Este resumo estruturado contempla a fase de imersão no campo de pesquisa durante a produção da tese de doutorado da autora. Dessa forma, trata-se de um recorte dos dados, oriundo de uma pesquisa etnográfica (2016-2019), com objetivo de apresentar como os consumidores de Santana de Acaraú adequaram seus padrões de gosto quando o mercado local de vestuário se alinhou ao sistema global de moda. Dessa forma, a pesquisa descreve como questões geracionais, econômicas, culturais e sociais formataram essa transição entre esses sistemas de gosto. Além disso, os dados do campo apontam as estratégias utilizadas pelas consumidoras para navegar em um novo regime de gosto.
Pesquisas anteriores, na área de comportamento do consumidor, focaram na aquisição de gosto em grupos sociais em sociedades socialmente estáveis ou de transformações lentas (Pontes & Campos, 2018), como Europa e América do Norte (Bourdieu, 1984; Arsel & Bean, 2013; McQuarrie et al., 2013; Skandalis, Banister & Byrom, 2015; Quintão, Brito & Belk , 2015; Maciel & Wallendorf, 2017; Thompson, Henry & Bardhi, 2018). Além disso, observaram consumidores em posições socioeconômicas constantes, classes média e média alta, que buscavam apenas alinhar suas práticas de consumo a um novo regime de gosto (Arsel & Bean, 2013) ou adquirir uma competência cultural específica a determinado campo de consumo (Maciel & Wallendorf, 2017). São consumidores que entraram em novos espaços de consumo, como de cafés especiais, de cerveja artesanal ou da decoração, sem, no entanto, viver uma reformulação de sua posição de classe. Dessa maneira, abre-se uma lacuna: compreender como o gosto se manifesta, é adquirido ou se transforma em contextos periféricos onde as fronteiras entre grupos sociais são mais oscilantes e móveis (Kravets & Sandikci, 2014; Ponte & Campos, 2018).
Nessa direção, pesquisas em países emergentes apresentaram uma manifestação particular nos contextos em que ocorriam as dinâmicas de gosto (Üstüner & Holt, 2010; Coskuner-Balli & Thompson, 2013; Kravetz & Sandikci, 2014; Sandikci & Ger, 2009; Üstüner & Holt, 2010). Entretanto, também focaram nos processos de consumo e de construção de novas sensibilidades das classes médias, ainda alinhadas com ideologias globais neoliberais. Assim, investigaram indivíduos “com boa formação, urbanos, empregados em empresas privadas (...) e que compartilham valores ocidentais” como meritocracia, individualismo e autonomia (Kravetz & Sandikci, 2014, p. 128). Há ainda, portanto, oportunidade de investigação de grupos de consumidores de outros universos sociais, mais locais e periféricos, que podem até consumir a ideologia global através do consumo de massa, sem, no entanto, estarem plenamente sintonizados a este universo através de seu estilo de vida. Neste sentido, o objetivo deste trabalho é investigar as dinâmicas de aquisição de gosto, em contexto mais periférico, que vivem mais distantes de uma distribuição uniforme de ideologias, produtos de massa e estilos de vida sintonizados com as sensibilidades ocidentais, neoliberais e capitalistas.
Para isso, o contexto desta pesquisa foi Santana do Acaraú, no Ceará, escolhido por ser um pequeno município, com cerca de 30 mil habitantes, que foi atravessado por grandes mudanças estruturais em curto período de tempo, especialmente ao longo das últimas duas décadas, construindo uma dinâmica social de constantes movimentos, oferecendo, assim, uma oportunidade ímpar para compreender como essas mudanças na estrutura se relacionam com a transformação do gosto dos consumidores. Para este propósito, conduziu-se uma investigação de cunho etnográfico com foco no consumo de vestuário, durante um período de quatro anos (2016 a 2019). Foram utilizados como instrumento de coleta de dados: observação, entrevistas em profundidade com consumidores, entrevistas informais com comerciantes locais, registros em foto e vídeo, notas de campo, além do levantamento de dados secundários do período entre 1990 e 2019. Para fazer esta discussão, elegeu-se o arsenal teórico de Pierre Bourdieu, que toma o gosto como sintoma da condição social incorporada no habitus (Bourdieu & Wacquant, 2012), construindo a posição social em um campo através do acesso diferenciado às espécies de capital.
