O figurino é um elemento comunicador, uma linguagem não verbal impregnada de signos, que atua como uma importante ferramenta para potencializar e auxiliar a criação do ator e compor todo o conjunto cênico. Segundo Perito e Rech (2008, p. 02), “[...] muito além do aspecto material, o figurino pode ser visto como um símbolo, um instrumento e elemento essencial da narração”. Sendo assim, o figurino é fundamental para a composição estética e conceitual em todas as áreas na qual está presente.
O objetivo deste estudo é apresentar um olhar a respeito da criação de figurinos em produções teatrais do Grupo Cultural Cochicho na Coxia, um grupo criado em Mesquita na Baixada Fluminense e que atua na região e em todo o Rio de Janeiro desde 2002. O grupo desenvolve trabalhos em diversos formatos como espetáculos teatrais, esquetes, contações de história e intervenções teatrais e também faz parte da Rede Baixada em Cena, um coletivo formado por grupos de teatro da Baixada Fluminense.
Sobre a metodologia, este é um estudo do tipo relato de experiência, descritivo e qualitativo, elaborado com base no trabalho realizado como figurinista do Grupo Cochicho desde 2019.
A descrição presente aqui é baseada em minha vivência e visão relacionadas ao referencial teórico que é fundamentado em obras que tratam sobre o tema figurino, bem como suas formas de criação, linguagem e relações.
A importância deste trabalho está no fato de abordar a criação de figurino a partir de um olhar de quem faz parte de um grupo de teatro na Baixada Fluminense, apresentando assim uma visão de dentro e mostrando uma realidade que ainda é pouco abordada e que possui algumas características e processos próprios.
Desde 2013 atuando como assistente e produtora no Grupo Cochicho foi possível ter contato com diversas áreas que compõem uma produção teatral, contudo foi a partir de 2019 que também passei a atuar na área de figurino ao lado do sócio e diretor artístico do grupo.
Além de contar com um espaço próprio para ensaios, o Centro Cultural Oscar Romero em Mesquita, o grupo também possui um acervo composto por uma média de três mil peças, entre roupas, acessórios, sapatos e objetos de cena, a maioria fruto de doações e garimpos em brechós. Ter um espaço e acervo próprios são duas características que infelizmente ainda não são comuns em grupos de teatro da Baixada Fluminense.
O processo de construção e produção dos figurinos do grupo é marcado principalmente pelo reaproveitamento e customização das peças que compõem o acervo, além também da utilização de materiais diversos e alternativos, trabalhando dessa forma com criatividade aliada a práticas sustentáveis e possibilidades mais acessíveis financeiramente. Mas essa não é a única forma trabalhada pelo grupo, alguns figurinos precisam ser construídos do zero a partir de desenhos e pelas mãos de costureiras que também são moradoras da região.
No que diz respeito ao desenvolvimento do figurino, ocorrem alguns processos como a leitura e análise do texto ou roteiro, discussões com o (a) diretor (a) daquela determinada produção para entender os caminhos e visões que ele (a) pretende seguir, a pesquisa, a elaboração dos desenhos e de uma lista de possibilidades de peças que podem ser usadas, além também da busca e seleção no acervo do que pode ser utilizado, beneficiado e reaproveitado.
Um dos resultados desse período como figurinista, foi o figurino da intervenção teatral “Palavras que Refrescam”, que estreou em fevereiro de 2020. O traje da atriz precisava fazer referência a um vendedor ambulante, conforme solicitado pela diretora, já que durante a performance ela distribui garrafinhas de brinde para o público. Depois das pesquisas e da criação de desenhos, foi pensada a paleta de cores, além das possibilidades de peças que poderiam ser utilizadas. Com isso, foram separadas no acervo várias peças que se encaixavam no que foi pensado e foi preciso fazer alguns testes e experimentações, vendo as composições no próprio corpo da atriz.
