com palestras, mesas redondas, oficinas, minicursos, apresentações artísticas e culturais, além dos resultados de trabalhos desenvolvidos ao longo dos cursos oferecidos no referido campus. O evento costuma acontecer concomitantemente à Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa.
Dentro da Semana Acadêmica, ocorre, ainda, o Encontro de Pesquisadores, momento em que os servidores atuantes no campus Belford Roxo apresentam os resultados de seu trabalho, conectando pesquisa, ensino e extensão.
No ano de 2020, de 19/10 a 23/10, ocorreram a 3a. Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo e a Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa. Ainda compondo os eventos, de 16/11 a 18/11, ocorreu o 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. Com o isolamento social decorrente da pandemia do COVID-19, foi a primeira vez que os eventos aconteceram totalmente online. Também foi a primeira vez em que as submissões de trabalhos foram abertas aos pesquisadores de outras instituições e aos estudantes, movimento que só foi possível em razão da expertise adquirida com a realização dos eventos em anos anteriores.
Com o tema “Baixada Fluminense Presente! Diálogos entre Educação, cultura e Arte”, estudantes e profissionais, preferencialmente atuantes na Baixada Fluminense, puderam submeter seus resumos estruturados e/ou relatos de experiências. Estes trabalhos submetidos foram organizados e apresentados em quatro Simpósios Temáticos:
O ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades, coordenado pela professoras Heloisa Santos, Lívia Paiva e em parceria com a coordenadora do ST 06, Jaqueline Gomes recebeu trabalhos que discutiam as questões de gênero, raça e classe, a partir de uma perspectiva crítica que avaliasse o sexismo, o machismo, a lgbtfobia, o racismo e o classismo como violações dos direitos humanos. Considerando tais elementos, trabalhos que abordassem estas questões, especialmente a partir de uma perspectiva interseccional, eram de interesse deste ST, seja em uma perspectiva teórica, seja por meio de trabalhos que trouxessem resultados de práticas educativas, ativistas, artísticas, dentre outras formas de abordar a luta pelos direitos no mundo contemporâneo, especialmente aqueles que buscavam estabelecer diálogos que se voltem para o Eixo Sul-Sul.
O ST 02 - Gestão, design, moda e carnaval, coordenado pelos professores Flávio Sabrá, André Dias em parceria com a coordenadora do ST 06, Cássia Mousinho, se propôs a ser um espaço para a discussão e reflexão crítica de questões relacionadas às práticas de gestão e negócios no campo da moda, carnaval e festejos, observando sua relação com design, arte, vestuário, artesanato, modelagem, administração e as suas interlocuções entre o processo criativo, produtivo, distributivo e de validação dentro da Cadeia Têxtil/Confecção e da Economia Criativa, seja em trocas formais ou informais.
O ST 03 - Cidades, territórios, culturas e educação, coordenado pelas professoras Gabriela Ribeiro e Bárbara Friaça, abordou trabalhos que traziam o debate sobre cidades, territórios e as vivências deles e neles, intermediadas por diversas vertentes culturais e educacionais (artesanato, moda, culinária, acervos de espaços de cultura e memória, patrimônio cultural, espaços culturais, espaços de lazer, urbanismo, design, educação formal, não formal e informal, entre outros). Também recebeu trabalhos que discutiam sobre inclusão social, entendendo que possibilitar acesso e usufruto amplos e irrestritos aos espaços citadinos contribuem para o incremento da inclusão social, propiciando uma formação holística às pessoas, nos âmbitos cultural, social, educacional, de lazer, de desporto, entre outros.
O ST 04 - Periferia é Centro: processos artísticos e culturais em contramão, coordenado pelas professoras Ana Adelaide Balthar e Lucia Vignoli, buscava discutir como os rearranjos espaciais reverberam nas produções artísticas culturais das periferias urbanas frente a questão do distanciamento social devido a pandemia de COVID-19. “Reinventamos e experimentamos existências bidimensionais, através de dispositivos digitais. Telas de telas. Os deslocamentos se restringiram, mas os encontros se constelaram. De repente, a Baixada não sofre de lonjura, de repente a periferia é centro”.
O ST 05 - Corpos, diversidades, identidades e culturas, coordenado pela professora Jaqueline Gomes, objetivava fomentar, em um ambiente complexo, a inclusão de pessoas oriundas de diferentes grupos sociais. Recebia trabalhos que promovessem investigações e propostas de intervenção, considerando os corpos em suas possibilidades na cultura das aparências.
O ST 06 - Design, artesanato e tecnologia, coordenado pela professora Cassia Mousinho, buscava fomentar a análise do trabalho artesanal, através de seus aspectos estéticos, técnicos, mercadológicos e sociais. Também pretendia reforçar a importância do desenvolvimento de tecnologias e os artefatos a elas associados no âmbito material ou digital, realizando uma ponte entre o artesanato e o design.
Estes Anais são resultantes dos trabalhos aprovados e apresentados no 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. É uma das nossas contribuições para a reafirmação da Baixada Fluminense enquanto território potente cultural, artística e educacionalmente.
Boa leitura!
3º Encontro de Pesquisadores - IFRJ/Campus Belford Roxo
Comissão Organizadora
Docentes
Heloisa Helena de Oliveira Santos - Coordenadora de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação
André Monte Pereira Dias
Flávio Glória Caminada Sabrá
Gabriela Sousa Ribeiro
Lucivania Filomeno Ponte
Estudantes
Sara Canto
Gregory Andrade
Comissão Científica
Alicia Romero - UNESA
Ana Adelaide Lyra Porto Balthar - Nena Balthar
André Monte Pereira Dias
Bárbara Boaventura Friaça
Cassia Mousinho de Figueiredo
Charles Leite - UFPE
Denise Loyla Silva
Flávio Glória Caminada Sabrá
Gabriela Sousa Ribeiro
Heloisa Helena de Oliveira Santos
Jaqueline Gomes de Jesus
Lívia de Meira Lima Paiva
Lucivania Filomeno Ponte
Maria Lucia Vignoli Rodrigues de Moraes - INES
Vanessa Santos Ximenes
Reitor
Raphael Barreto Almada
Pró-reitora de Extensão
Ana Luisa Lima
Diretor de Implantação - Campus Belford Roxo
Marcio Franklin de Oliveira
Diretora de Ensino
Rosi Marina Rezende
Coordenação de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação do Campus Belford Roxo: extensao.cbel@ifrj.edu.br