Os resultados da pesquisa apontaram que, em contextos instáveis, existe uma ligação entre a estrutura social, através de recursos fornecidos institucionalmente pelo Estado e pelo mercado, e as estratégias de reconversão de capital para transformação do gosto. Dessa maneira, o acesso à educação (ensino técnico e superior); o incremento da renda (Via programas sociais); o acesso à novas fontes de informação (Eletricidade e Internet) e o aumento das fontes de referência (crescimento do mercado local) promoveram uma redistribuição de capitais, sobretudo entre a geração mais jovem de consumidoras. Assim, diante de uma dissonância de habitus ao navegar em novos campos de consumo, elas recorrem a duas estratégias: 1) A curadoria de gosto para acomodar as referências globais a um regime de gosto tradicional e local; e 2) Investimento no capital corpo como instrumento de navegação social e aquisição de status social, através do consumo do vestuário.
O IFRJ campus Belford Roxo promove, anualmente, a Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo, que conta com palestras, mesas redondas, oficinas, minicursos, apresentações artísticas e culturais, além dos resultados de trabalhos desenvolvidos ao longo dos cursos oferecidos no referido campus. O evento costuma acontecer concomitantemente à Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa.
Dentro da Semana Acadêmica, ocorre, ainda, o Encontro de Pesquisadores, momento em que os servidores atuantes no campus Belford Roxo apresentam os resultados de seu trabalho, conectando pesquisa, ensino e extensão.
No ano de 2020, de 19/10 a 23/10, ocorreram a 3a. Semana Acadêmica do IFRJ campus Belford Roxo e a Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Economia Criativa. Ainda compondo os eventos, de 16/11 a 18/11, ocorreu o 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. Com o isolamento social decorrente da pandemia do COVID-19, foi a primeira vez que os eventos aconteceram totalmente online. Também foi a primeira vez em que as submissões de trabalhos foram abertas aos pesquisadores de outras instituições e aos estudantes, movimento que só foi possível em razão da expertise adquirida com a realização dos eventos em anos anteriores.
Com o tema “Baixada Fluminense Presente! Diálogos entre Educação, cultura e Arte”, estudantes e profissionais, preferencialmente atuantes na Baixada Fluminense, puderam submeter seus resumos estruturados e/ou relatos de experiências. Estes trabalhos submetidos foram organizados e apresentados em quatro Simpósios Temáticos:
O ST 01 - Direitos humanos, culturas e identidades, coordenado pela professoras Heloisa Santos, Lívia Paiva e em parceria com a coordenadora do ST 06, Jaqueline Gomes recebeu trabalhos que discutiam as questões de gênero, raça e classe, a partir de uma perspectiva crítica que avaliasse o sexismo, o machismo, a lgbtfobia, o racismo e o classismo como violações dos direitos humanos. Considerando tais elementos, trabalhos que abordassem estas questões, especialmente a partir de uma perspectiva interseccional, eram de interesse deste ST, seja em uma perspectiva teórica, seja por meio de trabalhos que trouxessem resultados de práticas educativas, ativistas, artísticas, dentre outras formas de abordar a luta pelos direitos no mundo contemporâneo, especialmente aqueles que buscavam estabelecer diálogos que se voltem para o Eixo Sul-Sul.
O ST 02 - Gestão, design, moda e carnaval, coordenado pelos professores Flávio Sabrá, André Dias em parceria com a coordenadora do ST 06, Cássia Mousinho, se propôs a ser um espaço para a discussão e reflexão crítica de questões relacionadas às práticas de gestão e negócios no campo da moda, carnaval e festejos, observando sua relação com design, arte, vestuário, artesanato, modelagem, administração e as suas interlocuções entre o processo criativo, produtivo, distributivo e de validação dentro da Cadeia Têxtil/Confecção e da Economia Criativa, seja em trocas formais ou informais.
