ROUPAS QUE CONDENAM: TEATRO NA PRISÃO, ENTRE A HISTÓRIA E O PROCESSO CRIATIVO DO FIGURINO

  • Autor
  • Carla Aparecida da Costa
  • Resumo
  • O presente artigo apresenta uma breve história do vestuário utilizado por pessoas que na história da humanidade foram prisioneiras e/ou escravizadas. Esse estudo se fez necessário para dar início ao processo criativo da montagem cênica  “Mostre-me a saída”. A pergunta que conduziu essa pesquisa é: Como a forma de vestir marca na vida social dos condenados? Essa reflexão se deu entre o processo de pesquisa histórica e o processo de criação do figurino elaborado para a montagem que teve sua estreia em 2019. Mostre-me a Saída é uma adaptação livre do texto teatral Fuga, de Tennessee Williams. A história é contada em três camadas: a história dos personagens originais; as reflexões sobre a situação prisional no Brasil atual em sua complexidade e as histórias nas prisões do grupo de estudos e projeto de Extensão Teatro na Prisão. Pretende-se mostrar ainda como a vida pessoal e a experiência no presídio de cada participante foram  fundamentais na criação, no processo colaborativo e materialidade do figurino que foi gerado.  

    O processo criativo do figurino durou aproximadamente dois meses e de início detectamos algo que seria fundamental na construção das visualidades da cena.  

    Não era somente um grupo de pesquisa, um dos atores estava em regime semiaberto, era um grupo com experiências latentes e tudo cooperou para elaboração atmosférica da cena. A pesquisa histórica do vestuário foi muito além das leituras textuais, muitos subsídios foram fornecidos pelos próprios atores e o grupo de pesquisa. Assim, o campo da memória foi um campo de ativação e de  familiarização por todos os envolvidos. 

    A pesquisa histórica é fundamental no processo de criação do figurino, é por meio dela que encontramos elementos pertinentes à narrativa. Assim, debruçamos sobre a historicização contida na obra "O Pano do diabo: uma história das listras e dos tecidos listrados" de Michael Pastoureau (1947). Na obra o autor dedica o capítulo "Riscar e Punir" para narrar a história dos uniformes dos prisioneiros desde a Idade Média. Aqui percebemos que a roupa do prisioneiro sempre teve  sua função, não apenas de sinalizar o corpo condenado, bem como dizer que corpo é esse na ordem da sociedade, um excluído.  

    Segundo o autor o ato de riscar surge com intuito de punir e essa simbologia ganha espaço na história mundial das roupas. O uso das listras no vestuário teve várias modificações, produzindo ao longo dos séculos uma diversificação de sentido no universo material e simbólico das listras, boas e más, dentre as quais, as "más" listras sempre tiveram o valor como aquelas que puniam corpos infratores da sociedade. No século XIX, por sua vez, vemos o uso das listras acolhendo todas as práticas e todos os códigos que foram produzidos anteriormente. Assim, na Idade Contemporânea, os tecidos listrados continuam fortemente marcando corpos deportados para morte e no século XX atuando fortemente nos campos nazistas.  

    Todavia, uniformizar os corpos condenados é um ato de punição que vem desde a antiguidade, mesmo na nudez, quando homens e mulheres aprisionados pelo Império Romano tinham seus corpos despidos e expostos às condições desumanizadas. O indivíduo escravizado na sociedade romana era identificado pelos pés descalços e de forma alguma poderiam usar os calçados, sapatos romanos de cano alto. Assim, como na Antiguidade, o período Medieval também fez o uso do vestuário como forma punitiva para aqueles que ousaram transgredir a ordem civilizatória da sociedade. Acreditamos que o uso da uniformização é um modo de marcar os corpos condenados, mesmo na ausência das listras, seu uso é feito para classificar o sujeito dentro da sociedade. Segundo Pastoureau “o olho classifica melhor do que o ouvido e o tato, ainda que essa verdade não seja válida para todas as culturas” (1947, p.15). 

    A criação do figurino para a montagem foi pensada sobre essas reflexões, as roupas dos condenados atualmente não são listradas, embora nos Estados Unidos alguns presídios ainda utilizem desse recurso para identificar seus presos, em muitos presídios os uniformes são lisos, mas os signos na uniformidade são postos para sinalizar e classificar quem são os condenados da nossa sociedade.  

  • Palavras-chave
  • Teatro na prisão, História da roupa, Pano do Diabo; Figurino.
  • Área Temática
  • ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades: gênero/gêneros
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O IFRJ campus Belford Roxo promove, anualmente, a Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo, que conta com palestras, mesas redondas, oficinas, minicursos, apresentações artísticas e culturais, além dos resultados de trabalhos desenvolvidos ao longo dos cursos oferecidos no referido campus. O evento costuma acontecer concomitantemente à Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa.

Dentro da Semana Acadêmica, ocorre, ainda, o Encontro de Pesquisadores, momento em que os servidores atuantes no campus Belford Roxo apresentam os resultados de seu trabalho, conectando pesquisa, ensino e extensão.

No ano de 2020, de 19/10 a 23/10, ocorreram a 3a. Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo e a Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa. Ainda compondo os eventos, de 16/11 a 18/11, ocorreu o 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. Com o isolamento social decorrente da pandemia do COVID-19, foi a primeira vez que os eventos aconteceram totalmente online. Também foi a primeira vez em que as submissões de trabalhos foram abertas aos pesquisadores de outras instituições e aos estudantes, movimento que só foi possível em razão da expertise adquirida com a realização dos eventos em anos anteriores.

