Filosoficamente, a noção de direito à cidade remete-se aos escritos de Henry Lefebvre, no fim dos anos 1960, cujo um dos objetivos seria pensarmos em uma sociedade urbana calcada na plenitude de acesso coletivo as benesses coletivas que as cidades poderiam nos oferecer. Tendo em mente tal horizonte, mas se concentrando no aspecto jurídico-institucional da discussão, pensamos em desenvolver uma pesquisa exploratória sobre a relação entre as planos de intervenção urbana propostos pelo poder público e aqueles considerados necessários e/ou prioritários para alcançar o direito ao bem-estar individual e coletivo garantido pelo artigo 182[1] da Constituição Federal aos habitantes das cidades.
A pesquisa está focada nas garantias jurídico-institucionais do direito à cidade no Brasil, em especial nos marcos da Lei nº 10.257/2001. O Estatuto da Cidade insere no escopo de ação da política urbana, a produção de cidades sustentáveis, pautadas no direito “à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 2001), sugerindo ações que se desenvolvam em prol do bem coletivo, tendo como pauta central a gestão democrática e a participação popular nas iniciativas do poder público, quando da formulação, execução e acompanhamento dos planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano. A meta seria trabalhar para que desenvolvamos cidades que prezem pela “oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados aos interesses e necessidades da população e às características locais” (BRASIL, 2001).
A questão central da pesquisa refere-se justamente a possibilidade de avaliarmos o real cumprimento dos preceitos estipulados no regime legal da política urbana brasileira através da observação de exemplos comuns em cidades fluminenses. Constatamos inicialmente que, em todas as cidades analisadas, são desenvolvidas diversas estratégias de produção espacial que parecem estar desvinculadas das reais necessidades da população que ali vive. Áreas com carências estruturais importantes (como saneamento básico e serviços de saúde pública) ao qual abundam exemplos de intervenções com caráter puramente estético e/ou superficial, cujos principais exemplos são vistos na sobreposição contínua de obras, onde em diversos momentos históricos, há projetos de revitalização ou recuperação de determinados equipamentos dos mesmos locais e mobiliários urbanos (como as pracinhas de bairro). Em cidades e distritos considerados turísticos, ainda vemos, não raras vezes, intervenções marcadamente pensadas em grupos sociais externos, em detrimento das necessidades daqueles que ocupam aquele espaço.
O que queremos, por meio da exposição da pesquisa e de seus resultados, é desenvolver estratégias que auxiliem aos cidadãos na compreensão de que existem obras de maior impacto social e que por direito dos habitantes das cidades, precisam ser realizadas pelo poder público. Pensamos em desenvolver uma fórmula que sirva como uma ferramenta de apoio na busca por melhores condições de vida das populações.
Tendo em mente as restrições relacionadas ao universo alcançado, pensamos em desenvolver um mecanismo que desse suporte a observação inicial sobre o descompasso entre as necessidades coletivas e a política urbana das cidades próximas ao campus. Desenvolvemos um questionário para avaliar se os munícipes viam essa dissonância entre as obras públicas realizadas e aquelas as quais achavam relevantes. As questões foram disponibilizadas na plataforma Google Forms, requisitando informações sobre quais obras os participantes achavam necessárias serem feitas e quais, dentre as que foram realizadas pelo poder público, poderiam ser avaliadas enquanto pouco relevantes. Os participantes responderam, obrigatoriamente, sobre o município e o bairro ao qual habitam.
Os resultados preliminares, ainda que sejam relacionados a uma fração diminuta do universo total da população, apontam para correspondência total entre as hipóteses iniciais de pesquisa e a visão coletiva acerca da política urbana praticada nos municípios alvo da pesquisa. Boa parte dos que responderam apontaram carências de saneamento, pavimentação de ruas e deficiências nos serviços de saúde e educação; ao passo que apontaram como obras não relevantes, aquelas de reinauguração e revitalização de equipamentos urbanos já existentes, a exemplos de praças e quadras de esporte.
As próximas etapas da pesquisa correspondem a aumentar o universo de respondentes ao questionário; além de avaliarmos mais detidamente algumas estratégias de política urbana que apresentam desconexão com as necessidades coletivas, com destaque para diferenças de investimento em infraestrutura e serviços urbanos entre bairros. O objetivo é compilar exemplos de intervenções cujos objetivos destoam dos preceitos legais da política urbana, tendo como horizonte o direito à cidade.
[1] A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes (BRASIL, 1988).
O IFRJ campus Belford Roxo promove, anualmente, a Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo, que conta com palestras, mesas redondas, oficinas, minicursos, apresentações artísticas e culturais, além dos resultados de trabalhos desenvolvidos ao longo dos cursos oferecidos no referido campus. O evento costuma acontecer concomitantemente à Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa.
Dentro da Semana Acadêmica, ocorre, ainda, o Encontro de Pesquisadores, momento em que os servidores atuantes no campus Belford Roxo apresentam os resultados de seu trabalho, conectando pesquisa, ensino e extensão.
No ano de 2020, de 19/10 a 23/10, ocorreram a 3a. Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo e a Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa. Ainda compondo os eventos, de 16/11 a 18/11, ocorreu o 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. Com o isolamento social decorrente da pandemia do COVID-19, foi a primeira vez que os eventos aconteceram totalmente online. Também foi a primeira vez em que as submissões de trabalhos foram abertas aos pesquisadores de outras instituições e aos estudantes, movimento que só foi possível em razão da expertise adquirida com a realização dos eventos em anos anteriores.