O ST 03 - Cidades, territórios, culturas e educação, coordenado pelas professoras Gabriela Ribeiro e Bárbara Friaça, abordou trabalhos que traziam o debate sobre cidades, territórios e as vivências deles e neles, intermediadas por diversas vertentes culturais e educacionais (artesanato, moda, culinária, acervos de espaços de cultura e memória, patrimônio cultural, espaços culturais, espaços de lazer, urbanismo, design, educação formal, não formal e informal, entre outros). Também recebeu trabalhos que discutiam sobre inclusão social, entendendo que possibilitar acesso e usufruto amplos e irrestritos aos espaços citadinos contribuem para o incremento da inclusão social, propiciando uma formação holística às pessoas, nos âmbitos cultural, social, educacional, de lazer, de desporto, entre outros.
O ST 04 - Periferia é Centro: processos artísticos e culturais em contramão, coordenado pelas professoras Ana Adelaide Balthar e Lucia Vignoli, buscava discutir como os rearranjos espaciais reverberam nas produções artísticas culturais das periferias urbanas frente a questão do distanciamento social devido a pandemia de COVID-19. “Reinventamos e experimentamos existências bidimensionais, através de dispositivos digitais. Telas de telas. Os deslocamentos se restringiram, mas os encontros se constelaram. De repente, a Baixada não sofre de lonjura, de repente a periferia é centro”.
O ST 05 - Corpos, diversidades, identidades e culturas, coordenado pela professora Jaqueline Gomes, objetivava fomentar, em um ambiente complexo, a inclusão de pessoas oriundas de diferentes grupos sociais. Recebia trabalhos que promovessem investigações e propostas de intervenção, considerando os corpos em suas possibilidades na cultura das aparências.
O ST 06 - Design, artesanato e tecnologia, coordenado pela professora Cassia Mousinho, buscava fomentar a análise do trabalho artesanal, através de seus aspectos estéticos, técnicos, mercadológicos e sociais. Também pretendia reforçar a importância do desenvolvimento de tecnologias e os artefatos a elas associados no âmbito material ou digital, realizando uma ponte entre o artesanato e o design.
Estes Anais são resultantes dos trabalhos aprovados e apresentados no 3º. Encontro de Pesquisadores do IFRJ campus Belford Roxo. É uma das nossas contribuições para a reafirmação da Baixada Fluminense enquanto território potente cultural, artística e educacionalmente.
Boa leitura!
3º Encontro de Pesquisadores - IFRJ/Campus Belford Roxo
Comissão Organizadora
Docentes
Heloisa Helena de Oliveira Santos - Coordenadora de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação
André Monte Pereira Dias
Flávio Glória Caminada Sabrá
Gabriela Sousa Ribeiro
Lucivania Filomeno Ponte
Estudantes
Sara Canto
Gregory Andrade
Comissão Científica
Alicia Romero - UNESA
Ana Adelaide Lyra Porto Balthar - Nena Balthar
André Monte Pereira Dias
Bárbara Boaventura Friaça
Cassia Mousinho de Figueiredo
Charles Leite - UFPE
Denise Loyla Silva
Flávio Glória Caminada Sabrá
Gabriela Sousa Ribeiro
Heloisa Helena de Oliveira Santos
Jaqueline Gomes de Jesus
Lívia de Meira Lima Paiva
Lucivania Filomeno Ponte
Maria Lucia Vignoli Rodrigues de Moraes - INES
Vanessa Santos Ximenes
Reitor
Raphael Barreto Almada
Pró-reitora de Extensão
Ana Luisa Lima
Diretor de Implantação - Campus Belford Roxo
Marcio Franklin de Oliveira
Diretora de Ensino
Rosi Marina Rezende
Coordenação de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação do Campus Belford Roxo: extensao.cbel@ifrj.edu.br