Todo o processo artístico passou por pesquisas de referências visuais e de experimentações, com a intenção de fazer uma releitura lúdica e criativa da figura do ambulante que conhecemos.
Com uma paleta de cores em tons de azul, branco e verde água, o figurino foi composto por uma calça azul marinho, uma camiseta branca simples, um colete verde água, um chapéu de palha adornado com pompons e semicírculos em tons de azul, uma pochete simples e uma caixa de isopor. Os materiais que foram reaproveitados foram a calça, a camiseta, a sandália e o chapéu de palha, já pertencentes ao acervo e que apenas passaram por processos de beneficiamento, acrescentando pinturas e detalhes. Apenas o colete e a pochete foram confeccionados e no caso da pochete com retalhos de tecido. Já o único objeto comprado pronto foi a caixa de isopor que foi toda decorada para que pudesse seguir a estética de toda a produção.
As principais conclusões são de que existem diversas formas de trabalhar na criação dos trajes de cena e de que estimular a criatividade e a experimentação artística através do uso de materiais pouco usuais e do reaproveitamento, é extremamente importante para construir um olhar mais criativo e consciente, resultando em uma criação que, apesar das dificuldades com orçamentos e prazos, é inventiva e potente.
O IFRJ campus Belford Roxo promove, anualmente, a Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo, que conta com palestras, mesas redondas, oficinas, minicursos, apresentações artísticas e culturais, além dos resultados de trabalhos desenvolvidos ao longo dos cursos oferecidos no referido campus. O evento costuma acontecer concomitantemente à Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa.
Dentro da Semana Acadêmica, ocorre, ainda, o Encontro de Pesquisadores, momento em que os servidores atuantes no campus Belford Roxo apresentam os resultados de seu trabalho, conectando pesquisa, ensino e extensão.
No ano de 2020, de 19/10 a 23/10, ocorreram a 3a. Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo e a Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa. Ainda compondo os eventos, de 16/11 a 18/11, ocorreu o 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. Com o isolamento social decorrente da pandemia do COVID-19, foi a primeira vez que os eventos aconteceram totalmente online. Também foi a primeira vez em que as submissões de trabalhos foram abertas aos pesquisadores de outras instituições e aos estudantes, movimento que só foi possível em razão da expertise adquirida com a realização dos eventos em anos anteriores.
Com o tema “Baixada Fluminense Presente! Diálogos entre Educação, cultura e Arte”, estudantes e profissionais, preferencialmente atuantes na Baixada Fluminense, puderam submeter seus resumos estruturados e/ou relatos de experiências. Estes trabalhos submetidos foram organizados e apresentados em quatro Simpósios Temáticos:
O ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades, coordenado pela professoras Heloisa Santos, Lívia Paiva e em parceria com a coordenadora do ST 06, Jaqueline Gomes recebeu trabalhos que discutiam as questões de gênero, raça e classe, a partir de uma perspectiva crítica que avaliasse o sexismo, o machismo, a lgbtfobia, o racismo e o classismo como violações dos direitos humanos. Considerando tais elementos, trabalhos que abordassem estas questões, especialmente a partir de uma perspectiva interseccional, eram de interesse deste ST, seja em uma perspectiva teórica, seja por meio de trabalhos que trouxessem resultados de práticas educativas, ativistas, artísticas, dentre outras formas de abordar a luta pelos direitos no mundo contemporâneo, especialmente aqueles que buscavam estabelecer diálogos que se voltem para o Eixo Sul-Sul.
O ST 02 - Gestão, design, moda e carnaval, coordenado pelos professores Flávio Sabrá, André Dias em parceria com a coordenadora do ST 06, Cássia Mousinho, se propôs a ser um espaço para a discussão e reflexão crítica de questões relacionadas às práticas de gestão e negócios no campo da moda, carnaval e festejos, observando sua relação com design, arte, vestuário, artesanato, modelagem, administração e as suas interlocuções entre o processo criativo, produtivo, distributivo e de validação dentro da Cadeia Têxtil/Confecção e da Economia Criativa, seja em trocas formais ou informais.