Com o tema “Baixada Fluminense Presente! Diálogos entre Educação, cultura e Arte”, estudantes e profissionais, preferencialmente atuantes na Baixada Fluminense, puderam submeter seus resumos estruturados e/ou relatos de experiências. Estes trabalhos submetidos foram organizados e apresentados em quatro Simpósios Temáticos:

O ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades, coordenado pela professoras Heloisa Santos, Lívia Paiva e em parceria com a coordenadora do ST 06, Jaqueline Gomes recebeu trabalhos que discutiam as questões de gênero, raça e classe, a partir de uma perspectiva crítica que avaliasse o sexismo, o machismo, a lgbtfobia, o racismo e o classismo como violações dos direitos humanos. Considerando tais elementos, trabalhos que abordassem estas questões, especialmente a partir de uma perspectiva interseccional, eram de interesse deste ST, seja em uma perspectiva teórica, seja por meio de trabalhos que trouxessem resultados de práticas educativas, ativistas, artísticas, dentre outras formas de abordar a luta pelos direitos no mundo contemporâneo, especialmente aqueles que buscavam estabelecer diálogos que se voltem para o Eixo Sul-Sul.

O ST 02 - Gestão, design, moda e carnaval, coordenado pelos professores Flávio Sabrá, André Dias em parceria com a coordenadora do ST 06, Cássia Mousinho, se propôs a ser um espaço para a discussão e reflexão crítica de questões relacionadas às práticas de gestão e negócios no campo da moda, carnaval e festejos, observando sua relação com design, arte, vestuário, artesanato, modelagem, administração e as suas interlocuções entre o processo criativo, produtivo, distributivo e de validação dentro da Cadeia Têxtil/Confecção e da Economia Criativa, seja em trocas formais ou informais.

O ST 03 - Cidades, territórios, culturas e educação, coordenado pelas professoras Gabriela Ribeiro e Bárbara Friaça, abordou trabalhos que traziam o debate sobre cidades, territórios e as vivências deles e neles, intermediadas por diversas vertentes culturais e educacionais (artesanato, moda, culinária, acervos de espaços de cultura e memória, patrimônio cultural, espaços culturais, espaços de lazer, urbanismo, design, educação formal, não formal e informal, entre outros). Também recebeu trabalhos que discutiam sobre inclusão social, entendendo que possibilitar acesso e usufruto amplos e irrestritos aos espaços citadinos contribuem para o incremento da inclusão social, propiciando uma formação holística às pessoas, nos âmbitos cultural, social, educacional, de lazer, de desporto, entre outros.

O ST 04 - Periferia é Centro: processos artísticos e culturais em contramão, coordenado pelas professoras Ana Adelaide Balthar e Lucia Vignoli, buscava discutir como os rearranjos espaciais reverberam nas produções artísticas culturais das periferias urbanas frente a questão do distanciamento social devido a pandemia de COVID-19. “Reinventamos e experimentamos existências bidimensionais, através de dispositivos digitais. Telas de telas. Os deslocamentos se restringiram, mas os encontros se constelaram. De repente, a Baixada não sofre de lonjura, de repente a periferia é centro”.

O ST 05 - Corpos, diversidades, identidades e culturas, coordenado pela professora Jaqueline Gomes, objetivava fomentar, em um ambiente complexo, a inclusão de pessoas oriundas de diferentes grupos sociais. Recebia trabalhos que promovessem investigações e propostas de intervenção, considerando os corpos em suas possibilidades na cultura das aparências. 

O ST 06 - Design, artesanato e tecnologia, coordenado pela professora Cassia Mousinho, buscava fomentar a análise do trabalho artesanal, através de seus aspectos estéticos, técnicos, mercadológicos e sociais. Também pretendia reforçar a importância do desenvolvimento de tecnologias e os artefatos a elas associados no âmbito material ou digital, realizando uma ponte entre o artesanato e o design.

Estes Anais são resultantes dos trabalhos aprovados e apresentados no 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. É uma das nossas contribuições para a reafirmação da Baixada Fluminense enquanto território potente cultural, artística e educacionalmente.

Boa leitura!

  • ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades: gênero/gêneros
  • ST 02 - Gestão, design, moda e carnaval
  • ST 03 - Cidades, territórios, culturas e educação
  • ST 04 - Periferia é Centro: processos artísticos e culturais em contramão
  • ST 05 - Corpos, diversidades, identidades e culturas
  • ST 06 - Design, artesanato e tecnologia

3º Encontro de Pesquisadores - IFRJ/Campus Belford Roxo

Comissão Organizadora

Docentes

Heloisa Helena de Oliveira Santos - Coordenadora de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação
André Monte Pereira Dias
Flávio Glória Caminada Sabrá
Gabriela Sousa Ribeiro
Lucivania Filomeno Ponte

 

Estudantes
Sara Canto
Gregory Andrade

Comissão Científica

Alicia Romero - UNESA

Ana Adelaide Lyra Porto Balthar - Nena Balthar

André Monte Pereira Dias

Bárbara Boaventura Friaça

Cassia Mousinho de Figueiredo

Charles Leite - UFPE

Denise Loyla Silva

Flávio Glória Caminada Sabrá

Gabriela Sousa Ribeiro

Heloisa Helena de Oliveira Santos

Jaqueline Gomes de Jesus

Lívia de Meira Lima Paiva

Lucivania Filomeno Ponte

Maria Lucia Vignoli Rodrigues de Moraes - INES

Vanessa Santos Ximenes

 

Reitor

Raphael Barreto Almada

Pró-reitora de Extensão

Ana Luisa Lima

Diretor de Implantação - Campus Belford Roxo

Marcio Franklin de Oliveira

Diretora de Ensino

Rosi Marina Rezende

Coordenação de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação do Campus Belford Roxo: extensao.cbel@ifrj.edu.br