Com o tema “Baixada Fluminense Presente! Diálogos entre Educação, cultura e Arte”, estudantes e profissionais, preferencialmente atuantes na Baixada Fluminense, puderam submeter seus resumos estruturados e/ou relatos de experiências. Estes trabalhos submetidos foram organizados e apresentados em quatro Simpósios Temáticos:
O ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades, coordenado pela professoras Heloisa Santos, Lívia Paiva e em parceria com a coordenadora do ST 06, Jaqueline Gomes recebeu trabalhos que discutiam as questões de gênero, raça e classe, a partir de uma perspectiva crítica que avaliasse o sexismo, o machismo, a lgbtfobia, o racismo e o classismo como violações dos direitos humanos. Considerando tais elementos, trabalhos que abordassem estas questões, especialmente a partir de uma perspectiva interseccional, eram de interesse deste ST, seja em uma perspectiva teórica, seja por meio de trabalhos que trouxessem resultados de práticas educativas, ativistas, artísticas, dentre outras formas de abordar a luta pelos direitos no mundo contemporâneo, especialmente aqueles que buscavam estabelecer diálogos que se voltem para o Eixo Sul-Sul.
O ST 02 - Gestão, design, moda e carnaval, coordenado pelos professores Flávio Sabrá, André Dias em parceria com a coordenadora do ST 06, Cássia Mousinho, se propôs a ser um espaço para a discussão e reflexão crítica de questões relacionadas às práticas de gestão e negócios no campo da moda, carnaval e festejos, observando sua relação com design, arte, vestuário, artesanato, modelagem, administração e as suas interlocuções entre o processo criativo, produtivo, distributivo e de validação dentro da Cadeia Têxtil/Confecção e da Economia Criativa, seja em trocas formais ou informais.
O ST 03 - Cidades, territórios, culturas e educação, coordenado pelas professoras Gabriela Ribeiro e Bárbara Friaça, abordou trabalhos que traziam o debate sobre cidades, territórios e as vivências deles e neles, intermediadas por diversas vertentes culturais e educacionais (artesanato, moda, culinária, acervos de espaços de cultura e memória, patrimônio cultural, espaços culturais, espaços de lazer, urbanismo, design, educação formal, não formal e informal, entre outros). Também recebeu trabalhos que discutiam sobre inclusão social, entendendo que possibilitar acesso e usufruto amplos e irrestritos aos espaços citadinos contribuem para o incremento da inclusão social, propiciando uma formação holística às pessoas, nos âmbitos cultural, social, educacional, de lazer, de desporto, entre outros.
O ST 04 - Periferia é Centro: processos artísticos e culturais em contramão, coordenado pelas professoras Ana Adelaide Balthar e Lucia Vignoli, buscava discutir como os rearranjos espaciais reverberam nas produções artísticas culturais das periferias urbanas frente a questão do distanciamento social devido a pandemia de COVID-19. “Reinventamos e experimentamos existências bidimensionais, através de dispositivos digitais. Telas de telas. Os deslocamentos se restringiram, mas os encontros se constelaram. De repente, a Baixada não sofre de lonjura, de repente a periferia é centro”.
O ST 05 - Corpos, diversidades, identidades e culturas, coordenado pela professora Jaqueline Gomes, objetivava fomentar, em um ambiente complexo, a inclusão de pessoas oriundas de diferentes grupos sociais. Recebia trabalhos que promovessem investigações e propostas de intervenção, considerando os corpos em suas possibilidades na cultura das aparências.
O ST 06 - Design, artesanato e tecnologia, coordenado pela professora Cassia Mousinho, buscava fomentar a análise do trabalho artesanal, através de seus aspectos estéticos, técnicos, mercadológicos e sociais. Também pretendia reforçar a importância do desenvolvimento de tecnologias e os artefatos a elas associados no âmbito material ou digital, realizando uma ponte entre o artesanato e o design.
Estes Anais são resultantes dos trabalhos aprovados e apresentados no 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. É uma das nossas contribuições para a reafirmação da Baixada Fluminense enquanto território potente cultural, artística e educacionalmente.
Boa leitura!
3º Encontro de Pesquisadores - IFRJ/Campus Belford Roxo
Comissão Organizadora
Docentes
Heloisa Helena de Oliveira Santos - Coordenadora de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação
André Monte Pereira Dias
Flávio Glória Caminada Sabrá
Gabriela Sousa Ribeiro
Lucivania Filomeno Ponte
Estudantes
Sara Canto
Gregory Andrade
Comissão Científica
Alicia Romero - UNESA
Ana Adelaide Lyra Porto Balthar - Nena Balthar
André Monte Pereira Dias
Bárbara Boaventura Friaça
Cassia Mousinho de Figueiredo
Charles Leite - UFPE
Denise Loyla Silva
Flávio Glória Caminada Sabrá
Gabriela Sousa Ribeiro
Heloisa Helena de Oliveira Santos
Jaqueline Gomes de Jesus
Lívia de Meira Lima Paiva
Lucivania Filomeno Ponte
Maria Lucia Vignoli Rodrigues de Moraes - INES
Vanessa Santos Ximenes
Reitor
Raphael Barreto Almada
Pró-reitora de Extensão
Ana Luisa Lima
Diretor de Implantação - Campus Belford Roxo
Marcio Franklin de Oliveira
Diretora de Ensino
Rosi Marina Rezende
Coordenação de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação do Campus Belford Roxo: extensao.cbel@ifrj.edu.br