O ST 03 - Cidades, territórios, culturas e educação, coordenado pelas professoras Gabriela Ribeiro e Bárbara Friaça, abordou trabalhos que traziam o debate sobre cidades, territórios e as vivências deles e neles, intermediadas por diversas vertentes culturais e educacionais (artesanato, moda, culinária, acervos de espaços de cultura e memória, patrimônio cultural, espaços culturais, espaços de lazer, urbanismo, design, educação formal, não formal e informal, entre outros). Também recebeu trabalhos que discutiam sobre inclusão social, entendendo que possibilitar acesso e usufruto amplos e irrestritos aos espaços citadinos contribuem para o incremento da inclusão social, propiciando uma formação holística às pessoas, nos âmbitos cultural, social, educacional, de lazer, de desporto, entre outros.
O ST 04 - Periferia é Centro: processos artísticos e culturais em contramão, coordenado pelas professoras Ana Adelaide Balthar e Lucia Vignoli, buscava discutir como os rearranjos espaciais reverberam nas produções artísticas culturais das periferias urbanas frente a questão do distanciamento social devido a pandemia de COVID-19. “Reinventamos e experimentamos existências bidimensionais, através de dispositivos digitais. Telas de telas. Os deslocamentos se restringiram, mas os encontros se constelaram. De repente, a Baixada não sofre de lonjura, de repente a periferia é centro”.
O ST 05 - Corpos, diversidades, identidades e culturas, coordenado pela professora Jaqueline Gomes, objetivava fomentar, em um ambiente complexo, a inclusão de pessoas oriundas de diferentes grupos sociais. Recebia trabalhos que promovessem investigações e propostas de intervenção, considerando os corpos em suas possibilidades na cultura das aparências.
O ST 06 - Design, artesanato e tecnologia, coordenado pela professora Cassia Mousinho, buscava fomentar a análise do trabalho artesanal, através de seus aspectos estéticos, técnicos, mercadológicos e sociais. Também pretendia reforçar a importância do desenvolvimento de tecnologias e os artefatos a elas associados no âmbito material ou digital, realizando uma ponte entre o artesanato e o design.
Estes Anais são resultantes dos trabalhos aprovados e apresentados no 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. É uma das nossas contribuições para a reafirmação da Baixada Fluminense enquanto território potente cultural, artística e educacionalmente.
Boa leitura!
3º Encontro de Pesquisadores - IFRJ/Campus Belford Roxo
Comissão Organizadora
Docentes
Heloisa Helena de Oliveira Santos - Coordenadora de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação
André Monte Pereira Dias
Flávio Glória Caminada Sabrá
Gabriela Sousa Ribeiro
Lucivania Filomeno Ponte
Estudantes
Sara Canto
Gregory Andrade
Comissão Científica
Alicia Romero - UNESA
Ana Adelaide Lyra Porto Balthar - Nena Balthar
André Monte Pereira Dias
Bárbara Boaventura Friaça
Cassia Mousinho de Figueiredo
Charles Leite - UFPE
Denise Loyla Silva
Flávio Glória Caminada Sabrá
Gabriela Sousa Ribeiro
Heloisa Helena de Oliveira Santos
Jaqueline Gomes de Jesus
Lívia de Meira Lima Paiva
Lucivania Filomeno Ponte
Maria Lucia Vignoli Rodrigues de Moraes - INES
Vanessa Santos Ximenes
Reitor
Raphael Barreto Almada
Pró-reitora de Extensão
Ana Luisa Lima
Diretor de Implantação - Campus Belford Roxo
Marcio Franklin de Oliveira
Diretora de Ensino
Rosi Marina Rezende
Coordenação de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação do Campus Belford Roxo: extensao.cbel@ifrj.edu.br